sexta-feira, dezembro 29, 2023

Canção para a Flannery O'Connor


Sou fiel a esta menina católica—"Canção para a Flannery O'Connor" com o Caleb.

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terça-feira, dezembro 26, 2023

É com fome que se começa

TER O BIG BANG NA BARRIGA

O verdadeiro big bang não foi assim tão big e não foi assim tão bang—para quem dá crédito à primeira história do livro do Génesis, ele teve apenas o tamanho de um fiat. Não o carro mas a palavra: Deus disse “faça-se” e assim se fez. Talvez este fiat lux seja a coisa mais explosiva da história do universo e, sim, nessa medida, será o maior estrondo de sempre. É por isso que um cristão não pode não ser obcecado por aquilo que uma palavra apenas pode fazer.

Nas muitas palavras que os cristãos encontram na Bíblia, permanece a lógica de que o que Deus diz pode fazer qualquer coisa acontecer—nessa perspectiva, as Escrituras são um registo constante de big bangs. Uma das pessoas que mais intimamente lidou com o processo de Deus fazer big bangs quando fala foi Maria. Maria foi a escolhida para outro big bang que não é apenas a palavra de Deus criar algo novo, mas é a palavra de Deus se tornar ela mesma uma pessoa. Visto assim, talvez o maior big bang da história não tenha sido o estrondo externo cósmico, mas o crescimento lento de uma criancinha na barriga daquela jovem hebreia.

Deslumbra-nos o arrojo da sugestão bíblica: a jovem Maria é visitada por um anjo que lhe anuncia que vai parir Deus. Maria, que não era diferente de nós, duvida, claro. Por todas as razões e mais algumas, não lhe estava nos planos. Mas há um mas. E na Bíblia a palavra “mas” é sempre promissora. Maria não esconde o cepticismo mas Maria sabe que o cepticismo não enche a barriga de ninguém: mal por mal, é a favor de que aquela palavra, por impossível que pareça, lhe seja escrita. E o gesto de não se satisfazer com o cepticismo é o que literalmente lhe encherá a barriga. Todos precisamos de ser Marias.

Maria teve o big bang na barriga e isso muda a história da humanidade. Quando uma mulher responde “sim” em vez do “não” que facilmente damos a Deus quando ele nos parece inacreditável, tudo pode acontecer. Cristo não nos acontece sem que a nossa palavra se junte à palavra que ele já é. Maria é uma mulher grávida na mesma medida em que deu conversa a Deus. Até ouvirmos as palavras que Deus nos diz, e especialmente as mais inacreditáveis, não geramos vida nenhuma. Na Bíblia, a esterilidade é sempre um modo de interromper o que o Criador nos está a dizer.

Um novo universo nasceu quando Maria disse o que Deus disse para criar o universo: faça-se. Faça-se em mim, cumpra-se em mim, disse Maria a Gabriel. “Fiat mihi secundum verbum tuum”. O que devemos dizer ao fiat de Deus? Fiat mihi. Vai rimar mas não vou resistir escrever assim: estamos na hora da graça quando se dá o encontro do “faça”. Encontra-se o “faça-se” de Deus na sua palavra com o nosso “faça-se segundo a tua palavra”. Fé é dizermos ao que Deus fala “faça-se em mim”—encontramos isso em Maria e encontramos isso, ainda mais e em estado perfeito, em Jesus. Jesus é o “faça-se” em pessoa.

Não há história como a do big bang na barriga de Maria.

sexta-feira, dezembro 22, 2023

Leões a ronronar ao nosso colo

Nos 1189 capítulos que a Bíblia tem apenas nos dois primeiros há uma harmonia razoável entre nós e o mundo. Mal chega Génesis 3, tudo corre mal. Acaba-se a paz. Aí o mal entra no coração do homem e parece que nunca mais vai sair. É verdade que os últimos capítulos do Apocalipse nos atiçam com a perspectiva de um mundo novo onde, finalmente, o mal terá o que merece. Mas temos de encarar o facto de que as páginas da Bíblia não têm grande quantidade de paz com o mundo.

Alguns adversários do cristianismo dizem que a crença nas consequências universais do pecado pode ser um modo de não cuidarmos da natureza. Não estou certo disso mas reconheço que nós, cristãos, não romantizamos a nossa ligação com o ambiente. Acreditamos que o mal que acontece dentro de nós faz com que o mal aconteça fora de nós também. Por causa disso, a paz que qualquer um deseja facilmente esbarra com as circunstâncias externas que vivemos. Sentimos o mal cá dentro e sentimos o mal lá fora.

Lembram-se do profeta Daniel na Babilónia? Que história! E é mais do que uma história—é meia dúzia delas. Daniel era um estrangeiro inteligentíssimo num sistema imperialista bastante opressivo, como hoje o pessoal gosta de dizer. A Babilónia sendo a Babilónia tinha olho para detectar gente esperta entre os inimigos que conquistava. Daniel apenas precisava de se conformar para que alcançasse alguma paz neste sistema—neste caso, precisava de se desligar do seu Deus parando as suas hebraicas devoções diárias. O dilema para ele tornou-se este: paz com as circunstâncias ou paz com Deus?

Daniel escolheu a segunda opção e isso significou que as circunstâncias se vingaram dele… na forma de uma cova cheia de leões rugindo. A natureza pode tornar-se bem perigosa quando Deus é a nossa prioridade. Mas um anjo fez aquelas bestas portarem-se como gatinhos e Daniel saiu poupado. Todos ficaram fora de si. Deus pode fazer leões ronronar ao teu colo—e é um espectáculo quando assim é. Mas paz também é o que acontece quando bestas se comportam como bestas e nos comem vivos. Afinal, foi mais isso o que Jesus experimentou. Na cruz Jesus foi comido vivo para que confiemos que, até quando as circunstâncias externas nos perturbam, haverá um tempo de paz que acabará mesmo por vir. É isso que está em causa na morte e na ressurreição de Jesus.

O preço da paz foi caro—foi pago por nós!—para que esperemos com confiança na sua chegada futura e perfeita. Cristo é essa paz eterna. Daí que não seja nada despropositada a oração que pede a Deus que abra os nossos olhos para a verdadeira paz—algo muito maior do que a harmonia imediata com a natureza ou a ausência de dificuldades. Os cristãos acreditarão que através do Espírito Santo lhes pode ser dada a coragem que Daniel teve para que beneficiem do que Jesus fez ao morrer e viver novamente. O facto de aqui podermos ser devorados por leões não significa que um dia eles não possam ronronar ao nosso colo.

quarta-feira, dezembro 20, 2023

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O sermão de Domingo passado, chamado "Os nossos pecados à mostra", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

terça-feira, dezembro 19, 2023

O que o mundo precisa é trevas

sexta-feira, dezembro 15, 2023

Preparando o sermão de próximo Domingo

A melhor luz que os cristãos podem ser para o mundo é não esconder dele as trevas dos nossos próprios pecados.

Samuel Isaac de Jesus Úria

quarta-feira, dezembro 13, 2023

Duas perguntas

É boa a pergunta “qual é o mal que o Diabo anda a fazer?” Mas a pergunta “qual é o bem que parece que o Diabo anda a fazer?” ainda é melhor.

terça-feira, dezembro 12, 2023

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O sermão de Domingo passado, chamado "O nosso tempo e o tempo de Deus", pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).

segunda-feira, dezembro 11, 2023

Deus em fraldas

quarta-feira, dezembro 06, 2023

A minha história de amor com a Ana Rute


Contada ao Goucha.

sexta-feira, dezembro 01, 2023

Canção para o Rodrigo