quarta-feira, janeiro 30, 2013

"Santidade" de J.C. Ryle
Comecemos pelas coisas simples: ser puritano é bom. Quando o termo começou a ser aplicado já era depreciativo. Quem era chamado puritano não estava a ser elogiado. Mas o tempo passou e os alcunhados ganharam brio na alcunha. Hoje, passados alguns séculos e como C.S. Lewis já costumava lembrar, puritano serve para acusar tudo o que os puritanos nunca foram: pessoas que na hora de acreditar escolhem o medo ao conhecimento. Os puritanos porque acreditam aplicam-se, porque crêem compreendem, porque raciocinam rejeitam. Longe da imagem criada por ignorância, os puritanos não são criaturas do pudor mas de percepção. Quando lemos autores puritanos o músculo que mais trabalhamos é o cérebro. Por isso é revelador que tão poucos os leiam.
J. C. Ryle foi um bispo Anglicano no Século XIX britânico e tem em "Santidade" o calhamaço da sua vida. Foi a primeira vez que li Ryle e não investiguei sobre ele mas fico com a ideia que em "Santidade" escreveu a sua obra por excelência. Na edição em português da editora Fiel o volume chega a mais de 400 páginas. O tema da santidade é naturalmente explorado mas diria que de uma maneira mais sugestiva, e portanto biográfica (não no sentido do relato cronológico pessoal), que propriamente teológica. Há muita teologia em "Santidade" (muita e boa) mas os vinte capítulos são mais uma colectânea da carreira pastoral de Ryle (alguns capítulos são adaptações de sermões seus) que uma investigação académica e bíblica do assunto. O que torna o livro vivo e acessível a qualquer crente comum, a intenção do autor.
O estilo de Ryle é uma das suas qualidades. Trabalha para persuadir de um modo cuidadoso e atento. Para dar um exemplo: na altura Inglaterra passava por uma fase em que reuniões de características carismáticas celebrizavam a palavra santidade (holiness meetings). Ryle não quer desprezar a importância que esses eventos possam ter na vida dos que a eles assistiam mas quer ser sincero na maneira como transmite a convicção que a santidade se tornava mais um termo banal que uma experiência vivida com consistência. O capítulo que dedica a distinguir justificação de santificação (duas coisas essenciais para compreender a salvação de uma alma) tornou-se dos meus preferidos. Uma definição muito breve de Ryle tem-me ajudado bastante: "A justificação confere-nos o direito de ir para o céu. A santificação torna-nos adequados para habitar o céu."
Por último, e como é previsível, a leitura de "Santidade" tornou-se referida constantemente nas reuniões da igreja na Lapa. Ao acabá-la hoje já tenho novos olhos para ela amanhã. O João Parreira será o leitor que se segue. Um dos triunfos dos puritanos mede-se no entusiasmo na transmissão dos seus escritos na entrada do Século XXI. Chamem-nos nomes que nós gostamos.

P.S. Um obrigado à Sandra Raquel e ao Rui que me ofereceram o livro.

terça-feira, janeiro 29, 2013

Hoje na TV
Que o Alvim gosta de falar sobre sexo toda a gente sabe. Quem vai ter com o Alvim à tv ou à rádio mais vale ir sem ilusões. Eu, que já fui convidado generosamente pelo Alvim a estar em programas dele pelo menos umas três vezes, sabia ao que ia. Ainda por cima porque o Alvim me disse que comigo ia uma sexóloga (a Dra. Maria do Céu Santo). Ora, eu fui ao youtube e tentei preparar-me. Aceitei o desafio sobretudo por duas razões: é difícil dizer não à simpatia do Alvim e porque é uma oportunidade testemunhar da minha fé na televisão, sobretudo tentando oferecer um contra-ponto cristão a uma cultura encharcada a conversar sobre sexo mas seca a compreendê-lo.
Hoje à noite passa na +TVI às 22h30 (exclusivo da Zon, creio). Digam-me da vossa justiça depois.
Ouvir
O sermão que Pastor Teotónio Cavaco pregou no aniversário de SDB já pode ser ouvido aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, janeiro 28, 2013

