domingo, junho 26, 2005

Esta semana
Não há nada para ninguém.

sexta-feira, junho 24, 2005

Leitores da Figueira da Foz (existem?)
Amanhã os Ninivitas andam por aí.

quinta-feira, junho 23, 2005

Billy
Billy Graham vai pregar pela última vez em Nova Iorque. Está surdo, tem cancro da próstata e sofre de Parkinson. Mas ainda dá para mais um apelo. Ainda dá para mais um apelo.

Nota: O apelo é aquilo que na gíria evangélica e protestante corresponde ao momento em que o pregador convida o ouvinte a aceitar Jesus no seu coração. Uma cambada de kierkegaardianos, é o que nós somos. A religião só presta se a tivermos nas vísceras. Entre os ventrículos e as aurículas.

quarta-feira, junho 22, 2005

Linha verde
Numa palestra o prelector, supostamente calvinista, tenta lavar as mãos de Calvino do capitalismo. O típico: quando os profetas são maus a Palavra de Deus precisa sempre de uma hermenêuticazinha. Dois méritos do francês: não condenar a usura e mandar o livre-arbítrio às malvas. Só um suicida quereria viver nos dias de hoje sob a direcção religiosa do bom Jean.
Soltar a cristandade do pudor judeu do juro foi uma bênção: o lucro faz o mundo girar por isso mais vale que o cambista dance à vontade. Por outro lado, e que me perdoe o Agostinho, o livre-arbítrio é a mais absurda heresia que o cristianismo conheceu. A escolha do homem acabou mal o Senhor criou a mulher. Uma pessoa começa por acreditar que o destino eterno está nas nossas mãos e de repente acorda vestida numa bata laranja a repetir hare-krishnas no metro. Tenham paciência mas vou para a linha verde.
Como bom calvinista que sou o meu apreço pelo doutrinador reverencia mais a sua má fama do que o seu contributo humanitário. Quem não pode com o progenitor é que precisa de lhe oferecer postais classificando-o como "o melhor pai do mundo".

terça-feira, junho 21, 2005

Da educação dos filhos
As últimas músicas que deixaram o bebé de 13 meses a dançar foram: "I turn my camera on" dos Spoon e "Malediction" do Stephen Malkmus. Denoto uma saída do paradigma do hip-hop para uma música branca e dita mais cerebral. Ora, acompanhando este processo vem chegando a dentição. Eu que sou um ocasional defensor do relativismo cultural vejo-me confrontado com dados adversos.
É preciso ter muito cuidadinho quando damos por nós a acreditar em coisas como o progresso.

segunda-feira, junho 20, 2005

Onde Kant não chegou
A única questão ética: quem quereria molhar a língua do rico no Inferno?*

* Lucas 16:19-31.
Gostar de homens V

Abel Ferrara. Uma desculpa para pôr Hervey Keitel a conversar com Jesus.

sexta-feira, junho 17, 2005

Não volto a avisar
Ethos punk III
O baterista fica sempre com a loira.

quinta-feira, junho 16, 2005

Correspondência
Um leitor transatlântico escreve que o meu blogue "usa a religiosidade como "fusion" de uma suposta "rebeldia". Essa meleca toda chama a atenção para o seu ego esperto e um tanto exibicionista. Vc é ruim de rock e excelente em religião. Mestre em dar respostas afiadas, jamais irá cortar a própria carne com a verdade. Isso tudo faz com que vc tenha um blog apreciado por um segmento que gosta de misturas exóticas".

Notas avulsas:
1. Eu não uso a religiosidade como suposta rebeldia. Eu uso a rebeldia como suposta religiosidade.
2. O termo "essa meleca" é tímido. Até o Professor Astromar do saudoso Roque Santeiro seria capaz de exclamar "essa droga" ou pior mal se entalasse na porta da casa da Dona Mocinha após o cordial pedido "posso penetrar?".
3. "Ego esperto" gostei. "Exibicionista" deixou-me embaraçado.
4. Posso usar a frase "sou ruim de rock e excelente em religião" para efeitos de promoção pessoal?
5. Entre a mestria na língua afiada e brincar aos mártires esvaídos em sangue eu opto sempre, e sem qualquer excepção, pela primeira.
6. Já derramei lágrimas por este ser um blogue de misturas exóticas - o meu espinho na carne. O Senhor libertar-me-á para a especialização gnoseológica se assim Lhe aprouver.


