terça-feira, setembro 30, 2003

Cão como eu
A gauche que se crê para além do Bem e do Mal louva Kazan na medida em que lhe aponta os erros: foi um delator. Se o pobre realizador teve a língua bifurcada, não foi bonito. Mas eu, firmemente agrilhoado no conceito de culpa e pecado, facilmente o absolvo. Estou do lado dos masturbadores compulsivos, snipers de minorias raciais, abusadores de menores, fugitivos aos impostos e quadrilheiros enfáticos. Ou seja, da multidão dos transgressores. Os moralistas sem moral devem estar noutro lado qualquer.
Falta de observação
O sempre fiel e imprevisível David Cameira diz que Che Guevara dava um bom missionário depois de se converter. O número de jovens apóstolos que no nosso país o carregam ao peito supera de longe as placas de elders dos mórmones. É de longe uma religião bem sucedida.

segunda-feira, setembro 29, 2003

Porque Deus nos colocou como mordomos da criação a responsabilidade é superior
Uma gata com cio tolera-se a custo. Uma mulher no mesmo estado é intolerável.
Personagens-tipo do Portugal Antigo e Contemporâneo
- o trabalhador infatigável
- o patrão viperino
- o cornudo meigo
- o cura devasso
- a pêga altruísta
Mais personagens serão acrescentadas conforme a Revelação.
Ouvido
"A ronda dos comunistas pelas zonas ardidas" embora seja recalcitrante é estéril. Um ocaso teimoso sem saudade da luz.
De algum modo, todos sofremos do coração
As nossas ruas estão pejadas de cardiopatias. Penduradas nos cabides ósseos dos bípedes.

domingo, setembro 28, 2003

Oração por responder
Ainda não regressou o Francisco.
Grafonola em feedback
O meu comentário às elites via Tindersticks tem suscitado algumas reacções (no Gato Pardo e no Maradona). Prometo voltar à questão durante a semana.
Oração respondida
Regressou o Pedro Lomba.

sexta-feira, setembro 26, 2003

Anúncio do púlpito
Voltamos Domingo.
Uma batalha suspensa
Todos sabemos que o grande grito de emancipação feminina no século passado chegou-nos pela boca de Cyndi Lauper ao cantar estridente: "Girls just wanna have fun!". Com o abandono da sua carreira musical a Causa nunca mais foi defendida com a mesma tenacidade. A Frente está desbaratinada. Basta olhar para as embaixadoras portuguesas Helena Roseta e Odete Santos. É verdade que a última bem se esforça tentando seguir o exemplo da Grande Comandante através da coloração libertária do tecido capilar. Mas ainda não conseguiu atingir as true colors.
Tem o Padre Tolentino e tudo!
Para serenar a minha alma redimo-me com este conselho: quem não visitar os intrusos perde o direito a um fim-de-semana abençoado.
Religião e Moral IV
Este bailinho da Madeira das 37 prescrições litúrgicas da Igreja Romana tem trazido uma nova luz às relações entre as várias confissões religiosas. Tenho comigo que os únicos ecuménicos decentes são os católicos - sabem bem que nesse tão elevado projecto não arredam um centímetro naquilo em que crêem. E fazem muito bem. Os protestantes que se têm associado ao diálogo são esfomeados que já qualquer coisa serve para aliviar o estômago. As suas capelas estão vazias e tanto faz orarem em conjunto com o Papa como com o Dalai Lama desde que no próximo Domingo venham mais do que a Dona Gertrudes Viúva e o sem-abrigo que após o culto tem direito a almoço grátis.
O Ecumenismo é o sonho molhado do wishful thinking sem ondas, um arrebatamento nocturno do soldado alemão que em 1945 grita: "nunca mais a minha pátria maltratará um judeu!". Eu que não suporto gente bem intencionada alegro-me com a decepção folclórica desta gente com as instituições religiosas. Deixa-nos espaço para que as igrejas se dediquem à fé e não à voluptuosa transformação do mundo.

