sexta-feira, novembro 27, 2015

O texto do Henrique








Este texto que o Henrique Raposo escreveu esta semana no Expresso online é muito pertinente. Leiam-no. No final, acrescento apenas uma qualificação que julgo importante.

A Câmara de Lisboa já deu dinheiro ao movimento protestante da Grande Lisboa? Já distribuiu milhões para a construção de templos cristãos das diferentes ramificações do protestantismo que, no seu conjunto, têm com certeza mais crentes do que a comunidade muçulmana? Que eu saiba não. Os evangélicos portugueses vivem a sua fé em garagens, caves ou armazéns em zonas recônditas e sem o apoio de ninguém. Mas agora a Câmara de Lisboa vai gastar três milhões de euros na construção de uma nova Mesquita na Mouraria. Não mereciam os protestantes um acolhimento da política “multicultural” do edil da capital? Vamos supor que os meus amigos baptistas chegavam junto da Câmara para pedir meio milhão destinado à requalificação das garagens onde realizam os seus cultos, invocando para o efeito que uma garagem não é um local adequado para a prática religiosa. Qual seria a reacção da Câmara de Lisboa? Não é difícil de imaginar.

Claro que este cenário lisboeta não é tão grave como aquele que se vive em diversos países europeus que estão a ser invadidos por mesquitas financiadas pela Arábia Saudita. Essas, sim, são quintas colunas exportadas pelos petro-dólares. Desde os anos 70 que a Arábia Saudita exporta a sua visão radical do Islão (wahhabismo). Outrora minoritária, esta visão tornou-se na versão mais audível do islão, muito por culpa destas mesquitas catapultadas pela Arábia para todo o mundo, Europa incluída. Em breve, chegaremos à conclusão de que estas mesquitas não podem entrar na Europa. As mesquitas europeias devem ser entidades orgânicas, devem nascer nas comunidades, com imãs locais, com dinheiro local, devem ser uma emanação do bairro/cidade, devem representar o islão europeu, o islão sueco, espanhol, francês ou alemão e não o islão de Riade.

A comunidade muçulmana de Lisboa é livre e vive num país livre e, por isso, ninguém pode objectar à construção de uma Mesquita, mas essa construção tem de partir da iniciativa e do dinheiro dos muçulmanos portugueses ou a viver em Portugal; essa Mesquita tem que ser um projecto orgânico que nasce de baixo para cima, e não um favor do estado “multiculturalista”. Os meus amigos protestantes constroem os seus templos em locais que não têm a dignidade imperial da grande Mesquita de Lisboa. Às vezes, passamos pela rua e nem sequer percebemos que está ali uma igreja naquela loja ou subcave. Porque é que existe esta diferença de tratamento? Porque é que os muçulmanos têm de ter um templo aparatoso do ponto de vista arquitectónico numa cidade que despreza protestantes e que tem vergonha das igrejas católicas desde o pombalismo?

O carácter de uma pessoa vê-se no modo como ela reage quando alguém lhe quer tirar alguma coisa. Mas o carácter de uma pessoa também se vê no modo como ela reage quando alguém lhe quer dar alguma coisa. Infelizmente creio que somos todos muito bons a reagir quando nos querem tirar, mas fraquinhos a reagir quando nos querem dar. E há coisas que nos querem dar que nós não devemos aceitar. Tirar não é uma coisa sempre má do mesmo modo como dar não é uma coisa sempre boa. A vida é mais complexa.

Não estou a sugerir que os evangélicos não devem aceitar qualquer coisa do Estado. Mas estou a sugerir que os evangélicos só devem aceitar do Estado aquilo que faz sentido. Os evangélicos devem procurar construir e edificar as suas próprias casas de oração sem esperarem pela generosidade do Estado. Quem manda nos evangélicos são os evangélicos e não o governo. Por isso, é preciso avaliar bem o que dádivas governamentais podem significar no futuro.

Todos começamos a conhecer histórias tristes de como certas instituições evangélicas eram garbosamente evangélicas até aceitarem do Estado o dinheiro primeiro, e depois a própria orientação de como a instituição deveria funcionar. Cuidado. A separação entre igreja e o Estado não é uma frase para enfeitar os nossos lábios quando gostamos de dar uma de pioneiros da liberdade. A separação entre igreja e o Estado também deve ser uma frase para quando nos querem tirar a liberdade à custa do que nos dão.

