sexta-feira, março 30, 2007

News from the front
Não é preciso entender muito de televisão para concluir que Alexandra Lencastre teve nesta última novela da TVI o pior papel da sua carreira. Entretanto já me meti na discussão entre Erasmo e Lutero e estando ainda no primeiro (defendendo o livre-arbítrio) surpreende-me a razoabilidade e tolerância. Não esperamos tanto bom senso de uma pessoa nascida no século XV. Logo, a minha simpatia continua a inclinar-se para o frade alemão.

quinta-feira, março 29, 2007

A coisa de usar roupa de velhos
Funciona como um truque antiquíssimo que resulta sempre e é pela maioria subestimado. Volta e meia as tendências dão a voltinha e acabam enroladas em venerandos trapos. Hoje usei um casaco de lã do falecido avô da minha mulher, não tanto por esta indecisa Primavera, mas porque me apercebi que a designação técnica apropriada é cardigan e quando temos um nome digno tornamo-nos capazes de envergar os uniformes mais arriscados.

quarta-feira, março 28, 2007

Pequeno tórax
A minha mais nova tem uma colecção de babettes com os dias da semana. Diz assim um: "On Sunday I sleep late". O Domingo é precisamente o dia em que nunca dormirá até mais tarde porque às dez da manhã já está a entrar na sala de oração da Igreja Baptista de Moscavide.
A educação religiosa dos filhos é uma frente imprevisível que até no peito babado do infante conhece ardilosas emboscadas.

terça-feira, março 27, 2007

O Deus que se faz de parvo ou uma metáfora do nosso velho T2
Uma vizinha teve dois filhos que estragavam o ambiente no prédio. Droga e pequena criminalidade que foram o suficiente para serem presos. Como chegámos depois disto tudo, desconhecíamos a ostracização a que foi remetida pelos restantes inquilinos. Relacionámo-nos bem e ganhámos alguma amizade. A chave da harmonia entre as pessoas também pode ser uma questão de ignorância (e o perdão de Deus uma espécie de encenação de ignorância em relação aos nossos pecados).

segunda-feira, março 26, 2007

Do mau perder
Contra os seus princípios os Lacraus tocaram num concurso. Foram seduzidos para essa emboscada através de um telefonema do Fernando Alvim. Os Lacraus, pessoas cheias de integridades estéticas, têm o seu kriptonite na vulnerabilidade a celebridades. Engolir a coluna vertebral é quase sempre uma receita para a congestão. Assim foi.
Das quatro bandas com que tocámos três, previsivelmente, tinham nomes e cantavam em inglês. Como ninguém na música popular liga às palavras, esse estatuto por si só não garante nem vantagem nem responsabilidade acrescida. Em que se distinguem os Lacraus então? Os Lacraus dão espectáculo. Suam, entretêm, são excessivos (e/ou patéticos). A verdade é que o público não se aborrece e fica sossegadinho a ver o que se passa em palco. Não se levanta para ir beber ao bar. As outras bandas não eram todas necessariamente más (a Rita Braga que surge acompanhada apenas de um cavaquinho tem muito charme) mas nenhuma deu show. Ganhou um grupo que tinha vindo do estrangeiro (a quilometragem impressiona sempre), que punha uns videos durante as cantigas (o ecrã impressiona sempre) e que congregava um percussionista com um penteado reminiscente de quimioterapias passadas e uma vocalista gira (uma mulher bonita à cabeceira de um homem moribundo impressiona sempre).
Gostar ou não da música dos Lacraus é um pormenor numa noite em que apenas eles demonstraram trabalho. Entre a star-quality de origens proletárias e uns quantos microfones arruinados percorre-se um caminho que mais ninguém trilhou que representa dedicação ao grande altar dionisíaco que deve ser o roque-enrole. Que não haja consensos, tudo bem. Mas que não se gratifique os recatados quando o objectivo é gozar de uma réstia mínima de êxtase pagão.

