sexta-feira, abril 29, 2011

Do sermão deste Domingo
No discurso de Pedro em Actos 2 há uma intenção clara em juntar a novidade da Ressurreição de Jesus à culpa pela sua morte. Ao mesmo tempo a mensagem cristã é uma excelente notícia (contra todas as expectativas a sepultura não segurou o Cristo e por isso a morte perdeu a guerra) e um veredicto de condenação (temos as mãos sujas do sangue daquele inocente crucificado).
Não admira portanto que o momento em que confessamos a fé seja uma mistura de tristeza e alegria. E apenas o início de uma grande aventura do tamanho da Eternidade.

quinta-feira, abril 28, 2011

Entrei hoje pela primeira vez na Flur
Não há justificação para o atraso, bem sei. Podem imaginar o arrependimento pelos Record Store Days onde não correspondi ao privilégio de ser convidado para tocar, os discos a preços combativos que podia ter levado quando havia poder de compra, as meias-horas que não passei embaladas a melodias independentes à luz daquele reflexo de sol no rio.
O meu lamento é também o início de um compromisso. Quero contribuir para o empenho e aprumo daquele lugar. Uma modesta contribuição está no facto da Flur albergar generosamente a venda (sempre combativa) do meu "Inverno Desinspirado do Rapaz do Sul do Céu", provando que os discos são também uma questão de partilha de artesanatos. Corram.

quarta-feira, abril 27, 2011

Filmes
- Regra óbvia: nenhum filme sobre exorcismo alguma vez fará frente ao "Exorcista". O recente "The Last Exorcism" tinha méritos e não se pode negar a "The Rite" a sábia conjugação de Anthony Hopkins e o Diabo no ecrã. Falta aos vade-retro-movies boa doutrina (raramente oferecem uma ortodoxia consistente) porque escolhem sempre os thrills em detrimento da verdade teológica. De qualquer maneira, bom é que assustem. Eu não quereria brincar com assuntos destes.
- O péssimo "Hobo With A Shotgun" com o Rutger Hauer: a prudência aconselha-nos calma na hora de ressuscitar ícones dos anos 80. De cada vez que fazer filmes se aproxima de uma acção da Cruz Vermelha o resultado é uma catástrofe humanitária.
- "Wake Wood": Um casal perde a sua filhinha num acidente (premissa que nos deu "Don't Look Now", um dos melhores filmes de todos os tempos) mas arranja uma maneira de voltar a encontrá-la durante um período limitado de três dias. A coisa, como se espera, dá para o torto. Poupança e assertividade, valores necessários em tempos de distracções gráficas.
- Esperávamos mais de "Battle: LA". E mais uma vez fica provado que não adianta mudar de localidade: Nova Iorque é a cidade que vale a pena destruir no cinema.
- Sei que isto soa exclusivista mas tivessem vocês crescido numa Igreja Baptista a cantar o "Descansando no Poder de Deus" e aperceber-se-iam do quão perfeito o "True Grit" é.

terça-feira, abril 26, 2011

No leitor de Mp3
- À primeira audição o último dos Beastie Boys não é uma obra-prima mas confirma que o hip-hop pode ser um assunto de quarentões brancos.
- O "Tomboy" do Panda Bear assegura melhores resultados a ilustrar pranchas de skate que a encher as medidas. Não é mau. Mas, caramba, estamos a falar do senhor do "Person Pitch"
- O disco dos Vaccines sugere uns Ramones que, em vez de se quererem refugiar na praia de Rockaway, partem do areal para as angústias urbanas.
- O último dos Krallice previne que a nova onda de black metal não seja só consciência ecológica mas que mantenha o pedal duplo atarefado.
- O novo dos Kills parece vitória à primeira volta. Mas urge dar-lhe mais tempo. Custa-me apontar pecados ao Jack White mas este é o verdadeiro jardim da Alison Mosshart.

quinta-feira, abril 21, 2011

Um Fim-de-semana Maior é diferente de um fim-de-semana prolongado
Amanhã recordamos a morte do Senhor Jesus. Para isso parece-nos essencial o sossego, acima de todas as outras coisas. É provável que deixemos para segundo lugar os confortos de um fim-de-semana prolongado. Domingo será tudo acerca da alegria. Mas para aí chegar não dá para fugir da tristeza. Para depois podermos cantar a Ressurreição, como escreveu Manuel Clemente, esse "espanto que nos transporta num som maior que as palavras: Aleluia!"

quarta-feira, abril 20, 2011

Judas, um chef necessário da fé
É à mesa que os evangelhos colocam o sabor da infidelidade. É durante a refeição que Jesus insinua para breve o protagonismo do discípulo impostor. No cristianismo a traição, mais que ser conhecida, é provada. Perante esse prato os cristãos não assistem a um tempero sinistro de uma mente perversa particular. Saboreiam a sua própria gastronomia descuidada. A cruz é um negócio de todos.

