terça-feira, março 31, 2015

Calvino põe mais energia no nosso esqueleto que um six-pack de Red Bull
Ainda na semana passada estive numa palestra sobre Calvino e a Predestinação na Igreja Evangélica Lisbonense. É caricato que até nos lugares que supostamente mais devem ao contributo de Calvino, ele continue a ser temido. As pessoas têm medo de Calvino. Porquê? Sinceramente, eu acho que o medo de Calvino é mais pequeno que outra coisa que, essa sim, explica o susto: a preguiça. Quando não nos damos ao trabalho de trabalhar, todo o trabalho parece assustador. Quando não lemos, todos os escritores podem parecer monstros. O medo anda quase sempre de mão dada com a preguiça.
Este paragrafozinho manhoso para vos fazer um copy paste. Como sabem, mantenho um blogue só para a leitura das Institutas de João Calvino (aqui: Lendo as Institutas). É um blogue daqueles que dá trabalhinho - tem de ser ler e tem de se escrever sobre o que se leu. Na Conferência Fiel que assisti na semana passada no Seminário da Torre da Aguilha bem se falou sobre isto. Mas quem falou foi um pastor brasileiro e, por isso, os pastores portugueses ouviram e provavelmente pensaram: "tá bem, abelha, que isto aqui é Portugal e cá os pastores não têm igrejas que valorizem a leitura séria da Palavra e o estudo da teologia". É demasiado radical a minha opinião? Certamente. Mas acredito nela a sério. Enquanto isto não for mudado pelos portugueses podem mandar vir cá o Billy Graham que as coisas ficarão iguaizinhas.
Ora, segue um texto sobre a parte das Institutas que li hoje. Pessoal: Calvino é massa! Não é preciso ser-se calvinista para perceber isso. Calvino põe mais energia no nosso esqueleto que um six-pack de Red Bull porque se apercebia que tudo se resume a louvar o Criador. Sim, louvar o Criador. Calvino não é o monstro que fazem dele. Calvino é dos maiores contribuintes para eu estar cada vez mais carismático. Dêem-se ao trabalho de ler. Segue o texto!