quinta-feira, setembro 25, 2003

Na teia
O meu amigo P. era um normal cidadão português. Razoável no seu catolicismo ma non troppo. Até se cruzar no autocarro com a G., formosa evangélica e em preces por um futuro marido há já alguns anos. O pobre P. diz que foi apanhado na rede: Deus, uma virgem confiante, intercessões inflamadas e uma religião estranhíssima. Agora, o P. levanta-se cedo ao Domingo e partilha relatos semelhantes na Escola Dominical.
Na grafonola
O álbum da dançarina de vermelho dos Tindersticks. Determinadas bandas pequenas atingem abruptamente um estatuto de culto em Portugal. Eu, que não creio na excelência das nossas elites, acho suspeito.
Religião e Moral III
Já aqui escrevi ontem que não encontro justificação para o fascínio obsceno da imprensa em opinar sobre documentos da Igreja Católica. Como é sabido, não sou católico. A minha denominação reune-se em garagens neste santo país. O que não me impede de olhar para o passado gigante opressor com uma medida mínima de bom senso (enquanto a maioria dos evangélicos deve esfregar as mãos de contentamento). Que a Igreja Romana se amantizou com o poder na sua adolescência e maturidade sensual é um facto. Mas são dois ex-amigados que convém separar de vez. A comunidade daqueles que partilham da fé não tem de ser alvo de debate público. Não falamos aqui de uma instituição de carácter social ou humanitário.
É certo que o Vaticano paga o preço pelo namoro tardio com uma progressiva secularização. Mas se batem palmas ou não, se o prior usa roupa interior rosa-choque sob os paramentos, se o "amén" é mais acentuado na primeira ou segunda sílaba é assunto daqueles que lá estão. Exclusivamente.
Do lado de lá
Ocasionalmente recebo correspondência do Brasil. O que muito me satisfaz uma vez que pressupõe que os amáveis leitores transatlânticos conseguem ler as minhas investidas relativas a Vera Cruz. Enquanto respondia ao Gustavo ouvia um dos discos da moda. O dos Tribalistas. Apazigua-se a minha verve tradicionalmente sem vagar para as tendências discográficas quando atesto que lançamentos destes vendem bem. É alinhar na cantiga:"Pé em Deus e fé na tábua!".

quarta-feira, setembro 24, 2003

Religião e Moral II
Falemos claro: o que têm os não-católicos com a Igreja Católica? Rigorosamente nada. Jornalistas a falar sobre documentos da instituição romana é de um voyeurismo rançoso. É que pelo Vaticano pouco há que encha o olho de um tarado que se preze.
Religião e Moral I
A MTV, habitualmente tão pedagógica e politicamente zelosa (basta ver a limpeza dos vocábulos inapropriados dos artistas, a comemoração engajada do Dia Mundial Contra a Sida, a exportação do Bono para levantar o ânimo faminto dos africanos, entre outros exemplos possíveis) surpreende-me com um concurso que prepara jovenzinhas para ser rameiras e jovenzinhos para ser libertinos. Formam-se triângulos hormonais que são desfeitos após umas horas de convivência. A mim, que também conservo o meu lado moralista, apetece-me citar Guitton, e assim ajudar esta grande instituição a recuperar a sua social awareness: "a virgindade despertaria em nós uma vida de um novo género para a qual todo o homem é feito, mas que não se realiza por causa da ganga carnal que pesa, obscurece e distrai".
Graças
Agradeço ao Pedro pela referência. É dia de multiplicação de pageviews para este humilde pescador. E vamos tratar dessa entrega de discografia!
E na rubrica diária do Cruzes...
O J dos Canhotos continua o tema sobre a Igreja e o Novo Testamento no, provavelmente, mais longo poste da história nacional blogosférica. A ler com muita atenção. Assim que for possível, tentarei escrever algumas linhas.

terça-feira, setembro 23, 2003

Opção gastronómica
Bush não é subtil nem contido. Faz eco de uma Administração que justifica as suas políticas sem grande sofisticação. Não tenho de me sentir obrigado a escolher entre barbecue e escargots. Mas quando a fome aperta sei bem onde ir buscar os lípidos.
Mais um
A visitar: Blog de Vista. Fogo pentecostal sobre a blogosfera!
Bengelsdorff
O Vincent mudou de estante. Agora escala aqui.
Paradoxo televisivo
O ecrã já mostrou uma Catarina Furtado assassina de fetos. Agora o ecrã mostra uma Catarina Furtado feita Mãe Coragem com uma vasta prole cantante.
Ilegal
Na ONU, entre Annan e Bush, fala Lula da Silva. A Sky News e a CNN pouco mais ofereciam do que uns planos do presidente brasileiro sob comentários em off acerca do discurso anterior do Secretário-Geral Koffi. Uma injustiça para a língua de Camões: já nem o "Samba de uma nota só" pode ser cantado do princípio ao fim.
Cruzes
Os canhotos têm um poste essencial sobre gatos, mulheres e maridos.
Bem vindo
Novo blogue a visitar: Mouraria.