segunda-feira, abril 18, 2011

Uma prenda para a Semana Santa
Uma comunidade cristã não precisa de ser do hip-hop. Mas pode oferecer mixtapes à congregação no início da Semana Santa. A oferta é agora estendida a todos (saquem aqui). O objectivo é o que a capa anuncia: canções antigas e novas e alguns testemunhos e leituras para nos aproximarem da Ressurreição (claro que há pérolas evangélicas dos anos 80, o Samuel Úria em perfeita versão Cash, os Welcome Wagon no Brasil e filhinhos do pregador a fugirem ao compasso).
Até Domingo estes dias não podem ser menos que fantásticos.

sexta-feira, abril 15, 2011

Para este Domingo
Independentemente das pessoas que aclamaram a entrada de Jesus em Jerusalém serem as mesmas que depois preferiram libertar Barrabás (é provável que não), não podemos ignorar o facto de tão rapidamente a cidade ter passado de um "Aleluia" para um "Crucifiquem-no".
Neste Domingo, em que vamos ao encontro dessa surpreendente entrada em Jerusalém, a coreografia é forte. Agarramos a planta mais próxima e agitamo-la no ar. Seja uma folha de palmeira ou um simples ramo. Tudo se deve inclinar ao Rei que vem montado no jumentinho. Aleluia!

quinta-feira, abril 14, 2011

Tendências Primavera/Verão 2011
- Os ares do mar continuam mas passam da marina para a faina (a cena é look do pescador mesmo)
- as calças continuam curtas e justas mas não skinny demodé tardo-hipster (aboslutamente errado sair à rua com calças que foram apertadas a posteriori)
- regressa o preto, que traz dialéctica com a manutenção da joie de vivre veraneante (estamos agora perante um tipo de trash-metal meridional que despede cuidadosa mas firmemente os restos do chillwave)
- mantêm-se as t-shirts de mangas dobradas (há que dar crétido ao Zé Pedro dos Xutos)
- as pulseiras devem ser usadas com critério (H&M é naturalmente interdito)
- para combater o monopólio das imitações dos Ray Ban a solução é manter os velhos Ray Ban
- toda a gente fala do estilo Johnny-Depp-marrão-fifties mas é mais o Johnny-Depp-via-Keith-Richards-nos-Piratas-da-Caraíbas (evitar estas coisas dos tracinhos)
- calma com as lonas nos pés e com os sapatos desenterrados no sótão do avô
- esquecer barbas proféticas e desprezar bigodes nobiliárquicos
- resumindo, nunca, mas nunca, vestir-se de uma maneira que subentenda aquela frase terrível do Raul Solnado: "façam o favor de ser felizes". A nossa roupa deve transmitir o pathos mínimo que interpele um ethos sólido.

quarta-feira, abril 13, 2011

A Blitz perguntou-me e eu respondi

- A palavra ainda é uma arma?
A Palavra é uma espada, diz a Bíblia.

- Que canção de protesto gostaria de ter escrito?
"Girls Just Wanna Have Fun" celebrizada pela Cyndi Lauper.

- A revolução vai passar na televisão, no Facebook ou na rua?
Quando muito, no coração.

- Existe uma geração parva?
Uma série delas.

- Cairo é: um exemplo a seguir, uma música dos Táxi ou o cenário de algo que nunca veremos acontecer em Portugal?
Provavelmente as três coisas ao mesmo tempo.

- Se fosse primeiro-ministro de Portugal, que medida tomaria de imediato?
Não sei se teria o poder para tal mas faria por demitir Mário Soares da Presidência da Comissão da Liberdade Religiosa.

- Que música dedica ao Governo português?
O Hino dos Estados Unidos da América.

- «E eu e tu o que é que temos de fazer?»
Talvez ler (já cantava o Samuel Úria na sua canção "Desliga a TV").

terça-feira, abril 12, 2011

Electro-contrafacção
A minha mais velha conta-me que a Professora Primária dá abraços aos alunos para lhes transmitir energias. Estou preparado para lidar com o paganismo dos professores dos meus filhos mas não com uma imaginação de contrabando.