sexta-feira, março 23, 2007

Ultimamente tenho lido pouco
Sobretudo porque a minha filha mais nova não dorme as noites inteiras - assim que a deitamos é aproveitar o escasso sono que a Providência nos permite. Sinto muitas saudades (da leitura e das noites inteiras) porque sou vulnerável à ideia que Deus prefere que as suas criaturas leiam a ver televisão. Tenho o Jungle Books para terminar, assim como um livro de artigos do Hitchens, mais uma Vanity Fair do mês passado (a maior de toda a sua história editorial), uma Mojo também do mês passado (com um fantástico especial sobre o Sgt. Peppers) e o desejo irreprimível de me lançar a um volume de confronto entre o Lutero e o Erasmo tem sido procrastinado.
Amanhã os Lacraus tocam na Maia. Para nós, da capital, é tudo Porto mas não é bem a mesma coisa.

quinta-feira, março 22, 2007

Ultimamente vejo pouca televisão
Sobretudo porque a minha filha mais nova não dorme as noites inteiras - assim que a deitamos é aproveitar o escasso sono que a Providência nos permite. Não sinto muitas saudades (da televisão, das noites inteiras sim) e tento apanhar pelo menos um ou outro noticiário (um vício de suburbanos com ascendência rural). De manhã consigo ver o "Abre-te Sésamo" (uma actualização mais breve e contemporânea da Rua Sésamo) que é um grande programa de televisão (e com grandes canções) e que merecia ter DVD à venda. Depois há muito Canal Panda (que diga-se que poderia ser um bom canal infantil mas fica distante disso) e um vago rumor líquido de anteriores comunhões cinescópicas (não foi ontem o Dia Mundial da Poesia?).

quarta-feira, março 21, 2007

Uma descoberta
A meio da cruzada entendeu que gostava mais de matar mouros do que propriamente defender a fé cristã.

terça-feira, março 20, 2007

O último disco de Amy Whinehouse é bom
A cantiga "Rehab" que explica que a cantora ainda não está num estado que justifique a desintoxicação institucional de substâncias explica que até o "Daddy thinks I'm fine". Embora considere fundamental a visão crítica da ancestralidade na nossa conduta presente ("Honra a teu pai e a tua mãe" diz o quinto mandamento) julgo que qualquer desculpa para a reabilitação é preciosa. Mesmo que o nosso vício não seja assim venenoso, mesmo que o nosso pecado não seja assim tão sujo, mesmo que a nossa perdição ainda permaneça nas paredes do Lar, vale sempre a pena reabilitar alguma coisinha.
Amy, põe-te na clínica.
Fábrica Sombria
O Francisco Frazão regressa à blogosfera aqui.

segunda-feira, março 19, 2007

Gostaria de escrever algo sobre "A Bela e o Mestre"
Para além do programa efectivamente me entreter, vale a pena reter alguns aspectos sobre o papel dos juízes (não sou imparcial: estive duas vezes com o Carlos Quevedo e a minha mais velha é sua fã incondicional):
- Clara Pinto Correia passa ao lado da piada do show, que mora na sua eficaz generalização (gajas boas são na maioria burras). Nesse sentido resiste enquanto símbolo granítico daquilo a que na minha Faculdade se chamava excesso de cartesianismo (ou, por que razão é que o cogito deve prevalecer sobre todas as outras actividades humanas?). A mistura que protagoniza entre tardo-feminismo-pop-culture-friendly e espírito científico é no mínimo caricata (por falar nisso, Vasco, o blogue De Rerum Natura impede o meu arrependimento em ter feito uma licenciatura imersa em pós-modernidade e portanto plena de fu*k yous ao discurso científico).
- Rui Zink não está mal e chega a ter piada.
- Marisa Cruz, num low-profile compreensível, comove-nos com a confirmação que a fronteira entre os lados das barricadas em televisão é coisa infimíssima (e deixa no ar uma hipotética reedição desse milagre de aceleração tele-cognitiva que foi Bárbara Guimarães).
- O Carlos está muito bem mas devia falar mais para contrabalançar as tiradas politicamente gatinhantes do João Pedro Vasconcelos (que tem momentos graciosos mas permite-nos divagar sobre explicações possíveis para o Rueff-dumping).
Devo acrescentar que o programa deveria ser mais curto. Estou a perder a segunda parte para vos trazer esta sabedoria internética.

