sexta-feira, janeiro 30, 2004

A ver se nos encontramos na próxima segunda
Esta foi uma foi uma semana atribulada. Uma briga de rua com um bloquista e o computador avariado à entrada do weekend. É mais fácil crer no milagre do Mar Vermelho do que no futuro.
Dificuldade
Não é fácil compreender um evangélico. Um evangélico louva com frases como esta: "Regozijar-se-á em ti com júbilo". E canta-a em dois segundos. Deus abandonou-nos todos à linguagem. Mas com os evangélicos foi mais rigoroso.
Ouve-se
O portugueses só falam de Deus na morte. Triste vida.

quinta-feira, janeiro 29, 2004

Lá fora
Os muito bons Estrangeirados acrescentaram-me aos seus nomes próprios. Agradeço.
Não necessariamente o fumo

Sãos as vozes, meus caros, as vozes.
Desconforto na Nova Jerusalém
Um dos selos que consagra o cristianismo como a religião verdadeira é a sua crença obstinada na maldade humana. Não há evangelho sem pecado, culpa, tentação e fraqueza.
Possuo uma fixação pessoal por casas de banho públicas. Não enquanto do foro mobiliário dos desejos. Antes uma propensão para o conforto do oculto que presumo não jogar do lado do Éden.
Na altura em que estudava cinema cheguei a antever um projecto documental sobre os espaços sanitários das salas de projecção da capital. Felizmente que, como tudo é vaidade, dias mais espirituais acabaram por dissipar tão carnal ambição.
Estabeleço quadros de valores e virtudes que encaminhem a minha conduta para a medida da eternidade. Não sem uma ponta de amargura por saber que não havendo corpos físicos no Céu, a necessidade de instalações de higiene será apenas uma saudade perversa do passado.

quarta-feira, janeiro 28, 2004

Volto à arena
O André Belo aprecia o "radicalismo social de Cristo". Crê estar mais próximo dele do que "o reaccionário que apenas usa o cristianismo como o adorno de que precisa para legitimar as suas concepções conservadoras da sociedade". Sendo eu uma pessoa de fé, permita-me umas breves notas.
Não me poderia estar mais nas tintas para o radicalismo social de Cristo ou para a legitimação de concepções conservadoras da sociedade. Estas são abordagem objectivantes de quem nunca se cruzou com o Messias. Falar da fé é fácil quando não a temos. Dá para jogar ao Tetris com ela: pode ter a forma de um vago esoterismo humanitário ou a clareza dogmática de um discurso totalitário. O André coloca Jesus a não ser simpático com os ricos mas esquece-se de quando não foi simpático com os pobres (Marcos 14:7). Acontece que não gosto de brincar aos ventríloquos nesta matéria.
Uns dias Cristo faz-me ser cínico. Outros faz-me ser amável. Uns dias acerto. Outros nem por isso. Isto porque o sigo. O que crê divide-se atrapalhadamente entre o grito e o silêncio. Mas sabe que a propaganda pertence aos que clamam por Barrabás - os que nunca perdoaram Jesus por ter vindo por causa da alma e não por causa da política.
À quarta-feira também tenho um pouco de filantropo
Eu não quero mudar o mundo. Eu não quero transformar Portugal. Eu não quero melhorar as condições de vida do meu próximo. Mas estou certo que mudar a areia do caixote dos gatos era uma medida pedagógica para muito boa gente que conheço.
Balança
"God builds a church, the devil builds a chapel" diz o Tom Waits. E assim as coisas se vão equilibrando.