domingo, abril 10, 2011

Carta aberta à Nucha
Estimada Nucha,
aceite esta humilde carta aberta enquanto um gesto de amizade. Curiosamente até nos cruzámos há uns anos nas gravações dos programas evangélicos do Canal 2 mas não se deve recordar de mim. O que é perfeitamente insignificante para o caso. Escrevo porque ouvi falar de uma entrevista que recentemente deu à Sic onde falava da experiência passada de se identificar enquanto cristã evangélica. Rapidamente a vi no YouTube e senti a necessidade de lhe escrever. Porquê? Porque, apesar de ser notória a ponderação que procura ao falar do assunto, creio que foi injusta na maneira como falou genericamente acerca "dessas igrejas".
Devo reconhecer a legitimidade que a Nucha tem para demonstrar a sua desilusão com a comunidade evangélica em particular por onde passou. Nenhuma igreja está imune de cometer erros. Independentemente dos factos (e felizmente ignoro por que igreja passou) a Nucha encosta equivocamente ao nome de "evangélicos" expressões como "lavagens ao cérebro" e lugares onde "nos deixamos levar". A diversidade das Igrejas Evangélicas é larguíssima. De tal maneira que desconfio que, por exemplo, a Nucha se pudesse tornar evangélica ao ouvir um sermão meu. Com isto quero dizer cuidadosa mas frontalmente que a Nucha converteu-se à mensagem evangélica na qual achou conforto. E se teve todo o direito para o fazer, maior deveria ser o cuidado agora na hora da desconversão. Sugeria por isso o exercício: "converti-me pela razão A, desconverti-me pela razão B". Sem essa franqueza apenas aumentará a ignorância e a pouca boa-vontade que no geral os portugueses já mostram em relação a qualquer confissão cristã não-católica.
Deixe-me ir mais longe. Foram algumas as ocasiões em que ouvi o testemunho de fé da Nucha nessa fase. Nunca coloquei em causa a sinceridade e a autenticidade da conversão que partilhava. Hoje, sinto-me desconfortável: quem falava naquelas alturas? Uma pessoa enganada? Uma pessoa sinceramente enganada? Uma pessoa enganadamente sincera? Ainda que invoque ter sido violentada psicologicamente como justificaria um exercício de tamanha liberdade e coragem? Não me custa a acreditar que pudesse estar confusa então da mesma maneira como pode continuar confusa hoje. E aqui uma palavra de reprovação para os evangélicos que, obcecados por uma notoriedade que a maioria católica lhes nega, usaram a Nucha como prematura e desajustada porta-voz da fé. Já não é a primeira vez e duvido que seja a última. Quando entenderão estes evangélicos? Se pregamos com mais entusiasmo pelo embalo de um famoso que acredita em Jesus acabamos a pregar a fama em vez de Jesus.
Uma das explicações para estas sinceras incoerências na vida da Nucha tem, a meu ver, com o facto de que os evangélicos também eram à ocasião um público novo, uma espécie de micro-revitalização da sua carreira. Quem desdenharia, ainda que a pretexto de um evento religioso, cantar num Pavilhão Atlântico para uma audiência cheia de fé? Eu estava lá nesse Dia do Evangélico e a Nucha também.
Dito isto resta-me acrescentar que para beneficiar a Igreja Católica à qual regressou a Nucha deverá empenhar-se. Ser mais exigente em tudo aquilo que na Igreja Evangélica que frequentou foi relaxada. Para beneficiar Roma não faça "da sua casa a sua igreja". Seja fiel na sua paróquia. Vá ler o último livro do Papa. Peregrine. Confesse-se. Se não ganhar agora a fé robusta que antes publicitava então os evangélicos ainda mais facilmente reivindicarão que não esteve à altura do que o Evangelho pedia.
Por último quero dizer à Nucha que peço a Deus pela sua saúde. E acrescentar que apesar da controvérsia religiosa encontrei na tranquilidade com que respondeu ao programa da Sic uma centelha daquilo que creio ser a vontade de Deus para todos: viver. Mantenha no coração o Jesus que tatuou na pele e receba o meu abraço,
Tiago.

sexta-feira, abril 08, 2011

Este Domingo em SDB
"Jesus chorou." O versículo menos longo da Bíblia é talvez o que mais diz acerca da surpresa que é um Messias comovido. No cristianismo nunca a omnisciência foi desculpa para não sentir. O Filho de Deus vai ressuscitar Lázaro para revelar a glória do Pai e ainda assim não é imune à tristeza do momento. A Ressurreição dos mortos é uma descrição fiel do coração divino.

Vejam o filme.

quinta-feira, abril 07, 2011

Leitura dos dias
Saltar de Ratzinger para Deleuze: garantia de uma Primavera animada.

quarta-feira, abril 06, 2011

E confirmou-se a boa decisão de ler o último livro do Papa
O segundo volume de "Jesus de Nazaré" de Joseph Ratzinger é o livro ideal desta Páscoa, conjugando teologia e zeitgeist.

terça-feira, abril 05, 2011

Das cinco às nove
Como explicar o prazer de interromper a audição do "Sung Tongs" dos Animal Collective (um dos cinco melhores discos da última década) para me abandonar ao "Nine Lives" dos Aerosmith?

sexta-feira, abril 01, 2011

Para o sermão deste Domingo
A cegueira foi uma das doenças que Jesus mais curou. Por isso não é estranho que a ideia de ser cego e passar a ver seja tão importante na imaginação cristã e na tradição cultural protestante em particular (a melodia do "Amazing Grace" vem imediatamente à memória).
O capítulo nove do Evangelho de João fala-nos de um cego de nascença que por ser curado por Jesus sofre um infindável inquérito por parte dos fariseus. O cepticismo tende a ser chato. E a não querer ver que Deus olha mesmo para aqueles que não podem olhar para Ele.