segunda-feira, junho 18, 2018

Segunda-feira é dia de um milagre no coração
em dois minutos e meio. Hoje, Jesus choca as pessoas quatro vezes. Vê porquê.

sexta-feira, junho 15, 2018

Novidades!

Dez anos não é muito mas também não é coisa pouca se o que estiver em causa for a oportunidade de celebrar um disco que se tornou um encontro de muitos amigos. Quando o Tiago Guillul lançou no início de 2008 o seu "IV", estavam em 15 canções um aglomerado de novos músicos que em comum tinha sobretudo a zanga com uma música portuguesa que parecia pouco lhes tolerar a língua. Os ilustres desconhecidos de então, além do Tiago, eram nomes como Samuel Úria, Manuel Fúria, João Coração, Bernardo Barata e Jorge Cruz (que trazia uma história mais antiga e mais complicada) - isto só para citar uma mão cheia. O engraçado é que, à medida que o "IV" alastrou, aumentou o número de amigos que se juntaram àquela estranha e animada caravana (e, sendo sinceros, o de inimigos também).

O B Fachada foi um deles. Apesar de ter o seu caminho anterior independente, meses depois teria o seu próprio disco pela FlorCaveira, "Viola Braguesa". Ora, numa reedição do "IV" que se deseja celebração rija, haverá espaço: - para o disco original remasterizado, - para um disco de sobras (porque o Tiago estava em híper-actividade na altura e de 30 canções gravadas escolheu apenas metade para o alinhamento final), - e para um disco das canções regravadas por amigos (que irão do Fachada ao Benjamim, passando pelo Jorge Cruz, Luís Severo, Filipe Sambado, Filipe da Graça, entre muitos outros).

Na FlorCaveira a amizade é um valor e por isso é especial que a primeira canção a ser lançada, desta edição que chegará em Setembro, seja agora a afachadada "Canção de Natal". O Verão está à porta? Então metam-lhe uma estrela no topo.


quarta-feira, junho 13, 2018

Acredito em pessoas preocupadas com a alegria

[O meu amigo Jacinto Lucas Pires convidou-me para ler e apresentar, junto com o Rui Tavares, o seu livro "A Gargalha de Augusto Reis", acabadinho de sair e que vocês podem comprar em qualquer boa livraria. No lançamento partilhei esta meia-dúzia de ideias.]

1. "A Gargalhada de Augusto Reis" não é um livro qualquer. O Jacinto escreveu um livro que joga com elementos de grandeza dos quais foge. O que quero dizer com isto? Olhemos para os ingredientes: há um poeta e professor que também tinha sido político, do tempo do Estado Novo e com ligações a ele, que é Augusto reis; há, décadas depois, um jovem negro da Amadora que se forma em Direito, e cresce obcecado por um poema encontrado no lixo desse mesmo poeta do Estado Novo, que é Djalma Santos; e há uma cineasta entalada, tentando equilibrar memórias negativamente exageradas do nosso passado político nacional com uma espécie de esperança nos pobres que se constroem a si mesmos por emancipação intelectual, que é Sofia Bessa. Até há o próprio Salazar a entrar em cena. Isto na América era mais uma "novel" a tentar superar as angústias existencialistas do Século XX. Aqui, e porque o Jacinto assim parece não o desejar, dá um livro que podendo prometer uma magnum opus, se certifica que não cai nessa concretização.

2. Talvez uma razão que não permite que "A Gargalhada de Augusto Reis" seja um romance triunfal, no sentido de querer resolver o mais difícil de resolver, seja a convicção do Jacinto de que somos um país de eufemismos. A determinada altura, e logo no arranque do livro, ao falar-se sobre o dia da revolução, o Jacinto escreve: "Na confusão daquele dia, é impressionante o silêncio que resiste" (pág. 17). Na relação que temos com as palavras, seria improvável atribuirmos a elas o poder de tratarem num curativo final e eficaz aquilo que dentro de nós suscita mais facilmente a protecção de um eufemismo do que a coragem de uma afirmação concreta.

