sexta-feira, setembro 30, 2022

"Dickens", o novo disco dos Lacraus

Hoje sai o disco novo dos Lacraus. Quando acabámos de o gravar, no final de 2020, sentia que precisava de dizer umas coisas aos meus companheiros de banda. Isto porque mais do que um disco, o “Dickens” era o som de aventura de uma mão cheia de amigos. Segue o essencial.

O Joel e Nando tornaram-se a minha banda numa época em que acho que tinha desistido de voltar a ter uma banda a sério. Eles acompanharam-me num período desértico. Umas das cenas tramadas que daí veio é que voltei a acreditar na minha música, sobretudo em ela poder chegar aos ouvidos de mais pessoas. Regressei aos mais desmesurados sonhos musicais adolescentes. Eu, o Joel e o Nando fomos uma banda para as cenas a solo, fomos uma banda para o “IV”, fomos quase Milagres no Coração, e, finalmente, eles os dois deram uma nova vida aos Lacraus, a banda mais ambiciosa de que já fiz parte. O Joel e o Nando relembraram-me de que uma cena incrível de ter uma banda é ensaiar e com eles soube que estas canções podiam chegar a mais gente. Eles elevaram os meus padrões e nunca gravei um disco que soe tão profissional como este. Por fim, e ainda melhor do que a limpeza desse som, O Joel e o Nando são os músicos que não quis largar assim que Deus me permitiu tocar com eles. Eu quis fazer parte da banda deles, acho que é mais isto…

Para o João Eleutério, não há pai. Trabalhamos juntos há mais de 20 anos e ele é o meu mais fiel companheiro de record-making! Com uma generosidade escandalosa, o João ouve as minhas queixas todas, atura as minhas mudanças de planos todas, acolhe todas as mais absurdas ideias. No final, faz sempre um som incrível. Nessa medida, o João não é nada profissional porque o que aguenta comigo não teria encaixe em nenhuma relação assim; por outro, apresenta o trabalho final como nenhum outro profissional conseguiria. O João começou participando no disco como produtor e acabou como membro. Agora vejo que de outra maneira não poderia ser. Calhou bem os 20 anos de Guel, Guillul & o Comboio Fantasma serem marcado no ano em que gravámos este disco (2020) e constatar o óbvio: se alguma coisa tem de acontecer, tem sempre de acontecer com o João.

Quando em 2019 falava ao telefone com o Guel separados por um oceano, sonhava com o dia em que voltássemos a rockar. Estamos juntos nisto faz trinta anos agora. O Guel é quem mais me trama pelo ritmo complicado que tem, por precisar de interiorizar as cenas, por assimilá-las numa velocidade lenta que me enlouquece. Mas a verdade é que sempre que é para sangrar na guitarra, quem é o tipo que encarna essa verdade como mais ninguém? É ele, claro. Sempre testando os meus limites, sempre abrandando-me para honrar o que estamos a fazer, para tudo ficar muito melhor do que consigo se ficar abandonado aos meus impulsos. E depois ele toca com essa guitarra única, no ritardando necessário de quem diz: o gajo está com pressa mas as minhas cordas vão dar a respiração de que os ouvintes precisam.

Sou muito grato a Deus por estes meus quatro amigos! Eles suportam os meus exageros de ironia, as minhas piadas sem tanta piada assim, as minhas impaciências múltiplas. Fico muito satisfeito por termos gravado este disco porque ele regista um período especial. Vou poupar-vos de mais melodrama de segunda categoria, mas a estação de onde este disco saiu foi cheia de trevas. Algumas destas canções andaram comigo três anos, com versões várias. Foram os salmos que conseguia escrever em dias de esperança, dias de tristeza, dias de solidão, dias de ficar sozinho à noite eu e Deus. Vagueei nos cenários quotidianos como estrangeiro, tive de fazer casa no estrangeiro mesmo, trinta por uma linha. No Mississippi era eu na floresta a orar, a segurar-me a discos de outros e a imaginar os meus futuros, a tocar numa guitarra acústica de cordas de nylon canções novas, crente de que nascia ali um caminho novo, uma esperança. E o Joel, o Nando, o João e o Guel tornaram essa esperança carne e osso. Mesmo que o disco ficasse só para nós, já era um triunfo, uma misericórdia recebida. Deus chamou-nos para fazermos discos e este é certamente especial para mim.

Um último apontamento. Na versão do “Hoje Sonhei Que Já Lá Estava” que gravámos primeiro no estúdio, eu, o Joel e o Nando, tivemos de interromper umas vezes porque mesmo a cantar apenas como ponto para o instrumental, volta e meia me falhava a voz de comoção. Não há linha nessa malha que não diga com o coração a arder. Nasceu de uma carta que escrevi para o meu amigo Jorge Cruz e aplica-se completamente aos meus quatro companheiros. Completamente. Ouçam-na outra vez e pensem que é o mais importante que vos posso dizer acerca deste disco.