As pessoas e os números
Parece-me uma queixa engelhadinha aquela frase feita que diz que pessoas não são números. É óbvio que pessoas não são números. Desde quando é que contar pessoas as torna números? A lógica de numerar não é outra senão a da quantidade e não a da qualidade. Quem brande essa frase em jeito de acusação acaba por mostrar que é pior em antropologia que em matemática. Quando alguém soma pessoas não está a raptar almas. Está apenas a contar.
Well, well. Bem sabemos que depois vem o argumento que a contagem pode engolir o factor humano (eu nunca fui bom a contagens e também creio que não sou muito bom no que diz respeito ao factor humano). Well, well. Bem sabemos que depois ainda vem a citação de Estaline: "A morte de uma pessoa é uma tragédia; a de milhões, uma estatística." Well, well. Seguem depois todos os argumentos que a partir de uma má moral (a frase "as pessoas não são números" é um micro-conto ético sem qualquer tipo de nuance formal) acabam em desculpa para a preguiça (contar pessoas é uma coisa que geralmente se faz para se trabalhar melhor a favor delas).
Isto tudo para chegar ao dia de ontem. Ontem a Igreja Baptista de São Domingos de Benfica comemorou um ano. Foi um dia de festa. Desde Outubro de 2007, quando a Igreja era ainda uma Missão da Igreja Baptista de Moscavide, que conto as pessoas que se reúnem nas actividades. Não para lhes roubar a alma mas para trabalhar melhor para a alma delas. Existem registos de presenças de praticamente todas as reuniões (dito assim soa meio mórmon). Ora, ontem estivemos na Lapa mais de cem pessoas reunidas, entre a manhã e a tarde. Conseguem imaginar a felicidade que isso representa para uma pessoa péssima em números como eu?
Agenda


















Triplo. Gratuito. Horas decentes. Amigo da família. Comércio tradicional.

sexta-feira, janeiro 25, 2013

Temor e amor
Não é disparatado dizer que somos uma igreja que tenta ser clara teologicamente. Gostamos de falar sobre doutrina porque falar sobre doutrina é falar sobre o que é a verdade. Por isso volta e meia embrenhamo-nos em conversas cheias de palavras que podem parecer sofisticadas ou difíceis. Mas também acontece frequentemente falarmos dessas realidades teológicas com ilustrações. E como a maior parte da igreja é constituída por casais jovens uma grande fonte de matéria para as ilustrações é os nossos filhos.
Ontem o Miguel contou que tentava explicar ao Tomás, o seu filho, o que era o temor a Deus. O vocabulário falhava e foi o próprio Tomás que resumiu que temer era olhar para alguma coisa maior do que nós e ficar de boca aberta. Todos nós que ouvíamos concordámos e a irmã Fernanda sublinhou o que a criança de sete anos percebeu tão bem: temer a Deus passa por ficar pasmado com Ele.
A palavra temer pode ser impopular sobretudo para quem esquece que o temor tem a ver com a protecção (como disse a Nice), com a confiança (como disse o Manel), e com o encontro (como disse o Miguel). E, como nos ensinou o Salmo 36, é também por Deus merecer o nosso temor que podemos amá-lo.