É longo este oitavo capítulo do segundo livro das Institutas. Trata da lei moral e dos Dez Mandamentos. Calvino inicia-o explicando que o louvor que deve ser suscitado a partir dos mandamentos continua em força para nós, cristãos. Devemos sentir o mesmo que os judeus sentiram quando receberam o Decálogo: uma aprendizagem acerca da piedade ao mesmo tempo que uma aprendizagem acerca da incapacidade de cumprir este Decálogo, produzindo um consequente temor por Deus e uma necessidade por um mediador. O verdadeiro auto-conhecimento é que se gera a partir daqui. Uma pessoa que não percebe a necessidade da personalidade de Cristo é uma pessoa que não percebe nada acerca da sua própria personalidade.
Por um lado, o que os Dez Mandamentos dizem já está inscrito na consciência de qualquer ser humano, numa forma de lei natural. Por outro, se o que os Dez Mandamentos dizem não for agitado dentro de nós pelo próprio Espírito Santo, a nossa consciência continuará adormecida. Isto é interessante. Porque explica que, se a nossa consciência já tem como lidar com o conteúdo do Decálogo, ao mesmo tempo só o pode fazer devidamente se for chocalhada pelo poder do próprio Criador. O Decálogo ensina claramente aquilo que a lei natural apresenta obscuramente.
A Lei (neste sentido, é equivalente ao Decálogo) serve para nos fazer entender que a nossa resposta a Deus tem de ser na prática da justiça, pureza e santidade. Porque essas são características da personalidade de Deus, que aprendemos através da Lei. Logo, a consequência desejável da convivência da Lei é bastante negativa mas necessária: "uma desconfiança da nossa capacidade, e uma ansiedade e trepidação de mente." Esse desespero é o que nos fará entender que, se Deus não nos ajudar, não teremos qualquer hipótese. Uma pessoa que confia em Deus precisa antes de desesperar pela sua ajuda. Sem desespero inicial, não há um cristianismo autêntico.
Mas ter uma reverência pela justiça de Deus só não chega. É preciso amar a santidade de Deus ao mesmo tempo que se odeia o pecado - a obediência é um produto desta simultaneidade (nós hoje temos muita dificuldade em obedecer porque o evangelho não é pregado na sua integridade, mostrando a necessidade de odiarmos o pecado - hoje não obedecemos porque não odiamos o pecado). Nesta questão da obediencia Calvino precisava de a explicar longe das invenções romanistas, em que muitas leis eram criadas sem terem qualquer fundamento na Palavra de Deus. O tipo de obediência a leis de homens não agrada a Deus - antes pelo contrário, é um tipo de obediência vã e que coloca o homem no centro. A verdadeira adoração a Deus é uma obediência ao que Deus pede. É a partir daqui que entendemos que lidarmos com a Lei da maneira certa é certamente lidarmos com o seu autor - perceber o que Deus manda é perceber quem Deus é.
É esta compreensão do carácter de Deus que nos faz entender a Lei no seu todo e não apenas na sua parte. O legalista é uma pessoa que entende a Lei apenas na sua parte porque ignora que a obediência à Lei respeita a personalidade de quem a criou. O que é que isto quer dizer? Que quando eu me lembro que o autor da Lei é perfeito e integra totalmente a realidade espiritual na realidade física, é absurdo eu cumprir a Lei na forma sem permitir que ela se cumpra no meu coração. Na verdade, o legalista é alguém que parece que cumpre a Lei mas, de facto, não a cumpre. Por isso Jesus passou a vida a malhar em legalistas. O legalista julga que cumpre a Lei pelo facto de seguir os seus aspectos formais. Mas o seu coração fica incólume a ela, revelando na prática que o legalista, ainda que inconscientemente, torna o autor da Lei tão imperfeito como o modo como ele a cumpre. Uma pessoa que cumpre a Lei na sua forma mas não no seu conteúdo é alguém que faz de Deus a mesma coisa. Um legalista não é uma criatura da Lei mas da carne. Por isso o Senhor Jesus não foi um legalista mas alguém que cumpriu ele mesmo a Lei. Porque o Senhor Jesus sabia que cumprir a Lei era respeitar o carácter de quem a criou - Deus. Deus, cuja forma não difere do conteúdo, dá a Lei para que ela seja cumprida em obras e no coração - segundo a sua própria natureza. "In saying that this is the meaning of the Law, we are not introducing a new interpretation of our own; we are following Christ, the best interpreter of the Law."
Um dos problemas do legalismo é que ele vive da aparência do cumprimento da Lei. O legalismo parte do princípio que, desde que nenhuma regra seja quebrada, a Lei é cumprida. Mas essa não é a lógica da Lei. Quando nós olhamos para os Mandamentos rapidamente nos apercebemos que cada um deles encerra em si um universo. Como? Quando, por exemplo, lemos no Sexto Mandamento que não devemos matar, não é só de uma proibição que se trata. Não matar é certamente uma proibição mas comunica também muitas afirmativas. Calvino explica que é o Sexto Mandamento que nos deve fazer ajudar a vida da pessoa à nossa volta com todos os meios que tenhamos ao nosso alcance. Um legalista está-se nas tintas para isto. Um legalista julga que nunca matou ninguém por nunca ter interrompido o batimento cardíaco de nenhuma criatura. Mas um não-legalista sabe que não matar ninguém é muito mais do que isso: é servir a vida de todos os outros à nossa volta. A Lei é muito mais que uma aparência de cumprimento.
Por que razão é que os Mandamentos surgem então tão abreviados? Para que a nossa consciência possa ser acordada com a pior manifestação dos nossos pecados. Nesse sentido, a Bíblia diz “Não Matarás” para que nos impressionemos com o pior que pode acontecer com a nossa atitude de indiferença à vida dos outros. Isto na prática significa que o pior que podemos fazer com a nossa indiferença à vida dos outros é matá-los, de facto. Mas significa também que matamos o nosso próximo de outras maneiras que não chegam ao homicídio. A Lei de Deus é completa porque, ao resumir-se em Dez Mandamentos, nos revela breve e eficazmente um oceano de pecado em que podemos cair. "A ira e o ódio não parecem tão maus quando são designados pelos seus nomes; mas quando são proibidos sob a designação de assassínio, compreendemos melhor como são abomináveis à vista de Deus."
Deus dividiu a Lei em duas tábuas para na primeira compreendermos como devemos louvar e, na segunda, como esse louvor transforma o modo como nos relacionamos com os homens. E isto é importante porque coloca no louvor a Deus a base de toda a ética. Não é por eu ser bom que louvo a Deus. É o oposto: é porque louvo a Deus que posso ser bom. É esta lógica que permite o resumo que em Mateus 22:37 Jesus faz da Lei, enquanto amar a Deus e ao nosso próximo como a nós mesmos.


