sábado, setembro 28, 2013

Mais um ano
Em que o Outono não chega, desaba.

sexta-feira, setembro 27, 2013

Keep it coming


Ponham na agenda


quinta-feira, setembro 26, 2013

Podia
"Wherever you turn your eyes there is no portion of the world, however minute, that does not exhibit at least some sparks of beauty." Podia ser a Susanna Tamaro no "Vai Onde Te Leva o Coração". Mas é o João Calvino nas Institutas.

quarta-feira, setembro 25, 2013

O Papa Solnado
A entrevista que o Papa Francisco deu recentemente traz boas e más notícias aos cristãos evangélicos. Comecemos pelas más. Creio que nenhum cristão pode ficar contente quando pessoas que se dizem cristãs têm um comportamento que não é cristão. Sei que estou a simplificar bastante mas a entrevista do Papa Francisco é uma má notícia para os cristãos evangélicos porque o Papa escolhe dizer coisas que, a meu ver e a de muitos outros, não são cristãs na medida em que não defendem os cristãos. Não tenho como ir a detalhe mas dou um exemplo. Em termos teológicos até há sentido em lembrar que o papel da Igreja não é concentrar-se nas questões da moral. Caramba, os protestantes são conhecidos por afirmarem a salvação pela fé, sem ponta de mérito a partir da conduta ética dos crentes. Em termos práticos ninguém se reconcilia com Deus por ser contra o aborto, a eutanásia ou a prática homossexual. Acontece que o Papa Francisco não critica a suposta obsessão moral da igreja para valorizar a fé. O Papa Francisco critica a suposta obsessão moral da igreja para valorizar o que está além dela. O Papa desdobra-se em afirmações de que o Céu aguarda pelos não-cristãos para que a vida dos cristãos não tenha de ser um Inferno. Roma não está interessada em concentrar-se em Cristo mas em relaxar os cristãos. E isso é péssimo. Até para nós, os que não não têm nada a ver com Roma.
A entrevista que o Papa Francisco deu traz boas notícias para os cristãos evangélicos porque os ajuda a passar uma mensagem bem simples. O Papa está a auxiliar o mundo a perceber que Roma não é o lugar para quem quer levar a sério a sua fé. Sei que com isto posso estar a ferir os sentimentos de muitos companheiros meus que são católicos romanos. E não tenho qualquer prazer nisso. Mas ao fazer esta grande generalização quero colocar o ónus da prova no próprio território romano e não no meu. Olhando para o que de tão diferente deste fez o Papa anterior.
Fui um seguidor atento (e até entusiasta) de Bento XVI. Porque quando lhe lia os textos sentia que, mesmo quando discordava, a minha fé era robustecida. Quero deixar isso claro: Joseph Ratzinger tornava-me, evangélico que sou, mais cristão sem ser por discordar dele (o dispositivo que geralmente acontece entre os evangélicos - os católicos romanos tornam-nos mais cristãos  na medida em que, sempre que nos parece que fogem do padrão bíblico, nos encorajam a por oposição imitá-lo). Joseph Ratzinger tornava-me mais cristão por concordar com ele muitas vezes. Nas outras, já estava habituado a seguir a minha divergência. Mas na grande parte das vezes o meu cristianismo saiu mais firme pela positiva ao ler Bento XVI. Quando Bento XVI resignou antecipei que o que viria a seguir dificilmente seria melhor mas tenho tentado manter a boa fé. Li a encíclica de Francisco com atenção (podem consultar aqui). Agora, chego à conclusão que o melhor da "Lumen Fidei" deve ter saído da caneta de Ratz.
Creio que Raztinger fazia bem a quem crê em Cristo (mesmo levando eu a sério as convicções romanas que creio que traem o evangelho bíblico) porque em último grau transmitia seriedade e excelência ao observar as dificuldades que a fé nos coloca num mundo que lhe é pouco amigável. Isto beneficiava quem crê mas também beneficiava quem não crê. Não foram poucas as pessoas descrentes que ouvi e li a elogiar Bento XVI porque sentiam nele uma voz a favor de uma vida em sociedade mais elevada e intelectualmente empenhada. Quando foi a última vez que um Papa foi associado a um debate estimulante? Ratzinger era admirado até por muitos daqueles que antes o odiavam porque sentiam ser de uma honestidade intelectual única que só fazia bem ao clima racional amolecido do Ocidente. Somos ajudados pelos que concordam connosco mas somos também ajudados pelos que não concordando connosco nos ajudam a discordar correctamente. Ratzinger era uma destas pessoas que ajudava crentes e descrentes.
Ora, e com todo o respeito, este Francisco, comparado com Raztinger, é um Raul Solnado da América Latina. Não porque seja um comediante. Mas porque parece estar ansioso por dizer em todas as ocasiões: façam o favor de ser felizes. Eu não tenho nada contra a felicidade mas tendo em conta os desafios que os cristãos atravessam nas sociedades secularizadas creio o tom de Francisco de uma falta de discernimento flagrante. A igreja nunca readquirirá relevância por tornar-se mais parecida com o mundo. O relevo é uma questão de diferenciação. E com isto não afirmo que a igreja tem de pregar uma moral que seja por definição diferente do resto. Não. A igreja tem apenas de pregar o evangelho e tirar consequências morais dele. O Papa Francisco está a recuar perigosamente nesta clareza de horizontes.
Num contexto que hiper-valoriza o convívio desde que cada um fique na sua este Papa parece o Sponge Bob numa festa da espuma. Não nos dá nada de sólido para nos agarrarmos. Fala-se muito de tom para não se falar de tronco. A suavidade pode até ser um valor no discurso público dos cristãos mas nunca à custa de se perder a substância. Pela parte que me toca, nós os evangélicos estamos cá para as curvas. Sobretudo não prometemos o Céu a quem não o quer porque o sequestro ainda é crime. Em relação às almas dos homens e das mulheres Roma não está a optar por ser sensível mas por ser sinuosa. Os gauleses tinham uma frase para isto.