Professor Astromar e Mocinha. O primeiro era bom. A segunda uma choramingas insuportável.

quarta-feira, junho 15, 2005

Música, dar
Tenho andado encantado com uns miúdos de uma banda panque que conheci recentemente. Musicalmente têm pecados que só muito arduamente um frade teimoso como eu pode absolver: cantam em inglês e não se circunscrevem a um tipo de distorção de guitarra numa mesma cantiga. O Senhor há-de olhar para além do traidor poliglotismo e vaidosa pedaleira.
Fascina-me nestes rapazes o charme discreto dos subúrbios. Falo de charme, não de suor proletário. Da nobreza possível aos plebeus. Aquela centelha inesperada que torna uma vendedora de peixe demasiado sublime para o seu balcão. Em suma, tudo aquilo que um crítico musical digno do título desdenha.
O crítico musical, como crente que é, acredita na música. Essa é sua a calamitosa vocação: recusar que ela se resume a um entretenimento divino. Um passatempo entre criar amibas e fazer chover em Alcabideche. Os respigadores de melodias classificam, escarafuncham, canonizam, amaldiçoam, expurgam. Por cada lágrima que rola ao som de duas notas seguidas na pauta ouve-se uma gargalhada displicente no Firmamento Eterno. Como os críticos musicais substituem o Criador pela Criação recusam apreciar a coisa pelo aspecto humano. A arte só é perfeita para ateus. A adjectivação sobrenaturalizante da matéria é o mais velho truque do pagão para não ter medo de dormir sozinho à noite.
O Evangelho liberta. David tirou a roupa dançando em louvor a Deus. Isto é o máximo que a música tem para dar.

terça-feira, junho 14, 2005

Os Ninivitas
Já saiu o primeiro disco português do ano com letras e tudo. Avisem o pessoal do Blitz.

Vai ser lançado no próximo sábado, pelas 21.30h na Sociedade Guilherme Cossoul, em Santos. A entrada são dois euros e o disco estará à venda por cinco.
O néon botânico
O mundo tinha-se tornado um lugar miserável. Deus decidiu afogar os malvados. A única excepção foi Noé e a sua família. Ainda a Terra secava do dilúvio e já os operários se desentendiam nas obras de Babel. Diz-se que o arco-íris apareceu como símbolo de que o Senhor não voltaria a destruir a sua Criação. Este néon botânico apontava mais para a bonomia do patronato divino do que para a reabilitação laboral do homem. Os sindicalistas dos nossos dias são a voz tumular dos náufragos que a Arca esqueceu.

segunda-feira, junho 13, 2005

Chama
Tias, amigos do Liceu, semi-colegas de trabalho e pastores baptistas na pré-reforma confessam a sua dificuldade em entender o que escrevo. Demasiada metáfora, demasiada raiva, demasiada ambiguidade. Demasiado narcisismo. Talvez me falte salvar publicamente uma alminha do fogo do inferno para que se endireite a hermenêutica dos leitores. Desacredito.
Têm Moisés e os profetas, ouçam-nos*.

* Lucas 16:29.

quinta-feira, junho 09, 2005

De bem com a vida II

E o cartaz foi feitinho por mim. Sou um artista. As mãos são do Dürer.
Benfica
O meu conhecimento sobre futebol restringe-se às colecções de cromos da Panini do México 86 e Itália 90. Uma das minhas preferências era atravessar a caderneta escolhendo os jogadores de melhor penteado. Embora apreciasse a manha colombiana o expoente era Chris Waddle (que fatalmente cortaria o cabelo umas épocas mais tarde). Ronald Koeman nunca foi forte no domínio capilar. Mas o seu remate viril aliado à posição recuada nas quatro linhas deixavam-me rendido. A verdade é que mal me apercebi que o futebol era mais o jogo do que a aparência do jogador a coisa perdeu a graça toda. Ao contrário do que se pensa, o desinteresse das mulheres pela bola revela que falta masculinidade ao desporto.

quarta-feira, junho 08, 2005

Gostar de homens IV

Kurt Russel. Snake. Plissken.
Lido
"Perdoem-me as referências a Eva, mas se vamos tentar compreender o mundo comecemos no ínicio". Paulo Ribeiro no blogue Quero Roubar Carteiras.