terça-feira, janeiro 22, 2013

Um ano
Há um ano o serviço de culto parecia que nunca mais ia acabar. Acho que é um pouco uma herança anglicana que ainda persiste nos baptistas, a ideia de haver uma hora de fim da adoração. Os nossos irmãos pentecostais, e não só, horrorizam-se com a ideia de dizer ao Espírito Santo o momento em que Ele encerra as suas funções quandos os crentes estão reunidos. E têm alguma razão. O facto dos serviços de culto dos baptistas raramente chegarem às duas horas indica que muitas vezes os baptistas são mais rigorosos com a ideia de quando a assembleia dos crentes deve terminar do que quando deve continuar. A fé dos cristãos não se mede pelos minutos que estão em culto mas é saudável que esse período possa ser flexível em função do culto ser mais espiritual que cronométrico.
Mas contava de que há um ano o serviço de culto parecia que nunca mais ia acabar. Estávamos juntos não na igreja mas no antigo cinema em Moscavide. E o dia era especial por marcava o nascimento de uma nova igreja baptista (a de São Domingos de Benfica) e a minha consagração ao pastorado. O programa, que tentou ser magro, não conseguiu evitar a fartura do dia. Hinos antigos cantados à Rule Britannia, pastores-senadores a quebrarem os poucos minutos de intervenção estipulada e outros a fazerem-no de improviso, testemunhos emocionados, formalismos necessários, lágrimas e abraços, e um amén final que teimava em chegar. Mas chegou. E no final de quase três horas de reunião Lisboa tinha uma nova igreja baptista constituída por doze membros fundadores. Um dia como aqueles vive-se provavelmente uma vez na vida e está bem fresco na nossa memória.
Um ano depois já são tantas as coisas que aconteceram que não esperávamos que acontecessem que vale a pena pensar sobre uma ou outra. A Igreja Baptista de São Domingos de Benfica já não está naquela cave acanhada em frente ao Hospital da Cruz Vermelha. Aquela cave viu muita coisa. Viu um grupo reduzido de pouco mais de duas famílias a juntarem-se nas tardes de Domingo a partir de Outubro de 2007. Viu a pequena sala de reuniões ser mais preenchida pelas senhoras de Moscavide, levadas na carrinha da Igreja, em animação excursionista. Viu concertos de artistas ansiosos (o Manel Fúria a dar-nos chatices com os vizinhos, o João Coração a tocar com um mini-amplificador preso à cintura, os Pontos Negros a fazerem bateria na parede lateral, o Bruno Morgado a quebrar um silêncio de anos, o Samuel Úria a cantar como quem dava escola dominical a crianças, o Héber Marques a trocar as enchentes por uma dúzia atenta, o MC Ary a dar-nos mais problemas com os vizinhos, entre outros arrufos sonoros). Viu os nossos intelectuais a participarem pela primeira vez num evento evangélico (o Pedro Mexia, o Padre Tolentino, o Francisco José Viegas, o Ferreira Fernandes, o Pacheco Pereira, o Rui Ramos, o Pedro Lomba, o Henrique Raposo, o Jacinto Lucas Pires). Viu criancinhas que durante os cultos adormeceram, vomitaram e fizeram chichi no chão. Viu pessoas a chegarem que nos prometeram este mundo e o outro e pouco deixaram. Viu pessoas a chegarem que não prometeram nada e que tanto nos dão hoje. Viu o Espírito Santo fazer um trabalho lento e pequeno mas consistente. Hoje já não estamos na cave porque um ano depois de sermos oficialmente uma igreja já precisamos mais espaço para as pessoas e para o Espírito Santo.
Um ano depois não esperávamos que o futuro da Igreja Baptista de São Domingos de Benfica passasse por se juntar a outra igreja mais velha. Não esperávamos que deixássemos tão rapidamente de ser a igreja da juventude artista e meio mole, do café e dos bolinhos na montra, do nome em sigla que nos inspira todos os lemas mais estapafúrdios (o vencedor até agora é: Somos Do Best). Um ano depois o nosso futuro está tão para adivinhar como todo o futuro sempre está. E é aqui que acreditamos na providência de Deus em vez do destino fatalista. Sempre que procuramos fazer a vontade do Senhor reconhecemos pela frente uma aventura imprevisível que não funciona em termos dos que os nossos olhos já vêem. O compromisso da Igreja Baptista de São Domingos de Benfica, hoje reunida na Lapa com a Segunda Igreja Baptista de Lisboa, é o de deixar que seja o horizonte a posicionar-nos. Deus chama-nos a falar de Jesus aos que já fazem parte da igreja mas a muitos mais. Por isso escrevo estas palavras aos que já crêem mas possivelmente aos outros também. Quem sabe se tu, que as lês agora, não fazes parte da vida desta igreja que começou numa cave em frente ao Hospital da Cruz Vermelha? Há um ano alguns de nós ainda não o sabiam. Hoje alguns de nós sabem-no um pouco melhor. O Senhor Jesus sempre teve esta capacidade de fazer seu quem se julgava irremediavelmente longe dele.
Ouvir
O facto de Jesus ter vindo não é sinal de que Deus desistiu de avaliar os homens. O facto de Jesus ter vindo é sinal de que Deus os avalia num gesto único de misericórdia que também é um gesto de juízo.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, janeiro 21, 2013