segunda-feira, setembro 22, 2003

Sementes
Numa altura em que os portugueses brincam às famílias chinesas (ter mais do que um filho é acto ignominioso) apetece-me fazer do meu T2 um lar de Von Trapps suburbano-melódicos.
Porto-Campanhã
A S. foi-se embora. No fim-de-semana que passou connosco gastou praticamente todo o toner imprimindo folhas A4 com mensagens românticas para o casal que a acolhia, sugeria de três em três horas o quão feliz seria se a pudéssemos adoptar, e pegava excessivamente na Gata Nuvem que esteve à beira do seu primeiro acto declaradamente ofensivo contra humanos. Quando a deixei na estação do Oriente pensei, envergonhado, que estava mais perto de compreender aqueles versos que dizem: "sometimes I feel like a motherless child".
Reed
Para poltronas de gatos, como eu sou, vale a pena ouvir o Lou miar em "Animal Language".
É pegar nos remos!
O blogue A Bordo é navegação essencial.

domingo, setembro 21, 2003

À mesa
Actos 1:6-7 fala-nos do episódio problemático que se gerou na igreja de Jerusalém: na distribuição diária de comida as viúvas gregas não estavam a ser tão bem atendidas como as judias. A solução encontrada foi estabelecer um grupo de sete homens encarregados de servir justamente às mesas, deixando os doze livres para se de dedicarem à reflexão da Palavra e oração.
A ideia de um Deus funcional arrepia os cabelos a crentes e pagãos. Seria suposto que o Senhor não se misturasse com a natureza comezinha das nossas questões quotidianas. Entidades divinas que saiam da esfera da hóstia, das rezas e das pestanas recatadas da Nossa Senhora de Lourdes são, regra geral, fruto de desconfiança. Mas o Deus cristão atende às súplicas pela Paz Mundial assim como aos pedidos de alívio da cárie dentária. Daí a Bíblia não se tratar de inspiração emancipatória. Antes, tenta que todos comam pela mesma medida.
Rescaldo blogosférico de um serão musical
A agridoce Papoila deu-se a conhecer. Uma revelação semelhante à do anjo a Maria, só que esta num camarim acanhado e sem virgens surpreendidas. A companhia do imprescindível Senhor Carne desfez a aura epifânica.
Igualmente a silhueta a contra-luz dos amigos encostados ao balcão foi refrigério para as vozes agrestes dos profetas.
Obrigado
Agradecimento pelas palavras amáveis ao Valete e aos Canhotos.

sexta-feira, setembro 19, 2003

Adenda cinematográfica
O "Tears Of The Sun" vale pelos escassos frames em que Monica Bellucci cospe. As verdadeiras guerras da humanidade começaram por coisas semelhantes.
Quando a última trombeta soar...
Responderei. Neste caso, próximo Domingo.
Serviço Fúnebre com orgulho denominacional
Dedica-me o Pedro um poste sobre o Johnny Cash. Muito agradeço. E não é todos os dias que um grande artista morre Baptista.
Late Night Post
Uma nota tardia sobre o debate de há uma semana entre Soares e JPP: o decano ex-presidente é uma balada de uma banda de heavy metal. Só encanta os que não são capazes de ouvir o álbum inteiro.

quinta-feira, setembro 18, 2003

E já que Samuel Úria faz anos
No assunto da Salvação ou participamos no jogo da cadeira tentando ser ligeiros para alcançar os lugares celestiais assim que a música pára, ou somos ateus tranquilos entretidos com o copo de refrigerante.
O melhor da blogosfera
Há meses atrás criticava Nuno Markl. Entretanto o Nuno decide escrever-me colocando-se à mercê de uma troca de ideias sobre o seu próprio trabalho. Poucas pessoas se predisporiam para tal. Não me converti ao Marklianismo. Mas a minha lassa pena de murmúrios refreia-se perante a integridade do homem que mordeu o cão.
Isto sim, é evangelização na sua acepção contemporânea
Vou cantar os meus "fados religiosos" na porta ao lado de um estabelecimento chamado Álcool Puro (às 22 horas, no sábado).
Reflexos
Num hipermercado (não conheço local mais romântico) uma adolescente fisicamente favorecida pelo Senhor olha-se ao espelho de um modo ostensivo. Mais do que um pecado, a vaidade é uma má-educação.
Santuário privado
A Deusa desenha as mulheres com uma dose de incompreensão e fascínio que me é sensível.
God Bless Me
O Opinion Desmaker contribui para a discussão iniciada pelos Canhotos. A não perder.