terça-feira, janeiro 27, 2004

Às vezes tem de ser III
Hoje explicava à minha mãe, filha de um pastor baptista com muitos relatos pessoais de perseguição religiosa no acólito Minho, que não posso olhar para a Igreja Romana da mesma forma como ela foi educada. Tenho conhecido alguns bons católicos. Continuo saudavelmente anti-ecuménico e a pensar que cada um deve seguir o seu caminho. Deus quando quer, trata de nos fazer cruzar as estradas. Isso é negócio dele. Não nosso.
Às vezes tem de ser II
Hoje na carruagem do metro li: "Não se apoie na porta". O meu proselitismo de rés-do-chão é semelhante. Faz um aviso equivalente: "Não te fies na virgem".
Às vezes tem de ser
O Pedro do Companheiro Secreto descobre que não reflicto um espírito propriamente ecuménico. É evidente. Referi que a Igreja Católica foi agente de entrave ao conhecimento das Escrituras. Repito-o quantas vezes for necessário. Quer nomes e datas?
O copista sorridente
Para acabar com a história da Bíblia manuscrita. Eu vou certamente escrevinhar versículos assim que a coisa chegue ao liceu da minha freguesia. Sou dos que aprende a copiar. Outros haverá que nem a copiar aprendem.
Nota: Façam favor de ler o que escreve o Fernando Martins nos comentários do último poste do André Belo.
De um cliente do Barnabé
O André Belo responde-me com humor. Devo deixar claro que o Barnabé é minha leitura diária. Mas os meus caros oponentes canhotos representam também aquilo que torna Portugal um país atrasado e tacanho. Isto é um lugar a frequentar com muita reserva porque nunca teve contacto com a Bíblia. Já antes aqui o escrevi. E se em tempos foi a própria Igreja Católica a vedar esta leitura suspeita, agora é a esquerda bloquista que enviesadamente receia a chegada das Escrituras ao sagrado domínio escolar.
Os Barnabés são ainda tímidos nas redacções que levam para trabalho de casa. Precisam de saber mais sobre a Palavra. Os Barnabés assustam-se com o "P" maiúsculo. A iniciativa da Bíblia Manuscrita nasce no seio da Sociedade Bíblica Portuguesa, que de católica tem pouco ou nada. O pudor levantado da promiscuidade entre Estado e Igreja é aqui descabido. Os Barnabés precisam de saber mais sobre o protestantismo. Que se inscrevam rapidamente e aproveitem para escrevinhar uns versículos quando a coisa chegar ao liceu da freguesia. Ganha a casa e o cliente.

segunda-feira, janeiro 26, 2004

Do exorcismo pressuroso dos demónios vendilhões de Bíblias
O André Belo arrepia-se com o projecto da Bíblia Manuscrita da Sociedade Bíblica de Portugal. Espera não haver "a participação do Estado nem de alunos e professores exteriores à opção de religião e moral".
O que eu mais gosto nestes copistas angustiados da catequese escarlate é o seu lado vigilante. Gentilmente repugnado com o comércio das Escrituras.
A esquerda laica e republicana é felina: arrebita as orelhas assim que ouve a chegada sibilante da Palavra. A sua ignorância é ternurenta: o nome Barnabé chega-lhes pela cantiga do Sérgio Godinho.
Registos fora da graça
Descobri o Diário de uns Ateus. Se fosse o caso de ser uma pessoa sem fé não me passaria pela impenitente cabeça juntar-me a qualquer tipo de congregação. Quanto mais de cépticos.
A visitar com frequência.

sexta-feira, janeiro 23, 2004

Tordesilhas gastronómicas
A minha amiga Patrícia levou-me ao restaurante indiano. A minha existência divide-se entre Antes e Depois da Kurma de Borrego.
O caso Arqueoblogo
O Marcos Osório do Arqueoblogo zangou-se aqui com a Voz. Talvez por ainda não ter respondido a um mail que me enviou há pouco mais de um mês. Acusa-me de ter um "um discurso ensimesmado e surdo, que não proporciona dados de investigação úteis". Não espero nada de homens da ciência que exigem mais informação sagrada implícita nas minhas linhas. Nem mesmo que me agradeçam o aumento do número de visitas.
Gentileza bracarense
A Comunidade Diocesana de Braga honra-me com a inclusão de um linque para este deserto.
A contabilidade das preces
Já aqui mencionei as orações de teor universalista da irmã L. São cosmos em expansão: desde "todas as crianças" à "paz no mundo". Mas é quanto intercede pelo marido e filho descrentes que as suas palavras se tornam importantes.
Quase todo o mundo perde tempo a orar por todo o mundo. São poucos os que o ganham por orar por poucos.
Vizinho do Mar
Onde andas tu?