segunda-feira, março 30, 2015

Modern Culture de Roger Scruton
Li “Modern Culture” há uns anos. Gostei muito. Mas o problema de ler um livro há uns anos é que, se não voltamos a ele, provavelmente pouco dele nos fica. Acredito que há livros que são como família: o calendário tem obrigatoriamente de lhes dar lugar. “Modern Culture” merece ser uma espécie de Natal ou Páscoa e tem de acontecer volta e meia. Até porque, da meia dúzia de volumes que li do Roger Scruton, este me parece aquele que melhor sintetiza o seu génio.
O meu apreço por “Modern Culture” vai ao ponto de o achar matéria de catequese. Durante o passado mês de Fevereiro assim fizemos na Lapa, chamando o Henrique Raposo (um leitor atento de Scruton) para nos falar da nossa relação com a dita cultura moderna. Fiquei com vontade de voltar a repetir o programa. Quem quiser encomendar um estudo de “Modern Culture”, conte comigo.
Resumo aqui “Modern Culture” em três pontos: 1) a valorização da fé enquanto fundamento da cultura; 2) a desvalorização da fé contemporânea que nos quer fazer crer que é possível construir uma cultura do lado de fora; e 3) a sugestão de um fio condutor para a sobrevivência da cultura (neste caso, a high culture).
Roger Scruton é um cristão anglicano mas não escreve “Modern Culture” com um propósito de evangelização. Quando pega na fé, Scruton quer outra coisa - explicar que não é possível falarmos de cultura sem compreendermos que é a religião que a constrói. Isto não quer dizer que Scruton tem o seu objectivo principal em apelar a que ganhemos religião para sermos verdadeiramente cultos. Mas, seguramente, quer que entendamos que não é possível lidarmos com a cultura sem lhe descobrirmos uma relação necessária com a religião. Se não vamos ser santos no futuro, ao menos que compreendamos a santidade que se esperava da cultura no passado.
Este princípio é bem necessário para todo o tipo de ignorância. Quer a ignorância religiosa que demoniza a cultura como terreno do diabo (e os meus irmãos evangélicos caem bastante nesta tentação), quer a ignorância culta que demoniza a religião como terreno da superstição (é impressionante como as luminárias da cultura portuguesa ainda entretêm esta cantilena).
As mesmas pessoas que descartaram a fé como terreno insuficiente para a cultura, construíram um novo tipo de fé que acredita que a única cultura boa é aquela que se constrói imparcialmente, do lado de fora. Nesta nova fé Scruton não crê. Esta nova fé muito deve ao Iluminismo e a chamada pós-modernidade (Scruton prefere chamar-lhe de pre-emptive kitsch) é sua herdeira fiel. Se a voz autêntica da pós-modernidade não descarta completamente a cultura da nossa civilização, por outro lado só a aceita com muita perturbação. Vejamos o exemplo do tal kitsch preventivo (a arte pós-moderna). Hoje em dia os artistas manifestam a sua soberania estética através do escárnio a tudo o que supostamente pode ser sagrado. Tornámo-nos uma cultura de aspas. Citamos e citamos muitos outros para não termos de confessar nada como nosso. A ironia desta arte fica à mostra: ela é mais um desejo de ser arte que uma condição artística real. O kitsch preventivo julga-se melhor que a falsa emoção do kitsch porque quando vende o seu produto, vende também uma suposta sátira de si mesmo. A ironia banaliza-se. Quentin Tarantino é rei (e o tema Tarantino é-me caro porque provoca-me alguma ambiguidade).
Scruton atira-se bem à cultura contemporânea porque não tem paciência pela infantilidade que ela exige. A transgressão, valor instituído pela cultura pop, acaba feita num novo tipo de conformismo. Toda a transgressão se torna previsível. A inclusividade narcisista da cultura juvenil fica presa no presente. Vejamos alguns pequenos símbolos quotidianos: o graffiti. Scruton repõe o grafitti na sua génese paleolítica. Ele é um símbolo de rejeição da palavra escrita. Afinal de contas, a palavra escrita é o símbolo mais vívido que possuímos de uma competência adulta; é o primeiro obstáculo colocado à frente da criança que cresce.
Permitam-me uma nota pessoal. Eu cheguei a pichar uma ou duas paredes. Também passei a minha fase graffiti (o hardcore punk dos anos 90 na linha de Sintra era assim e o meu tag era Cawa). Talvez por isso, ofende-me que hoje as Câmaras Municipais sejam agentes de promoção do graffiti, numa alegada amostra de consciência cultural. Não sei quem sai pior da fotografia: se o Presidente da Câmara a dar uma de Príncipe de Bel-Hair, se o pintor urbano feito agente governamental. Céus, é bizarro.
Scruton explica depois a origem do intelectual, o indivíduo que nos assegura que só podemos manter uma cultura a partir do lado de fora (uma nova metafísica, portanto). O intelectual é uma herança da Igreja Ortodoxa onde a pessoa se tornava eminente por abandonar a vida quotidiana. Ora, quando a fé desaparece, permanece o estatuto sagrado sem o conteúdo dela - a intelligentsia. O intelectual francês de hoje não descende dos revolucionários do seu país de 1789, mas do Partido Comunista Francês, herdeiro da Rússia. O intelectual é o novo monge dispensando os habituais constrangimentos sociais e ascendendo à estratosfera moral. O intelectual de esquerda (gloriosamente satirizado por João César Monteiro na cena da prisão das “Recordações da Casa Amarela”) malha impiedosamente no clero porque ele é o novo clero. Scruton não poupará sobretudo homens como Foucault e Derrida (sobre o último: “Deconstruction is neither a method nor an argument. It should be understood on the model of magic incantation”).
Outra nota pessoal. Protestants don’t do intellectuals. Os protestantes não são uma cultura de intelectuais porque a nossa santidade é medida em trabalho e não em abandono dele. Nós conseguimos perceber melhor a semelhança que existe entre os místicos católicos e os intelectuais niilistas porque ambos sugerem uma vida solucionada pelas virtudes da ascese. We don’t do ascese.
Por último, Scruton apresenta o fio condutor para a cultura sobreviver. Esse fio pede uma high culture. É ela que pode até sobreviver à religião que a gerou. Ao que ela não pode sobreviver é ao triunfo da fantasia, do cinismo e do sentimentalismo (as piores doenças contemporâneas). Porque a fantasia, o cinismo e o sentimentalismo são a moeda de um mercado que em nada crê mas onde todos os substitutos dessa ausência podem ser comprados. “Culture is rooted in religion, and the true effect of a high culture is to perpetuate the common culture from which it grew - to perpetuate not as religion, but as art, with the ethical life transfixed within the aesthetic gaze” (pág. 149). Se a cultura quer sobreviver, tem de manter a sua postura crítica. “Only if we teach the young to criticize do we really offer them culture” (pág. 151). Lá está, há trabalho para fazer. Não vamos lá de outra maneira.

