segunda-feira, janeiro 31, 2011

As segundas-feiras
Parecem-me o dia ideal para afinar lemas existenciais: viver em constante experiência de quase-morte (uma tradução fraca mas necessária para near-death experience). Daí a inultrapassável joie de vivre do martírio. São os homens que morrem pela sua fé que chamavam nomes doces ao fim.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Por que razão o Protestantismo prefere um recluso a um escuteiro
No capítulo 14 da Primeira Carta aos Coríntios há uma sugestão para o tipo de devoção pública cristã: no final de ouvir a Palavra exposta a pessoa não-crente deve ser capaz de "lançar-se sobre o seu rosto" reconhecendo que "os segredos do seu coração" foram confrontados através daquilo que ouviu. Não é preciso ser licenciado em Sociologia para compreender a exigência dos cristãos evangélicos, na teimosia de tanto lerem a Bíblia, de credenciais de conversão. Se se procurar uma liturgia que seja a do arrependimento. A beleza de todas as outras distrai-nos do essencial que é a fuga do coração humano à adoração de Deus.
Mais um subsídio para compreender a opção estética do protestantismo por pecadores sob liberdade condicional em vez de escuteiros predispostos.

quinta-feira, janeiro 27, 2011

Mateus 6:28 ("Olhai os lírios do campo") III
As meias coloridas (e à mostra) permitem agora a exuberância que antes parecia pobreza (nos anos 90 a ditadura das peúgas pretas arrumou qualquer resquício de vibração reaganista da década anterior). Se vestir não for também um acto político será o quê?

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Bouquet
John MacArthur diz que a pregação suave produz pessoas duras. O que exige no pregador a capacidade de estabelecer um pacto silencioso com a congregação: o bouquet envolvendo o sermão é a prova de que os ouvintes não merecem nada menos que a Palavra com todos os seus espinhos.

terça-feira, janeiro 25, 2011

Manoel
Radiante a entrevista de Manoel de Oliveira ao DN. Veja-se a maneira inspiradora como responde a uma pergunta manca ("fome de viver" é uma expressão que nos deixa o estômago vazio):

Diário de Notícias: Ainda tem muita fome de viver?
Manoel de Oliveira: A fome de viver e de filmar não diminuiu, pelo contrário, aumentou. E agora, com a idade que tenho, resta-me pouco tempo, calculo. Não sei quanto tempo possa durar e, portanto, estou em cuidado de poder ainda deixar as várias ideias que tenho para fazer filmes.


Gostava de ser assim. Como o bom realizador. Aos 102 anos alive and kicking. Aliás, a minha esperança cristã é essa. Afinal, estando deste ou do outro lado da Eternidade, estarei alive and kicking aos 102 anos. E aos 202. E aos 502. E por aí em diante. O Céu é um emprego permanente.

segunda-feira, janeiro 24, 2011

Pensamentos do fim-de-semana

Porque o amor também é uma prova de resistência.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Love or Die
Como dizer isto de uma maneira suave? Todas as pessoas que desconhecem o texto de 1 Coríntios 13 que inspira o sermão deste Domingo deviam ser deportadas em Tânger (que é uma cidade onde já estive e que tem os seus encantos, reparem). Ao serem abandonadas no cais teriam de repetir trezentas e trinta e três vezes a frase: "Sei que sou um preguiçoso ignorante e aburguesado de cada vez que elaboro frases cínicas sobre a suposta cultura judaico-cristã sem nunca ter lido a Bíblia."
É o desafio que vos deixo, consciente de que no verso de cada convite vem sempre uma ameaça. Este Domingo a partir das 10h30. O Apóstolo Paulo não faz por menos: Love or die.

quarta-feira, janeiro 19, 2011

Convido os leitores a alegrarem-se comigo
Ando deslumbrado com a capacidade que temos para memorizar. O certo é que hoje a memorização não tem grande reputação. E avanço três (possivelmente fracas) razões que o justificam:

1. Associamos a memorização a uma coisa do tempo dos nossos pais e avós e, mesmo que não o assumamos, na maior parte das vezes comportamo-nos como se fôssemos mais inteligentes que eles.