Neste sentido, o texto do Henrique é formidável porque nos ajuda a ser justos com todas as minorias religiosas e não apenas aquelas que tornam o nosso multiculturalismo popular. Mas o texto do Henrique não pode ser um pretexto para os evangélicos abdicarem do seu carácter em favor do que o Estado pode fazer por nós. Ajudamos o Estado mostrando-lhe que há vida além dele.

quarta-feira, novembro 25, 2015

Agenda

De hoje a oito quero ver se tenho amigos em Lisboa. Quando foi no Porto, andei 300 kms para me sentir em casa.

terça-feira, novembro 24, 2015

Ouvir

Quando partilhamos a fé podemos ter a certeza que não acabamos onde começámos. Enquanto partilharmos a fé tendo uma ideia muito precisa do lugar onde queremos terminar, talvez não estejamos realmente a partilhar a fé. Esta é a verdadeira contextualização do evangelho: não tratarmos a Palavra como se ela estivesse ao nosso serviço, mas é sabermos que somos nós que estamos ao serviço da Palavra.

O sermão de Domingo passado, chamado "A Última Palavra na Praça", pode ser ouvido aqui.

sexta-feira, novembro 20, 2015

Um lamento

Os dias são fáceis quando, sendo cristãos, sentimos que a cidade que habitamos não está assim tão longe do que o céu vai ser. Mas quando os dias nos mostram a cidade mais como cativeiro, fica mais difícil. Hoje é um destes dias difíceis. Hoje é uma dia em que me sinto na Babilónia sem esperança de voltar a pôr os olhos em Sião.

A tentação é a auto-comiseração. E a auto-comiseração é muito perigosa porque vem com uma capa de humildade. Mas é uma arrogância. A auto-comiseração mete-nos a sentir pena de nós próprios porque, bem vistas as coisas, os outros, que não nos merecem, não nos tratam de acordo com aquilo que achamos que valemos. Para mim a maior tentação hoje, que vejo a adopção homossexual ser tratada como um progresso civilizacional, nem é tanto o ódio aos meus adversários. É o amor doentio por mim mesmo. É achar-me o salvador da minha existência e da existência dos outros.

A cura é diferente. É manter-me judeu na babilónia, não desistir dos outros quando já desistiram de nós, é querer construir quando já só vemos ruínas nos maiores monumentos da cidade. Porquê? Para que os outros se rendam às evidência da minha força de carácter? Céus, não. A força do carácter dos homens é o que nos levou aqui. É apenas para insistir na imitação de Cristo. Cristo na cruz. A ressurreição virá depois e não há como queimar etapas.

Cristãos: andamos a trabalhar muito mal (é escandaloso o modo como católicos e evangélicos assobiaram para o lado). Temos de trabalhar melhor. A nosso favor e a favor dos nossos adversários. Baza.


quinta-feira, novembro 19, 2015

NA PARTIDA DA TIA NIETA - Porto, 18 de Novembro de 2015

Juízes 4: 1-9, 17-24



O pregador não se enganou no texto: lemos intencionalmente sobre duas mulheres de guerra para louvarmos o nome do Senhor na partida de outra mulher de guerra, a Tia Nieta. O Deus da Bíblia é criativo e bastante aventureiro nas misturas que faz, por isso só uma mulher com um grande coração pode ser uma mulher pronta para a luta. Foi assim que a Tia Nieta viveu a vida inteira, certamente inspirada pelo exemplo de mulheres como Débora e Jael.

No Velho Testamento os grandes homens e as grandes mulheres não aparecem em épocas fáceis. Tal como depois da morte de Eúde, em que os israelitas voltaram a fazer o que era mau aos olhos do Senhor, a Tia Nieta não viveu dias em que as pessoas lhe estendiam passadeiras vermelhas para que falasse de Jesus. Tal como Débora para Baraque, a Tia Nieta não comunicava uma mensagem fofinha para os seus ouvintes. Se Baraque sabia que Deus lhe ia dar a vitória mas isso significava que tinha de pegar em armas, a Tia Nieta dizia que a salvação estava ao alcance das muitas crianças que a ouviam mas isso significava arrependerem-se dos seus pecados e confessarem o nome de Cristo. Débora e a Tia Nieta eram porta-vozes de um evangelho de amor que não nos torna amedrontados mas corajosos.

Vivemos dias em que o evangelho de amor é confundido com evangelho de amedrontamento. Louvamos Deus Filho que precisou de morrer na cruz mas desejamos que o sangue dele não nos tinja a roupa. Desejamos viver em paz evitando todas as guerras. Mas tal como Débora, Jael foi uma mulher que sabia que não há vitórias sem mãos fimes em cima dos nossos inimigos. Jael assim o fez literalmente: agarrou numa estaca e espetou-a fundo no crânio de Sísera, o comandante do exército daquele que oprimia o povo de Deus, Jabim. Foi uma mensagem pregada e pregada sem margem para equívocos.