sexta-feira, março 27, 2015

Hoje no Público


















Directo ao assunto, mas directo ao assunto à antiga. Tiago Lacrau, que é Tiago Guillul, apelido enterrado após a edição do magnífico V, e que é, como o actual apelido indica, um dos Lacraus, homens do rock’n’roll que encararam o lobo em 2011, escreve no interior do álbum agora lançado um mapa de referências. Coisa ecléctica: vai de Tom Waits aos Guns N’Roses, dos Censurados a Huey Lewis & The News, dos Rancid aos GNR, de Tom Zé aos Queen. Quem lhe acompanha o trabalho não se surpreenderá. Tiago é um melómano de boa cepa, daqueles avessos a compartimentações estéticas estanques.
Quem o ouve aqui, neste Sou Imortal Até que Deus Me Diga Regressa, frase decididamente Guilluliana (apesar de pertencer a um sermão de Charles Spurgeon), encontra o homem da lírica inventiva, dado a proclamações inesperadas de efeito imediato (“Sugiro a minha sepultura para Capital da Cultura”), a provocações de que não se exclui (junta-se, enquanto “suburbano de Queluz”, aos “fadistas”, “à burguesia de Leiria” ou “à miudagem do Minho” que perdeu a frustração por ter ganho um Prémio Blitz) e a trocadilhos com cultura pop na ponta da língua (Qual é o meu tom, Zé?), a atacar o cânone rock sem sombra de subtileza. Rock directo, como escrevemos acima. Com citação ao metrómono Beastie Boys logo a início (cowbell e guitarra distorcida a marcar o compasso), com produção muito 90s (bateria metálica e som comprimido) e canções que seguem com rigor o mandamento inicial: “Nesta guitarra não há palheta, há gatilho, há um refrão que só sabe rimar”.
Em meia-hora, Lacrau acelera na estrada punk com refrão na ponta da língua (Respirar não dói), lança-se em rock para um rock de estádio que já não existe (e como não já não existe, “Os meus braços estão aqui” ganham travo lo-fi), recebe Nick Nicotine para a balada countryficada, gospel no horizonte (e no órgão em fundo), que é Música no coração e elabora um “back in da day” típico do hip hop em modo agitação rock’n’roll (e tem Ricardo, dos For the Glory, a gritar “Bíblia e ponta e mola / foi o que aprendi na escola / é preciso uma lâmina / para abrir o coração).
Treze canções em trinta minutos. Continua a ser um prazer seguir-lhe as letras e a pregação pelo futuro – ei-lo, por exemplo, a dirigir-se aos nostálgicos militantes: “Mesmo os cantores vivos que ouves / já morreram mas não sabem / quando lhes ouço o refrão / parece uma manobra de reanimação”. E continua a ser igualmente um prazer constatar que Lacrau é um larápio dos bons, utilizando a citação e modelos retirados à sua vasta discoteca caseira para delas extrair matéria sua.
O problema de Sou Imortal Até que Deus me Diga Regressa, onde ouvimos também, além dos convidados já citados, Tiago Bettencourt e Manuel Fúria, é ser demasiado transparente nas intenções e na concretização. É um comprimido de efeito imediato e deixa-nos com vontade de correr para próximo de um palco ocupado por Lacrau e companhia. Mas, como as paixões adolescentes (e, de certa forma, Lacrau regressa aqui aos amores musicais da adolescência), é um álbum de desgaste rápido. É provável, de qualquer modo, que fosse essa a intenção.

