sexta-feira, julho 29, 2005

Saída ronronante
Tenho uma gaveta inundada dos tais polos da La Redoute (by the way, a Laetitia funciona mas que tal uma Christina Ricci? O futuro da roupa de Verão está nas meninas roliças). À vontade umas 15. As promoções são o ópio do povo. O problema é o símbolo bordado no lado esquerdo: medonho. Lisinha a camiseta seria irrepreensível.
Andei uns anos de candeias às avessas com as t-shirts. Actualmente tolero-as desde que com um argumento decente. Uma banda ou uma frase manhosa podem redimir uma peça de roupa sem gola. Mesmo assim aconselha-se a prudência. Uma pessoa não é um atoalhado.
Chegam as férias. Nevermind the bollocks, Agosto é o mês. Já orientei um skate e tudo. Rodinhas e literatura - o Verão é meu. Volto em Setembro.

Imitem o gatinho.

quinta-feira, julho 28, 2005

A terceira pedra
Entre a pedra de esquina e a pedra de tropeço o meu coração balança.
A segunda pedra
Já que se é rocha mais vale que se seja rolante.
A primeira pedra
Quem censurará o pobre Brecht por gostar de seduzir meninas católicas?

quarta-feira, julho 27, 2005

Clique!
Virarmo-nos para o Hegel e dizermos-lhe: "parto-te a boca toda".
Nome
Chamamos Cimbalino à menina de quase 15 meses que dorme na cama de grades cá de casa. Uma pequena dose de cafeína com pronúncia própria.

terça-feira, julho 26, 2005

Cinturinha
O meu cesto da roupa suja percebe mais de religião que o Doutor Soares. Sobretudo agora que comprei um cinto panque (coisa que deveria ter feito em 1993). Meto parcialmente o polo por dentro das calças para o brilho do metal se ver.
Os acessórios indumentários são como os advérbios de modo. Têm de aparecer volta e meia. Não me levem a mal os leitores do Hemingway.

segunda-feira, julho 25, 2005

Já cá faltava uma metáfora religiosa
A situação é tal que um homem até pode esquecer-se de como andava de bicicleta.

sexta-feira, julho 22, 2005

Prémio
João: o mais intelectual dos discípulos, o mais terno dos apóstolos, o mais arreliado com os gnósticos, o mais arrebatado pelas visões. Um evangelho, três cartas e o Apocalipse. A bibliografia perfeita em quatro volumes.
O Nobel que se lixe.

quinta-feira, julho 21, 2005

Efeméride conjugal III
Há uma cantiga que fiz há uns anos (faço cantigas bem razoáveis) que diz: "quando Adão errava sozinho/ Deus inventou-lhe o matrimónio/ Fez-lhe bem a ele/ e mal ao demóóónio (cantado à mexicano, bem arrastadinho)". A frase é inspirada numa coisa que Lutero escreveu (o tal que toda a gente gosta de malhar mas que foi o único que ficou para a História por ter atirado um tinteiro à tromba do Diabo e isso para mim chega).
Efeméride conjugal II
O que uma pessoa leva de três anos de casamento? Um reparo. "Tens estrias nas nádegas". Assim. Eu que não sei o que são setenta quilos num corpo viril. "Tens estrias nas nádegas".

quarta-feira, julho 20, 2005

Efeméride conjugal
Hoje é um dia especial: eu e a minha mulher fomos à inspecção e as nossas duas viaturas reprovaram. O amor é uma coisa linda.

terça-feira, julho 19, 2005

Frederico pico-pico
Nos meus dias universitários tirei umas cadeiras de Cinema. Em boa hora larguei pretensões fílmicas. O "pessoal de cinema" era uma seita de ascetas em voto de silêncio para a minha timidez de recém-convertido. E porque só fui duas vezes à Cinemateca pouco lhes ouvi o pio. A dada altura rabisquei uma sinopse para curta-metragem. A coisa, confesso de memória embaraçada, planeava uma cena em que numa bomba de gasolina uma rapariga deixava cair um livro do Nietzsche. Um rapaz perseguiria-a para lhe restituir o volume.
Com tanto escritor por que escolher o fatídico alemão? Poderia apontar o encaminhamento ideológico da Universidade mas seria demasiada auto-complacência. Afinal por essa altura já lia o Pascal, o Sören e o Agostinho. O facto de 89% dos países industrializados do mundo possuirem adolescentes que citam ejaculatoriamente o peludo Friedrich mostra que quer com habilitações académicas ou não o ser humano só dificilmente pode ser admirado em fases de transição fisiológica.
O menos vexante na Faculdade são as praxes e as bebedeiras. Azar o meu que apenas experimentei um pouco das primeiras.

