quinta-feira, abril 30, 2020

On The Go In The #StayHome Season (April Newsletter)
Estar No Ir na Época do #FiqueEmCasa (Newsletter de Abril)

[English version down below! Amigos, eis a newsletter de Abril. Se ainda não recebe esta newsletter por mail e assim deseja, diga-o para tiagooliveiracavaco@gmail.com . Sou grato pelo feedback que têm dado. Um abraço!]

Desta vez partilho convosco uma canção (na prática, um texto falando sobre uma canção). Fi-la há um ano e tal, inspirado numa canção do cantor brasileiro Belchior (como a letra mostra). Já não me lembro de como fui parar a ele e ao seu disco chamado “Alucinação”, mas sei que nas férias de 2018 eu, a Ana Rute, a Maria, a Marta, o Joaquim e o Caleb o ouvíamos bastante no carro durante os dias passados no Algarve. E sentia-me arrebitado sempre que chegava à parte de: “ano passado eu morri/ mas esse ano eu não morro”.

Aqui há umas semanas o site musical brasileiro “Scream & Yell” convidou músicos do Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Colômbia, Grécia, EUA e Portugal para gravarem em casa alguma canção que pudesse servir de companhia neste período de quarentena. Gravei a minha terceira versão desta canção, “Juro que não morro”, do modo mais despojado que consegui (as duas primeiras versões são mais rock). Para isso, limitei-me à guitarra de cordas de nylon (porque os meses passados no Mississippi também serviram para compreender a excelência do Willie Nelson), ao baixo eléctrico à moda do folk dos anos 60 e 70, e ao harmónio que temos na sala (que precisa de uma limpeza nos foles mas ainda funciona nas notas graves e numas quantas agudas). Depois, o Nando Frias, líder do louvor da Igreja da Lapa e meu companheiro musical nos últimos anos, acrescentou o piano.

De certo modo, esta é uma canção acerca de como pessoas que já levam muito tempo de vida nos podem ajudar a compreender que, na realidade, a vida nunca acaba. Velhos de vida que nos mostram que a vida poder ser sempre jovem. E tudo isto sem negar que a juventude da vida não significa a ausência de trevas. Fuço nisto porque receio que grande parte dos elogios à vida relativizam as suas trevas. E isso só a torna mais desnecessariamente complicada.

O Belchior soa a alguém que andou à rasca e que agora está um pouco melhor. Nicodemos é alguém que no evangelho é mais mostrado a querer entender, do que propriamente a entender mesmo. Ou seja, a Bíblia dá mais detalhe à dificuldade que Nicodemos tem com a ideia de nascer de novo, que ouviu do Nosso Senhor Jesus (em João 3), do que à capacidade de se ter tornado num discípulo dele (que sugere em João 20:39). Mas acredito que, quer o Belchior quer Nicodemos, ainda que de modos diferentes, têm vozes que afirmam que o estardalhaço da morte não tem a palavra final.

Estes dias desafiam-nos porque, por um lado, lembram que a morte é a sério e está agora mesmo à nossa frente, por muito que no passado a previsibilidade com que cumpríamos as nossas expectativas disfarçasse a sua presença. Por outro lado, estes dias desafiam-nos porque se ficarmos apenas no passo anterior, acolhendo a chegada da morte, provavelmente desesperamos. Estes dias podem ajudar-nos a, usando uma expressão antiga, fazermo-nos homenzinhos, e, contraditoriamente, a ficarmos feitos crianças assustadas. Acredito que tem mesmo de ser Jesus a deslindar o dilema.

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A Igreja da Lapa começou uma série de sermões no livro dos Actos dos Apóstolos no Janeiro passado sob o título de “Está no Ir”. Como Deus tem sentido de humor, é muito difícil estar no ir na época do #FiqueEmCasa. Ou talvez não. Talvez o que esteja em causa seja precisamente um teste a todas as coisas que cantamos com a garganta muito limpa. E agora, que temos pulmões à rasca, como é? Vivemos ou não dos refrões que amamos? Jesus era um especialista em colocar no tapete manifestos precoces: “Então, aproximando-se dele um escriba, disse-lhe: Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores. Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mateus 8:19-20). Pedimos a Deus que preserve em nós esse desejo de estar mesmo no ir.