quarta-feira, março 25, 2015

Ouvir
Só pela graça de Deus podemos ter pessoas novas a cada Domingo, porque Deus, na sua nova aliança, prometeu alargar a qualquer nação, tribo, povo e língua uma relação consigo mesmo.
O sermão de Domingo passado, pregado pelo Filipe Sousa, pode ser ouvido aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, março 23, 2015

Sobre o livro "A Glória do Evangelho", do Pastor Manuel Alexandre Júnior

[Este pequeno texto serviu de base para a apresentação que fiz no Sábado passado, no lançamento do livro.]

É um privilégio nesta tarde participar do lançamento do livro do Pastor Alexandre. Para quem cresce numa igreja baptista em Portugal é impossível não ter gratidão pelo serviço que o Pr. Alexandre tem prestado à nossa denominação. Conheci esse serviço de mais perto quando entre 1997 e 1999 trabalhei no Departamento da Juventude da Convençã Baptista Portuguesa, numa altura em que o Pr Alexandre era o Presidente da Convenção, e durante 1998 e 2001, ao estudar no Seminário Teológico de Baptista, quando o Pastor Alexandre era o seu director e lá me deu aulas de Introdução ao Novo Testamento e Hermenêutica (foi um erro grave não ter feito o grego com ele na altura!). Desde 2012 que somos colegas no ministério pastoral e tenho apreciado o seu companheirismo, sobretudo tendo em conta que o meu percurso exige um esforço fraterno por parte dos pastores mais antigos.
Escolhi três aspectos acerca de "A Glória do Evangelho - Pétalas de uma Rosa em Flor". Poderia escolher muitos mais. Mas creio que estes podem ser a abertura do nosso apetite para lermos o volume que hoje é lançado.
Em primeiro lugar, senti-me atraído pelas histórias pessoais do Pastor Alexandre. E elas aparecem nestas páginas aqui e ali. Existem notas breves acerca da sua infância, acerca do seu surpreendente percurso académico, acerca das suas frustrações pastorais. Em todas elas senti-me com vontade de ler mais. Seria ridículo sugerir ao Pastor Alexandre que considerasse escrever uma auto-biografia? Creio sinceramente que não.
Encontro aqui uma das grandes carências das nossas igrejas - os nossos mais experientes e sábios partem deixando-nos escassos registos escritos de como viveram a fé. E os poucos que o fazem geralmente têm a sua memória pouco valorizada pelas comunidades que serviram ou, muitas vezes, pelas suas próprias famílias (recordo uma implacável limpeza que uma igreja baptista onde estive fez aos apontamentos escritos de um dos seus velhos pastores - foi tudo parar ao caixote do lixo sem qualquer calafrio). Precisamos de mais palavras escritas pelos nossos pastores para vivermos melhor a Palavra. Precisamos de mais histórias dos nossos pastores para vivermos melhores histórias. "A Glória do Evangelho" dá-nos devoção ao mesmo tempo que pontualmente nos oferece biografia.
Um segundo aspecto que quero destacar em "A Glória do Evangelho" tem a ver com a vocação pastoral do seu autor mas não só. Tem a ver com a vocação pastoral que o nosso país precisa. A determinada altura o Pr. Alexandre escreve: "Dou graças a Deus porque, a par de haver sido professor de universidades e escolas de teologia, de haver dirigido por décadas o nosso seminário e outras instituições, eu sou acima de tudo Pastor e ministro do Evangelho (página 39)." O nosso país precisa desesperadamente de novos pastores que valorizem o ministério pastoral e, como o Pr. Alexandre, possam dizer o mesmo. Mas, se olharmos à nossa volta, como é que este panorama pode ser concretizável? As nossas comunidades procuram realmente valorizar a vocação pastoral como a Bíblia a valoriza, chamando-a de "excelente obra"? E como é que pode ser concretizável com características semelhantes às do Pr. Alexandre? Onde estão as nossas comunidades preocupadas com um compromisso com a pregação da Palavra que a honre simultaneamente nas instituições evangélicas de ensino ao mesmo tempo que nas instituições de ensino da nossa cultura portuguesa mais abrangente? Basta colocar uma questão bem prática: quantas igrejas têm como objectivo promover a publicação (ou o apoio à publicação) de livros escritos por cristãos e que possam ser lidos por muitos mais?
Como terceiro e último aspecto, gostava de sublinhar em "A Glória do Evangelho" o seu amor pela igreja. Pela igreja universal vista nas suas manifestações locais. É impossível estimar a palavra escrita e é impossível estimar a vocação pastoral sem estimar também as igrejas locais. Esse amor pela igreja brilha ao longo de todas as páginas deste livro, mostrando que não dá para querermos ser cristãos por conta própria, longe de uma comunidade à qual pertencemos. Quando lia estas páginas pensei sobre o risco de amar a igreja quando a igreja nos dá o que queremos, ao invés de amarmos a igreja também pelo que lhe podemos dar e pelo que ela quer de nós.
Estas são apenas três razões para começarmos a ler "A Glória do Evangelho". Nestas meditações que o Pastor Alexandre generosamente nos oferece haverá muitas, muitas mais. Leiamo-las.

