segunda-feira, junho 30, 2003

Os desafios do mundo secularizado
É mais fácil uma pessoa entender o conceito de pecado pelo facto de só aos 25 anos ouvir um álbum dos Talking Heads do que pelo incómodo de uma prática continuada de maledicência.
O meu único contributo para o projecto moderno
O estudo da relação entre a audição de grindcore e uma consequente excitação junto da população felina de um T2 não é, até agora, conclusivo.
Correspondência atrasada
Bem vindos também o Projecto, o Beco das Imagens, o Portugal dos Pequeninos e os Surtos da Efervescência Interior.
Na grafonola
Um clássico: Blood, Fire, Death dos Bathory.
Os paradoxos que nos fazem viver
Citando o meu amigo Samuel Úria, as sitcoms da Sic Mulher são melhores do que as da Sic Radical.
Os receios do teor opinativo da blogosfera diminuem
Bem vindo, caro Opiniondesmaker!

domingo, junho 29, 2003

Vermelho é o sangue
O meu caro amigo David Cameira confessa à Voz o seu pecado da cólera contra os votantes do Bloco de Esquerda. Considera-os arlequins. Para um protestante calvinista, não-crente em sacramentos, aconselha-se a leitura demorada do versículo 26 do capítulo quatro da carta aos Efésios: "não se ponha o sol sobre a vossa ira". Há que sair à rua e procurar um jovem que pague as quotas da Amnistia Internacional. Depois, com a paciência de Elias, dizer-lhe que se não fosse a pena de morte não havia Salvador para ninguém.
Dos espíritos
Numa frugal representação cénica no culto de hoje da Igreja Baptista de Moscavide represento o papel de um anjo que permite/obstrui a entrada no Céu. Os ilegais seguem para o inferno. A qualidade da mise-en-céne é terrível mas as possibilidades filosóficas são diversas.
Volto já
Afazeres religiosos constrangem uma actualização decente da Voz. Amanhã regressamos sem rouquidões.

sexta-feira, junho 27, 2003

Se é alguém que crê na predestinação que o diz...
A última vez que sangrei do nariz estava na ONU, em Nova Iorque.
Jeovah Jireh
É por causa de postes como os de Francisco José Viegas no Aviz sobre o sionismo que vale a pena sucumbir ao deslumbramento da blogosfera.
Não passarão
Vejo na televisão duas mulheres da esquerda. Imprevisivelmente, prefiro a Dona Odete Santos. A doce Ana Drago suscita-me sentimentos adversos: fico sem saber se devo implorar-lhe que me ajude a ser cliente habitual do Lux ou mandá-la ir morar um ano para a Reboleira.
Tráfico de influências
O meu forte agradecimento ao Nuno Jerónimo dos Marretas. E aproveito para passar a outro: visitem o meu amigo Samuel Úria.

quinta-feira, junho 26, 2003

Profecias explícitas
Para quem chega à Voz do Deserto vindo da revista oficial dos professores do ensino secundário fique sabendo que este blogue se dedica a assuntos teológicos, discografias essenciais de trash metal dos anos 80 e tentativas de demonstração que o livre-arbítrio é uma invenção fraudulenta da Revolução Francesa.
Apontamos o Caminho. É só escrever-nos para a morada acima referida.
Pequeno exercício de narcisismo
Comprei a revista Visão.
Just like the prodigal son, I return!
Enquanto considero a minha dificuldade com padrões técnicos de devoção ouço o "Jump Around" dos House Of Pain.
Sião
Vale a pena o poste do Aviz sobre o sionismo. E já agora, qualquer dia temos de nos atirar à discussão sobre quem são, afinal, os judeus. Ó Deus de Abraão, de Isaque e de Jacob, insondável é o teu sentido de humor que tantos deixa sem sequer conseguir esboçar um sorriso!
Alguém que acordou com receio da vertente opinativa da blogosfera
"Assim me parece, contra a opinião corrente, que, na utilização do nosso espírito, temos, na maior parte dos casos, mais necessidade de chumbo que de asas, de frio e de repouso que de ardor e agitação". Montaigne em "De três espécies de convivência".