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Confesso que a época do #FiqueEmCasa tem visto eu e os nossos rapazes a andar bastante de skate na rua (processem-nos). Também foi daí que saíram as imagens para o videoclip da canção que hoje partilho convosco. O Joaquim e o Caleb absorveram completamente a cultura do Skate Or Die. Mostrei-lhes o documentário “Dogtown and Z Boys” e agora estão prontos para surfar os passeios. Tenho-lhes explicado que uma das grandes crises culturais do nosso tempo é o skate ter-se tornado uma espécie de equilibrismo móvel, uma jaula em forma de skate-park, onde os skaters parecem hamsters a pedalar naquelas rodas. Insisto que eles entendam que o caminho, a verdade e a vida passam por estar no ir, ter as tábuas nos pés e manter o ideal da viagem, de seguir o fôlego do Espírito, que sopra onde quer. Se calhar misturo demais a religião e o punk rock… Mas, pelo menos, voltámos a Nicodemos.

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[Dear friends, here’s my April newsletter. If you are not getting these newsletters in your e-mail and you want to do so, tell it to tiagooliveiracavaco@gmail.com . Thank your for all the feedback you’ve been sending. Um abraço!]

This time I am sharing a song (more a text about a song, really). I made this song more than a year ago, inspired by another one by the great Brazilian singer Belchior (like the lyrics show). I don’t remember how I ended up listening to his record “Alucinação”, but I do remember that, while on vacation in the Algarve (south of Portugal), me, Ana Rute, Maria, Marta, Joaquim and Caleb used to hear him in our car. And I always felt uplifted when I would hear the line: “I died last year/ but this year I’m staying alive” (a very lose translation).

Some weeks ago the Brazilian internet site “Scream & Yell” invited musicians from Brazil, Argentina, Chile, Uruguay, Colombia, Greece, United States and Portugal to record at home some song that could relate to this season of quarantine. I recorded my third version of this song, “I Swear I Won’t Die” (lose translation), bare bones style (the first two versions were rock versions). To do that, I limited myself to my nylon strings guitar (because I learned in Mississippi the excellence of Willie Nelson), to the bass guitar played the 60’s and 70’s style, and the pump organ we have in our living room (its bellows are needing some cleaning and it is only working properly with the bass keys and some high ones). Then, my musical partner and worship leader at Lapa Church, Nando Frias, added his piano.

In a way, this song is about people that already lived a lot teaching us that life really never ends. Old guys showing us that life can be always young. And all this not hiding that even when we are young life can be full of darkness. I stress this because I am afraid that a lot of our compliments to being alive tend to relativize the dark stuff. And that only makes everything unnecessarily harder.

Belchior, the Brazilian singer that inspired me, sounds like someone who got it really hard but right now is doing a little better. Nicodemus (I also mention Nicodemus in this song) is someone that in the gospel we get to see more in the perspective of trying to understand, than really understanding. We can say that the Bible has a preference to detail how hard it is for Nicodemus to understand getting born again, lesson coming from Our Lord Jesus’ lips. The Bible gives us less detail concerning how Nicodemus was able to become a disciple (hinted in John 20:39). But I do believe that, Belchior and Nicodemus, even in different ways, have voices that say that although death makes a big fuss the last word does not belong to it.

These days are challenging us because, in a way, they remember us that death is for real and we are now facing it, even if we thought in the past that our usual future plans could mask its presence. In another way, these days challenge us because if we remain just welcoming death, we will probably despair. These days can “man us up” and, interestingly enough, they also can turn us into scared children. I believe that the only one able to solve the dilemma is Jesus.

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Lapa Church began a sermon series in the Acts of the Apostles, titled “On The Go”. We know that God has a sense of humor and, right now, it is not easy to be on the go in the #StayHome season. Or maybe not. Maybe what’s at stake is precisely testing everything we sing with a clear throat. Now, that we have problematic lungs, how will it be? Do we live out our favorite choruses or what? Jesus specialized in tearing premature manifestos down: “And a scribe came up and said to him, Teacher, I will follow you wherever you go.” And Jesus said to him, Foxes have holes, and birds of the air have nests, but the Son of Man has nowhere to lay his head” (Matthew 8:19-20). We ask God to keep in us a true desire to be on the go.