Não será mórbido ler um texto destes num funeral? Afinal, não estamos nós todos suficientemente convictos de quão desagradável é a morte para ainda estarmos a ser expostos a mais uma neste texto bíblico? Acontece que a morte que este texto da Bíblia nos conta deve ser entendida tendo em conta o que a Bíblia quer fazer com a morte. E o que é que a Bíblia quer fazer com a morte? Logo no início do primeiro livro da Bíblia está explicado o plano em relação à morte. Em Génesis 3:15 Deus diz à serpente, que acabou de levar Eva e Adão a pecarem, que colocará “inimizade entre ela e a mulher, entre a descendência [da serpente] e a descendência [da mulher], e a descendência da mulher ferirá a serpente na cabeça e a serpente ferirá a descendência da mulher no calcanhar”. Ou seja, o plano da Bíblia é matar a morte. O objectivo do evangelho é matar a morte. O objectivo de Cristo é matar a morte. Jael espetou bem fundo a estaca na cabeça de Sísera para nos lembrar que o plano de Deus é matar a morte. Mais ainda. Jesus foi espetado numa cruz para, contra todas as expectativas, fazer daquela aparente derrota a maior vitória de todas. Jesus foi morto para matar a morte.

Como podemos ter a certeza que este plano tem pés para andar? Porque aquilo que costuma assegurar que a morte tem a última palavra não funcionou com Jesus. O que é que costuma assegurar que a morte tem a última palavra? A sepultura. Ora, não houve sepultura que conseguisse segurar Cristo. Isto significa que o maior trunfo da morte não tem qualquer efeito com Cristo. E mais ainda. Se a morte é for uma espécie vírus que não conseguiu contaminar o sangue de Jesus, então todos aqueles que tiverem o tipo de sangue de Jesus ficam igualmente imunes à morte. Se houver, como a Bíblia diz que há, a possibilidade de sermos feitos da mesma família de Jesus por sermos adoptados por aquele que é Pai dele, então quer dizer que ganhamos extraordinariamente o direito que a Jesus assiste por natureza: termos comunhão eterna com Deus Pai. É isto que o Espírito Santo garante na vida dos cristãos.

Como é que este plano para matar a morte funciona na prática na vida daqueles que crêem em Cristo? Afinal de contas, é diante de um corpo sem vida que nos encontramos agora. Jesus esteve a brincar com as palavras quando nos prometeu vida eterna? Não. O Apóstolo Paulo explica-nos bem o funcionamento de todo o processo usando uma metáfora agrícola (em 1 Coríntíos 15): quando semeamos alguma coisa não enterramos o resultado final mas a semente, que parece muito insignificante comparada com aquilo que se há-de colher. Com o plano do evangelho para matar a morte é a mesma coisa: o nosso corpo fisicamente morto não é o que vamos colher mas o que vamos semear. Logo, o corpo morto e enterrado funciona como um símbolo da semente do corpo da ressurreição. As pessoas que achem isto uma história da carochinha são provavelmente pessoas que nunca gastaram tempo a comparar uma semente com uma árvore. Não é preciso fantasiar para entender a ressurreição – só é preciso estar atento à natureza à nossa volta.

Agora imaginemos como o Apóstolo Paulo remata este texto que explica o processo de Cristo matar a morte (em 1 Coríntios 15:55). Paulo vira-se para a morte e faz-lhe uma pergunta descarada. Morte, com que coisa pontiaguda vais conseguir vencer isto que Cristo fez? Qual é a tua estaca, ó morte? Morte, Jesus ao ressuscitar espetou-te na cara a vitória, e agora como é que o vais picar? Onde está a tua vitória, morte? Onde está o teu aguilhão? Há uma mensagem clara ao longo de todas as Escrituras: a cabeça da serpente esmagada é um sinal que Jesus mata de uma vez por todas a morte. Aquilo que Deus fere, o Diabo não tem como curar. Por isso o Diabo e a morte serão lançados no Inferno (Apocalipse 20:14). É uma imagem forte porque não mascara a exigência dolorosa de como se conquistam as grandes vitórias. A dor participa no processo da cura. Foi isso que Jesus nos ensinou na cruz. É um belo paradoxo.