quarta-feira, junho 25, 2003

Pergunta do dia
Que terá pensado Jesus
ao ler o "Estrangeiro" do Camus?
Observação
A Lisboa do Saldanha é suspeita. Demasiado limpa e funcional.
Derivação no Êxodo
Ontem disseram-me que o meu português não é compreensível em termos televisivos. Se Moisés tivesse de libertar hoje o seu povo das mãos do Faraó a praga final seria a das jovens moças jornalistas.
O Serzedelo quer-lhe amaciar o pêlo
Segundo o Valete, a Opus Gay deseja processar César das Neves por suposta apologética homofóbica. Qual é o crime que é praticado? A afirmação pessoal de que considera a homossexualidade moralmente condenável?

terça-feira, junho 24, 2003

Mais uma vez, Chesterton
"The exciting question for real scepticism is whether we possess past life".
Contas de cabeça
A mais feliz correspondência sobre contabilidade encontra-se aqui.

segunda-feira, junho 23, 2003

Obrigado, Senhor!
As preces vão sendo respondidas. A alma do Pedro Lomba já está no lado da eternidade.
Mestrices
Amigo Bruno, tanto ouvi de Michel Foucault que no final da licenciatura já atribuia mais densidade filosófica ao Michel Vaillant.
DeDireita versus Voz III (e final, por enquanto) - a vez da metáfora doméstica
Aparo a barba utilizando umas folhas de jornal no lavatório. Para evitar ter de enfrentar epopeias em prol da higiene. Debaixo do aparelho que zumbe reza o título "Igreja Maná com pouca incidência na Madeira". Amigos do DeDireita: percebem agora onde Nietzsche não chegou? Ficou ao nível das torneiras mas não atingiu a mão do fiel que lida com a irremediável natureza.
DeDireita versus Voz II
"É preciso, segundo Nietzsche, abandonar as posições de Niilismo passivo ou relativo (que considera a morte de Deus como uma perda irreparável) optando, em seu lugar, pelo Niilismo activo, o do homem que assume como sua responsabilidade de definir valores e leis". O projecto do Frederico não me comove. Lança-me para a demanda da mais sublime legislação. Compreendo o embaraço com os valores metafísicos, o próprio cristianismo os despreza. Mas há que não confundir a fé com a Constantinização. Nietzsche incorreu num erro grosseiro: ao querer desmontar o cristão apenas ridicularizou a cristandade. Vale a pena citar Vittorio Messori: "Este mesmo Deus que, segundo os cristãos, se manifestou em Jesus, vem das profundidades do mistério, desafia as leis que, para a ciência, regulam constantemente as religiões". Prosseguirá.
DeDireita versus Voz
Estava eu impávido e sereno (esta expressão devia ser canonizada) a ouvir o "Napalm na Rua Sésamo" dos Mata-Ratos quando me apercebi que os amigos do DeDireita me chamavam para a arena. Mais um cristão para as feras... Em primeiro lugar convém esclarecer que nada tenho contra o bom do Frederico. Li o "Humano, Demasiado Humano" e muito o apreciei. Simplesmente não sou paciente com a aura dourada à volta do autor, óbvia neste país de um ejaculatório instinto anti-clerical. Continuarei.
Contra a laica sofisticação da existência niilista proponho o Deus da gruta de Chesterton
"The barbarian who conceived the crudest fancy about the sun being stolen and hidden in a box, or the wildest myth about the god being rescued and his enemy deceived with a stone, was nearer to the secret of the cave and knew more about the crisis of the world, than all those in the circle of cities round the Mediterranean who had become content with cold abstractions or cosmopolitan generalisations".
Mais um à mesa
O meu caro Bruno Sena Martins chega atrasado ao mundo dos blogs. Mas vem a tempo. Entre o seu apreço pelo Fórum Social Português e a sua desconfiança com afirmações desnecessárias de heterossexualidade (todas as afirmações são desnecessárias, ocorre-me acrescentar) há um grande trabalho de discipulado a fazer.
Montaigne em Dos Livros
"Quem me surpreender em flagrante delito de ignorância, não me fará nada de mal, pois não posso responder a outrem pelas minhas opiniões, eu que não o faço a mim mesmo e que não estou satisfeito com elas".
Na grafonola
Captain Beefheart and His Magic Band com Strictly Personal.

domingo, junho 22, 2003

O meu contributo para a polémica "Rolo Duarte"
Não havia nenhum disco do Sérgio Godinho para colocar no pedestal na crónica desta semana?
Septuaginta
O caro Latinista escreve: "Animula vagula blandula significa almazinha mutável e meiga e provém dum poema de Adriano, em que pergunta para onde irá a sua querida alma, depois da morte. Gosto muito desta frase e pensei-a apropriada para a Voz". Agradecido. Lendo o Ilustre apercebo-me que andei a desperdiçar as aulas da Maria das Dores no 10º e 11º anos.