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I confess that the #StayHome season got me and the boys skateboarding a lot outside (sue us…). From this fact came the footage for the song’s video I’m sharing. Joaquim and Caleb are diving deep in the Skate Or Die ethos. I showed them the “Dogtown and Z Boys” documentary and right now they are ready to sidewalk-surf everywhere. I have been teaching them that one of the greatest cultural tragedies of our time it that skateboarding became a kind of mobile equilibrism, a skateparked-cage, where skaters behave like hamsters rolling their wheels. I urge them to understand that the way, the truth and the life need an “on the go” attitude, having your feet on the board and keeping the wide open road state of mind, following the Spirit’s breath, blowing where it wishes (John 3:8). Maybe I’m overdoing mixing my religion with punk rock… But, at least, we came back to Nicodemus.


segunda-feira, abril 27, 2020

Ouvir (e ver!)

O sermão (e todo o serviço de culto!) de Domingo passado, chamado “Diversidade Dói”, pode ser ouvido (e visto!) aqui.

sábado, abril 25, 2020

Amanhã

“Diversidade Dói” é o título do sermão em que, com o texto bíblico aberto em Actos 16, planeio afirmar que, apesar de nos fascinar a ideia de diversidade, não vivemos de acordo com esse fascínio. A diversidade a sério dói e só com a ajuda de Deus, com fé em Cristo, lá chegamos.

[Pintura na Basílica de São Paulo em Roma.]


sexta-feira, abril 24, 2020

A pérola desenterrada hoje




















O que faz alguém acabado de chegar da lua-de-mel quando a mulher regressa ao trabalho e ele tem horários demasiado flexíveis? Usa o apartamento acabado de renovar como estúdio de gravação e despacha dois discos ou mais ao mesmo tempo. Assim nasceu “Mais Dez Fados Religiosos de Tiago Guillul”. Nas canções havia clássicos imediatos e, por isso, anos mais tarde o B Fachada cantava “Faz-me Bem a Mim e Mal ao Demónio” e o Samuel Úria “Nunca me Confessei ao Cura” nos seus próprios concertos. Apesar de os títulos ainda denunciarem um fascínio pelo arcaico, a influência óbvia do António Variações modernizou tudo. A FlorCaveira era cada vez mais uma editora que acreditava que o futuro da música portuguesa estava lá mais atrás, nos anos oitenta. Esta é a pérola de 2003 que a FlorCaveira agora desenterra. Ouçam aqui: https://open.spotify.com/album/06V3vgQgFeXpHHHNmPxNzk

terça-feira, abril 21, 2020

Novidade Musical







































São Paulo, 21 de abril de 2020.


Canções inspiradas pela quarentena, gravadas em casa, durante o confinamento. É isso que 21artistas de 9 países diferentes entregam em íEstamos!, projeto criado e organizado pelo jornalista e produtor cultural Leonardo Vinhas O álbum estará disponível exclusivamente para download gratuito no selo Scream & Yell a partir do dia 21 de abril – acesse www.screamyell.com.br.

Participam do disco artistas de Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Colômbia, México, Portugal, Estados Unidos e Grécia. Entre eles, nomes já conhecidos do público brasileiro, como a cantora Érika Martins, a banda norte-americana The Blank Tapes e o cultuado uruguaio Nicolás Molina (ex-Molina y Los Cósmicos).

Convidados por Vinhas, os artistas tiveram até uma semana para compor e gravar canções que trouxessem suas visões pessoais sobre o momento de isolamento social e confinamento. As faixas foram gravadas em suas respectivas casas, com os recursos que tivessem à disposição. Assim,
enquanto alguns dispunham de equipamentos profissionais ou semiprofissionais, outros tinham apenas um microfone ou mesmo o celular. O resultado, porém, excedeu os limites do lo-fi, graças ao empenho dos músicos e ao notável trabalho de masterização do músico e produtor paranaense Rodrigo Stradiotto (das bandas O Fio e Woyzeck).