segunda-feira, julho 18, 2005

Secção infantil
Jesus disse "deixai vir a mim as criancinhas" mas não durante a hora do culto. O barulho dos infantes nas igrejas evangélicas é tal que duvido que as criancinhas digam "deixai vir a nós o Senhor Jesus".
Amigos meus a falar mal de amigos meus
Chesterton diz que Lutero "era um talento único e especial para a ênfase; para isso e nada mais".

sexta-feira, julho 15, 2005

Um amigo
Chama a este blogue a Voz dos D'zrt. Venham as adolescentes aos gritos. Estou preparado.
Correntes
A irmã Aida regressou à igreja após longos meses de doença. Na reunião de ontem agradeceu comovida as orações da congregação.
A oração, mais do que alterar o curso normal dos acontecimentos, cria sentimentos de dívida entre as pessoas. E isso nos nossos dias é precioso.
Não há problema algum em procurar o sobrenatural. Existe até uma taxa insuficiente de pastores pentecostais por metro quadrado neste singelo Portugal. Mas amealhar milagres até os pagãos fazem.
Uma igreja decente algema os crentes uns aos outros. Prefere cristãos que tropecem acorrentados a ex-coxos a correr a maratona.

quinta-feira, julho 14, 2005

Ficha técnica provisória
A Globo já prepara o filme sobre a minha vida. Brasil? Ó-ié. Por volta dos meus 40 vou atravessar o Oceano e abrir a minha própria igreja (uma pequena vingança pessoal). Já existem alguns actores confirmados.

Para me interpretar (o meu avô era um digníssimo calvo):

Raul Cortez

No papel da minha mulher:

Suzana Vieira (a actriz não representará tão decotada que uma evangélica tem uma imagem a manter).

No papel do Pastor João Rosa de Oliveira, o homem que me baptizou:

Ary Fontoura

No papel de Martinho Lutero, personagem que me visita em sonhos durante uma crise renal após o nascimento do meu quarto filho

Lima Duarte

No papel do Miguel, meu amigo e cunhado:

Reginaldo Faria.

O cast é conservador. Anos 80. Não há nada a fazer.

quarta-feira, julho 13, 2005

Página ronronante
A Gata Nuvem roça-se na lombada dos livros enquanto os leio. Há uns tempos, de volta de um volume sobre a vida de um missionário escocês do século XIX, tanto ternamente afocinhou que fez sangue.
Felinos e literatura: mais um lugar-comum que não ouso desafiar.

terça-feira, julho 12, 2005

As a virgin
A Rolling Stone deste mês trata da nova geração de virgens americanos. Deste lado do Atlântico também há castidade. Eu e mais uns quantos. Tenros evangélicos, claro.
A libertação sexual do século passado foi de tal modo que quem não estiver para aí virado racha lenha. Que os libertinos também lançam anátemas já todos sabíamos. Nos meus tempos de Faculdade eu era o único "virgem ideológico" (talvez a desculpa perfeita para virilidade entalada). Uma modalidade de refugiado político suscitando humor entre os rapazes e curiosidade nas meninas. Tempos divertidos, portanto.
O orgulho da contra-cultura: o que um tipo não expele em fluídos ganha em brio revolucionário. Não me contaminarei. Daniel na cova dos leões. A Babilónia que se dane. O jovem protestante atinado orgulha-se de não fornicar. Até os católicos das hóstias fornicam. O evangélico é especial.
Desvantagens são algumas. Com tanta cartilha anti-carnal erige-se uma copulocracia. Tudo gira à volta da coisa. Uma visão sobre a sexualidade demasiado coital, devemos reconhecer nós os castos. O casamento acertará contas connosco. Aleluia.
Nestes dias contraceptivos que me perdoem os falo-frades, as feminazis e restante função pública de Gomorra: o indignação com a virgindade só existe para quem na sua erecta pequenez reduziu o mundo a uns quantos centímetros abaixo do umbigo.

