segunda-feira, junho 30, 2014

Cabanas de Tavira mais offline 2
Pela primeira vez encontrámos Cabanas de Tavira nublada. Mas a compensação foi o mar naquela temperatura verdadeiramente algarvia que traz consigo os ares do norte de África. A pessoa entrava no mar e deixava-se ficar. Nada de algas, marés vivas ou levante. Água cristalina e quente.
De um modo geral este foi o ano em que Cabanas de Tavira mostrou que o seu encanto não se esgota todo em intensidade. Houve até uma manhã em que estivemos na praia cada vez com mais nuvens e vento até que, vejam bem, regressámos a casa e assistimos à petulância da chuva a tomar conta do cenário. Foi o mais próximo que estive de passar um dia de Inverno nas nossas ansiadas férias de Verão. Fez com que a tarde fosse passada dentro de casa comigo a fazer aquilo que em determinados anos foi um hábito mas que posteriormente abandonei: ver um filme. Deu-nos o pretexto perfeito para não termos de ir à tarde com os miúdos à piscina. Este ano entrei ainda menos na piscina porque os miúdos orientam-se cada vez melhor dentro dela sem precisar da minha assistência. A excepção vai para o Caleb que tem uma característica única de fazer das suas limitações uma declaração de vitória (onde é que eu já vi isto?).
O Caleb fazia do seu receio inicial em estar na piscina com água acima dos joelhos uma opção supostamente voluntária por uma modalidade de aproveitar o tanque nos seus encantos rasos. Andava de um lado para o outro com a água a pouco passar-lhe dos tornozelos em jeito triunfal como se fosse o capataz do lava-pés. Com o passar da semana, e ajudado pela companhia dos pais, acabou por se entregar às delícias da piscina profunda, desde que devidamente sustentado pela bóia. Quando chegávamos ao fim do dia, no culto doméstico, agradecia sempre a Deus pelo tempo que tinha passado na piscina e na praia onde, segundo o seu relatório, tinha mergulhado de cabeça (na praia o Caleb considerava saltar em cima de uma onda que lhe dava pelos joelhos inclinando a cabeça para a frente como um mergulho de cabeça). Quem precisa de coragem quando se tem convicção?
De resto, a disciplina aquática manteve-se em mar de manhã e piscina à tarde. Já não me aventurei em regressos à praia da parte da tarde porque duas semanas permitem menos sofreguidão do que apenas uma. É verdade que ao mesmo tempo lamento não ter pegado este ano na bicicleta e ter-me aventurado nos circuitos pelas terras nas imediações de Cabanas de Tavira. Optei por ler mais e pedalar zero. Perderam as minhas pernas mas ganhou o Henry James com o "The Portrait Of A Lady" (que livro!).

quarta-feira, junho 25, 2014

Ouvir
Nas dificuldades o nosso temor deve ser a Deus e não às circunstâncias. Perder e morrer para o mundo é ganhar e viver para Cristo.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

terça-feira, junho 24, 2014

Cabanas de Tavira mais offline
Faz agora meia década que, logo a seguir a criar uma conta no Facebook, passava a habitual semana de férias em Cabanas de Tavira. Lembro especialmente bem essa semana algarvia de 2009 por algumas razões. Trazia no leitor de CDs do carro o disco do João Coração, "Muda Que Muda", acabado de gravar, antes ainda de ser misturado, masterizado e editado. Ainda hoje continuo a achar que é a banda sonora perfeita para um dia algarvio não tanto porque encaixa numa audição turística de sol e sal. Mas porque no disco há uma combinação única de exuberância e risco que, se tivesse de ser localizada numa província portuguesa, teria de ser no Algarve. Outra razão pela qual me lembro especialmente bem dessa semana algarvia de 2009 é por ter sido passada na última semana de Maio. Numa época que nos podia dar chuva típica da Primavera tivemos um esplendoroso Verão em que o Algarve ainda estava quase vazio de turistas. A última razão pela qual me lembro especialmente bem dessa semana algarvia de 2009 é que, por virtude de ser a primeira passada desde que estava ligado ao Facebook, foi a também a primeira a ser reportada com uma consciência mais clara e directa das pessoas que a liam reportada. Ou seja, apesar de já ter o blogue desde 2003, 2009 foi o ano em que escrever no blogue mudou pela interacção intensificada via Facebook. Isto tudo para chegar a uma alteração agora no modo de viver as semanas em Cabanas de Tavira pelo facto de estar em detox parcial de Facebook.
Pela primeira vez desde 2009 passo o tempo em Cabanas de Tavira sem me sentir atarefado em escrever sobre ele. Sei que tudo isto é meio ridículo. Afinal de contas, por alma de quem é que as minhas férias merecem a importância de serem registadas para outros? Ora, no fundo, é boa parte desta ridícula presunção que a internet vem acelerar. A nossa exposição prolongada à internet torna-nos prematuramente convencidos da importância das nossas existências. É meio paradoxal porque na prática significa que há um elemento comunitário da rede que pode jogar a favor do isolamento dos seus participantes. Digo isolamento porque quando nos comportamos com demasiada consciência do quão necessária é a nossa intervenção na vida dos outros, acabamos por correr o risco de nos perdermos em nós próprios. E é preciso ter cuidado. Com tudo isto, lá acabo eu a escrever sobre as minhas férias mas com a noção que é preciso vivê-las bem antes de poder pensar em quão necessário é escrever bem acerca delas.
Espero não exagerar na teoria mas uma grande lição que 2014 me está a trazer é reaprender a viver mais offline. Estar a dizê-lo online deve esclarecer que acho que a internet, como a maior parte das coisas, não é má em si mesma. Segundo o esclarecimento de Jesus no evangelho de Marcos (no verso quinze do capítulo sete), "Nada há, fora do homem, que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai dele isso é que contamina o homem." O problema não é do Facebook, é do uso que fazemos dele. O problema não é da internet, é do uso que fazemos dela. Não evitando pregar um bocadinho: o maior problema do homem não é o mal que o cerca mas é o mal que há dentro dele. É por isso que um cristão se reconhece como inerentemente pecador e carente de uma salvação que seja cem por cento divina (porque bastava um por cento humano para que se tornasse imperfeita). Going all the way: estar a viver mais offline ajuda-me a estar mais dependente de Cristo.
Em 2009 estava a aprender a viver as férias de Cabanas de Tavira mais felizmente também porque as reportava. Em 2014 estou a aprender a viver as férias de Cabanas de Tavira mais felizmente também porque não me sinto na mesma obrigação de as reportar. Por enquanto, é tudo. Back to you mais tarde.