terça-feira, junho 07, 2005

Ethos punk II
Passo a tarde de sábado em delírios decibélicos. Qualquer músico é virtuoso desde que oculto por uma camada suficientemente espessa de ruído. Apercebo-me que a competência das novas bandas de panque-roque traz-lhes o patrocínio de lojas de roupa. O que era um bando de maltrapilhos há 15, 20 anos atrás foi substituído por miúdos bem-cheirosos e com medo de suar no palco, não vá a t-shirt desbotar. Os antigos, com os seus polos comprados por repto conjugal em pacotes promocionais de três na La Redoute, brilham pouco neste recente firmamento de etiquetas.

segunda-feira, junho 06, 2005

Ethos punk
Naturalmente oponho-me à presença de mulheres no mosh pit.
Apontamento pós-dominical
A maior parte das pessoas na congregação ao cantar o refrão do Hino nº 396 "Foi na cruz, foi na cruz onde um dia eu vi/ Meu pecado castigado em Jesus/ Foi ali, pela fé, que meus olhos abri" fecha os olhos.

Este cântico foi celebrizado extra-religiosamente no álbum "The Good Son" de Nick Cave & The Bad Seeds.

sexta-feira, junho 03, 2005

De bem com a vida
Ceci n'est pas Monaco, c'est Bagdade
O melhor filme americano de porrada deste ano é francês: "Os Gangs do Bairro 13".
Enlace
A deslincagem* por motivos ideológicos é a coisa mais linda da blogosfera (ler com o sotaque do Caetano Veloso). Assenta numa das mais delicadas crenças do ser humano: amigo meu, ou pelo menos pessoa que prezo, não diz disparates.

* Acto no qual o indivíduo retira do seu blogue um determinado link. Como quem diz, a existência é tão coerente comigo que não ousa oferecer-me o convívio de alguém com ideias estúpidas.

quinta-feira, junho 02, 2005

Chato
Aqui há uns meses atrás referi a conversão de Head, o antigo guitarrista dos Korn, ao cristianismo. Segundo informa a MTV o músico fez uma música que dedicou a 50 Cent, o rapper peneira-de-balas, censurando-lhe o mau exemplo que oferece à juventude. Head ainda agora se converteu e já é um chato. Não é bonito acusar alguém de fazer o trabalho do Diabo. Mais. Quem se pode excluir da lista maldita do labor satânico? Até os grandes apóstolos foram, em determinada altura, apontados como sócios do Inferno. Quem tem as quotas em dia só a secretaria sabe.

Desenhinho do Paulinho.
Uma avaliação humilde
Vou apenas na quarta música do "Get Behind Me, Satan" dos White Stripes mas posso já antecipar que é muito bom. Tem muitos xilofones e embora não saiba se é a Meg White que os toca, só a ideia de haver mais coisas em que a menina põe as dedicadas mãos me faz ganhar o dia.

quarta-feira, junho 01, 2005

Compras
Na fila do hipermercado está uma senhora atrás de mim de irrepreensível decote que bem podia ser a ex-mulher do João Pinto. Ao aperceber-se que deixo um saco de areia para gatos no chão enquanto outro está já no tabuleiro pergunta maliciosa: "Desculpe, isto é seu?". Calcularia que me preparava para arrastá-lo com os pés para a menina da caixa não o ver. Explico que não é necessário pegar em cada um destes volumes de 16 litros, perfumados, que duram 15 dias para um gato, uma semana para dois. Basta informar a funcionária de quantos são que ela registando um multiplicará as vezes que for necessário.
Sei que era Sábado e a minha indumentária de intelectual de esquerda que deixou de o ser mas manteve o mau aspecto não me favorecia. Nunca fui forte entre esposas de futebolistas. Para mais faltava-me o blazer e as Levi's 501 rasgadas nos joelhos só quebram corações no Kremlin às sextas à noite.
Ainda pensei em deixar cair o meu cartão do multibanco que tem "Dr" antes do meu nome porque o BPI não perdoa e a licenciatura é água benta no focinho de vampiras iletradas ou mencionar que era entrevistado na "Pais & Filhos" deste mês. Mas não valia a pena.
Não tenho nada contra pessoas que julgam pelas aparências. Tenho contra as pessoas que não sabem julgar pelas aparências.