sexta-feira, março 20, 2015

Agenda dupla para amanhã











quinta-feira, março 19, 2015

Agenda
Porque é dia do Pai, é à Pai: sai Tudo É Vaidade, entra Pontos Negros. Quantas vezes é preciso dizer que não andamos a brincar?

quarta-feira, março 18, 2015

Ouvir
A murmuração é a prova que queremos ficar na mesma. Alguém que murmura é alguém que, com mais ou menos consciência, rejeita a ideia de Deus nos querer transformar. Alguém que murmura é alguém que, sob a liberdade de Moisés, comporta-se sob escravidão do Faraó.
O sermão de Domingo passado, chamado "Não há murmuração sem mentira, fidelidade sem teste e fé sem descanso", pode ser ouvido aqui (clicar em cima de aqui).

sexta-feira, março 13, 2015

As crianças são muito infantis
Há uns tempos tinha lido o Nuno Markl a falar de um livro chamado "As crianças são muito infantis". Apercebi-me que era um lugar no facebook que conta as viagens numa carrinha pão-de-forma de uma família com quatro filhos. Houve uma identificação natural. Uns dias depois recebo no correio um exemplar do livro. Fiquei todo contente, claro. Mas só à segunda vez que folheava o livro (que entretanto li num instante) é que me apercebi da mais original dedicatória que já me escreveram. Não é bestial?
Amanhã o livro é lançado na Fnac do Colombo. Nós não podemos estar mas desejamos todo o sucesso ao Fernando, à mulher e aos miúdos. Go, famílias numerosas e felizes, go!