quinta-feira, janeiro 22, 2004

Discurso W
Sobre o discurso de Bush dizem-se disparates sortidos. Cada um escolhe o chocolate que mais o agrada. Estou longe de dizer "amén" aos escassos excertos que ouvi da pregação. Um presidente não deve falar sobre santidade. Isso é matéria do sacerdote.
Vale a pena consultar o que escreveu o Andrew Sullivan sobre o assunto. Só confio em americanos para falar sobre a América.
Dirupta
O eterno dilema: uma brilhante derrota ou um estúpido sucesso?
Fui um espectador razoavelmente atento do último Big Brother. O mais rastejante e inepto de todos eles. Desprovido de escândalos domésticos e constrangedor na sua nudez de personalidades alarves. Uma Teresa Guilherme desapossada do leme e impaciente com as ondas. Enfim, a humanidade como ela devia parecer sempre: ranhosa e orfã.
Só os vencidos se podem aproximar de Deus.
Prontuário Evangélico
Os evangélicos invadem a blogosfera.
- O Toresco é do meu pastor e tio. Escreve fora do púlpito.
- As Palavras Que Voam são do meu amigo, e antigo colega de Seminário, Jónatas. Escreve do púlpito.
- O Jojobach é de outro Jónatas, que também foi meu colega no Seminário. Escreve do lugar do organista.

quarta-feira, janeiro 21, 2004

Obrigado
O Tiago Barbosa Ribeiro teve a gentileza de me enviar umas linhas sobre o Ary dos Santos. Sem gemidos e ofegâncias. Agradeço.
Sempre à mesa
Já aqui escrevi algumas vezes que não sou ecuménico. Mas no segundo dia da semana de oração pela unidade dos cristãos fui almoçar com o meu amigo católico Rui Almeida. Comemos aquele que, provavelmente, foi o pior bitoque das nossas vidas. E como o processo de regeneração é constante na vida do crente não vou fazer nenhum trocadilho de mau gosto.

terça-feira, janeiro 20, 2004

Dos Santos
Eu não conheço bem a obra de Ary dos Santos. Ouço os relatos empolgados de Carlos do Carmo e permaneço sem vontade alguma de contrariar a minha ignorância. Sinto um ímpeto de ser celibatário quando me enfiam orgasmos alheios pelos olhos a dentro.
Apóstolo relutante
A minha amiga Filipa suspeita de um recalcamento com a classe média suburbana. É óbvio. E de onde este veio há muitos, muitos mais. Qualquer profeta digno de seu nome tem um lado de Jonas. Uma Ninive a evitar.
A sombra de Job
O medo de que chegue o dia em que um anjo vem cobrar tudo o que imerecidamente temos de bom.

segunda-feira, janeiro 19, 2004

Uma coisa óptima e o germe de uma coisa menos boa
Com uma mulher grávida o telemóvel raramente se desliga. A rebelião contra os limites da humanidade é intensificada com o início da paternidade.
Da classe média suburbana
Os meus amigos da classe média suburbana queixam-se que muitas vezes não entendem o que eu escrevo. Os meus amigos da classe média suburbana lêem pouco. Os meus amigos da classe média suburbana são meus amigos. Eu também sou da classe média suburbana. Mas eu leio um bocadinho mais do que os meus amigos da classe média suburbana.

sexta-feira, janeiro 16, 2004

Resolução
Eu nunca li nenhum livro da Agustina. Provavelmente ela nunca ouviu nenhum dos meus discos. Temos de tratar do assunto.
A minha missão evangelística nos dias que correm
Que nunca me passe pela cabeça deixar de aborrecer os outros com as minhas concepções sobre a existência. Com muito zelo mas ainda mais cortesia.

quinta-feira, janeiro 15, 2004

A escolha do assento
O caro José preocupa-se com a possibilidade de eu ser calvinista. Uma das minhas tarefas existenciais, para além de encontrar um par de Levi's nuns saldos decentes, é ler as Institutas. Não posso ser militante se ainda não li o manifesto. Mas na medida em que Calvino desdenhava dos poderes do arbítrio humano, o caro Guia pode crer que é na congregação do sábio João que em breve me sentarei.
Das amizades
O meu bom amigo Scott George escreve-me para a caixa de correio da Voz. O Scott é um missionário americano com quem trabalhei em aventuras evangélicas há uns anos atrás. Uma das falhas das pessoas supostamente inteligentes desta terra é não conhecer algum missionário americano. De cada vez que a imprensa fala das manobras proselitistas dos protestantes estrangeiros fá-lo com uma dose tão grande de inanidade que é despertada a minha meiguice sectária. Ora, o nosso país é uma das nações mais convertidas do mundo. À religião da pêga bondosa e do intelectual amável. Por cada pio yankee que conheci na vida mais refinadamente apátrida se tornou a minha alma.