E há blogues fantásticos: meet Sexless In The City, de uma donzela nova-iorquina. A Rititi vai-se passar.

segunda-feira, julho 11, 2005

R.D.A.
Demasiado álcool. Demasiada desinibição nas mulheres. Demasiado volume no PA. Eu encostado ao palco emprestando um ar levemente intelectual à assistência. Outro rapaz, do lado oposto, com a mesma pose sofisticada e uma t-shirt dos Circle Jerks. Mais tarde arriscará mergulhar do palco para cair desamparado no chão de madeira dos Recreios Desportivos do Algueirão. Namoradas de guitarristas cantando letras de cor. Em inglês. Completamente transfiguradas do semanal nove às seis no escritório de advogados onde desempenham funções administrativas. Vendo discos a um euro e ofereço um a uma velha glória do panque nacional presente no evento. Ele abençoa-me legitimando no nosso som o legado apostólico incorruptível perante as filistinas novas tendências.
Muitos elogiam as letras das cantigas. No auge do torpor etílico há quem as classifique de "crítica social". No dia em que fizer canções de "crítica social" atem-me uma pedra de moinho ao pescoço e lancem-me da Vasco da Gama.
Saímos ainda a última banda toca. Não nos despedimos convenientemente de ninguém. Há entre os músicos uma compaixãozinha sindicalista no fim de cada concerto que urge evitar. Já vi belas amizades estragarem-se por menos.

sexta-feira, julho 08, 2005

No seguimento do poste anterior
Eu não tenho feridas latentes. Eu tenho feridas lactentes.
Uma visão
Na praia de Cabanas de Tavira vejo pela primeira vez ao vivo umas mamas de silicone. A senhora, já perto dos 50, exibe-as acompanhada de dois homens que podem ser marido e sogro. Ou marido e pai. É mais estimulante.
A(s) coisa(s) funciona(m) como um novo penteado que ainda não nos fartámos de espreitar ao espelho. Uma orelha acabada de furar. Tatuagem em tinta fresca. Ao cruzar-me com o trio finjo não encontrar relevância nas exactíssimas glândulas. Como quem nega à ciência a virtude de imitar a natureza.
Até chegar à toalha e testemunhar à minha mulher da recente parousia todos os outros vigorosos bustos que passassem eram murchos perante o poder encantatatório do simulacro.

Para o Bruno.

quinta-feira, julho 07, 2005

Festival
Nos últimos meses tem-me apetecido ficar para a memória colectiva como guru da música cristã portuguesa do início do século. A voz que disse às bandas evangélicas: "deixem de ser parvas!" (do latim, parvo, pequeno, sobretudo na acepção espiritual do termo). Pouco sei da existência da "música cristã portuguesa". Na verdade, pouco sei de "música portuguesa" tão somente. O meu arrebatamento nocturno mais optimista o máximo que consegue é balbuciar que ou o Reininho acorda ou a República definha.
Amanhã vai existir o Festival da Cave da Igreja, na cave da Igreja Baptista de Queluz, mangedoura que me viu nascer par as cantigas. Entre o burro e a vaquinha. Cravei, chatageei, subornei e manipulei oito grupos de adolescentes com sobredoses de tempo livre para integrarem um evento que marque a calenda protestante. Não são propriamente os doze discípulos. Há pelo menos três bandas a cantar em inglês o que desequilibra a percentagem de traidores junto do Mestre. Siga. Vai-se levar a mão ao pão. Cada um faça o que tem a fazer.
Não deixem migalhas para os ausentes.

FlorCaveira está mal escrito neste cartaz. Naqueles que estão espalhados por Queluz a coisa já aparece corrigida.