3. Isto não significa que n'"A Gargalhada de Augusto Reis" não encontramos a crença no poder de as palavras nos darem esperança. Como escreve, a pretexto do episódio em que Djalma encontra o antigo poema, Jacinto diz que: "a dificuldade em atravessar aquelas frases para o que elas guardam atrás delas é a prova de que aquilo não é uma coisa qualquer. (...) A estranheza daquelas palavras é para ele a garantia de que há ali algo mesmo raro e importante" (pág. 44). A partir do momento em que um miúdo lê algo assim, algo que se recusa dar completamente a entender ao mesmo tempo que mostra transportar algo valioso, está nascida uma vontade de, pelo menos, arriscar em querer mexer no assunto. Rapidamente o Djalma tenta fazer poesia, por sinal, mazinha "mas esses versos falhados haviam posto algo em movimento" (pág. 45).

A importância das palavras vem também em forma de pergunta: "Não corremos o perigo de tornar a linguagem tão neutra que, no fim de contas, tudo possa ser uma coisa e o seu contrário?" (pág. 133). Ao mesmo tempo, há uma graciosa referência a Camões que nos oferece uma natureza literária para o Portugal que somos, "o grande poeta zarolho nadando com um braço de fora para salvar o poema da nação. (...) Um herói que salva palavras; que povo descenderá de tal gesto?" (pág. 193).

3. N'"A Gargalhada de Augusto Reis", Djalma re-urbaniza a cidade por onde circula memorizando textos. Diz assim: "Porque não tem livros e tudo o que lê lê na biblioteca, Djalma dos Santos anda com os seus poemas preferidos na cabeça durante muito tempo. Sem querer, começa a ligar versos ou títulos, poetas ou géneros de poesia, a lugares do seu percurso habitual" (pág. 51). À medida que decora poemas, as ruas passam a organizar-se a partir dessa memória literária. Esta imagem é fortíssima e inspiradora, para alguém, que como eu, tenta o mesmo com textos bíblicos. No fundo, esta é, ela própria uma imagem bíblica: se Deus criou todos os lugares pelo poder da palavra, é no mínimo justo que os reconheçamos também por esse mesmo poder.

4. A figura do padre Jesuíta, António Frateira, traz um dilema religioso interessante: se, por um lado, sabemos do equívoco que é "crentes que confundem seriedade com tristeza" (pág. 68), e que ele ajuda a dissipar, por outro, ele é um prontíssimo e talvez precoce tradutor de uma realidade que parece sempre difícil de ser entendida pelos mais simples.

5. É nessa mesma dificuldade de compreender a realidade que Sofia Bessa, a documentarista, se encontra, encarnando bem a angústia da geração de novos adultos, muito incapazes de lidar com pessoas realmente diferentes. Quando realiza o seu documentário sobre  Augusto Reis, o homem de indistintas ligações ao Estado Novo, luta com a tarefa de "pintar o retrato do inimigo - para depois tentar amá-lo?" (pág. 130). Nós, que hoje temos informação sobre tudo e sobre todos, não estaremos a fazer de toda essa informação um afastamento prévio de tudo o que nos parece estranho? A lente de Sofia quer ver mas, por vezes, parece que quanto mais vê, menos percebe.

6. Por fim, quero falar no elemento que a contracapa já traz como "spoiler", como dizem os miúdos agora: a alegria. Esta é a verdadeira luta deste livro e, eventualmente, do próprio Jacinto. É uma rica luta, apetece acrescentar. A determinada altura o Jacinto escreve: "A partir da morte do seu amor, as palavras foram-se tornando opacas para ele. Perderam a possibilidade de ser preenchidas de mundo, de surpresa, de vida e começaram a mirrar" (pág. 212). "A Gargalhada de Augusto Reis" é, nessa qualidade de erupção (a gargalhada é mais a alegria a espirrar do que a falar), mais um livro sobre procurar a alegria do que propriamente sobre encontrá-la. Quer-me parecer que esta é uma grande oportunidade para nós lermos atentamente o Jacinto. Pessoalmente, eu acredito em pessoas preocupadas com a alegria.


segunda-feira, junho 11, 2018

Segunda-feira é dia de um milagre no coração

em dois minutos e meio. O desta semana explica rapidamente porque o perdão dos pecados é a super-cura.

quinta-feira, junho 07, 2018

OUVIR PORTUGAL – ENCONTRO CDS (4 de Junho de 2018)