quarta-feira, janeiro 14, 2004

Passiva vingança
Ontem um evangélico, daqueles que quer transformar Portugal, quis fazer-me a folha. Pior que a ignorância só o voluntarismo.
Pequeno sermão de quarta-feira
A relação que se deseja com a lei é paulina. Tenho um conceito negativo dos mandamentos, por isso me apego tanto a eles. Quando ouço falar no espírito da lei sei que o meu lugar pertence na letra.
Uma das funções das regras é sermos levados a conhecer o mal. A partir daí a postura legalista é a forma mais empenhada de proteger a nossa alma.
A virtude da lei é saber que não há virtude em praticá-la. Mas que nos pode defender de asneiras maiores.
O que falta ao mundo inteiro não é paz. Mas a medida de guerra interior necessária para permitir a sensatez.

terça-feira, janeiro 13, 2004

A primeira imagem

Não podia ser mais apropriada: a morte de Calvino.
Regresso
Não é notícia em primeira mão mas o Escala Estantes está de volta.

segunda-feira, janeiro 12, 2004

O preço do pão
Vezes há em que a humanidade se divide entre aqueles que à mesa oram agradecendo pelo alimento e os outros. A questão não reside na beatitude mas na comida. Não há víveres bem mastigados sem uma prece.
Inesperadamente, um semi-aforismo musical
O que interessa é pôr as nossas mãos no último disco dos Strokes. O resto, meus caros leitores, é muito secundário.
Inesperadamente, um semi-aforismo devocional
O que interessa é levar a nossa criança ao Templo e apresentá-la a Deus. O resto, meus caros leitores, é muito secundário.

sexta-feira, janeiro 09, 2004

Nota de excessivo carácter intimista II
E num repente, o senhor de bata branca tornou o feijãozinho numa menina.
Novo Testamento
Para quem andar com paciência para aturar protestantes pode visitar este sítio: Os Animais Evangélicos. Ando por lá eu, os Bengelsdorffs, o Paulo Deusa do Blog Ribeiro, o Samuel Fora-da-Lei Úria, entre outros.

quinta-feira, janeiro 08, 2004

Carácter enxuto
Rebeca não tomava banhos de imersão porque lhe custava o desperdício de água. Condicionava a sua higiene à sujidade do mundo.
O inesperado positivista
O meu amigo Silas acredita "que um milagre é um evento explicável e que não contraria as leis físicas" e que "todas as pragas do Egipto (...) se devem a causas puramente físicas". Para além de tantas divergências possíveis a partir destas afirmações, desconfio sempre quando a religião não nos apresenta desconforto. Apóstolos esclarecidos só os que afirmam que outro mundo é possível. Eu, que tenho dificuldade em acreditar, fico satisfeito com a fé.

quarta-feira, janeiro 07, 2004

Sermão de quarta-feira
Ouço falar na controvérsia à volta dos quadros de Paula Rêgo para a Capela do Palácio de Belém. Andam alguns católicos escandalizados com a figura da virgem a parir o Deus Menino. Ora, nós, os protestantes, que libertamos José do jugo de uma vida sexual frustrada após a concepção invulgar da esposa, não deixamos de achar alguma graça a quando os romanos se indignam com imagens. Os cristãos desejam-se arrombadores de arte sacra, considero.
Muito mais espiritualmente pornográfico são os toques dos telemóveis, meus irmãos.
À mesa
Retribuo o abraço fraterno ao José do Guia dos Perplexos. Temos de combinar uma refeição inter-confessional qualquer dia.
Obrigado
Agradeço as referências feitas pelo Carlos do Contra a Corrente e pelo João do Fumaças.