sexta-feira, junho 20, 2003

Um Gandhi de fraldas cor-de-rosa
Aprecio e consulto diariamente o blogue de Andrew Sullivan. Mas a sua cruzada das últimas semanas pelo casamento gay deve provavelmente inspirar mais o Miguel Vale de Almeida do que este humilde leitor.
Para acabar com as manias
"The real objection to modernism is simply that it is a form of snobbishness. It is an attempt to crush a rational opponent not by reason, but by some mystery of superiority, by hinting that one is specially up to date or particularly "in the know." (...) The pure modernist is merely a snob; he cannot bear to be a month behind the fashion". G.K. Chesterton in The Case For Ephemeral.
Lição pré-dominical
É obviamente suspeito descobrir o "Seasons in the abyss" dos Slayer depois dos 25 anos. Falam-nos as Escrituras de um jovem rico, religiosamente correcto, que foi ter com o Mestre. Queria saber como herdar a vida eterna. A resposta não apontou para discografias essenciais mas para a suprema sublimação do audiófilo: fogo no leitor de CDs!
Música?
A tirana maioria dos pensadores deste país é equivalente a uma banda de versões (ou covers, para os amaciados).
Reforços
Satisfaz-me a chegada de um judeu à blogosfera. Com tanto calor, esta terra anda a necessitar de um bom ruah. Já agora; "the Jewish religion, unique among religions of the early Middle Ages, imposed an obligation to be literate. To be a good Jew you had to read the Torah four times a week at services: twice on the Sabbath, and once every Monday and Thursday morning". O artigo pode ser lido aqui.
Navegação precavida
Avisa-se que a Voz fala com frequência da religião docemente cruel, nas palavras de Guitton, que é o cristianismo. Quem esperava uma galeria de retratos de ilustres filantropos tais como John Lennon e Martin Luther King dirija-se à coluna semanal do Frei Bento.
Esclarecimento teológico
Ó Valete, pensava que vocês, católicos, já tinham aceite o direito de Maria ter uma vida de realização sexual! A cruz foi para o Filho, não para a mãe.
Momento sobre a actualidade dos blogues
Alexandre tem cerca de trinta anos. Casou há mais de quatro com Teresa. Ela sustenta a casa enquanto ele tenta singrar na indústria nacional com uma banda chamada "Half Past Tennis". No monitor do seu computador pessoal a esposa deixou-lhe um post-it que o admoesta: "Pouco Porno!".

quinta-feira, junho 19, 2003

Alerta
"Sorria com frequência" aconselhava-me um pequeno esquema evangelístico. São de desconfiar todos os evangelhos que dependem da fisionomia do mensageiro.
Faça favor
Os meus agradecimentos ao Pedro Mexia e Pedro Lomba pela referência a este honesto estabelecimento na conversa tardia da Antena 1. É mantido por Tiago de Oliveira Cavaco, o tal calvinista que ouve heavy metal. Está disponível em blogvozdodeserto@hotmail.com.

quarta-feira, junho 18, 2003

Gritas tu e grito eu
Pegando numa ideia já mencionada pelo meu amigo Samuel Úria, aconselho o caro Miguel Vale de Almeida. Há umas marchas que de pouco servem senão chatear os automobilistas encurralados na Avenida Liberdade (o nome é profético, dirão alguns). A minha família atura os estridentes evangélicos que gritam "E quem não salta não vai para o Céu!". Os seus, Miguel, hão-de gemer outra tolice qualquer. Se sociedade mais livre e cosmopolita é isto mandem entrar os verdugos.
Lição sobre góspéle
E por falar em música do Evangelho... cinco palmadas para quem disser que gosta de soul e desconheça quem é Mahalia Jackson. Sim, antes da Aretha. Na altura em que cantar com a alma não era equivalente a um par de jeans desbotados da Levi's.
A grafonola entrega
Comprado na bestial campanha da Valentim de Carvalho por menos de quatro euros: a banda-sonora do "The Apostle". Filme maior de Robert Duvall.
Figura
Carvalho da Silva é um ícone nacional. Um misto de Quixote apeado e sem cavalo, um aperitivo estival, uma figura sem-pecado com o Menino nos braços, um vizinho de Freud, o gago presidente vitalício do Quinto Império.
No ginásio da humanidade...
"Somos manobrados como títeres por músculos alheios" (Horácio).

