sábado, dezembro 30, 2006

Festejo necessário ou acabar o ano em beleza
O que justifica a quebra do sabbath e de umas abençoadas férias santas? A comemoração da morte de Saddam Hussein.
Minhas meninas, tenham paciência. Como dizia um senhor da Spectator aqui há uns tempos, um indivíduo com actos da estirpe do iraquiano não merece um julgamento justo. Eu até compreendo que ao circunscrever na pele todo o devir existencial a contemporaneidade se escandalize com a pena de morte. Por isso é que dava jeito que se levantassem uns cristãos de jeito em sua defesa, que creio inteiramente justa numa circunstância destas.
Humanismo é não ter acabado a rastejar pelas ruas de Bagdade, Mussolini style.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Sixteen é o número da esperança
"Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quanto o receberam, deu-lhes o poder de serem feito filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome."
João 1:11-12

Ontem um dos meus miúdos (os adolescentes da Igreja Baptista de Moscavide que estão à mercê da agenda de actividades que lhes preparo) dirigiu pela primeira vez a meditação sobre a Palavra no culto. E escolheu precisamente o texto de João sobre o logos que se fez carne. Há razões para optimismo em relação a esta geração.
Vão para dentro e invistam numa boa consoada (não esquecendo a de amanhã no Lótus Bar com direito a prenda fonográfica). Leiam pelo menos dois versículos da Bíblia que a vossa vida vai melhorar.
Bom Natal, amados leitores!

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Vitória pedestre sobre a cultura
Urge referir as compras do ano no que ao calçado se refere. Devo esclarecer que não compro sapatos desde os dois primeiros anos do meu casamento. Talvez 2007 venha a conhecer excepção.

- O terceiro lugar no pódium vai para os Adidas Campus que o meu cunhado teve o cuidado de me oferecer. Por 19 euros no Freeport de Alcochete o consumidor pode sair calçado em classicismo e algo de colorido arrojo.


- O segundo lugar pertence a uns recém-adquiridos exemplares obtidos pela módica quantia de sete euros e meio na Bamboo Oriental Clothing (ou seja, o novo e recheado armazém dos chineses de Moscavide). Parecem-se com uns all-star sem a borracha e encaixam perfeitamente na nova tendência de tamanco-todo-branco-à-enfermeiro que tem feito as delícias da moda ocidental. As costuras e acabamentos não têm de todo o sino-profissionalismo policial de Tianamen, por isso é usá-los enquanto o cândido brilho existe.


- Por último, o primeiro lugar destina-se aos, já uma vez referidos neste blogue, Adidas SuperSkate transaccionados por catorze euros e noventa no Carrefour de Oeiras. Tivesse eu achado o número acima e fariam parte do uniforme diário.

Uma nota final acerca do regresso inquestionável do ténis-bota, essa conquista estética dos anos oitenta. O calçado começa por trepar a perna e rapidamente chega ao coração, perdoem-me a inocência poética.

terça-feira, dezembro 19, 2006

O velho fantasma do ethos judeu da reprodução
Sábado passado estive entre casais amigos e era o único pai de mais de um filho. Senti-me superior. Assim mesmo. Superior.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

A pré-consoada

Para marcar na agenda.
E o videozinho aqui.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Os discos do ano
1- Bob Dylan "Modern Times"
Óbvio. Podia ser o pior disco da carreira de Dylan que continuaria a ser o melhor do ano.

2- Neil Young "Living With War"
O jmf deve estar aos pulos. Mas este, independentemente da minha antipatia pelo pathos político escarrapachado, é um grande disco. Toda a pressa e urgência de Young fazem dele uma aula de roque-enrole para muito doutorado que para aí anda de guitarra em punho.

3- Tom Waits "Orfans"
A deficiente edição não belisca a categoria de obrigatório. São mais de cinquenta cantigas, cinquenta.

4- Boris "Vein"
Provavelmente o melhor disco de hardcore dos últimos vinte anos. O ruído é tanto que as notas da música são mais imaginadas pelo ouvinte que realmente ouvidas. Dez cantigas com menos de dois minutos e depois uma longa para uma dose providencial de tédio pois até Dionísio precisa de descansar.

5- Melvins "A Senile Animal"
Os Melvins são o melhor Heavy Metal do mundo. Engoliram os Big Business, uma banda autónoma, e ficaram com uma guitarra, um baixo, duas baterias, muita gritaria e alguns caracóis grisalhos. A isto chama-se envelhecer com dignidade.

6- Boris e SunnO))) "Altar"
Os Boris metem dois discos nos melhores do ano. Este os japoneses gravaram com os SunnO))) (que este ano foram à Casa da Música salvar a população do monopólio Lopes-Graciano) o que faz de "Altar" um disco-trabalho-de-grupo. Death Metal meets Nico.