Carácter e temperamento
Os baptistas são uma denominação especial. Insisto nesta ideia e repito-a: os baptistas são especiais porque são a melhor denominação a não acreditar em denominações. Ser baptista é sempre uma aventura mas ser baptista em Portugal é uma epopeia tão trágica quanto cómica. Por exemplo, uma das condições caricatas e mais recentes de ser baptista em Portugal é uma tendência para que um baptista sinta vergonha por sê-lo. Sinto-me um peixe fora de água quando me encontro com outros baptistas e me apercebo que naquele aquário ninguém pode assumir as escamas. Vulgarmente me chamam "baptistão" por praticar o escândalo de dizer que sou baptista por convicção. Por me manter na denominação por razões que vão além de ter crescido nela. Até entre crentes parece ser crime acreditarmos na fé que os nossos pais nos ensinaram. Dito isto, devo também dizer do privilégio que é fazer parte de uma igreja baptista cuja maioria dos membros não é de origem baptista. Estou absolutamente convencido que Deus não me chamou para fazer calvinistas de arminianos ou baptistas de pentecostais. Mas apenas a baptizar arrependidos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Por isso sou um baptista feliz porque tenho um compromisso com Cristo e não com uma denominação.
Os baptistas têm dois traços fortes no seu temperamento. São muito ciosos da autonomia de cada igreja local ao mesmo tempo que sempre estabeleceram cooperações entre igrejas. Hoje a igreja da qual faço parte está numa condição especialíssima que é projectar unir-se com outra no final do ano, ao mesmo tempo que não integra oficialmente nenhuma das cooperações históricas baptistas do País. E com isto quero dizer que a dificuldade da primeira (duas igrejas tornarem-se uma) é o descanso da segunda (estarmos independentes de organismos institucionais). Aprecio estes dois traços fortes do temperamento baptista na medida em que os relego para ordem secundaríssima quando penso num traço que além de temperamento é de carácter: a fidelidade à Palavra de Deus.
Creio que alguns dos desafios actuais dos baptistas passam precisamente por dar uma prioridade clara ao carácter em detrimento do temperamento. Sem comprometer nem um nem outro mas reconhecendo que o temperamento funciona em função do carácter e não o contrário. Estão colocados diante dos baptistas portugueses desafios que se tornam sensíveis no campo institucional da autonomia e cooperação eclesiásticas porque esse mesmo campo não tem, parece-me, definido nitidamente aquilo que devia ser claro no terreno bíblico. Não tenho desejo de simplificar onde a Escritura não o faz mas o que será de nós quando só confessarmos às escuras aquilo que a Bíblia diz às claras? Hoje seguir o padrão da Palavra no que ela diz sobre determinado assunto pode parecer impopular mas amanhã, e sem esta definição concreta, as impopularidades serão maiores e de consequências mais graves.
Partilho por último uma oração: que a denominação da qual faço parte regresse à pista onde todas as corridas devem ser travadas: a Bíblia. Se os baptistas vão divergir, que divirjam de Bíblia aberta. De corações fechados por uma fé institucional já nós estamos servidos.

P.S. No próximo Domingo a igreja da qual faço parte comemora um ano de aniversário. Não somos a melhor igreja do mundo. Mas também não seremos a pior. Para um exemplo simples de como a Bíblia deve estar aberta numa comunidade é o acto simbólico que teremos no próximo culto matinal: os membros assinarão a Declaração de Fé. Fazer parte da SDB é também ter uma ideia clara do que cremos (podem ler aqui a nossa Declaração - está online no site - clicar em cima da palavra "Declaração").