terça-feira, junho 17, 2003

Metáfora literária
O sucesso de Nietzsche nas livrarias desta terra está ao mesmo nível das boas vendas daqueles bonecos de louça em que um padre levanta a batina e desfralda o seu frondoso orgão viril sempre que estimulado pelo nosso puxar do cordelinho.
Algumas notas sobre Sião
Creio em Sião nos termos dos Novos Céus e na Nova Terra. No entendimento da segunda epístola de Pedro, versículo treze: "Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça". Esta espera pela Nova Jerusalém não alimenta utopias, pequenos-almoços com bacon nem ascensões sociais.

segunda-feira, junho 16, 2003

Pedra preciosa
Por várias e diversas razões a cantiga "Maldito Amor" da Ágata é o protótipo do tema perfeito de música ligeira.
Diz Montaigne
"Os que manejam os negócios dependentes das capacidades humanas são desculpáveis de o fazerem como podem, mas aqueloutros que nos vêm ludibriar com certificações de uma faculdade extraordinária que está para além do nosso conhecimento, não se deve puni-los por não se cumprirem as suas promessas e pela irresponsabilidade da sua impostura?"
É alinhá-los, meus caros! Pregadores, visionários, curandeiros e apóstolos da revolução.

domingo, junho 15, 2003

Notas sobre o serão II
E asseguro que nem Nietzsche, nem Marx, e muito menos Freud me metem algum medo.
Notas sobre o serão
Na Igreja Baptista de Moscavide discute-se o problema do mal. Arrisco que o meu Deus não se constrange aos conceitos de bem e de mal. Kierkegaard falava de uma suspensão teleológica da moralidade, por exemplo, no caso do sacrifício de Isaque. E a Justificação na qual creio opera-se pela morte propiciatória de Jesus. O Céu não é para os bonzinhos nem o Inferno para os que se portam mal. Acabo o serão no restaurante chinês a assegurar que as mulheres depois de se casar deixam de ser pegajosas para passar a ser outra coisa qualquer.
Visita à Feira do Livro II
Choro pela minha cidade. Portugal não conhece traduções das Institutas de Calvino.
Visita à Feira do Livro
Compra-se o "Gato de Balthus", muito à custa da presença do Zé Mário pendurado no meu frogorífico.

sexta-feira, junho 13, 2003

Cinzas oportunas
Feliz elocução esta: "there are two characteristic figures in Europe today: the deeply Europeanised anti-European and the deeply Americanised anti-American". O seu autor é Timothy Garton Ash e o artigo completo anda por aqui.
G.K.Chesterton
Já que se falou em cultura anglo-saxónica e esguias modernidades, uma provocaçãozita de Chesterton: "The modern habit of saying"This is my opinion, but I may be wrong" is entirely irrational. If I say that it may be wrong, I say that is not my opinion. The modern habit of saying "Every man has a different philosophy; this is my philosophy and it suits me" - the habit of saying this is mere weak-mindedness. A cosmic philosophy is not constructed to fit a man; a cosmic philosophy is constructed to fit a cosmos. A man can no more possess a private religion than he can possess a private sun and moon".
Necessidade de absolvição
Eu, pecador contrito, confesso que aprecio as festividades populares do Santo António. Estive lá. Chafurdando em prazeres sensuais. E escrevo isto ao som do Paranoid dos Black Sabbath.
Blogosfera abrupta II
Mas que fique claro. Não tenho especial devoção pela cultura anglo-saxónica. E reconheço que a Idade Moderna deixou-nos mazelas consideráveis no pensamento contemporâneo. Perdoem-me o excesso de itálicos. Sempre o estúpido temor ante a linguagem. Esperamos novos fenómenos de glossolália.
Blogosfera abrupta
Com interesse o poste de Pacheco Pereira sobre a natureza dos blógues. De referir o seu gosto por um clima árduo e desenvolto de debate, como é comum na tradição anglo-saxónica, e típíco das sociedades liberais e raro em Portugal. Há uma latinidade avessa à reflexão rigorosa? Se sim, por que razões? Arrisco apenas uma e, claro, tinha de ser esta. Não existiu Reforma Protestante em Portugal.
Na grafonola
New Morning do Dylan - o disco em que esperou até ficar constipado para gravá-lo.
Desabafo no rescaldo da idolatria
Tenho uma séria propensão para desconfiar de pessoas que vivem sem qualquer tipo de conflito interno.