7- "Cinco Subsídios para o Panque-Roque do Senhor"
Pode parecer um bocado presunçoso meter um disco parcialmente da minha autoria nos melhores do ano mas uma pessoa tem de ser honesta. Portugal já não via uma coisa tão bem feitinha e fresca desde, sei lá, mil novecentos e oitenta e troca o passo.

8- Wolfmother
Uns Led Zeppelin light para surfistas. Nem mesmo as letras ridículas sobre unicórnios brancos impedem que seja um dos discos mais cool que o mundo ocidental conheceu este ano.

9- Rolling Stones "A Bigger Bang"
Ouve-se e deseja-se ter sessenta anos. Amor eterno a Keith Richards.

10 - Johnny Cash "American V: A Hundred Highways"
Já se esperava. Há pessoas que até mortas lançam melhores discos que os dos vivos.


Notas avulsas: Dois ingredientes essenciais desta lista são o regresso vital do heavy metal (agora como seca-metal e música de intelectuais, muitas vezes disfarçado de post-rock que é o nome mais estúpido que eu vi aplicado ao roque-enrole pois nem o Elvis nem o Chuck Berry nem o Jerry Lee Lewis alguma vez galanteariam Derrida) e a força da idade. Metade desta gente está acima dos 50 anos o que só prova que os nossos dias são maus. Ou, pelo menos, esticamente fraquinhos.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Um sinal
Há muito tempo este blogue tinha uma rubrica que se chamava "Desafinações que incorporam toda a angústia humana" que se iniciou graças ao "You're a Big Girl Now" do Dylan do "Blood On the Tracks". Relembro isto porque hoje cometi um erro para o qual não me consigo absolver: juntamente com o álbum mencionado e com o "Street Legal" comprei por engano o "Desire" quando já o tinha na prateleira de casa. Em mais mais de 15 anos de consumo musical nunca tal me tinha sucedido. Escândalo superior por ser com o Bob.
É, de certeza, um sinal.

Amigo, já sabes o que recebes no Natal.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

A primeira vez
Calhou estar em estúdio com os Lacraus sábado passado. Coisa rara para quem se contentou sempre com a fidelidade da baixa-fidelidade. Como é preciso ter calma com os dogmas quebrámos a rotina franciscana do registo. Gravámos primeiro o básico em ensemble (bateria, guitarra e orgão) e para o final ficaram as vozes. Numa ou outra canção não resisti a um método que me agrada peculiarmente: o do trolha. Sobre o essencial acrescentar entulho. Nada de ornamentação. Entulho mesmo. Caixa chinesa, teclados dos trezentos, reco-reco, por aí fora. Entalar cobertores sobre cobertores na caminha do ouvinte. Se tiver calor, ele que sue que isso também é roque-enrole.
Ah, e a "Canção para a Margarida Marinho" fez parte do reportório. Lá para Janeiro, Fevereiro na Antena 3.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Inter-muros
Por influência pus-me a ler Henry James. Uma frase bestial em "The Europeans": "I have been a Bohemian -yes; but in Bohemia I always passed for a gentleman". Creio que não há muita gente a escrever sobre a sina dos que ficam entalados entre categorias existenciais. É que, para consolidação do meu carácter patético, sempre me senti um Martim Moniz p'lo meio das muralhas da vida.
Tabelas
Nas votações dos Melhores Blogues 2006 do blogue Geração Rasca obtive uns lisonjeadores oitavo lugar na categoria de Melhor Blogue Individual Masculino, décimo na categoria de Melhor Blogue e nono na categoria de Melhor Blogger.
Obrigado pela preferência.
Para o ano ou pódium ou nada.
Red
Os grandes Maradona e Samuel Úria debatem as qualidades e defeitos de Leno e O'Brien. Quedo-me pelo ruivo.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Bestes ófes
Entre uma ou outra lista de melhores de 2006 preparo aquela que refere as 5 melhores noites passadas nas urgências da CUF Descobertas.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Um post anti-moderno
Um homem pode gostar dos bichinhos todos, da tartaruga ao canguru. Mas isto não deve satisfazer todas as angústias morais. O nosso tempo ganharia em abandonar os concursos de quem é mais doce, se são as pombas se és tu, e recordar que a Humanidade não começou no dia em que Nietzsche deixou de ter paciência para ir à igreja.

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Nas bancas
A Revista Atlântico onde se escreve: "Entre outras lições, o Natal ensina-nos que Deus se interessou por salvar a alma de André Sardet. Muitos se afastaram do Cristianismo por não tolerarem que o amor do Criador pelas suas criaturas seja de tal modo acrítico. (...) Duas certezas: o amor de Deus pela Humanidade para além de piroso é contraproducente. Destrói o brio das elites e não recompensa o empenho das suas tropas."