quinta-feira, julho 29, 2004

Descanso
A Voz do Deserto encerra para férias. Se não for possível antes, regresso em Setembro.


(O repouso do sábado, gravura de Hermann Junker)

quarta-feira, julho 28, 2004

Last Call
Já toda a gente sabe. Os Ninivitas são um agrupamento que toca "música moderna". Com guitarras eléctricas e tudo. A forte educação religiosa proporciona um pendor literário inesperado. Não conseguimos deixar de passar sermões às pessoas. Assumimos os nossos pecados. Mas há perdão para todos. Menos para aqueles que faltarem ao concerto.
Cinco euros, 23 horas, Santiago Alquimista (zona do Castelo). Até logo.



Para aqueles que provarem ser leitores da Voz do Deserto há direito a disco gratuito.
Ensino obrigatório
O meu amigo Paulo usa uma expressão que deveria ser ensinada na escola primária: "O Senhor os apanhe a todos". Amén.

terça-feira, julho 27, 2004

Adriana e o pecado II
Outra cantiga versa: "Todo mundo foi neném/ (...) Hitler, Bush e Saddam Hussein".
Não interessa o esclarecimento ideológico. Aqui a torpeza do juízo moral é útil. Para salientar o inato talento do ser humano para cair no abismo já atrás mencionado.

Adriana e o pecado
O último disco de Adriana Calcanhotto, um êxito neste T2, propõe reflexões aguçadas nos domínios teológicos.
"Confessando bem/ todo mundo fez pecado/ logo assim que a missa termina/ (...) Só a bailarina que não tem".
É óbvio que a bailarina está aqui por efeitos de ironia estética. Este é um mundo com talento para cair no abismo e não há razão para que os infantes não o saibam.
Da transubstanciação
Se este blogue fosse um objecto seria uma maraca de um disco dos AC/DC.
Scriptura
"Deitar fora o bebé com a água do banho" é uma expressão que merecia estar no Velho Testamento.

segunda-feira, julho 26, 2004

Pequeno conto
- Você não imagina o potencial literário do universo das minorias religiosas - respondi à jornalista sensual.
A efémera fruição do prazer nas sociedades ocidentais
Dêem-me um Fiat Punto. Dêem-me o "I want to break free" dos Queen.
A paternidade na perspectiva do utilizador
Reajustamento temporal necessário: com a criatura no colo e com apenas uma mão para teclar o relógio dilata-se.
Interruptus
Uma estação televisiva como a MTV que não termina a apresentação de um documentário sobre o Ozzy Osbourne só pode merecer a pior condescendência.

sexta-feira, julho 23, 2004

Todos crentes
O rapaz no limiar dos 30 anos compra "O Código Da Vinci". Reconhece que pouco lê para além de jornais desportivos e que o facto de todos os amigos falarem do volume o compeliu a adquiri-lo.
O povo gosta de teorias da conspiração. Histórias escabrosas por detrás de frescos religiosos. Pêgas de grinalda. Monges mentirosos. Sob o pretexto de não acreditar em nada o povo acredita em tudo. Presta-se a credos ridículos. Para não crer na nossa enfadonha propensão para a asneira preferimos a invenção da libertinagem alheia. No fundo, nós, o povo, queremos acreditar. Somos todos crentes.
Lápides
O Cruzes Canhoto encerrou. Faz parte da minha geração blogosférica. Os meus comunas de estimação. O melhor desta coisa dos blogues é o que o ecrã não mostra, acredito piamente. O que mais gostei no Jorge Palinhos foi o "Auto da Razão" que me ofereceu e que li enquanto o diabo esfregava o olho (a figura adequa-se).
O J. já avisou que voltará. Ainda bem.

quinta-feira, julho 22, 2004

Valores e percentagens
Por razões óbvias fui introduzido à linguagem dos percentis. Tal como a minha filha, sou um percentil 25. O que quer dizer que 75% dos seres vivos com a minha idade tem um peso superior ao meu. Arriscaria mais. Um percentil 90% não me parece desajustado.
A magreza excessiva já não me atrapalha tanto. A puberdade distante e a descoberta ofegante de uma espécie de mulheres que aprecia rapazes escanzelados foram o suficiente para me aquietar. Mas os percentis vieram para ficar. Para além do peso, sou também um percentil 25 (no mínimo) em matérias religiosas. Os outros três quartos do mundo dedicam-se a coisas mais divertidas do que os dissabores da alma pecaminosa. Por estranho que pareça, a leveza permanece do meu lado.
De referir
É raro concordar com Miguel Vale de Almeida. Mas devo salientar o uso que faz de uma expressão formidável: patri(di)ota.
Parabéns atrasados
Ao Bruno da Desesperada Esperança.