2. Para memorizar é provável que tenhamos de fazer exercícios tão curiosos como dizer as coisas em voz alta para nós próprios. Quem fala sozinho geralmente é tido como louco e essa é uma imagem que ainda não aprendemos a apreciar.

3. Memorizar envolve gastar tempo a não fazer mais nada. Isso pode parecer uma simples perda de tempo até porque hoje o as actividades mais populares são as que compreendem várias coisas ao mesmo tempo. Numa época de inter-penetrações a concentração soa a triste onanismo (perdoem-me a metáfora).

Posto isto deixem-me mostrar o que memorizei. Ou melhor, o que decorei. Que é uma palavra mais mal-afamada por ausência de discernimento do mundo em geral. Decorar é trazer no coração. Eis o capítulo 13 da Primeira Carta aos Coríntios (versão de João Ferreira de Almeida na Bíblia de Genebra, a melhor, claro)! Terão de aceitar em boa-fé que o que passarei a escrever vai em directo sem batota de consulta (se os blogues não arriscarem no pedido de generosidade dos leitores para que servirão?):

"Ainda que eu fale as linguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tamanha fé a ponto de transportar montes, se não tiver amor nada serei. Ainda que eu distribua todos os meus dons entre os pobres e ainda que eu entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor nada disso me aproveitará.
O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal, o amor não se alegra com a injustiça mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta; o amor jamais acaba mas havendo profecias desaparecerão, havendo línguas cessarão, havendo ciência passará; porque em parte conhecemos e em parte profetizamos; quando porém vier o que é perfeito então o que é em parte será aniquilado. Quando eu era menino falava como menino, sentia como menino, pensava como menino. Quando cheguei a ser homens desisti das coisas próprias de menino. Agora vemos como em espelho, obscuramente, então veremos face a face. Agora conheço em parte, então conhecerei como também sou conhecido. Agora pois permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor.
"

Não é um triunfo?

terça-feira, janeiro 18, 2011

Educação para o alarme
Se não existir uma tristeza prévia de pouco servirá falar de Evangelho. Evangelho significa boas notícias e muita da irrelevância que é atribuída a quem prega vem do contentamento generalizado nos possíveis ouvintes. Se já vivemos satisfeitos para que precisaremos de boas notícias? É aqui que entra o paradoxo de quem sermoniza: gritar, esbracejar, fazer sinais de luzes para que antes do bom se compreenda o terrível estado em que nos encontramos (e bem sabemos como o cinismo da época despreza discursos urgentes). A educação para o alarme é das mais essenciais disciplinas cristãs. Daí a luminosa frase de John Stott acerca do que aconteceu na cruz: "Before we can begin to see the cross as something done for us, we have to see it as something done by us".

segunda-feira, janeiro 17, 2011

Primos e casados
A tarefa: 1 Coríntios 13 para o sermão de próximo Domingo. É grande o risco desta passagem bíblica ser usada pastosamente, para pavimentar as piores vias da moleza pós-romântica (basta lembrar a quantidade de casamentos onde o texto é lido). Fé, esperança e amor é seguramente um triângulo impróprio para namorados arrebatados.
Vai ser uma grande semana.

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Sermão deste Domingo (1Cor12:12-31)
Ainda recuperamos do choque das Escrituras chamarem à Igreja o Corpo de Cristo. O anonimato sereno, a pacata itinerância e o conforto da contemplação de pouco nos valem quando nos cabe respondermos pelo nome que nos foi dado. Muitos dos que apreciamos a beleza da vida em comunidade não perdoaremos ao Novo Testamento que ela funcione.

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Bons maridos
Ultimamente poucas frases me têm impressionado mais do que aquelas que alguns pregadores americanos têm dito para mobilizar jovens homens a serem homens a sério. Homens a sério igual a bons maridos.