Sobre o título do álbum, Vinhas explica: “Estamos guardados. Estamos confinados. Estamos em nossas casas, convivendo com nossas escolhas, as sensatas e as estúpidas. Mas estamos vivos, estamos criando, e decididamente estamos levando isso para fora das jaulas, gaiolas e celas”. A
intenção com o álbum, diz o produtor, é não só trazer o alento que só a música é capaz de oferecer, mas também abrir uma janela para novas criações em um momento no qual os espaços para a experiência coletiva da música estão inacessíveis.

Como diz o colombiano Andrés Correa na canção “Realidad”, “o mundo se foi / já se acabou / só que ninguém se deu conta / e eu aqui sem entender / que coisa era a realidade / e porque nunca a pude tocar”. São tempos de incerteza e dificuldades. Mas podem ser tempo de outras coisas também. Que a música nos ajude a encontrar esses novos caminhos.

ÍEstamos! pode ser baixado gratuitamente em www.screamyell.com.br (http://screamyell.com.br/site/2020/04/21/selo-scream-yell-baixe-o-album-iestamos-cancoes-inspiradas-pela-quarentena/)


Ficha técnica:
Coordenação e curadoria: Leonardo Vinhas
Masterização: Rodrigo Stradiottto
Capa: Bruno Honda Leite
Lançamento: Scream&Yell
Apoio: Fundación Barrio Colombia e Scatter Records.
Informações para a imprensa:
Leonardo Vinhas
leonardo.vinhas@gmail.com
+55 11 92795-1428

domingo, abril 19, 2020

No quinto aniversário da Surf Church do Porto

quarta-feira, abril 15, 2020

Ouvir (e ver!)

O sermão (e todo o serviço de culto!) de Domingo passado, chamado “Não assumir o medo é ficar nele”, pode ser ouvido (e visto!) aqui.

sexta-feira, abril 10, 2020

A velha pérola da quinzena

Lisboa, Portugal, 2006, e um disco que não tem nada a ver: “Cinco Subsídios para o Panque Roque do Senhor” foi a maneira de uma editora musical portuguesa fazer o que tinha para fazer sem pedir subsídios a Portugal. Cinco bandas desconhecidas juntas. A cultura dos splits já vinha dos vinis mas mantinha-se nos CDs, sobretudo no punk. Ora, a FlorCaveira em 2006 tinha punk e tinha bandas tesas: por que não haveria de ter um split CD também? Lacraus, Borboletas Borbulhas e Samuel Úria & as Velhas Glórias mantinham o punk, Jerusalém assumia o metal, e os Pontos Negros mostravam que o rock não tinha de ter assim tanto medo do pop - pela primeira vez havia na FlorCaveira música que parecia querer ir além do subterrâneo. Esta é a pérola que agora desenterramos, plena de baixa fidelidade e sound verité. Aqui: https://open.spotify.com/album/5dxmpVD9tJ2FT3dGD5u1kZ?si=4FWbygAcRxOsTfekgHu-qQ


segunda-feira, abril 06, 2020

Ouvir (e ver!)

O sermão (e todo o serviço de culto!) de Domingo passado, chamado “Não vistas o que adoram em ti”, pode ser ouvido (e visto!) aqui.

sábado, abril 04, 2020

Amanhã

No sermão de amanhã, chamado “Não vistas o que adoram em ti”, planeio abrir o texto bíblico em Actos 14 para vermos que a popularidade de Paulo e Barnabé em Listra não aproxima as pessoas de Cristo mas afasta-as. Quando confundem o bom que há na nossa fé com o bom que há em nós, o que temos a fazer é rasgar as vestes. Não devemos vestir o que as pessoas adoram em nós. O melhor que temos a fazer não é chamar a atenção dos outros para o cuidado visível que temos com eles; o melhor que temos a fazer é chamar a atenção dos outros para o cuidado que Deus tem com eles e que parece invisível. Foi isso que Paulo e Barnabé fizeram e é isso que devemos fazer.

[Liguem-se à conta da Igreja da Lapa nas redes sociais para seguirem o link da emissão online do nosso serviço de culto, amanhã às 11.30h.]




















[A pintura, "Paulo e Barnabé em Listra", é de Nicolaes Pieterszoon Berchem.]