sexta-feira, janeiro 18, 2013

Jorge
Uma das vantagens de ser amigo de músicos é receber a música deles de presente. Nos últimos anos ganhei o hábito de escutar os discos dos meus amigos quando eles próprios mos oferecem. É um privilégio mas consoante os encontros também pode resultar num atraso em relação à data em que foram lançados. Isso aconteceu agora mesmo com o "Roque Popular" do meu amigo Jorge Cruz. Foi lançado no ano passado e ouvi irregularmente apenas algumas canções na internet. Fiquei com a ideia que era um bom disco mas precisava ainda de o ouvir como deve ser. As opiniões à volta também se inclinaram ao elogio (fez parte de praticamente todas as listas de melhores de 2012). Tendo em conta o recente fenómeno de aclamação da mistura de folclore com rock, também achei que "Roque Popular" teria grandes méritos no pelotão da frente do género. Mas o que ouvi, agora que o Jorge me passou o disco, foi muito mais.
Sem demérito dos companheiros do Jorge (alguns bons amigos como o Bernardo Barata, músico e produtor talentosíssimo e que tem um disco aí a chegar que anseio ouvir), "Roque Popular" é para mim um disco de Diabo na Cruz na medida em que o Diabo na Cruz é o Jorge. E Diabo na Cruz é o Jorge a escolher uma super-banda que corresponda à sua exigência. Foi no início um power-trio extraordinário (com o Cruz, o Barata e o Pinheiro) que infelizmente não deixou gravações. Ampliou-se a mais dois (o Fachada e o João Gil) e nessa formação gravou o irrepreensível "Virou!" que encheu o depósito dos festivaleiros por todo o País. Agora saiu o Fachada e entraram mais três que entretanto tornaram o som mais pesado e, diria, compenetrado. Bate forte mesmo. E para quem não conheça o passado do Jorge, a banda faz a mossa necessária para que "Roque Popular" se torne imediatamente um novo amor. Para um País fraquinho em boas bandas de rock (os Xutos são os nossos Stones e, como ricochete, os Ornatos são valorizados à náusea) os Diabo na Cruz não entram em cena. Tomam-na de assalto. O que por si só já é óptimo. Mas o Jorge é a medida que suplanta o óptimo dos Diabo na Cruz.
Como aviso prévio a meio destas linhas, tenho a dizer que sou amigo do Jorge. Amo-o e tenho-lhe uma admiração até ao tutano. Todos nós do rock gostamos de ter a mania de sermos underdogs mas no nosso País o Jorge é o único legítimo que conheço. O Jorge foi Led Zeppelin em Portugal antes de Portugal suportar os Led Zeppelin no Jack White, o Jorge foi saloio antes do saloio ser o novo sofisticado, o Jorge foi realmente odiado pela crítica antes de ser odiado pela crítica ser um dispositivo na cabeça dos que pela crítica são adorados. Gravou discos independentes, escreveu manifestos chatos, editou canções comerciais, ganhou banda na loop-station, trocou o Porto que o trata bem pela Lisboa que o tratava mal, entre outros factos biográficos. Quando a FlorCaveira apareceu em força o Jorge podia lá estar porque, num certo sentido, tinha sido FlorCaveira antes da FlorCaveira. Foi um casamento feliz e bem-sucedido. Quando o "Virou!" saiu foi acolhido com alguns pudores mas venceu o talento do Jorge. Diabo na Cruz era uma banda, certo. Mas acima de tudo era o Jorge. A aproveitar a onda e a dizer: agora surfo eu que sou local quando vocês todos ainda não tinham descoberto o caminho para o mar. Justíssimo.
"Roque Popular" parece ter uma parte de "vamos resolver o País" que é um bocado irritante no rock. Mas diria que é mais uma aparência do que uma constatação. "Roque Popular" é o Jorge a arranjar uma banda sua para cantar sobre o País seu quando na verdade o que está em causa não é o grupo nem a Pátria. É apenas ele. O Jorge a ser um letrista incomparável e um músico devotado. Os fogos de artifício de Diabo na Cruz podem marcar pontos na tabela estilística da imponderável intersecção entre tradição e modernidade. Não são essas luzes que me interessam. Ouço o Jorge e fico com vontade de dizer coisas em batidas fortes. Esse é o passado e o futuro que preciso na música que ouço e quero fazer.


quarta-feira, janeiro 16, 2013

As maravilhas místicas da partida
Há dois dias escrevi para o blogue We’re Not Portugal uma pequeno texto chamado “The Theology of Coming Out”. Nesse mesmo dia lia depois que a Jodie Foster fez uma declaração pública sobre a sua homossexualidade. Vem então em altura certa. É carregar em cima da citação para lê-lo na íntegra.