sexta-feira, março 16, 2007

Retorno
Era uma mãe que se dava tão bem com as filhas que regressou à adolescência.

quinta-feira, março 15, 2007

Ter a vida em caixas
Sou um fascinado pelos méritos do maniqueísmo.

quarta-feira, março 14, 2007

Esclarecimento musical
Agora que a Margarida Marinho já sabe que existe uma música para ela questionam-me até que ponto isso mudará as minhas composições futuras. Recordo que a pessoa a quem mais dedico cantigas é o Senhor Jesus, que, inclusive, sabe quem sou, e isso nunca alterou nada.

segunda-feira, março 12, 2007

Últimos dias
O Senhor tem trazido grande provação à minha vida através de uma mudança de casa. Espera-se sobrevivência a bem de um testemunho que inflame a fé de outros.

sexta-feira, março 09, 2007

Passe social
Quando os religiosos falam de Deus como quem fala de um automóvel eu consigo calcular o prazer ateu de andar de transportes públicos.

quinta-feira, março 08, 2007

Feio Giro
O tema dos feios giros que a Luna anda a tratar no seu blogue interessa-me muito (e nunca vires as costas aos Bon Jovi que até ao "New Jersey" não há nada a apontar-lhes e mesmo o "Keep The Faith" não envergonha ninguém e que falta nos faz mais segundas vozes como as do Richie Sambora) mas deparo-me perplexo com algumas escolhas: o Gallo (meu Deus, o Gallo!), o Cassel e o DelToro jamais podem ser considerados feios. Não foi para este tipo de subjectividade que Kierkegaard lutou.
Deixo apenas um contributo fundamental para esta temática que tanto me fascina.

O bom DaFoe, tivesse Darwin posto os olhos nele e hoje até eu era evolucionista, é o primeiro capítulo. Tudo o resto são pormenores do enredo.

quarta-feira, março 07, 2007

Relevos
Desde o Velho Testamento que se disputam os Montes Golã. Se Deus me tivesse prometido os Montes Golã eu não me ficava à mínima instrusão em propriedade privada. Tenham paciência: patinhas fora dos meus Montes Golã.

terça-feira, março 06, 2007

O corte explicado aos religiosos
Há tempos dizia a uma das minhas jovenzinhas (da Igreja Baptista de Moscavide) que a tendência agora voltou às calças a afunilar em baixo. Ela retorquia que homens que as usassem fá-lo-iam por tendência homossexual. Expliquei que não e que se limitava a ser um dos insondáveis desígnios da estética (os Céus sabem o quanto sempre odiei o mencionado corte). E acrescentei que pior que estar na moda é estar na moda de há dois anos.

segunda-feira, março 05, 2007

Quatro
É verdade, amigos. São quatro anos de blogue (feitos ontem). Obrigado pela memória e generosidade. Quase mil e quinhentos dias que não esqueço de agradecer nas minhas orações.

sexta-feira, março 02, 2007

Meio burro mas no ritmo certo
I don't like opera and I don't like ballet
and new wave French movies, they just drive me away
I guess I'm just dumb, 'cause I know that I ain't smart
but deep down inside, I got a rock 'n' roll heart.

Lou Reed em "Rock and Roll Heart".

quinta-feira, março 01, 2007

Nas bancas hoje


Onde escrevendo contra os casamentos entre crentes e descrentes confesso um episódio da minha vida privada:

"estava na Faculdade quando uma menina do mesmo estabelecimento de ensino me convenceu que pelos meus belos olhos castanhos estaria disposta até a converter-se. Inesperadamente, abriram-se-lhe os dela mais cedo que esperava e quando estávamos prestes a oficializar a nossa semi-transgressora relação trocou este inocente virgem (e não falo de signo) por um ateu que lhe assegurasse maiores contrapartidas carnais."

Agora que releio estas linhas lamento profundamente o verbo "estar" aparecer três vezes em tão curto espaço de tempo mas creio que, em mim, é algo filosófico.
Comprem para saber mais.