quarta-feira, setembro 17, 2003

Um momento religioso diário
Aquele em que digito florobsessao.blogspot.com. A fé é também um acto obstinado.
A ler
O Bruno escreve sobre o meu debate com os canhotos.

terça-feira, setembro 16, 2003

Tirada 2
A melhor reza é aquela que, muitas vezes, não precisa de crentes.
Tirada 1
O melhor crente é aquele que, muitas vezes, não vai em rezas.
Pedido de desculpa
O domínio próprio é uma virtude bíblica. Eu, que inventei os postes curtos (costumavam dizê-lo no longínquo mês de Maio do primeiro ano blogosférico), reconheço que cedi à tentação. Vou combater a luxúria do momento anterior com duas tiradas de travo intimista. Devidamente vestidas e ocultando as sensualidades.
Red Cookies au Nostalgie
Os meus canhotos preferidos atiram-se à religião. Escolhem, no entanto, Elaine Pagels, que é o mesmo que preferir a extroversão rural do Cais do Sodré à higiene recatada dos apartamentos do Saldanha. Mulheres da vida, cada um opta pela que mais o agrada. Entre as semi-heresias há umas mais crocantes mas a maioria vem com prazo de validade do século XIX.
Um sortido rápido então:
- "não foi a Bíblia que criou a Igreja mas a Igreja Católica que criou a Bíblia" - se assim foi a Igreja fez um péssimo serviço. Sendo fruto da construção criativa de um grupo que busca a coesão o trabalho foi insatisfatório. A Escritura não aplaca as dúvidas. Nem tem "bons acabamentos". Por isso creio que é a Revelação. Pois sobrevive a uma natural fragmentação redactorial que não se preocupou em fabricar uma imagem cuidada.
- "um jovem cristão (...) resolveu consolidar os cristão sobreviventes numa única organização mundial a que chamou Igreja “Católica” - só mesmo um ternurento comuna de um país católico pode reduzir o início e história do cristianismo a uma instituição agregadora e ortodoxa. A Reforma Protestante não inventou nada, grupos divergentes existiram desde sempre.
- "o Estado procura sempre fortalecer-se com a religião quando entra em decadência, chamando à baila o “Deus” que Bush insiste em ter do seu lado" - esta história do Bush ser muito religioso nem para um assinante do Reader's Digest é tolerável. O Jimmy Carter, que a esquerda agora idolatra (por ter uma postura "pacifista"), sabia de cor os livros do Velho Testamento. Provavelmente o Bush não consegue enumerar sequer os cinco primeiros do Pentateuco.
- "Tudo começou com S. Paulo. Apesar de ser míope, epiléptico, coxo, doente, misógino e feio, Paulo tinha a energia típica dos fanáticos e estava disposto a converter toda a gente ao Cristianismo" - confesso que a repugnância que a esquerda tem pelo apóstolo Paulo me é afrodisíaca. Dá-me sempre a necessidade de uns segundos de introspecção para recuperar a castidade dos meus pensamentos. Se num momento defendem que o Novo Testamento é uma impostura de um movimento religioso, noutro discorrem sobre Paulo com todas as convicções científicas, que nem a apologia mais pentecostal seria capaz.
Nota final: que a a canhotagem tenha problema com o Evangelho, é algo com o qual só me posso alegrar. No dia em que as Escrituras se tornem o Manual de Bons Pensamentos para a Transformação do Mundo eu baixo um braço e levanto outro à cabeça com seis balas no tambor. Mas já que estão interessados em discussão, que não se fiquem pela pré-modernidade. A da construção fraudulenta serviu no tempo em que a humanidade cria em que o sucesso cognitivo nos ia entregar a chave da suíte da harmonia cósmica. Entretanto, passaram duas guerras mundiais, os trémulos e pegajosos dedos do Dr. Freud e o Duarte e Companhia. O que sobra? Rui Mendes e muita, muita confusão.
P.S. Ficaram ainda umas bolachas. Mas começo a ganhar barriga e a minha esposa já não me deixa devorar a caixa como antigamente.