[Na segunda-feira passada estive num encontro promovido pelo CDS para se conversar sobre as questões políticas da cultura. Senti que, em grande parte, fui desiludir aquela gente esperançosa. Não tenho qualquer solução para as questões do 1% do orçamento do Estado para a cultura porque, como lá disse, sou relativamente agnóstico em relação à cultura. Não sei se acredito assim tanto na existência da cultura, pelo menos como ela é falada pela maioria dos políticos. Valeu-me a generosidade das pessoas, que me ouviram sem me apupar, sobretudo da Raquel Abecassis, do Diogo Belford Henriques e da Assunção Cristas. Também me valeu o facto de ter conhecido o actor André Gomes, a enérgica Catarina Valença Gonçalves e o realizador de cinema Joaquim Sapinho (acho que eu e o Joaquim fizemos click). Segue o texto que serviu de base à minha bem-intencionada mas provavelmente intervenção-sabotagem do programa previsto.]
Estar num encontro com o título “Ouvir Portugal” pode ser intimidante. Afinal, com cinco convidados, quase pode parecer que me cabe, no mínimo, a responsabilidade de representar quantitativamente 20% por cento da população portuguesa. Tenho medo de haver alguém que possa esperar da minha parte esse nível de eco responsável. Não vou ser capaz de o fazer.

Por outro lado, também me intimida o facto de este “Ouvir Portugal” ser mais particularmente “sobre cultura” e eu, ao contrário da maior parte das vezes, estar identificado, não como pregador ou pastor evangélico que sou, mas como músico, que também sou. Faz-me lembrar quando a minha filha mais velha, a Maria, começou na escola a ter de preencher a minha profissão e preferia colocar músico em vez de pastor. Não fujo de que músico também vou sendo, mas, mal por mal, sinto-me mais à vontade na pele do lobo do que na pele do cordeiro. Creio que concordarão que os músicos, e os artistas no geral, tendem a ser politicamente mais vistos como vítimas, e os pregadores como potenciais opressores – calha bem porque raramente gosto de fazer parte dos bons.

Por isso perdoarão a batota que vou fazer. Apesar de estar identificado como músico, e este evento ser sobre a cultura, vou dar a volta e usar uma definição de cultura que serve melhor as minhas preocupações religiosas. Para isso, vou pôr-me à sombra do T.S. Eliot e do seu livro “Notes Toward A Definition Of Culture”.

Segundo Eliot, o pensador americano tornado inglês, não há desenvolvimento de uma cultura sem o desenvolvimento de uma religião, e vice-versa. Isto não significa necessariamente a dissolução da boa separação entre Estado e Igreja (interessantemente, valor defendido pela confissão a que pertenço, os Baptistas, há mais de 400 anos). Eliot sabia que quando, por exemplo, há atrito entre a política e a religião, isso mostra que essa cultura se tornou mais complexa - e essa complexidade e diferenciação geram níveis culturais diferentes. Por exemplo, nas artes, à medida que uma sensibilidade cresce, outra pode diminuir - não dá para haver todas as áreas a desenvolverem-se ao mesmo tempo. O que retira a quem governa a preocupação de promover um programa de nivelamento cultural dos cidadãos. Claro que, ajudados por Eliot, podemos entender o saudável que é um Estado preocupar-se com uma alfabetização obrigatória sem que isso signifique uma política cultural igualitarista - geralmente esta última tende a ser uma especialização das ditaduras.

Eliot preocupava-se com dois erros que são dois extremos opostos: achar que a cultura pode sobreviver sem religião, e achar que a religião é melhor quando se purifica dos supostos males da cultura. Ele escrevia: “A sensibilidade estética deve estender-se à percepção espiritual, e a percepção espiritual deve estender-se à sensibilidade estética, antes de nos sentirmos capazes de julgar acerca da decadência, do diabolismo ou do niilismo na arte (Aesthetic sensibility must be extended into spiritual perpection, and spiritual perception must be extended into aesthetic sensibility and disciplined taste before we are qualified to pass judgment upon decadence or diabolism or nihilism in art)”. Eliot tinha uma cabeça boa, não acham? Parece-me que sim. Embora pode ser que haja alguns que pensem que já nos estamos a aproximar do domínio de um sermão.