quarta-feira, julho 21, 2004

Santiago Alquimista, Quarta-feira, 23 horas
Meus amigos, a coisa é simples: o melhor agrupamento português (que me congrega a mim, ao pianista, ao bandido e ao senhor do oboé) vai tocar para a semana.
Uma das causas do "atraso nacional"
A ausência de Bíblias nas mesinhas de cabeceira dos nossos hotéis.
Da vaidade, do atrevimento e da ingratidão
Passa-me pelos olhos um artigo que diz "apague todas as marcas do parto".

terça-feira, julho 20, 2004

Algumas notas sobre um Domingo fora dos claustros II
Dylan não organiza serões inter-geracionais para o canto ternurento de refrões em uníssono. Abençoado seja.

Da amizade
Por causa de P.J. Harvey relembro o 12º ano do Liceu quando umas colegas me puseram a cabeça de pantanas. Eu era um jovem evangélico atinado na Lei. Elas eram umas raparigas repletas de Graça. Muito à custa da Filipa, da Patrícia e da Rita quase me filiava no Partido Comunista (só uma mulher pode enganar um homem ao ponto de ele se considerar "revolucionário"). Não foi doutrinação. Foi a adolescência e o início de uma amizade abençoada (pena a Rita andar longe). Eu gostei muito da saia curta e das botas da P.J., meninas. Porque rapidamente a minha cabeça passou daquelas peças de roupa reduzidas para vocês, minhas grandes amigas.
Algumas notas sobre um Domingo fora dos claustros
Mulheres como P.J. Harvey são precisas. Com a óbvia moderação que o bom-senso impõe.

sexta-feira, julho 16, 2004

Do Tomé
Tomé na actualidade seria de certeza um amante de jazz. Culto e afável. Amigo de convívios com níveis decibélicos sensatos. Crítico da admnistração Bush, assinante do "El País". Continuaria a ter dificuldades de agenda e por isso não estaria presente no inesperado regresso do Messias. Ouviria a coisa em segunda mão. Teria um óbvio embaraço intelectual em aceitar a história. Claro que no fim de contas acabaria por engolir o seu orgulho ao ver as cicatrizes nas mãos de Jesus. Infelizmente só marcas físicas é que conseguem amolecer a dureza de um coração instruído e bem formado.
Lista provisória dos melhores discos para bebés de 2, 3 meses
"Alice" de Tom Waits (com destaque para a sequência de canções "I'm still here"-"Fish & Bird"-"Barcarolle").

quinta-feira, julho 15, 2004

Dos grilhões
Pouco antes de ser preso e durante a refeição, Jesus confessa aos seus discípulos: "ainda tenho muito para vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora". As pessoas que são muito sensíveis às agruras dos encarcerados só muito raramente passam pelo calabouço.


(Van Gogh, 1890)
Da Carla
Uma das melhores coisas do disco de Carla Bruni é a proximidade da boca no microfone. Sopros, respiração, soluços. Se a música fosse só nota cantada era uma chatice.
Parabéns
O "Não esperem nada de mim" do Joel Neto fez um ano.

quarta-feira, julho 14, 2004

Louçã, o crente
Um dos mais graves problemas de Louçã é a sua trágica semelhança com alguns dos mais perigosos pastores evangélicos que fui conhecendo nos meus imprecisos 26 anos. Louçã é um iluminado pela revelação divina. Basta ver a candura com que usa o termo "vigilância". Fala com o arrebatamento de um recém-convertido, usa vocabulário de mau poeta místico, para fortalecer a sua fé grita o "aleluia" mais estridente da congregação. A sua apologética abortista e as suas preces pelas drogas leves não são o suficiente para o distinguir de um qualquer pastor brasileiro da IURD com a 4ª classe.
Vasco e o clarim da batalha
Eu gosto muito de ler o Vasco Pulido Valente. Até porque é dos poucos no nosso país que reflecte sobre os acontecimentos sem recorrer a fábulas de chaimites. Mas quando o Vasco se engana na cor do gato, conta-lhe o número dos bigodes. Fala agora de um país dividido pela decisão de Sampaio. Corações ao alto! Digam ao anão-zangado-da-Branca-de-Neve-imprensa-nacional que ainda falta muito para nos alistarmos na próxima guerra civil.

terça-feira, julho 13, 2004

Orgulhosamente separado
Este Domingo de manhã saí para a igreja com um saco de plástico que tinha escrito "Família Cristã" (não interessa apreciar agora a redundância folclórica da coisa ou o descaramento apologético). É uma revista católica. Não consigo praticar maior ecumenismo que este.
Breve consideração sobre a respublica
Sendo a política um trabalho 49% das vezes sujo, é preciso alguém que o faça competentemente.