quarta-feira, março 11, 2015

Orações juntas e separadas
A propósito da mensagem do Papa para a Quaresma, a Rádio Renascença convidou alguns representantes religiosos a darem a sua opinião sobre a oração (porque este foi um dos apelos de Francisco). Esse convite amável chegou até mim através da jornalista Ana Marta Domingues, com quem tive uma conversa breve e muito agradável (passará uma versão editada e resumida na emissão radiofónica). Foi uma boa oportunidade para partilhar a minha fé cristã num contexto mais alargado que o evangélico, apesar de não ser católico romano e de não observar a Quaresma (a rigor, a Quaresma dos evangélicos é todas as semanas e chama-se Domingo, como disse há uns tempos o Carl Trueman - mas não puxem por mim nesta moda que agora chegou às comunidades evangélicas mais dadas às tendências do momento).
O Papa diz coisas muito acertadas na sua mensagem para a Quaresma. Deixem-me dar conta de umas quantas. A primeira: Francisco critica uma indiferença generalizada, resultado de estarmos desligados de Deus Pai. E alerta que o conforto que procuramos e sentimos é talvez a melhor prova que estamos distantes do nosso Criador. O que é preciso para mudar isto? "Ouvir, em cada Quaresma, o brado dos profetas que levantam a voz para nos despertar." Nem mais. Só lá vamos pela Palavra do próprio Deus.
Uma segunda coisa muito acertada que Francisco diz propõe uma alternativa a esta indiferença. A alternativa é perceber como Deus é. Porque Deus é diferente de nós. Ele não é indiferente à realidade à sua volta. A prova que Deus não é indiferente é que ele deu o seu Filho para a salvação. Amén! Só podemos deixar de ser indiferentes se buscarmos para a nossa personalidade a personalidade de Deus.
Uma terceira coisa muito acertada que Francisco diz é a sugestão de um modo de combate a essa indiferença. A indiferença ao mundo combate-se sendo atento ao sofrimento dos outros e servindo esses outros. Só somos capazes desse serviço porque Jesus nos serviu primeiro. Sem a ligação a Jesus, não há boa vontade que nos permita um combate eficaz à nossa indiferença. É a partir daqui que o Papa elenca atitudes que dêem corpo a esse combate à indiferença. Surge a oração. Sem oração não podemos ter a pretensão de estarmos atentos ao mundo.
Isto é muito importante. Porque explica que a oração não é uma retirada do mundo, uma alternativa quando tudo o resto falhou. Muitas vezes é assim que a oração é pintada: é aquilo que se faz quando parece que mais nada há a fazer. É o contrário. Os Puritanos enfatizavam isto quando explicavam que é sob a oração que qualquer coisa pode ser feita. Orar é o verdadeiro e bom pragmatismo. Orar é onde o verdadeiro trabalho pode acontecer.
Por fim, há outra frase do Papa que quero citar: devemos "resistir à tentação diabólica que nos leva a crer que podemos salvar-nos e salvar o mundo sozinhos." Concordo totalmente. Qualquer ideia que sugira que podemos salvar-nos a nós mesmos e ao mundo tem uma origem: o diabo. É a partir daqui que podemos ser cristãos dependentes a sério do Espírito Santo e não da mãozinha que julgamos que lhe podemos prestar.
A Ana Marta Domingues ainda me perguntou qual a minha opinião acerca de orar com outras confissões religiosas. Expliquei que a partir do que nos diz Jesus em textos como Mateus 6:9-13 e na última ceia (Evangelho de João, capítulos 13 a 17), a oração é uma coisa que não funciona desligada da nossa ligação a Cristo que, por sua vez, está ligado ao Pai. Assim muito sucintamente: a oração é possível porque o amor de Deus Pai por Deus Filho nos alcança através de Deus Espírito Santo e então nós, que somos homens e mulheres alcançados nesta relação, podemos viver nesse amor. Só podemos orar porque o amor de Deus Pai por Deus Filho chega até nós através do Espírito Santo. Para os cristãos e oração é algo necessariamente trinitário. O que nos levanta uma impossibilidade de ter uma experiência com ela fora desta identidade trinitária de Deus.
Se eu tiver a pretensão de orar com um budista, ou com um muçulmano, ou mesmo com um judeu, não estou a partilhar com eles da mesma certeza acerca do Deus a quem oro. Porque um budista, um muçulmano, ou um judeu, coerentemente, e de acordo com as suas convicções, não concebe o Criador como Trindade. Isso significa que um cristão que se mete numa oração destas, deixa de ter na identidade de Deus o fundamento da sua devoção e passa a colocá-lo na sua intenção (por boa que seja). Segundo a Palavra, não há comunhão possível com Deus fora do fluxo trinitário. Eu não oro porque posso, eu oro porque Deus Pai me transmite o poder para (através do Filho e do Espírito Santo). Qualquer iniciativa de oração conjunta baseada nas melhores intenções dos homens mas desligada de Cristo está condenada ao fracasso - já é um deus estranho que se invoca.
Quando era miúdo havia em Queluz um centro comercial chamado D. Pedro III. No piso mais baixo havia uma fonte onde as pessoas atiravam moedas. Explicaram-me que atirar moedas para fontes (ou poços) era uma maneira de assinalar desejos que gostaríamos que se concretizassem. A oração não tem nada a ver com isto. A oração não é desejar com muito força e ter depois a esperança que a força com que desejámos vai ter poder de transformar as circunstâncias. Nesse sentido, creio que as orações entre confissões religiosas diferentes são parecidas com as moedas atiradas para aquela fonte do centro comercial D. Pedro III de Queluz. Como o Papa explicou bem, oramos "a Deus, para que todos nos abramos à sua obra de salvação." Essa obra tem um nome muito claro: Cristo.

















Esta imagem é a capa que a Christianity Today fez há uns tempos sob o sugestivo nome de "Pop Francis".

terça-feira, março 10, 2015

Ouvir
Na abertura do Mar Vermelho não comemoramos o facto de uns saírem sãos, salvos e secos e os maus saírem molhados e mortos. O que comemoramos é o facto deste episódio anunciar que viria um bom que daria a sua vida pelos maus e que isso torna tudo novo.
O sermão de Domingo passado, chamado "Ver ressurreição onde só parece haver destruição", pode ser ouvido aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, março 09, 2015

As estrelas não são muitas
Mas é preciso ter em conta que é um disco de punk criticado no Jornal de Negócios.


quinta-feira, março 05, 2015

Hoje a minha mulher faz 38 anos














Sou um homem muito abençoado!

terça-feira, março 03, 2015

Ouvir
Se nos assuntos mais vitais eu não me comporto com qualquer sombra de um padrão de sacrifício, mas, antes pelo contrário, espero que o mal seja resolvido como que por artes mágicas, então eu sei que me estou a comportar como crente nos deuses egípcios e não como crente no Deus da Bíblia.
O sermão de Domingo passado, chamado "Como a morte do primogénito se torna a maior festa", pode ser ouvido aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, março 02, 2015

Na Blitz
Na Blitz malhar no Luís Montez? Check!
Na Blitz malhar na própria Blitz? Check!
Leiam em baixo a entrevista feita pelo Rui Miguel Abreu e apreciem o retrato tirado pelo talento da Rita Carmo.



