Hoje não pedimos explicações a Deus por nos ter levado a Tia Nieta. Antes pelo contrário, agradecemos a Deus por nos deu a Tia Nieta por 88 anos. Ainda por cima, vejam bem!, deu-nos uma mulher cheia do Espírito Santo. Não resisto a fazer desta homenagem um aviso a todos os que aqui se juntam, especialmente aos homens. Não esqueçamos que o exemplo de Débora e Jael também sobressai pela cobardia generalizada nos homens à volta delas. Baraque foi um homem sem juízo e sem honra (é isso que o texto também diz em Juízes 4:9). Homens, vamos continuar a fazer da nossa passividade um motivo para serem as mulheres a terem de pegar nas armas?

Num espaço curto de tempo assisti a três funerais no nosso contexto baptista que dizem que os nossos heróis estão a partir. Partiu o Pastor Daniel Machado. Partiu o Pastor João Rosa de Oliveira. Partiu a Tia Nieta. Onde estão os seus sucessores nestas igrejas pelas quais eles deram a sua vida? Vamos continuar a confundir o evangelho de amor com o evangelho do amedrontamento? Onde estão os novos pastores para investirem corajosamente as suas vidas nas nossas igrejas? Onde estão as igrejas a investir corajosamente nos novos pastores? Não aprendemos nada com o evangelho pregado e vivido pelo Pastor Daniel Machado, pelo Pastor João Rosa de Oliveira, pela Tia Nieta? Desperta, Débora! Levanta-te, Baraque!

Que o Senhor nos ajude.
 

terça-feira, novembro 17, 2015

Ouvir

Se somos acusados injustamente, defendamo-nos. Os cristãos caem muitas vezes no erro de confundir o sofrimento por causa do evangelho com a indiferença à injustiça.

O sermão de Domingo passado, chamado "A Palavra diz «defende-te» e «não te defendas»", pode ser ouvido aqui.


quinta-feira, novembro 12, 2015

A cena é

Pregas, escreves e cantas.

quarta-feira, novembro 11, 2015

Peregrinações

Apanhar comboio em Gaia às 9h, estar em Lisboa às 12h, ir a pé de Sta. Apolónia à Lapa numa hora. Temos a noção do privilégio que é vivermos num país que metade se vê numa manhã?

terça-feira, novembro 10, 2015

Logo




















Olhó aqui nas mãos! Logo às 19h. Vejam bem que até vou cantar e tudo. E a Helena Vilaça vai falar e o Jorge Oliveira ler. Querem melhor programa ainda por cima gratuito?
Ouvir

Pregar com vida também é saber quando se usa a palavra que mata tudo. Pregar a palavra também é usar a palavra fatal. Neste discurso do Apóstolo Paulo esta palavra fatal é gentios, aqueles que não sendo judeus também podem ser alcançados pelo evangelho.

O sermão de Domingo passado, chamado "A Palavra a pôr fogo na praça", pode ser ouvido aqui.


segunda-feira, novembro 09, 2015

Talento




















Maria Cavaco a fazer aos 11 anos o seu primeiro cartaz para um concerto.

quinta-feira, novembro 05, 2015

No ar

Tenho o privilégio de ter boas conversas com bons amigos católicos romanos. Mas conversar com um judeu é um privilégio raro. Agora imaginem que me foi dada a oportunidade de conversar com o Pedro Gil (que é um bom amigo meu) e com o Isaac Assor, moderados nós pelo Henrique Mota. Isto tudo captado pelos micros da Antena 1. Para quem não ouviu na rádio, pode ouvir aqui.



quarta-feira, novembro 04, 2015

Já está nas bancas

A Revista Ler onde escrevo sobre o Apóstolo João e sobre o Padre António Vieira.

Ao contrário da ideia moderna de velhice bem vivida, não há paisagens serenas a adormecerem [o Apóstolo] João. Fogo, enxofre, sangue, tremores de terra, tsunamis, impérios que caem, entre outras cenas, dificilmente constituem uma ansiada aposentação. Mas também é esta disponibilidade para ver o que mais ninguém quer ver, que ao ancião João dá um vigor que quem dera à rapaziada de agora. Uma coisa parecida aconteceu com o Padre António Vieira. (...) Ambos tiveram velhices abençoadas vendo coisas que não dão para auto-retratos digitais, mas que nos dão a verdadeira juventude que foge num mundo de maduros em selfies adolescentes.

terça-feira, novembro 03, 2015

Ouvir

Se, como Jesus disse, dar é melhor que receber, provavelmente no fim da nossa vida vamos arrepender-nos mais do que não demos do que daquilo que recebemos.

O sermão de Domingo passado, chamado "Pregar de Peito Aberto", pode ser ouvido aqui.


É chegar
aos 19 minutos da 3ª sinfonia de Bruckner que isso passa.