segunda-feira, julho 12, 2004

Acerca de ser bom
Sou uma criatura pontualmente marsupial. Em períodos breves, dependentes da curta paciência do pequeno ser. Duvido que forma superior de aperfeiçoamento ético se venha a sobrepôr a esta nos tempos mais próximos.
Eu acredito em milagres mas eles é que dizem os disparates
"Hoje o medo venceu a esperança".

sexta-feira, julho 09, 2004

Caso não tenham reparado, isto também é sobre a crise política
É isso mesmo. Não precisamos de gente audaz a conduzir os nossos destinos. Antes funcionários zelosos pelas regras existentes. Moisés não tentou ser criativo com os Dez Mandamentos.

A mensagem deve ser pregada a toda a alma
A Worten tem uns valentes discos a menos de 8 euros: de Ryan Adams a Carla Bruni, Outkast a Simon & Garfunkel, Ramones a Violent Femmes.
Um poste sobre a crise política
Hoje, a pequena cria de dois meses que habita esta casa decidiu que o seu pai deveria estar acordado antes das seis da manhã. Excelentíssimo Presidente da República, faça o favor de dar continuidade a este extraordinário dia.

quinta-feira, julho 08, 2004

Na repartição pública
"Não será nos nossos dias a fotogenia muito mais útil que a beleza?" escreveu rapidamente antes de regressar ao balcão.
Um pensamento Beckettiano
Havia um homem que se sentia muito sozinho porque tudo à sua volta era divino excepto ele próprio.
Isto não é Kafka que diz, sou eu mesmo
A maturidade tem muito a ver com a forma diplomática como nos entregamos aos nossos algozes.

quarta-feira, julho 07, 2004

Há alturas em que citar Chesterton é um mandamento bíblico
It is a great mistake to suppose that love unites and unifies men. Love diversifies them, because love is directed towards individuality. The thing that really unites men and makes them like to each other is hatred.
Riscos e hipóteses
O peso de ser despropositado. Nos meus ombros e à vista dos leitores. Uma caspa incómoda.
Fazer cenas em público pode ser uma extravagância ou um compromisso (dava jeitos dois quadradinhos para o estimado visitante escolher onde colocar o X).
Prece
Espero bem que a Memória Inventada não tenha acabado.

terça-feira, julho 06, 2004

A distância por caminhar do grego
Uma das lições do livro de Jonas é não deixar que a nossa concepção política das coisas obscureça o senso de justiça. Para Deus não há povos opressores nem povos oprimidos. Há, sim, gente a precisar de rasgar as vestes e usar sacos de cinza. Se somos profetas em nações que maltratam a nossa pátria (o caso de Jonas, enviado divino em Ninive - actual Iraque) aproveitemos a oportunidade. Isso é que é ser cidadão do mundo. A Sócrates ainda faltavam uns quilómetros.


Gertrude Hermes, Jonah in the Whale, 1933.
Teclas usadas
O blogue do meu amigo Miguel faz um ano. Merece esta frase de Millôr Fernandes: "E o velho músico já tocava há tantos anos naquele mesmo piano que, quando ele entrava na sala, o piano balançava a cauda".

segunda-feira, julho 05, 2004

Do sermão de ontem
Na pregação deste Domingo o meu pastor classificou de "sepulcro de carne" o peixe que engoliu Jonas. A expressão é providencial. Na verdade, na verdade vos digo, que sepulcro de carne é o que todos nós somos. Devemos assumi-lo. De agora em diante só vou respeitar intelectualmente as pessoas que se reconhecem sepulcros de carne.

sexta-feira, julho 02, 2004

Esclarecimento
A Voz do Deserto é tanatológica. Nunca aqui se falou de outra coisa que não da morte.
Do desequilíbrio necessário
As igrejas evangélicas têm alguma facilidade em atrair pessoas com perturbações mentais. Talvez pela liturgia informal e convívio dentro da congregação. Um maluco vibra com cânticos em que os braços se levantam e com novas amizades.
Deus não gosta de demasiada sensatez junta. São necessários uns agentes no terreno para impedir que o juízo engula a fé.

quinta-feira, julho 01, 2004

To be young
Quando trazem a mulher adúltera a Jesus, o Mestre convida aqueles que estão sem pecado a inaugurar o apedrejamento. "Quando ouviram isto, saíram, um a um, a começar pelos mais velhos" (João 8:9). Uma das coisas terríveis da juventude é o atrevimento.
Clique
"Flick Of The Switch" dos AC/DC tem uma das melhores capas de sempre do roque-enrole. Um desenho a preto e branco. Um botão que se acciona. Sem necessidade de transcendência.