segunda-feira, abril 30, 2007

Work In Progress
Há um painel que mete Diana Chaves a fazer publicidade a, creio, sapatos. A peculiaridade deste outdoor, num acesso de quem sobe de Moscavide à Segunda Circular, está no facto da actriz surgir num vestido de verão que oferece o protagonismo aos ombros. Uns ombros robustos, claro está, de quem passou muitos anos nadando.
De cada vez que contemplo a imagem penso que valeria a pena vertê-la em material blogosférico mas a verdade é que não consigo avançar além disto. Considero que há ali algo de saudável resistência ao espírito dos tempos, misturado com alguma simpática complacência com a exploração capitalista da figura da mulher.
Tudo o que temos é ombros. E já é tanto.
O exibicionista
A vantagem de ser pregador de profissão é ter toda a margem de erro exposta.

sexta-feira, abril 27, 2007

Hoje nas bancas
Onde escrevo a determinada altura:

"C.S. Lewis (um escritor que deveria ser ensinado na escola) ilustrava a nossa dificuldade em compreender o Céu (o lugar da Eternidade, não o firmamento) como aquela de explicar a uma criança que um dia ela preferirá o sexo a chocolate. Um ateu é, portanto, um amante de chocolate permanentemente virgem. Na sua calórica ignorância tem todos os caminhos abertos para a felicidade excepto o dos orgasmos."

Comprem e leiam o resto.

quinta-feira, abril 26, 2007

Sobre a liberdade
Fiz uma tatuagem muito simples. Até porque a estética do desenho prisional, em todo o seu esplendor minimalista, me agrada mais no que à tinta no corpo diz respeito. Esta foi uma prenda de anos que dei à minha mulher (assim como um fantástico par de Adidas cor-de-rosa que lhe comprei a bom preço no Freeport e que não lhe serve). Acontece que a minha mulher detesta tatuagens. Portanto aquilo que foi previsto como um louvor tornou-se blasfémia. Eu, qual gado marcado no altar da minha dedicação matrimonial, tive este sacrifício amoroso liminarmente rejeitado. Um coração com a letra do nome dela. O que poderia ser mais piroso e encantador? Em vez de numa qualquer árvore dos jardins da Gulbenkian, habita no meu ombro direito.

terça-feira, abril 24, 2007

Ninho
O Alexandre Soares Silva, insuflado do Espírito Santo, escreve: "Minhas prateleiras são um pequeno regimento de gordos, pernetas, cegos e alcoólatras que estariam ao meu lado quando o mundo se dividisse em dois, e que para todos os efeitos estão ao meu lado. Qualquer autor que falhe nesse teste é só interessantinho, ou hábil, ou algo assim". E cita ainda dois dos meus heróis: Chesterton e C.S. Lewis.
Creio que continuamos a não nos aperceber da importância de tomar partidos. A melhor coisa que a blogosfera me permitiu foi sentir que havia uma família ideológica à qual podia pertencer, sentir que haveria um pai para receber um filho pródigo como eu. As pessoas hoje desdenham dos lares, sejam eles ideológicos, religiosos ou meramente estéticos, porque gostam de se sentir órfãos. Gostam de cuspir na cara dos pais e estoirar a herança sem uma ponta de fidelidade genealógica. O que me agrada em outros, tão mais encantados pelo pathos de uma divisão que pelo abstracto universal de uma ética, é que nesses encontro a saudade de um colo parental. E um menino da mamã é sempre mais confiável que um cidadão do mundo.

segunda-feira, abril 23, 2007

Gig
Asseguro-vos que o Ruca ao vivo no Coliseu rocou mais do que oitenta e dois por cento dos concertos de música moderna que vi nos últimos quatro anos. As pessoas aceitam já a sua falta de cabelo talvez pelo óbvio fantasma da compaixão quimioterapêutica. Pena que por condicionalismos cénicos o Riscas tenha de permanecer sempre deitado.
U-S-of-F'n-A
Nada como os lamentos de uma multidão de cachorrinhos sem licença de porte de arma para aprofundar o meu pró-americanismo.

sexta-feira, abril 20, 2007

Amanhã
Rico ursinho
Ouço o último do Panda Bear. Precisava de ler as letras para concluir acerca da qualidade intocável da obra (sou dos que acha que um bom som sem uma boa letra não chega para ser bom disco). Contudo uma das coisas que deve ser salientada e ainda não vi ninguém fazer é que as canções (eficazes sim, espectrais sim, brianwilsonianas sim) permanecem cada uma num mesmo só acorde. E isso para um disco pop é memorável.