The apex of our obsession with deserters is more visible in media’s lustful piety. There’s an altar for everyone who comes out. This is why homossexuality got it’s revenge of centuries of scandal in the current path of beatitude. Gays are the new pilgrims and you can’t mess with them.

terça-feira, janeiro 15, 2013

Ouvir
Queremos ensopar as pessoas porque esse é um sinal de que o fogo do Espírito está a dar-lhes vida. Deus nos ajude a ser esta Igreja que é de água porque é de fogo. Que é de baptismo porque é de Jesus.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, janeiro 14, 2013

Ontem no Diário de Notícias


sexta-feira, janeiro 11, 2013

A luta continua

















O Mar - modo de usar
No ano passado mergulhei no mar em 175 dias. Não foi mau mas gostava que em 2013 a média subisse (afinal é menos de metade dos dias). Esta semana mergulhei três dias. A praia de Santo Amaro está maior porque o mar está lá em baixo. Como sou sensível a documentários sobre desastres naturais e há uns meses passei por um tremendo chamado "Tsunami Caught On Tape" uma parte do meu cérebro nesta manhã pensou: será que a terra tremeu, eu não dei conta, o mar recuou e quando eu entrar na água já não tenho hipótese de escapar à grande onda que por enquanto não vejo? Mas pelos vistos não. Um dos meus compromissos para 2013 é trazer mais mar a toda a gente.
Vídeo



Um vídeo novo para um ano novo que traz uma casa nova que não é nova. Pôr a Lapa no mapa!

quinta-feira, janeiro 10, 2013

We're Not Portugal
É tão ridículo quanto sincero: eu e o meu cunhado (Tiago Oliveira) que está a estudar Teologia nos Estados Unidos começámos um blogue em inglês para tentarmos conversar com heróis teológicos nossos. Linko um dos poucos posts que por enquanto escrevemos (é só clicar em cima da citação).

In an european country like Portugal I’d say that the majority does not believe in the existence of anything remotely similar to hell. (...) Portuguese people don’t think about hell because they find the idea of an afterlife condemnation as ridiculous (with possible and expectable exceptions like Adolf Hitler). And I’d say that never talking about hell, at least from this portuguese perspective, grows from the feeling that we don’t have anything to do with it. My point, then, is: americans are humbler than the portuguese because when they talk about hell they actually believe they could end up there, the very thing portuguese would never accept.