O valor que quero sublinhar em Eliot nesta tarde é a ideia de que a nossa cultura é sempre o modo como vivemos a religião que temos, mesmo que essa religião não tenha o nome de religião, mas seja simplesmente o quadro de valores em que cremos. O que não podemos negar é que a palavra “religião” tem vindo a ganhar uma carga complicada para uma cultura que, creio, foi em grande parte produto dela. A prova é que até para um partido tido como conservador, como o CDS, as questões “religiosas” se tornam difíceis de lidar. Ora, como pastor evangélico, vou usar de uma liberdade que é a confissão de pecados. Geralmente a confissão auricular católica romana é privada e prudente, mas, como protestante que sou, posso dar-me ao luxo do oposto: vou aqui, diante de todos, confessar publicamente o pecado de andar a votar no CDS nos últimos anos. E é daqueles pecados complexos porque tenho ficado com alguns problemas de consciência.

Tenho votado no CDS porque, dentro dos partidos políticos portugueses, parece-me aquele que, ainda assim, consegue assumir alguma relação entre culto e cultura: há aqui alguma tradição de não ser pecado misturar convicções religiosas com convicções políticas. Mas algumas das vitórias da esquerda, que parecem vir com o carimbo do irrecusável progresso civilizacional, como a despenalização do aborto e o casamento de pessoas do mesmo sexo, têm permitido que gente como eu, que continua a tê-las como prejuízos morais, só possa ser tolerada como os descendentes actuais do Diácono Remédios. E já nem no CDS parece haver grande espaço para Diáconos Remédios como, à falta de melhor referência, pessoas como eu possam ser comparadas. Sim, a minha vantagem como pregador do evangelho é que não somente acredito em absolutos morais como sou pago para os defender: é uma união interessante entre liberdade religiosa e liberdade de mercado.

Ironicamente, parece haver um consenso oficioso que junta as elites culturais às causas típicas da esquerda para criminalizar na opinião pública a possibilidade de qualquer perspectiva dissonante. Ou seja, reconheço que o meio artístico, precocemente convicto da sua abertura de horizontes, e em Portugal blindado por uma espécie de mentalidade sindical, é hoje dos meios mais hostis a qualquer dissonância ideológica. Por isso, e apesar de haver quem me considere artista, talvez seja mais fácil confiar num político do que num colega das artes. Mal por mal, os políticos passam a vida a mudar de posição.

Para quem pode, na sua liberdade, usar termos como “absolutos morais”, pode também dar-se ao luxo de ser meio apocalíptico. Já conversei sobre este assunto com a Assunção Cristas e com o Adolfo Mesquita Nunes, em conversas na Igreja que sirvo, na Lapa (e que podem ser vistas no YouTube): está o CDS pronto e interessado em valer quem hoje assume a forma provavelmente mais ousada e polémica de liberdade artística e de expressão que é a religiosa? Se os detentores das auto-proclamadas conquistas civilizacionais, como a despenalização do aborto e o casamento de pessoas do mesmo sexo, olharem para vozes discordantes como a minha, e as legislarem como crimes de ódio, quem nos vai valer? A minha experiência política não é grande, mas já vi na internet um deputado do PS, uma filha de um Presidente da Assembleia da República e uma ex-namorada de um ex-Primeiro Ministro insinuarem que vozes como a minha não deveriam ser permitidas numa rádio pública, isto tudo a pretexto de uma canção minha que, passando na Antena 3 tomava a liberdade de falar sobre um “maricas que reinava com a t-shirt dos Suede”.

Termino resumindo: a minha proposta para a melhor cultura do CDS deve ser um compromisso com um dos modos mais ameaçados de liberdade artística que é a religiosa.


Ouvir

Como podemos ser moralmente superiores aos Fariseus? Porque a nossa superioridade moral tem o tamanho do perdão dos nossos pecados. A nossa superioridade moral é, paradoxalmente, o reconhecimento da nossa miséria moral sem Jesus. E este paradoxo é a cura mesmo: Jesus quer que os habitantes do seu Reino sejam moralmente superiores aos Fariseus porque aquilo que garante a entrada no Reino não é a justiça com que os seus habitantes aí merecem entrar, mas a misericórdia com que o Rei Jesus aceita a entrada deles. A superioridade moral dos discípulos de Jesus tem o contorno de uma cruz, porque é na cruz que esta transacção entre a nossa culpa e a justiça de Jesus é feita.