segunda-feira, setembro 15, 2003

Agenda
Não esquecer: concerto de Tiago Guillul e Samuel Úria, dia 20 na Sociedade Guilherme Cossoul, às 22h. Inspirações tais como: Pós-modernos (clique direito, save target as).

domingo, setembro 14, 2003

Preferências
Gosto de pessoas que dizem: "não esperem nada de mim". Por oposição, tendo a não ter grande respeito por pessoas que esperam algo da vida. O Senhor não nos criou as orelhas para amparar lápis.
Dominical
No culto de hoje, e com o pastor de férias, o Tio Joel fala de decepção. Temperado a remanescente de pronúncia beirã o sermão trata da fraca recepção dada ao Mestre em Nazaré. Não houve terra que pertencesse ao Messias, nem vizinhança saudosa que o acolhesse. Apenas o Filho de Deus afrontado pela incredulidade daqueles que o viram crescer. "Um profeta não fica sem honra senão na sua terra, entre os seus parentes, e na sua própria casa" (Marcos 6:4).

sexta-feira, setembro 12, 2003

Sétimo Dia
Estamos de volta Domingo.
De negro
A Voz do Deserto está de luto. Morreu Johnny Cash. Um cantor assombrado pelo Espírito Santo. The Man Comes Around. A Eternidade garante-o.

quinta-feira, setembro 11, 2003

Bíblias carbonizadas
Diz o DN que o radiocarbono confirmou a data que a Bíblia refere para a construção de um túnel subterrâneo que levou água à Jerusalém sitiada do reinado de Ezequias. No século XIX os cristãos, em pânico com a escalada do discurso cintífico que parecia querer reduzir a fé a mitologia retrógrada, decidiram combater o inimigo com as suas próprias armas. Gerou-se uma apologética ansiosa em fundamentar a crença nos terrenos sólidos da racionalidade. Esta mesma gente habituou-se à mentalidade bélica e teme agora a novas besta: o "pós-modernismo" (como inocentemente pronunciam). Os cristãos com fraca perspectiva da soberania divina acabam em becos mal-iluminados balbuciando teorias da conspiração.
Embora!
Comprado o Indestructible dos Rancid, a melhor banda de panque roque dos nossos dias. O pobre Tim foi abandonado pela mulher e passa o disco inteiro a chorar. Com semelhante lição sobre a natureza humana qualquer dia ainda deixa de ser comuna.
9/11
A rádio, clarividente, pergunta-me afinada: when did you get caught between the world and New York City?". Cerca de seis meses antes do desmoronamento entendia, de facto, que existem dois eixos para uma história de amor: o mundo e Nova Iorque.

quarta-feira, setembro 10, 2003

Corpo ou máquina?
Quase às portas de minha casa realiza-se uma feira vegetariana. Ensina-nos a viver mais felizes e com uma predisposição para a harmonia. Parece que os orientais, de tão espiritualmente despertos, descobriram no ser humano o botão do reset.
Despertar abrupto
Acordo com o clamor de uma multidão pedagogicamente instruída. São cerca de 28 mil e cantam um tema do Alice Cooper: "School's Out!".
Catequese diária matinal
Há um reavivamento católico em curso. Não está nas emancipadas elocuções do Bispo de Setúbal, nem tão pouco no pendor progressista do Padre Carreira das Neves. Reside na desenvoltura televisiva do Padre Borga.
Frigorífico filo-americano
Avisa-me profeticamente um queijo fresco: "Consumir até 11 de Setembro". Antes do pranto e ranger de dentes.

terça-feira, setembro 09, 2003

Ao vivo
Sábado dia 20 de Setembro, por volta das 22 horas, vou apresentar o meu disco novo ("Mais dez fados religiosos de Tiago Guillul") na Sociedade Guilherme Cossoul, em Santos. Pratico entradas de esquerda: dois euros. O disco estará à venda entre um e dez euros - o consumidor dá o que quiser (é verdade, é uma imprevisível mistura de ética calvinista com colectivismo cultural de estado). A acompanhar-me, e lançando também o seu disco ("O caminho ferroviário estreito"), estará o Samuel Úria.
Para quem quiser antever a epifania, faz favor de descarregar (clique direito, save target as):
- do disco anterior - Aninha-te no meu colo, Gato
- do novo - Faz-me bem a mim e mal ao demónio.
E a economia de mercado...
Continua a funcionar! O último disco da Cat Power por uns escandalosos dois euros e três cêntimos no Carrefour de Oeiras.
Gratidão
O Valete, qual Caim regenerado, trouxe de volta os linques de religião. E o povo de Deus diz: "Aleluia!".