quinta-feira, junho 12, 2003

Ainda
Para todos os hipócritas assumidos/mascarados empedernidos e não só, a morada continua a ser esta blogvozdodeserto@hotmail.com.
Da aridez com amor
Para os queridos inimigos da farsa capitalista que engrossaram a multidão do Fórum Social Português, uma citação de Jean Guitton: "Toda a sociedade moral, obrigada a parecer aquilo que deseja ser, mas ainda não tem a força de ser, é condenada a uma hipocrisia provisória. Porém, quando o homem toma consciência da sua fraqueza ao mesmo tempo que das suas obrigações, a hipocrisia torna-se uma necessidade. De aí a pensar-se que, em suprimindo a convenção, em rejeitando a máscara, se encontraria a simplicidade e a integridade da natureza não vai senão um passo" (do Ensaio sobre o amor humano).
Cachapa
Possidónio, concordo. Sou dos que olha para o exercício da auto-censura como um gesto de liberdade.
Possibilidade
É terrível a associação que se faz entre a música de Bob Marley e o Verão. Mas há outra coisa no trovador por barbear que interessa discutir: a espera pelo Messias já concretizada do rastafarianismo ("mighty God is a living man"). Eu acredito que o comunismo é, ao centímetro, equivalente. Um sebastianismo a querer sair do armário.

quarta-feira, junho 11, 2003

Mitos
Diz a lenda que todos aqueles que escutavam os Velvet Underground criaram a sua própria banda. Esperamos ansiosos pelo início da carreira a solo dos infames.
Lamento
Uma pessoa regressa de uma estadia semi-tropical na Ilha da Madeira e descobre a sua cidade em ruínas... "Junto dos rios de Babilónia, ali nos assentamos e choramos, quando nos lembramos de Sião" (Salmos 137:8).

sexta-feira, junho 06, 2003

Vestígios do cançonetista
Caro Ricardo, uma pista para a distinção do percurso do Marante no Agrupamento Diapasão da sua carreira a solo. Os seus discos a título pessoal primam essencialmente por versões de temas brasileiros e latinos. Poucos são os originais do artista. Muitas baladas e uma consistência interna mais desequilibrada.
Eucaristias
Diz Sullivan: "Only, say, five years ago, the editors of the New York Times had much more power than they have today. If they screwed up, no one would notice much. (...) Suddenly, criticism could be voiced in a way that the editors of the Times simply couldn't ignore. Blogs - originally smartertimes.com, then this blog, kausfiles.com and then Timeswatch.com and dozens and dozens of others - began noting errors and bias on a daily, even hourly basis". Por que é que em Portugal o mesmo não é possível? Arrisco uma resposta parcial. Como bom país católico que somos necessitamos de uma legitimação externa. Uma sacramentalização útil. Os blógues são agora assunto do dia porque Pacheco Pereira os credibilizou. Não será inteiramente justo. A Coluna e o Blog-de-Esquerda já haviam iniciado a empresa - jornalistas encartados podem administrar a hóstia. Na América a conversa é, nestes terrenos, outra. À custa de muito calvinismo, a iniciativa do indivíduo está enraizada. Os tontos de costume têm dificuldade em entendê-lo. Há sempre um padre que os absolve deste pecado.

quinta-feira, junho 05, 2003

Vegetarianismo
O Pedro Mexia falou do Adolfo Luxúria Canibal. Mas Adolfo já não morde a carne a ninguém. É tão previsível e politicamente ordeiro quanto António Guterres.
Emoção velho-testamentária
Relembro a primeira vez que toquei guitarra eléctrica. Devia ter uns 14 anos. E quando liguei o pedal de distorção entendi aquilo que Abraão sentiu quando Deus comparou o céu estrelado à descendência futura daquele velho homem.
Prece
É óbvio que as mulheres passam mais tempo em oração do que os homens. A sua capacidade de fazer conversa é inequivocamente superior.
Serviço profético
Chamaram-me Woody-Allen-pós-13-de-Maio da blogosfera nacional. Chamaram-me cão da pradaria. Estes baixam às águas. Mas, nos outros, a impenitência e o receio do baptismo é uma coisa terrível.
Metáfora sobre a existência
Aspirar a casa e ouvir Depeche Mode ao mesmo tempo.
Balanço do "É a cultura, estúpido!"
Quando Ló foi avisado por Deus para abandonar Sodoma não poderia olhar para trás. Para a sua cidade em chamas. A sua esposa desobediente, sinal profético do desregulamento cognitivo feminino, tornou-se uma estátua de sal.