Descreve "Sou Imortal Até Que Deus Me Diga Regressa" como um disco de rock directo ao assunto. Porém, parece carregado de alegorias - ou não?
- O pessoal da minha loja de discos preferida, a Flur, descrevia o disco dizendo que o grande valor dele é a comunicação. Nesse sentido, o facto das canções serem directas não implica que não tenham mais coisas para dizer do que parece à primeira vista.

Como é que se conjuga paternidade, fé e energia tipicamente juvenil?
- Hoje já não sinto a energia como tipicamente juvenil porque sai-me do pêlo. Dei tudo para me aguentar no concerto de lançamento. Fazer rock aos trinta e muitos é definitivamente diferente de o fazer na adolescência. Por outro lado, é o facto de ser pai e pastor que me permite ser mais disciplinado na hora de rocar. Se é para rocar, é para rocar. Não é para fazer as coisas pela metade. Apesar de ter muito menos tempo para fazer discos, faço-os de uma maneira muito mais intencional.

Andar permanentemente a mudar de nome é uma forma de passar entre os pingos da chuva da popularidade?
- Tinha de ser uma pessoa mais madura para querer passar entre os pingos da chuva da popularidade. É verdade que quis deixar de usar o nome Guillul também porque me sentia a dominar pouco o processo. Mas a mudança de nomes consoante os discos já era uma coisa anterior ao nome Guillul se tornar mais conhecido. A minha relação com a popularidade é complicada. Antes de haver algum reconhecimento público, armava-me em superior a esse reconhecimento. Depois de haver esse reconhecimento, é difícil não querer mantê-lo. Mas Deus vai-me ajudando a crescer.

A música é muitas vezes glorificada como veículo de energias individuais, de figuras singulares, mas no seu caso parece ser um nítido assunto de família: fala das suas filhas no press release, há a família musical que o rodeia, a família mais vasta da fé...
- Quando Deus me chamar, certamente as pessoas poderão falar nos meus discos. Mas a verdadeira herança que deixo é a minha família. Seria absurdo dar importância aos meus discos sem assinalar uma coisa que tem ainda mais importância. Percebo que haja quem prefira separar uma coisa da outra. Mas para mim, a minha família é a minha felicidade maior. Logo, não me importo de a esbanjar um bocadinho junto daqueles que têm paciência para me ouvir os discos. Por outro lado, se ainda continuo a fazer música, devo-o à FlorCaveira e às pessoas da minha igreja.

A capa do álbum homenageia o EP de estreia dos Minor Threat, de Ian MacKaye. No entanto, demarca-se da cultura straight edge...
- Nunca fui straight edge porque já era cristão quando conheci o straight edge. Mas lembro-me dos meus amigos straights me inspirarem por fazerem de práticas vistas como quadradas uma cena charmosa. Havia pessoal straight da Linha de Sintra que na década de 90 ia para o Bairro Alto com t-shirts a dizer "Drinking Sucks". How cool is that? Por outro lado, tenho pena que o Ian Mackaye e muitos straights tenham perdido a embalagem de outros tempos. Tornaram-se demasiado politicamente correctos. Hoje a cena punk não pode ofender ninguém. É uma seca.

A Flor Caveira foi apontada como uma espécie de salvação da música pop nacional. Cumpriu esse desígnio?
- Grande questão! Acho que a determinada altura o verdadeiro desígnio da FlorCaveira passou a ser ter de ser salva da tarefa de salvar a música pop nacional. Ainda estamos a tentar sobreviver a isso. Mas também seria hipócrita se não dissesse que acho que a FlorCaveira contribuiu decisivamente para que hoje existam coisas boas até para as pessoas que nunca ouviram falar de nós, ou mesmo para as pessoas que não nos suportam. Hoje quanto toco, sinto que toco para o meu pessoal. Já não me sinto a tocar para uma causa de salvação da música pop nacional. Isso torna-me menos delirante e mais dedicado a quem me ouve.

Quais são as canções de ódio do seu novo disco?
- Às vezes não dá para distinguir completamente uma canção de amor de uma canção de ódio. E o meu ódio, entenda-se, é um ódio amoroso (como cristão, tenho de amar os meus inimigos). Mas a 1ª do disco é contra quem toca rock com cinto de segurança; a 2ª e a 3ª são contra o facto de Portugal fazer poetas das pessoas que não compreende; a 7ª é contra o que o Luis Montez representa na música nacional; e a 9ª é contra quando o Blitz joga pelo seguro.

Finalmente, onde arrumaria o seu Prémio Blitz?
- Num lugar bem visível da sala da minha casa! Quando é que o Blitz volta a fazer aquelas galas sofisticadas dos anos 90 e a entregar prémios a sério?