segunda-feira, setembro 08, 2003

Poema
Providenciais as palavras trazidas pelo Rui Almeida:
" Qualquer poeta
se pode transformar
em traficante de armas
".
Sobre a direita e a esquerda
Creio que compreendo a disciplinada exigência em olhar para o mundo dos algodões da gauche. Mas acontece que ao comer cachupa bebo Coca-Cola. Na política, como na sobrevivência no Ártico, é tudo uma questão de selecção de que tipo de tecidos e víveres levamos connosco.
Tentando responder ao Império
Os evangélicos são geralmente mais conservadores que os católicos. Nos EU e um pouco pelo mundo fora. Possuem perspectivas doutrinárias mais severas. Não têm suores nocturnos por acreditar no inferno, no nascimento virginal de Cristo ou na exclusividade salvífica de Jesus. É certo que na Europa gostam de transmitir uma imagem de quem lê mais livros (por estes dias deliciam-se em tímidas investidas pelas desigualdades da globalização e fazem queixinhas dos abrutalhados irmãos americanos). Mas reconheço que encontro mais sensualidade no Bible Belt do que nas conferências anuais sobre C.S. Lewis.
Na grafonola
Prepara-se o espírito para o Outono ao som do ska do Toots and the Maytals.

sábado, setembro 06, 2003

Desafio do Império
Sobre nos EU os evangélicos serem mais conservadores que os católicos tentarei escrever um pouco amanhã. A questão da fé e da imagem tem suscitado intervenções importantes. Acompanhar os esclarecimentos do Pedro Mexia.
Linhas tortas
O sempre vigilante James merece a atenção da Voz desde que surgiu. Inversamente, só esta semana deu com o Deserto. Considera curioso e faz-lhe confusão o sentido da esquerda para a direita. Diz que é como mudar do Benfica para o Sporting. Acusa falta de honestidade intelectual e de carácter. Desconheço o meu interlocutor. Mas ele exibe a clássica pré-cognoscência de grande parte da esquerda. James, um conselho de quem não tem um Atlas de ética política interiorizado: quando teclar, baixe o punho cerrado do braço esquerdo que tem estendido. Permite relacionarmo-nos com o computador de uma forma mais descontraída. E carinhosa.
Profecia cumprida
Bem que o Querido já amargamente profetizara: o monopólio do Blogger é o ciber-apocalipse nacional.

sexta-feira, setembro 05, 2003

Obrigado
Agradecimentos em atraso: ao eu vou mas volto, à quinta coluna, ao psico-lógico, ao regresso ao abismo, às viagens na minha terra e ao cristão praticante.
Um cumprimento bem pentecostal para Aviz
Agradeço as palavras generosas do Francisco José Viegas. Deixo um shalom, que dá para judeus e cristãos.
Crise de meia idade
Ainda na década de 60 os evangélicos eram corridos à pedrada em cidades como Guimarães. Hoje fazem congressos sobre "ser esperança na desorientação pós-moderna" com um Doutor alemão que já publicou 54 livros sobre Ética, Missiologia e Antropologia Cultural. Em 40 anos passaram pela revolução democrática, o namoro ímpio com a IURD, a tentativa de derrube da Concordata e cerca de meia centena de episódios do "Cão Vagabundo".
Grafonola carnívora
Em Tomb of the Mutilated , Chris Barnes canta em oitavas abaixo do nível das águas do mar. É certo que recita letras como "Hammer Smashed Face" mas, no fundo, há mais meiguice aqui do que nas melodias hiperventiladas da Ala dos Namorados.