O sermão de Domingo passado, chamado "Quanto maior és moralmente, mais humilde ficas", pode ser ouvido aqui.

terça-feira, junho 05, 2018

Segunda-feira é que é o dia de um milagre no coração em dois minutos e meio

Mas como ontem havia o artigo do Observador, vejam hoje.

No Observador

O Observador publica uma entrevista comigo. Foi um privilégio ter o Bruno Vieira Amaral a fazer-me perguntas. Leiam aqui: https://observador.pt/especiais/tiago-cavaco-a-minha-geracao-e-mais-intolerante-em-termos-religiosos/!

sexta-feira, junho 01, 2018

Walter White

Quando eu e a Ana Rute acabámos de ver o Breaking Bad foi completamente diferente de todas as outras ocasiões em que acabámos de ver uma série de televisão. Já vimos e gostámos muito de várias séries (tenho dado conta disso ao longo do tempo no blogue). Mas o Breaking Bad foi mais do que uma série - no meu caso, não é exagerado dizer que teve a ressonância de um momento de iluminação pessoal. A história do Walter White não foi uma coisa que vi no ecrã mas foi alguma coisa que vi em mim.

Isto aconteceu em Dezembro do ano passado, quando terminando a revisão do livro "Milagres no Coração", fiquei entusiasmado para gravar um disco com o mesmo nome. O impacto daquela noite de Domingo em que vimos os quatro últimos episódios de seguida, indo contra a nossa rotina, deu-me uma certeza para segunda-feira: tenho de registar o que sinto em som. Teoricamente tentaria fazer uma canção. Mas o formato de canção pareceu-me constranger aquilo que vinha mais como uma desabamento. Já escrevi centenas de canções na vida e acredito no poder delas. Mas a canção tende a pedir algum poder de contenção, de compromisso com algum tipo de forma que, no caso daquilo que eu queria falar sobre o Walter White, me parecia injusto. Eu não queria arredondar poeticamente o efeito do Breaking Bad em mim - eu queria cuspir aquilo cá para fora o mais rápido possível, mais numa lógica de choro irrefreável. Porque era de lágrimas mesmo que se tratava.

É certo que há uma tradição musical de spoken word, é certo que curto para xuxu o Mark Kozelek. Mas esta coisa chamada "Walter White" que meti no disco não se quer sentar propriamente no sofá que esses dois encostos permitem. No disco é uma invasão emocional que desestabiliza o alinhamento e, por isso, esperei dos poucos ouvintes que ainda têm paciência para os meus discos alguma estranheza e até alguma censura. Curiosamente, tem funcionado ao contrário. O objecto esquisito tem sido o mais elogiado. O que me deixa mesmo contente. Acho que consegui transmitir alguma da coisa do impacto da história do Walt.

Ontem fiz uma espécie de postal ilustrado em movimento para a canção. Não é bem um videoclip. É mesmo aquilo que mostra: ontem a família Cavaco foi à praia, skatando, passeando, jogando à bola e mergulhando, e esse tipo de momentos em família dão-me uma felicidade que associo ao poder da história do Breaking Bad. Arranjei um telemóvel com uma câmara nova e gravei partes que juntei e pus em preto e branco. É simples e é assim que me parece bem. Não vou dar mais explicações sobre a canção porque, como lá digo, explicar mais é estragar o modo como ela aconteceu. É verdade que continuo com saudades do Walter White. É verdade que o Walter White me faz amar mais Jesus porque, eu não sou muito diferente dele e, por causa disso mesmo, valorizo o facto de haver alguém que tenha morrido para me poder salvar da minha maldade que, à semelhança da do Walter, pode tornar-se monstruosa, havendo um momento de maior fraqueza em que julgo poder tomar nas minhas mãos a solução para um sarilho maior do que eu.

Chega de sermões. Ouçam a canção e vejam as imagens bonitas da felicidade da família Cavaco.