quarta-feira, junho 04, 2003

Títulos
Nos EU discute-se o cabimento do termo terrorista cristão. A prisão de Eric Rudolph ofereceu o pretexto. Afinal, Deus efectivamente entregou ao homem a tarefa de nomear os animais.
Linhas
Este blógue é mantido por Tiago de Oliveira Cavaco. Aceitam-se elogios tendo como referência semelhanças entre o autor e o Padre António Vieira. Em blogvozdodeserto@hotmail.com.
Postes ocultados
O Possidónio escreve sobre a questão da retirada de postes nos blogues: "não me consta que seja falta de etiqueta alterar os nossos próprios posts emendando gralhas, às vezes a mão demasiado impulsiva ou remetendo as polémicas de caquinha para o seu lugar na hierarquia das coisas". Certamente. A questão é que, por vezes, a melhor forma de honrarmos o nosso opositor é não abandoná-lo no campo de batalha. Não era o Unamuno que dizia que a guerra podia ser um acto de amor?
[A verificar também a posição da Memória.]
Spray
O BlogSobreKleist menciona uma iniciativa referida pela imprensa que consiste na limpeza de grafitos. Mas julgava que estes eram uma legítima e espontânea manifestação da estética suburbana. Tantas vezes o li em artigalhadas de segunda nesta atinada imprensa nacional. Não me desconsiderem antecipadamente: há uns anos atrás considerava-me admirador deste fenómeno chegando até ao ponto de, eu próprio, ter feito uma tentativa de grafito numa parede pública. Entretanto e devido a epifanias diversas deixei-me destas brincadeiras. Mas olho com a bonomia de Jezabel para os presidentes de câmaras que se preocupam em ocupar as mãos ociosas dos novos artistas de telas de cimento com tijolinhos brancos à sua disposição.
Bom
É um especial prazer crer na doutrina da Justificação e simultaneamente ouvir o "Breaking The Law" dos Judas Priest.

terça-feira, junho 03, 2003

Profecia
Amanhã a voz que clama no deserto soará no S.Luiz (18.30, "É a cultura, estúpido!").

segunda-feira, junho 02, 2003

Oitavas desfocadas
Aproveitando a boleia de alguns blógues que mencionaram a banda sonora que Tom Waits oferece ao filme de Coppola que passou na semana passada no Canal 2, menciono um momento-chave. Na inicial "Once Upon a Town" há uma desafinação do trovador esclarecedora. A música, como tudo na vida, não é feita de aparência. E não é casualmente que Waits fechava o seu período jazz com este disco. Os seguintes falariam de uma epifania que não se compadece com afinações terrenas.
Montaigne em "Da amizade"
"Não me importa qual seja a religião do meu médico ou do meu advogado; tê-la em consideração não tem nada que ver com os serviços amistosos que eles me devem. Na relação que comigo estabelecem os meus servidores, procedo da mesma maneira. Pouco me interessa saber se um lacaio que que tenciono contratar é casto; cuido apenas de me informar se é diligente. Não me assusta tanto um palafreneiro viciado no jogo como um que seja imbecil, nem tanto um cozinheiro que seja praguejador como um incompetente. Não me ocupo de dizer o que se deve fazer no mundo - já há bastantes que o dizem - mas de dizer o que eu nele faço".
Esperança
Interessante a menção da esperança pelo Zé Mário como elemento de distinção entre a esquerda e a direita. Haveria muito a dizer, mas apenas uma nota: "a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Romanos 5:5). Esta não aponta para um Reino que vem montar o tabernáculo entre nós, após um processo de iluminação colectivo das consciências humanas (crença comum entre muitos esquerdistas e pseudo-clérigos). Aí não estamos efectivamente confundidos. Esperançosos esperamos no Deus que sustém esta terra mas que não está subjugado por ela. O que para muitos é o escândalo de acreditar em outra vida pode ser a suprema inconformidade dos cristãos. E nesta, nem todos conseguem acreditar.