quarta-feira, janeiro 09, 2013

No funeral da irmã Manuela Marques
Leitura de João 11:1-46
Pode parecer meio desajustado que, na partida do corpo físico da nossa irmã Manuela Marques, falem também aqueles que tão pouco a conheceram. No meu caso em particular foram apenas três meses. Três meses ainda assim excepcionais no convívio com uma pessoa empenhada no estudo bíblico, participativa na hora de compreender a Palavra de Deus, ansiosa para que os irmãos da Igreja Baptista de São Domingos de Benfica deixassem de ser visitas para passarem a ser da casa. Ainda Dezembro não tinha chegado e já a irmã Manuela desabafava emocionada que não queria pensar que o plano trimestral de colaboração entre as duas igrejas estava a chegar ao fim. Mas o que são estes três meses comparados com a experiência daqueles que têm uma vida inteira de memória da irmã Manuela Marques? Estamos aqui filhos, netos, irmãos e amigos da irmã Manuela e por isso trazemos uma saudade que não se acalma com palavras apenas. E o nosso objectivo nesta hora não é eliminar as saudades porque, bem sabemos, elas estão apenas a começar. O nosso objectivo, e o meu em particular, é lembrar a irmã Manuela não para falar sobre a sua vida, da qual fui apenas um espectador tardio e limitado. O nosso objectivo, e o meu em particular, é falar do Deus da irmã Manuela Marques.
Quando partem as pessoas que Deus nos fez chegar é natural concentrarmo-nos mais na partida que na chegada. E essa será talvez a razão que leva tantos a zangarem-se com Deus quando os seus queridos partem. A dor fica tão no centro que é difícil apreciar o quadro completo. Acontece que se no concentramos apenas no fim perderemos o sentido do início. Um dia, porque quis, Deus criou a irmã Manuela Marques. Não foi um acaso ou uma consequência mecânica do mundo existir. A irmã Manuela Marques nasceu porque Deus desejou que mais uma menina existisse que trouxesse a Sua imagem. Deus criou a irmã Manuela Marques à Sua imagem e semelhança e disse: é bom! Aqueles que viveram com a irmã Manuela Marques não estiveram na presença de uma consequência natural do Planeta Terra ser habitado por seres humanos. Aqueles que viveram com a irmã Manuela Marques estiveram na presença de um acto de criatividade do Nosso Senhor. Deus põs a Sua imaginação em prática e a irmã Manuela Marques nasceu. Não é a evolução das espécies, é o milagre da vida. Na hora da partida da irmã Manuela Marques temos de ir ao início para nos apercebermos da história completa. É quando nos recordamos da grande ideia que Deus teve ao criar a irmã Manuela Marques que conseguimos, ainda que tristes, compreender que o autor dessa ideia é também quem resolve quando ela deve terminar a sua duração aqui. O inventor da vida é o proprietário da patente e é ele que manda no invento. Por isso a Bíblia ensina a frase de um homem que, em circunstâncias muito dolorosas, percebeu: "O Senhor deu, o Senhor tomou: bendito seja o nome do Senhor". Não é disparatado elogiarmos Deus na hora em que os nossos queridos partem porque foi Deus que nos deu os nossos queridos. E com isto não quero dizer-vos que é fácil louvarmos Deus nestes momentos. Mas é a coisa certa.
Vale a pena aplicar o raciocínio. Todas as pessoas que amamos são demonstrações da generosidade de Deus para nós. Os nossos familiares e os nossos amigos deviam ser apenas o início de uma vida de louvor a Deus. Já pensou que as pessoas que mais ama são uma prova que Deus não somente existe mas é criativo e generoso? Já pensou que cada dia que vive na presença das pessoas que mais ama é mais uma oração de louvor que deve ao Criador? Quando nos deitamos à noite devíamos agradecer a Deus por mais 24 horas que tivemos na companhia dos que amamos. Viveríamos uma vida mais cheia de alegria e gratidão. Uma vida muito melhor do que aquela que parte do princípio que as coisas boas são-nos devidas por direito. Deus não nos deve coisas boas. Deus dá-nos coisas boas. Por isso elogiamos Deus até na hora em que essas coisas boas nos são tiradas. O facto de conhecerem um fim aqui não deve ofuscar o facto de terem sido boas. A vida da irmã Manuela Marques foi boa porque imitou o padrão de quem a criou. Deus é bom.
Mas a Bíblia não finge que não dói quando os nossos queridos partem. Perguntemos a Marta e Maria, derrubadas pela dor pela morte do seu irmão Lázaro. Perguntemos a Marta e a Maria se elas não choraram. Perguntemos a Marta e a Maria se elas não se queixaram até do atraso de Jesus em chegar num minuto que pudesse ainda curar a doença do seu irmão. A Palavra de Deus não trata aqueles que acreditam em Deus como fingidores em funerais. Maria e Marta disseram mesmo ao Senhor: Senhor, se cá estivesses o nosso irmão não teria morrido. E provavelmente uma boa parte de nós ouve um eco desta frase no nosso próprio coração. Quando a partida dos nossos queridos nos parece falar mais da ausência de Deus que da sua presença. E há pessoas que, como Maria e Marta neste texto, olham para a morte como um reflexo do que acontece quando Deus não está. Daí a acreditar que, por causa do desaparecimento dos nossos queridos, Deus não existe é para muitos um passo pequeno. Que resposta tem Deus nesses momentos? Provavelmente a mesma que teve nesta ocasião. Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-se no seu espírito e comoveu-se. E então chorou. Chorar porque amamos é o que Jesus também fez e o verso 36 confirma.
Mas Marta e Maria tiveram uma vantagem naquele dia que nós não temos hoje. Estavam na presença de um Deus encarnado que quis e teve o poder de ressuscitar Lázaro. E se é verdade que Jesus está connosco através do Espírito Santo, portanto de um modo diferente daquela altura, sabemos todavia que o que fez com Lázaro fará com todos os seus filhos. Acreditamos na Ressurreição porque Jesus a prometeu, a aplicou e a experimentou. O túmulo vazio de Jesus é a certeza que temos que um dia os nossos também estarão. Honramos o corpo físico da irmã Manuela nesta hora porque o seu espírito já está com o Senhor. Aguardando o dia da Ressurreição. O dia em que terá um corpo glorificado e eterno, assim como todos os os que encontraram a sua vida na morte do Senhor Jesus. Por isso fazemos desta despedida uma ausência provisória. O nosso tempo é o de Deus, o da eternidade. O que são estes anos em que vamos sentir a sua falta comparados com o sempre em que estaremos com ela? E fazemos desta despedida aquilo que a irmã Manuela Marques assinou com a sua fé. Uma afirmação de que o Deus que foi Senhor da sua vida é o Deus que é o Senhor da sua morte. Por isso louvamo-Lo.
Uma palavra derradeira recordando a última conversa que tive com a irmã Manuela Marques. No dia 23 de Dezembro, e após um tempo de comunhão da igreja simples e afinado, em que cantámos hinos de Natal, convivemos no salão social do primeiro andar. A irmã Manuela dava-me algumas sugestões de coisas que podíamos fazer e apercebi-me aí que a irmã Manuela ia ser daquelas pessoas que põem o Pastor a trabalhar muito. Mas mais importante foi quando se emocionou falando dos seus filhos e netos e da vontade vincada que todos eles permanecessem na fé. Vejo essas últimas palavras que me disse como um testamento que me deixou. O meu compromisso, sendo com Deus, concorda com o que me pediu a irmã Manuela. Que Senhor dela seja o Senhor dos seus filhos e netos, e da Igreja à qual pertencia. É esta Igreja, que com irmãos de outras, repete nesta ocasião a certeza de Job 1:21: o Senhor a deu, o Senhor a tomou. Bendito seja o nome do Senhor.