quarta-feira, julho 06, 2005

"Querido, mudei a casa" é um dos programas do lar
Rendi-me à pressão matrimonial. Arranjaram agora um decorador que tem uma costela de Teresa Guilherme: esbanja fulgor esotérico. Arrumar uma cave tendo em conta os quatro elementos da terra, ar, fogo e água é, para além ridículo, disparatado. O problema destes místicos da Nova Era é pôr boas vibrações em tudo. Uma religião digna do nome sabe onde deve parar. Está uma pessoa entretida a ver as mudanças na casa do parceiro e leva com um balde de filantropia pela cabeça abaixo. Não há karma que resista.
I had it coming
Só um poste com a expressão "aviar um preto" para ressuscitar a caixa de correio do blogue no mês de Julho. Deixam cair, não sem alguma gentileza, a suspeita: serei racista? Claro que sou racista. Se vivo com duas mulheres na minha casa e continuo com medo do género não haveria de temer pretos que o mais perto que estão é cinco andares abaixo? O que fazer do escândalo de existir vida para além de nós próprios? Assusto-me facilmente. Quanto mais diferente mais borradinho fico.
O inevitável: um amigo, preto, escreve-me lamentando o textinho. Devo-lhe explicações. Não pela sua pele mas pela nossa amizade. Hermeneutizo a coisa: o "preto" naquelas linhas não é uma pessoa (aliás, se alguém quer ser uma pessoa no meu blog o melhor que posso fazer é linká-lo mal arranje o seu próprio blogue - este filme tem actor único desde o primeiro caracter, há mais de dois anos, segundo consta). É um bandido. Podia ser um cão. É um satélite em relação ao planeta que sou. Um agente de perigo externo. Sendo que tem a pele escura, facto abosutamente essencial para a acção.
Mas aproveito a preocupação do meu amigo. Censuro-lhe que a dúvida no meu suposto racismo assente mais no que escrevi do que ele conhece em mim. Convém distinguirmo-nos de Ana Drago, pessoa reputada pela sociedade portuguesa em geral por não ter medo de nada. Para ela o racismo é mais o que se diz do que o que se é. Por isso ser-me-ia elogioso ser acusado de xenófobo pelos rigorosos lábios da deputada.
O preto que assaltou o Ricardo não o fez de palavra em riste. Fê-lo com a consciência que o facto de ele, preto, estar a assaltar um branco é mais afiado que a lâmina que segurava. As minhas letrinhas são compensaçãozita pouca de um mero racista cobarde. Mais que racista, cobarde. Tomem nota, ó destemidos humanos.

Não resisto a usar a ilustração do meu amigo Silas. No excelente blogue que tem há mais. Eu sou a vaquinha ao lado do gato do cassetete.

terça-feira, julho 05, 2005

Rotina diária
Exercitar o cinismo para sobreviver entre os crédulos. Exercitar a crença para sobreviver entre os cínicos.
Sina Go-ga
O meu cunhado e o meu amigo Evaristo foram à Sinagoga de Lisboa. Vieram de lá impressionados. Nunca tendo estado em alguma calculo a seriedade da coisa.
A força dos evangélicos é também a sua debilidade: serviços de culto demasiado animados, liturgias flexíveis demais e excessiva abertura aos tempos. Já nos sobra pouco da decente leitura da Palavra que herdámos dos judeus. Até os católicos nos devem bater na matéria, nestes dias maus. Os protestantes que fanfarreavam o seu apego às Escrituras actualmente não suportam ouvi-las sem acrescentar um bitaite. Estamos mal.
Há um preço por termos comunidades que crescem. A poupança hebraica não é para os nossos bolsos. Resta-nos os salões cheios. Podia ser pior.

segunda-feira, julho 04, 2005

Honorário
Em seis semanas oito concertos. Demasiado curtos para o tempo passado a carregar amplificadores. Quem corre por gosto não só se cansa como ainda se habilita a ouvir o escárnio daquele que está sentado. Sábado, madrugada adentro e a cama ainda longe. Com o culto de Domingo a começar às 10. Vidinha dupla de aspirante ao estrelato musical sob a capa de solícito sacristão.
Não se pode servir a Deus e a Mamon. Só um pagará o 13º mês.
Galinha
O meu amigo Ricardo aviou um preto que se preparava para o assaltar. Melhor. Eram dois e uma faca. Anteviu uma hesitação no olhar dos bandidos e num soco deitou abaixo o da lâmina. O outro, previsivelmente cobarde, fugiu. Ainda em terra o derrubado recebeu um tratamento de pontapés nas costas que o vai impedir de dançar quizomba durante dois meses.
O meu amigo Ricardo não é fanfarrão. Aviasse eu um preto e nunca mais me calava. Não vale a pena tanger as cordas do fado da Linha de Sintra. Sou um mero mensageiro satisfeito em arrancar uma pena à galinha das estatísticas.