quarta-feira, junho 18, 2014

Ouvir
O Pr. Rui Sabino pregou para nós no 85º aniversário da nossa igreja uma mensagem acerca de não perder o primeiro amor.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui, no site novo da igreja!).

sexta-feira, junho 13, 2014

Nas bancas
Estou de regresso à Revista Ler, que está de cara nova. Muito catita, I shall say.
Escrevi um texto chamado "Jonas, o melhor Kafka" que, mais uma vez e como se especializou Martin Amis, tenta rebentar a bolha sagrada da auto-estima.
A determinada altura, vai assim:

"O que tantas vezes nos ofende na leitura do texto sagrado é a sugestão que quase tão ilimitado quanto Deus é o nosso ego. A nossa maior embirração com o cristianismo não é teológica mas antropológica. Até podemos aceitar que Deus exista. Mais difícil é aceitar as consequências da existência de Deus na nossa existência. Porque elas parecem sempre chegar na sombra da nossa subtracção."


quarta-feira, junho 11, 2014

Esta música não é sobre a bola, esta música é sobre a pose


Ouvir
Um livro que começa em secura, porque os gafanhotos devoram tudo, termina em torrencialidade. A Bíblia diz-nos que a condição espiritual dos cristãos não é um estado meio gasoso. A liquidez do livro de Joel é um estado absolutamente sólido.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, junho 09, 2014