quinta-feira, setembro 04, 2003

Questão de imobiliário
Ao caro Pedro Leal pareceu reconhecer na música da cerimónia da entrega de medalhas do Campeonato do Mundo de Atletismo (...) o "Verde Vinho", o mega-êxito da musica popular portuguesa do final dos anos 70, com a voz do Paulo Alexandre, tocada por uma fanfarra ao melhor estilo de um qualquer festival da cerveja na Alemanha. Não conheço a canção. O Pedro levanta a hipótese de ser o original estrangeiro, posteriormente traduzido para o português, fenómeno a que o raramente repreensível Marco Paulo nos habituou. Pena que os escribas musicais que pululam pelos periódicos só gostem de fazer listas de discos essenciais no conforto da poltrona anglo-saxónica.
Prosseguindo
Acompanhando o Quinto dos Impérios chego à conclusão que talvez não tenha compreendido a direcção do comentário feito à Voz. Dialoguemos então.
Vade retro
Apodera-se de mim um dos mais vis sentimentos do mundo ocidental: as saudades das férias. É com a vergonha da mulher adúltera que o confesso. A vitória do homo phaber levou a que julgássemos o nosso mérito pelo trabalho que temos, sendo que o descanso seria o substituto da aprovação divina, caída em desuso pela brusca vitória do napoleónico laicismo. Tenho de arranjar quem exorcise o demónio da techné da minha laborialmente martirizada carne.

quarta-feira, setembro 03, 2003

Coadjutora
Não fosse Deus ter retirado a minha esposa da costela e a esta hora os meus braços seriam impotentes para postar.
Carruagens
Há uma perversa satisfação para alguém nascido no seio da classe média em ver um BMW avariado à beira da estrada. Reflexo de maldição divina geograficamente localizada ou constatação de que o humanismo em Portugal não passa de um suspiro à beira da morte dos orfãos de Rousseau?
Carta
Quando Paulo escreve a Filemom encontra-se preso. Trata-se a si próprio como “prisioneiro de Cristo Jesus”. O cristianismo não é a promoção de nenhuma ética. Nem tão pouco a resposta para os nossos males. É a cruz, as algemas, o chicote e demais instrumentos de tortura que testemunham de um Deus que morre pelos seus filhos.
Fraude metálica
Lars Ulrich é a personagem mais socialmente irritante da música popular americana. Ainda por cima é tão bom baterista como Ferro Rodrigues é líder da oposição.
Acerca do “Segundo parágrafo”
O artigo de João Miguel Tavares no DN de ontem é muito importante. O percurso que JMT afirma ter feito em direcção à direita é, em muito, semelhante ao meu. Dois pontos em comum: o 11 de Setembro e a licenciatura na FCSH. Junte-se o facto de ser o único crítico musical que vale a pena ler na imprensa dita especializada que conheço, e ganho três boas razões para me manter atento ao que vai escrevendo.
O lobo de Proust
Leio o questionário de Proust respondido por Maria João Lopo de Carvalho. Não aprecio as respostas e ainda menos as perguntas. Mas sou sensível à beleza de MJLC. E quase que sou tentado em ir ler o que a senhora escreve. Não fosse a minha inabalável convicção no relato do Génesis e lá me perderia por letras de sabor amargo de cidra.
Obrigado
Agradeço a amável referência feita pelo Joel Neto .
O Guardião do Império
O Quinto dos Impérios reagiu já ao poste sobre a relação entre religião e captação de imagem (sobre este assunto nunca ouvi o caro EPC a dissertar). Mas tomou-me por uma das partes de um hipotético conflito. Acontece que nem sequer conhecia o contexto das imagens do Ministro da Defesa a ajoelhar-se. Interessa-me debater a questão. Avanço para ela sem opinião formada.

segunda-feira, setembro 01, 2003

Súplica
Passo por grande provação. Um vírus colheu o meu imprudente computador pessoal. Espero livramento nos próximos dias. A postagem torna-se mais irregular que os humores do apóstolo Pedro. Conto com as vossas orações.
Terceira Epístola de Tiago, Capítulo 4, verso 23
Esperançoso, aguardo o fim da moda das camisas de gola alta.
Dominical
Um grupo de velhas senhoras, eufemisticamente denominado de séniores, canta no culto de manhã. Na sua maioria vão à igreja sós e ou são viúvas ou o marido é descrente. Oram diariamente pelos filhos que se afastaram da religião e rogam que os netos se desviem dos prazeres da juventude. Fora da partilha da mesma fé a igreja não busca afinidades entre as pessoas. Não promove um público-alvo tipificado num estilo de vida alternativo. Não faz pose para retratos de camaradagem estética. A igreja é do Espírito que sopra onde quer.