Grande abraço e see ya in the pit!



terça-feira, setembro 27, 2022

Carlitos e Nana

Acabar bem, eis algo que a Bíblia elogia várias vezes. Talvez as duas que me impressionem mais sejam quando, na Parábola dos Talentos, o senhor diz a dois dos seus servos: “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor” (Mateus 25:21, 23), e na Segunda Carta que Paulo escreve a Timóteo, toda ela num tom algo sombrio, o apóstolo confessa: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”. É o meu sonho acabar assim—não é o de todos?

Talvez por estes serem tempos em que comunicar é tão fácil, é grande a tentação de os pastores projectarem os seus ministérios como se o maior reconhecimento público fosse o fim quando, na verdade, ainda vamos a meio. Ou seja, por muito agradável que seja as pessoas apreciarem-nos enquanto o pastorado segue viçoso, o maior desafio é chegarmos à sua conclusão sem termos estoirado tudo. Creio que posso dizer que sei do que falo porque tenho tido oportunidades incomuns de grandes montras para o meu ministério. O que precisamos mais não é de reconhecimento mas que orem para chegarmos ao fim em condições.

Por tudo isto, assistir ao fim do pastorado de alguém em estado de bênção é excepcional. E foi isso que aconteceu neste Domingo que passou, com a passagem da presidência do pastorado da Igreja Cristã Manancial de Águas Vivas do Pastor Carlitos Cardoso para o Pastor Henrique Pereira. A rigor, o Carlitos, não tendo terminado a carreira, encerrou a fase importantíssima de presidir aquela equipa pastoral. Nessa medida, o momento de ontem serviu de amostra de uma meta que todos os pastores querem cruzar. Ontem, tive uma inveja santa do Carlitos—quero um dia chegar onde ele já chegou.

A amizade do Carlitos é uma dádiva com menos de uma década. Não nos encontramos tanto como gostava mas cada vez com ele dá-me um depósito durável de alegria e de frases que lhe ouço e passo a repetir. É um cliché entre pessoas que conhecem o Carlitos que confirmo: é impossível estar mal-disposto ao lado dele. E neste humor constante dele (que arrisca onde eu e a maioria não somos capazes de arriscar) encontro uma virtude mais rara que é, num universo pastoral em que parecer sério pode passar por ser santo, o jeito que o Carlitos tem de se assumir o pior dos pastores torna-se uma rejeição corajosa desse jogo de disfarces solenes. Mais ainda: é um gesto puramente Paulino de se colocar fora dos campeonatos típicos dos auto-proclamados super-apóstolos.

O Carlitos não existe num vácuo e a sua Igreja é a prova. A ICMAV tem um impacto que vai muito além daqueles que a ela pertencem. A Família Cavaco sabe disso, também graças ao trabalho extraordinário da Associação de Beneficência Luso-Alemã na escola que providenciou ao longo de décadas para tantas crianças da zona da linha de Cascais (como as nossas quatro). Daí que a festa de ontem não fosse apenas a afirmação de um pastorado mas de toda a comunidade dirigida por ele. Numa época em que é fácil colocar o foco em figuras isoladas, hiper-seguidas, interessa entender na cultura da igreja local o verdadeiro carácter de um Pastor.

Gosto muito desta fotografia. Eu, o Carlitos, a Nana e a Ana Rute. Sem a Nana o Carlitos não teria pastorado—as homenagens de ontem foram naturalmente também para ela. Sem as nossas esposas ao nosso lado, dedicadas ao serviço da Igreja como nós, não haveria maridos que permanecessem pastores. E a homenagem foi também para a restante família Cardoso. Quando a filha, Rute, testemunhou de como a fé do Pai Carlitos a levou à fé do Pai do Céu terão sido poucos a não responder com lágrimas. E depois o Mário Rui pregou um valente sermão acerca da importância da Igreja, como lugar da presença de Deus. A analogia é clássica e impõe-se: que grande banquete que foi!

Carlitos e Nana: Deus vos abençoe e recebam todo o amor da Família Cavaco e da Igreja da Lapa!



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O sermão de Domingo passado, chamado "A solução não fugir do sofrimento", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

quarta-feira, setembro 21, 2022

Goucha

Para quem pediu pelo link da entrevista no Goucha, pode assistir aqui ao programa na íntegra (a referência é à Joana Cruz, que foi entrevistada de seguida).

terça-feira, setembro 20, 2022

Jesus não se esquiva

terça-feira, setembro 13, 2022

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O sermão de Domingo passado, chamado "Melhor do que Jesus é impossível", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

Estar na pior não impede que Jesus seja o melhor

sexta-feira, setembro 09, 2022

Forças do Inferno


Karaoke No Mundo Das Trevas | Kim | Vídeo filmado pelo Joaquim Cavaco

quinta-feira, setembro 08, 2022

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Podem ouvir o sermão de Domingo passado, chamado "Hebreus, recados meus", aqui (ou no Spotify).

Gente que não é digna deste mundo