MySpace aqui.
Suburbia
As pessoas dividem-se entre aquelas capazes de fechar a varanda e as outras.

quinta-feira, abril 19, 2007

Um dos pontos fracos da Bela e o Mestre
É a ausência de um homem formado em humanidades. Engenharias e muita conhecimento exacto impedem o oásis que seria a presença de um verdadeiro intelectual. E creio ser do consenso de todos que as mulheres, entre a Grande Amazónia da formação superior, preferem espreguiçar-se nas árvores das ciências sociais. Estas são matérias que pelo seu papel de interrogação existencial e razoável ineficácia pragmática se aproximam da alma feminina. Ou, pelo menos, lhe conquistam saudável condescendência.
Valeria a pena criar um movimento cívico, nas pisadas de um Manuel Alegre, que sugerisse personalidades para substituir o lugar vago deixado por Clara Pinto Correia. Já vamos tarde (a coisa é Domingo) mas também diga-se em abono da verdade que não me ocorre nenhuma mulher de esquerda de relacionamento viçoso com o show-bizz televisivo.

Entretanto o Nuno sugere a Joana Amaral Dias. Não está nada mal visto.

quarta-feira, abril 18, 2007

Worten Sempre
O Kid A dos Radiohead por €0,99. Repito. Noventa e nove cêntimos.
O que fazia eu há oito anos
Deixei as t-shirts, vinquei as fronteiras entre o palco e a assistência e procurei um penteado à Vincent Gallo no saudoso Rookie.
Obrigado à Ana Sousa pelas fotos.
O que fazia eu há 10 anos
Elevava-me acima do nível dos outros no saudoso Marquês Rock Club.

terça-feira, abril 17, 2007

Esperança parental vertida em reminiscência franciscana
Baseado numa recente evolução da minha menina mais nova apercebo-me que dos valores caros à civilicação é a capacidade de acordar a meio da noite e não comer. Suspender as necessidades básicas não é próprio das feras e talvez seja por isso que qualquer pessoa de princípios religiosos mínimos sinta a necessidade de volta e meia fazer jejum. Deus criou-nos animaizinhos mas satisfazemo-nos em responder-lhe com uma progressiva descolagem das condições de fabrico iniciais. Paradoxalmente, Ele até se agrada.
Agora vou tomar o pequeno-almoço.

segunda-feira, abril 16, 2007

Têvê
Entre o documentário sobre o túmulo de Jesus, o Gato Fedorento, A Bela e o Mestre e o Hotel Ruanda, foi ganhando o último. Mas no tal documentário apareceu um teólogo, creio que americano, que disse uma frase que escrevi há uns anos para um guião de televisão e que me foi censurada. Basicamente a ideia era a de que usar uma cruz ao peito seria equivalente a usar uma cadeira eléctrica ao peito. O realizador que me suprimiu o aguçado sentido filosófico do texto fê-lo em nome da telegenia. Eu, que na altura ainda tinha menos poder que hoje, calei e andei. Hoje senti-me algo vingado.
Entretanto a Clara Pinto Correia abandonou o reality show sob o pretexto da carreira universitária ser uma prioridade. Soou a retirada apressada das tropas. Alguém ajuda as pessoas de esquerda a conviver com o espectáculo televisivo sem entrarem fulgurantemente com cruzadas intelectuais camufladas e a sair com o rabo entre as pernas?
Sugiro-me a mim e ao Bruno para entrarmos um programa de televisão em que eu sou de direita e ele é de esquerda. Posso dar mais umas sugestões de personalidades blogosféricas que colocariam qualquer Eixo do Mal e Prazer dos Diabos no chinelo. O meu e-mail está aí em cima.