terça-feira, janeiro 08, 2013

Ouvir
Os Magos não oferecem ouro, incenso e mirra ao bebé Jesus em jeito de "aproveita que estas coisas só podes receber de nós de vez em quando". Os Magos oferecem ouro, incenso e mirra como quem diz "ao darmos-te estas coisas hoje damo-nos inteiros a ti". Com Deus não negociamos o nosso melhor. Com Deus damos o nosso melhor.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui)

segunda-feira, janeiro 07, 2013

Há um ano, ontem e hoje
Faz hoje um ano que fui submetido ao concílio pastoral que recomendou a minha consagração. Ontem, quando pela primeira vez a Igreja Baptista de São Domingos de Benfica se juntou à Segunda Igreja Baptista de Lisboa, não tive como contornar a questão de pregar daquele púlpito alto, bonito e potencialmente assustador.

Hoje tantos novos pastores temem pregar do púlpito porque no fundo temem pregar do lugar onde a Bíblia é mais importante que eles. Sob o pretexto de um mobiliário mais condizente com uma igreja não centralizada na figura do Pastor, erradicam da face das nossas igrejas o símbolo que afirma que nas igrejas de Cristo quem manda não são os Pastores mas a Palavra. Parecem então mais humildes quando no fundo apenas estão convencidos que se forem irreverentes ganham mais autoridade perante uma geração mais desligada da importância dos símbolos. Quando nos perguntamos por que razão nos faltam os pastores diria que parte da resposta passa pelos púlpitos que as igrejas esvaziaram. E com isto que fique claro que o que precisamos é de ceifeiros para a seara e não espigas para os ceifeiros. A solução não passa simplesmente por ocupar os lugares onde a Palavra está mas por permitirmos que a Palavra nos ocupe a nós, lugares seus.

Ontem foi um dia cheio. Cheio ao mesmo tempo que agudo na ausência da irmã Manuela Marques. A fé permite-nos passar por estas misturas. Estava lá a nossa amiga Vera que nos ofereceu o privilégio de termos o grupo presente retratado por ela. Só nesta fotografia éramos 63. Mais dois fotógrafos, mais, pelo menos, duas pessoas que não puderam ficar na fotografia faz 67 pessoas, uma enchente para o ritmo de SDB. Estamos muito animados porque Deus é bom.


sexta-feira, janeiro 04, 2013

Para o sermão de próximo Domingo
Deus baralha as coordenadas geográficas da fidelidade porque Belém, a cidade onde nasce Jesus, é pequena mas sobressai entre as grandes; e porque os adoradores mais pontuais, os Magos, chegam dos lugares dos infiéis.

quarta-feira, janeiro 02, 2013

Ouvir
No Velho Testamento sabemos que Deus é de confiança porque ele nos dá filhos. E serão eles, os filhos, a confirmarem que Deus é de confiança. É um ciclo contínuo.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).