John MacArthur: "The Christian husband displays what he thinks of Christ by the way he treats his wife."

John Piper - "If you want to be a Christian husband, you become a servant, not a boss."

Claro que é sempre um risco propagar convicções destas quando se é casado. Afinal o casamento é também a prova do sentido de humor de Deus e geralmente em boas piadas não há grandes heróis. Todavia o desafio persiste. Adulthood is not a crime.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Ainda sobre o habitual mergulho no Oceano
Posto que não há Inverno na Ibéria é útil explicar que a partir de Novembro nadar torna-se dificilmente praticável. A temperatura da água, não sendo gélida, dissuade a permanência. Nos meses frios a ida ao Oceano torna-se então sobretudo um gatilho energético. O corpo reage ao mergulho rápido e ganha ânimo para os exercícios seguintes (basicamente, corrida e flexões). Lamenta-se as condições da água na Praia de Santo Amaro. Sujinha, sujinha, sujinha. É impossível àquela hora da manhã o espírito não sugerir imediatas metáforas devocionais.

terça-feira, janeiro 11, 2011

Mateus 6:28 ("Olhai os lírios do campo") II
Alguns mostram o sinal de rendição à tendência do colarinho totalmente abotoado (a primeira pessoa que conheço a chegar lá foi o Samuel Úria). Dos anúncios de relógios aos apresentadores da tevê a moda mobiliza-se. Como que confirmando que a elegância também pode ser uma questão preenchimento de todos os espaços. Já me submeti a esta rigidez da estação.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Terror e oração
Não é raro os crentes terem bons relatos no que diz respeito às orações das suas crianças. O nosso Joaquim, de três anos, esquecendo-se da oração nocturna, toma a liberdade de entrar em tema livre. O passo é pequeno para interceder a favor dos seus próprios medos: o tubarão, o Pai Natal, o Gato Pelado. E imediatamente sei que tenho muito a aprender com a espiritualidade improvisada do meu pequeno.

Os bons amigos do IPródigo (um site brasileiro muito obrigatório de sabor reformado) perderam uma hora a conversar comigo. Agradeço-lhes a generosidade.

quinta-feira, janeiro 06, 2011

Este Sábado às 19h recebemos Ricardo Araújo Pereira
Perguntam-nos frequentemente: por que razão conversar com celebridades na Igreja? Podemos apontar rapidamente pelo menos três razões. Primeira, porque uma Igreja é a casa de uma comunidade em particular e casas recebem visitas. Segunda, ao convidarmos pessoas a quem admiramos o trabalho (uma comunidade espiritual aprecia coisas extra-religiosas e acredita que Deus é que criou o talento das pessoas que convidamos) somos privilegiados e enriquecidos por conversarmos com elas. Terceira, acreditar em Jesus faz-nos falar com pessoas. Para lhes dizermos acerca dele. E embora ainda não obriguemos os nossos convidados a converterem-se ao cristianismo, qualquer simpatia no nosso convite é uma maneira de testemunhar a nossa fé.

quarta-feira, janeiro 05, 2011

Gostar de homens XXXVII



O Joe Strummer e o Mick Jones podiam cantar mas os Clash sempre foram o Paul Simonon.

terça-feira, janeiro 04, 2011

O primeiro post político de 2011
Comecei a ler o "The Innocents Abroad" do Mark Twain (recentemente editado em português pela Tinta da China) que conta a viagem do autor à Europa e Terra Santa. O primeiro lugar de paragem é os Açores e os habitantes são descritos: "slow, poor, shiftless, sleepy and lazy". Não se arranjava uma maneira de pôr isto no Plano Nacional de Leitura?

segunda-feira, janeiro 03, 2011

Janeiro frio
Numa ocasião em que é grande o risco de nos satisfazermos nas nossas próprias novas decisões vale a pena citar N.T. Wright: "What matters is not so much the faith itself as what it is faith in".