sexta-feira, abril 13, 2007

Lema de vida
Ortodoxia sob aparência de blasfémia.

quinta-feira, abril 12, 2007

Evoluindo para o campo eminentemente teológico
Por uma questão de clarificação doutrinária acho que vou passar a escrever arrependimento com três érres.
Advertindo
As piores pizzas que o Criador consentiu estão no Corte Inglês. A nutrição, catequese à qual me inclino a fazer gazeta, surge então permenentemente vulnerável a qualquer semelhança de negócio vantajoso. Quatro euros e pouco por duas fatias, uma tarte de maçã e uma coca-cola trataram de cravar na minha carne fraca um espinho que une agora intestinos e arrependimento no tango bailado da má consciência.
As minhas mais básicas expectativas económicas

Acalentar o direito de vestir as minhas filhas de Adidas.

quarta-feira, abril 11, 2007

Ranquingue das nações
Os E.U.A são o meu país preferido. A seguir é o Reino Unido. E por fim...

Hei-de pisar tua areia.
Troca
Em vez de falar por parábolas falava por abstracções.

terça-feira, abril 10, 2007

Cola
Apetece-me fazer copy/paste da discussão que ando a ter no Trento na Língua:

"O que realmente me irrita neste catolicismo feito de abrangentes mundividências é a sua admiração por Jesus. Isso mesmo. Irrita-me nestes católicos o que eles gostam de Jesus. O que eles incensam as suas palavras, o seu exemplo, a sua sabedoria.
A este Jesus tutor, mestre maximizado que preenche as diligentes lacunas intelectuais dos seus seguidores, podem crer que eu crucificava de bom grado."
Telefonia
Hoje a Radar dá um breve destaque aos Lacraus. Neste caso põem no ar a versão que fizemos da "Alegria" dos Heróis do Mar. É dormente, esganiçada e tem uma harmónica pelo meio. Podem ouvir aqui.

segunda-feira, abril 09, 2007

Autedóres
Muitos louvores ao cartaz do Gato Fedorento. Não é uma má piada, de facto. Enferma, contudo, do típico processo português de legitimação do humorista. A prova que Portugal é um país sem piada é que qualquer cómico deve ser sério nas coisas sérias. Neste sentido, o Gato Fedorento é um passo atrás em relação ao Herman. A ambiguidade, a ostentação e até o episódio com a Justiça do segundo são uma oportunidade dourada de fazer pedagogia com os aprendizes nacionais do riso e livrá-los do inevitável degrau em que se sobe da gargalhada à respeitabilidade.
Nada de mal por Ricardo Araújo Pereira ser assumidamente de esquerda (os restantes gatos são-no por inerência). A tentação da intervenção moralista de pôr o auditório que connosco ri bem a pensar bem também é que é do Diabo.

quinta-feira, abril 05, 2007

A melhor festa para celebrar
Por que buscais entre os mortos ao que vive?
Gostar de homens XIII

Bruce.

quarta-feira, abril 04, 2007

Jekill and Baby Hyde
A minha mais nova é um bebé encantador durante o dia para à noite se transformar numa implacável fonte de caos.
Serviço Público

Que este blogue oferece.

segunda-feira, abril 02, 2007

Tube
A "Bela e o Mestre" continua a ser o melhor entretenimento televisivo do momento. Com preciosas nuances no campo do debate ideológico (por que há-de a seriedade possuir o monopólio da divergência de ideias?) através de um Carlos Quevedo mais solto e justamente cansado da catequese sufragista de Clara Pinto Correia, já ultrapassou no serão de Domingo o vigor do Gato Fedorento (a actualidade pode ser uma coisa chatíssima).
Momentos altos da última sessão: uma animosidade entre Clara Pinto Correia e Iva Domingues que submerge muito para além da anterior subliminaridade (e o conselho da primeira à segunda para desistir da psicoterapia permanece como dos mais sensatos em 50 anos de televisão portuguesa) e a correcta percepção de Rui Zink que há muito não víamos uma enfermeira tão eficaz quanto a Vera. Nem sempre a esquerda pode errar.