Menos de um mês


sexta-feira, junho 06, 2014

Coimbra na semana passada


















Fotografia da Débora Hossi.
"Finalmente Vivos" de John Piper
Não é difícil que a fé de um cristão ofenda quem não é. O interessante é que o que há de mais potencialmente ofensivo na fé de um cristão para quem não é não tem nada a ver com o facto de um cristão ter mais valor que um não-cristão. A este nível até é o contrário que acontece: um cristão assume que não tem valor algum fora da intervenção de Deus, reconhecimento de humildade que provavelmente fica impossível de ser declarado pelo não-cristão. O que pode ser realmente ofensivo no cristianismo não é a classificação qualitativa daqueles que nele crêem acima dos que não crêem. O que pode ser realmente ofensivo no cristianismo é a crença que os cristãos têm que, não valendo nada em si mesmos, possuem a presença do próprio Deus dentro de si (quando se tornam cristãos). Isto sim, é um descaramento que a Bíblia permite e aconselha. E que, naturalmente, pode chocar todos os não-cristãos. Afinal de contas, os cristãos afirmam que têm muito mais do que o rei na barriga - têm o próprio Deus.
O livro "Finalmente Vivos - o que acontece quando nascemos de novo?" de John Piper (editado em português do Brasil pela Editora Fiel) é acerca deste descaramento. Como é sabido, sou mais que fã de John Piper (poderia explicar algumas razões dessa admiração mas resumo-as assim: amo mais o meu Deus graças a John Piper e por isso estou disposto a ler o Pastor Baptista norte-americano até ao fim dos meus dias nesta terra). John Piper entrega-se ao assunto do novo nascimento e isso é excelente porque sem novo nascimento ninguém se pode salvar. Este é, portanto, um tema do qual depende a nossa vida. Um dos méritos do livro é, não só declarar que o novo nascimento significa que passamos a ter a presença de Deus em nós, mas evidenciar como este facto passa por ser uma verdade sobrenatural que é vivida também ao nível natural. Não há como ser cristão sem acreditar no sobrenatural. E isto não tem apenas a ver com crer que os milagres narrados na Bíblia são verdadeiros. Um cristão que tem medo de acreditar nos milagres da Bíblia é um cristão palerma porque se não existir um milagre que acontece fora da Bíblia, nomeadamente o facto do Espírito Santo entrar na vida desse cristão, ele nunca chega a ser sequer cristão. Piper ajuda-nos a recordar isso. "O que acontece no novo nascimento é a criação sobrenatural de nova vida, criada por meio da união com Jesus Cristo. O Espírito Santo traz-nos uma ligação vital com Cristo, que é o caminho, a verdade e a vida. Esta é a realidade objectiva do que acontece no novo nascimento." Tentando colocar isto de uma maneira mais bruta e potencialmente ofensiva  para descrentes: para terem a certeza que os milagres existem basta conhecerem um cristão. Se existe um cristão, é porque um milagre aconteceu. O Espírito Santo passou a habitar sobrenaturalmente essa pessoa. E uma vez que os cristãos vivem aqui, nesta terra, é sinal que o sobrenatural se vê no plano natural. É tão simples quanto isto.
Piper, como costume, não está para mariquices. E isso vê-se no facto em que, num assunto em que os crentes são parte essencial da matéria, dizer coisas que podem ser ofensivas até para os próprios crentes. Para Piper o que está em causa é sempre ser fiel a Deus e à sua Palavra revelada nas Escrituras, doa a quem doer. Vejamos um exemplo disso nos três elementos de perturbação que enumera a pretexto do novo nascimento. Basicamente, o novo nascimento perturba-nos, primeiro, porque mostra-nos que somos espiritualmente miseráveis. O novo nascimento perturba-nos porque, segundo, é feito para nós e não algo que nós fazemos. E o novo nascimento perturba-nos porque, terceiro, confronta-nos com a liberdade de Deus (e este dá-me um gozo especial porque, como tenho tentado explicar a pretexto do assunto da predestinação, hoje muitos que se dizem cristãos têm uma grande dificuldade com o facto de Deus ser absolutamente livre para fazer o que quiser). O novo nascimento é o melhor que nos pode acontecer, porque é o que nos permite a salvação, mas é algo que parece assustador. O cristianismo é assim.
Mais. Piper está-se nas tintas para o facto daquilo que diz acerca do novo nascimento parecer ficção científica para os cépticos. Afinal, as posições dos cépticos, embrulhadas em humildade epistemológica, são ficção científica para Piper. Vejamos como isto acontece: "Um conhecimento verdadeiro de nós mesmos admite um conhecimento verdadeiro de Deus porque tendemos a pensar que já conhecemos a nós mesmos, quando, na verdade, a profundidade da nossa condição está além da nossa compreensão sem a ajuda de Deus. (...) Se o nosso perdão dependesse da plenitude do conhecimento dos nossos pecados, todos pereceríamos. Ninguém conhece a extensão da sua pecaminosidade. É mais profunda do que poderemos sondar. (...) O nosso problema não está apenas naquilo que fazemos mas também naquilo que somos. Sem o novo nascimento, eu sou o problema." Por que é que hoje fica mais difícil acreditar num Deus que nos salva? Porque ficou muito fácil acreditar que não precisamos de ser salvos. Boa parte das pessoas não se interessa pela bondade de Deus pela mesma razão que se desinteressa pela maldade que pratica. São duas vias de um mesmo caminho. A lógica do cristianismo opõe-se à lógica dos nosso dias quando a última, com aparência de grande modéstia filosófica, duvida acerca da possibilidade de sermos transformados no nosso carácter e comportamento (o que é uma contradição em si mesmo, porque geralmente o ateísmo diz primeiro que bons somos todos, recusando o conceito de pecado original, para depois dizer ao mesmo tempo que nenhum cristão pode ter a presunção de afirmar uma transformação de carácter e de comportamento). Ora, o que ensina a Palavra? Quem nós somos, só Deus sabe. Quem nós podemos ser, só Deus sabe. O negócio de Deus é saber, o nosso é ser. E a ironia é que temos um posterior incentivo paradoxal: só podemos ser aquilo que Deus sabe que seremos porque, antes de nós sermos, Deus é primeiro.
Por último, é notável o modo como "Finalmente Vivos" caminha sempre de mãos dadas com a vida como ela é. O novo nascimento só é abstracção para quem não o vive. Como é que ele se vê e se apalpa? No facto de se exprimir em amor. "A nossa capacidade de amar os outros de modo imperfeito tem base na certeza que em Cristo nós os amamos perfeitamente. (...) O novo nascimento é a concessão de vida divina a nós, e uma parte dessa vida é o amor. A natureza de Deus é o amor, e no novo nascimento essa natureza torna-se parte de quem somos. (...) Onde há necessidade de acções práticas, não devemos começar uma conversa. Façamos coisas práticas uns pelos outros." Ler "Finalmente Vivos" é uma leitura do amor. Deve ser feita.


terça-feira, junho 03, 2014

Ouvir
Geralmente sentimo-nos mais à vontade para dizermos que Deus é justo sem termos de falar no assunto difícil do castigo. Mas na Bíblia as coisas não são assim.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).