terça-feira, janeiro 06, 2004

Um minuto
Só os amigos nos fazem quebrar o cuidado com o estilo. Seguirá um poste curto assim que a vaidade e o desejo de auto-promoção regressarem da pausa para o café.
Tentando responder ao Vincent
Lembro-me do Vincent desde que me recordo de existir. Para além de meu amigo, na adolescência tornou-se uma espécie de herói pessoal. Foi ele que me ensinou que por se fumar não se ia parar ao inferno. Foi ele que me fez entender o que era precisar de escrever para sobreviver. Provavelmente o Vincent é dos poucos escritores genuínos que conheço. E acima disto tudo a forma como ama o Senhor sempre excedeu os constrangimentos nascidos das suas incompatibilidades com o sistema.
Os adjectivos que usei não colocam em risco a admiração que tenho por ele. Nem tão pouco a nossa amizade já de muitos anos. E foram artifícios literários bem débeis, comparados com a crítica afiada que o Vincent desferiu àqueles que, como eu, se mantêm dentro das estruturas religiosas. Passo a tentar expôr a minha divergência.
Nas pessoas que se incompatibilizam com as instituições encontro quase sempre uma cegueira obstinada em olhar para si próprios. E uma crença infantil numa tese simplista: sozinho sou puro, acompanhado perverto-me.
Em comunidade temos o melhor de nós multiplicado uma série de vezes e temos o pior de nós multiplicado também uma série de vezes. A vivência comunitária da fé, a igreja, não foge a esta regra.
Em congregação, como noutra qualquer forma de vida em sociedade, deve existir uma perspectiva contratual da convivência: os pressupostos devem apontar as convergências necessárias do projecto comum que existe entre os indivíduos mas, simultaneamente, zelar pelo espaço da intimidade de cada um. Esse é intransponível. Neste sentido arrepiam-me as manifestações religiosas que sugerem um princípio de transparência total. Só Deus usa os óculos Raio X para o coração humano.
Quando me reúno com os meus irmãos às dez da manhã de Domingo em Moscavide, não reclamamos nenhum exclusivo das qualidades espirituais. Desenhamo-as, sim, enquanto alvos e sabemos que é impossível viver a nossa relação com Deus sem ser em comunhão. O Vincent, como bom protestante que é, sabe que é impossível que alguém numa igreja evangélica arrebate para si o termo ortodoxia enquanto defesa da verdade. Nós, os que em Portugal adoramos a Deus em garagens e lojas de rés-do-chão, sabemos que as nossas raízes escrevem no solo a palavra "heréticos". Não condenamos ninguém à obscuridade por se afastar da perspectiva única porque nós fomos os primeiros a fazê-lo. Quem quiser amordaçar a História só pode cortar relações com o futuro.
Acabo. A minha fé não valida a defesa da verdade. A verdade, existindo, nem sequer precisa de ser defendida, já dizia Kierkegaard. E eu acrescento: nenhum homem possui a verdade. A verdade é que possui alguns homens.

segunda-feira, janeiro 05, 2004

Delitos de ortodoxia
O meu amigo Vincent escreve sobre aquilo que ele chama a necessidade associativa religiosa. O termo mistura marxismo de caixa de fósforos com ponta de febre futebolística. Sugere que os institucionalmente ortodoxos são "homems e mulheres virtuosos, de fraque bíblico vestido, disputando quem será o maior no Reino dos Céus".
Mas o Vincent engana-se. Coloca-se de fora, como se fosse uma minoria. Mas a religião prevalecente é a dele. A dos politraumatizados dos institutos, dos místicos arrepiados pelo Arquivo de Identificação. Aproveito o Chesterton para dizer-lhe que a minha congregação, servil nos hábitos dominicais, já foi há muito suplantada numericamente pela sua, a da "convenção da inconvencionalidade, que por sua vez se liga à ideia de «não ir à igreja»".
Differentia
Eles quiseram expulsar-me da Biblioteca Nacional por levar um disco do Ozzy Osbourne debaixo do braço. Eles contra mim? Sempre. Não há amizade possível entre leitores do mesmo livro sob melodias diferentes.
Kleist iluminado
O BlogSobreKleist tem um poste sobre empregar "o termo "milagre", para qualificar eventos perfeitamente explicáveis, e que nem sequer desafiam com excessivo desplante os limites da verosimilhança". O Alexandre tem toda a razão. Leiam o texto. Às vezes é preciso um ateu para nos trazer o esclarecimento de Deus.
Obrigado
Agradeço as posições elogiosas em avaliações de blogues do ano que nos foram atribuídas pela Bomba Inteligente e pela Memória Inventada.
Regresso
Profetas decentes não metem férias. Mas adormecem à sombra das árvores. Depois de um sono passageiro a mensagem do arrependimento está de volta.