terça-feira, setembro 24, 2013

Ouvir
O sofrimento permite a Job o seu melhor momento até então, que não assenta no facto de ter uma vida boa mas no facto de ver um Deus bom.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, setembro 23, 2013

O que creio que me aconteceu no dia 19 de Setembro de 2013
Uma parte dos que amam Blaise Pascal inveja-lhe tanto a inteligência como o que trazia no forro do seu casaco. Pascal passou por uma experiência mística que registou num papel que fazia questão de trazer sempre consigo, precisamente na peça de roupa que simultaneamente lhe tirava o frio e lhe fornecia calor espiritual. Hoje, que estupidamente dissociamos o vigor intelectual da fé, dava-nos muito jeito essa mistura de credo e trapos, de documentos pessoais de confiança em Deus naquilo que vestimos diariamente. O Memorial de Pascal, como foi chamado esse texto ortodoxo e febril, é cobiçado por mim desde que soube da sua existência. Porque também sinto falta de recordar horas que na minha vida se destacaram na confiança que coloco em Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Até hoje não tenho nada que possa ser comparado com o manuscrito de Pascal mas o que me aconteceu no dia 19 de Setembro de 2013 animou-me.
Na semana passada estive na Conferência Fiel. A Conferência Fiel é um encontro anual de quatro dias organizado pela Editora Fiel. A Editora Fiel é uma casa publicadora de literatura evangélica, de linha Reformada. Depois de alguns anos de pouco impacto nos leitores, durante as décadas de 80 e 90 demasiado encantadas com o movimento neo-pentecostal, a Editora Fiel revigorou-se nos últimos dez anos com o ressurgimento calvinista e tem atraído muita gente, mesmo fora dos que se identificam com esta orientação doutrinária. O irmão Edvânio veio do Brasil para Portugal para se ocupar do trabalho da Fiel em Portugal e o investimento na publicação de novos e bons títulos que chegam dos estrangeiro e na Conferência anual é notória. Esta foi a segunda Conferência Fiel que frequentei e as expectativas eram grandes sobretudo pela presença do Paul Washer, pregador baptista sensação no Youtube.
Com o Paul Washer veio o Franklin Ferreira, Pastor brasileiro autor da primeira Teologia Sistemática escrita em Português. O Franklin impressiona pela sua erudição e simpatia, combinação rara num miúdo de 43 anos. As suas palestras incidiram sobretudo sobre a vocação pastoral e foram um bálsamo para um meio evangélico que talvez esteja demasiado rendido ao pragmatismo (é bom termos pastores mas convém que os pastores não esqueçam como a Bíblia lhes enquadra a vocação). Impressionou-me também no Franklin o equilíbrio entre a sensibilidade à tradição história e a procura por uma dependência carismática. Temos de conhecer bem os dois milénios de Cristianismo e conhecer ainda mais o Espírito Santo. Não foi casual que o momento que mais me marcou, aquele que aconteceu na manhã do dia 19 de Setembro de 2013, tenha sido antecedido pelo Franklin Ferreira a falar de avivamento.
O meu objectivo ao falar do que creio que me aconteceu no dia 19 de Setembro de 2013 não é tratar com detalhe do instrumento humano que foi usado, o Paul Washer. Tentarei escrever especificamente sobre o Paul Washer noutra ocasião. Gostava de falar agora sobre o que foi possível através dele. O Paul Washer tinha como tema das suas palestras "O Verdadeiro Evangelho" (que era o tema geral da Conferência Fiel). Devo dizer que o tema facilmente pode irritar, pelo uso da palavra verdadeiro que tende a soar arrogante aos nossos ouvidos pluralistas. O que interessa sublinhar é que quando o Paul Washer prega sobre o evangelho acaba necessariamente por dissociar-se da maior parte das pregações que vêm do seu País, os Estados Unidos. Nesse sentido, não é fácil ouvir o Washer porque ele não hesita em desvalorizar (desvalorizar é eufemismo, neste caso é pura e simplesmente condenar) a rotina do grande meio evangélico norte-americano. Na pregação do Washer a afirmação de que, agora sim, vamos ouvir o que o Cristianismo é acaba por ser um pressuposto. Isto naturalmente tem-lhe granjeado muitos ódios e não o torna um pregador que nos apeteça ouvir sempre (pelo menos no meu caso). Para tentar ilustrar isto com uma comparação: Paul Washer é o anti-Tim Keller. Não porque divergem na doutrina mas na medida em que atrai ouvintes pela estranha manobra de se lhes mostrar aparentemente indiferente (e, apenas para salvaguardar confusões: da única vez que o ouvi a referir-se ao Tim Keller, numa conversa privada que tinha com alguns ouvintes, fê-lo de um modo fraterno). Washer está-se nas tintas para que o seu discurso soe interessante. Criou uma reputação de ser uma versão contemporânea dos velhos sermões de fogo e enxofre. O sucesso do Paul Washer talvez passe pelo modo Tarantino como é ouvido pelos miúdos. É perigoso e isso acaba por atrair uma geração cansada de pregadores ansiosos por tornarem a fé acessível a todos.
Nessa última manhã da Conferência o Paul Washer dedicava-se ao tema da Propiciação. Dizia que o assunto era dos mais escandalosamente ignorados entre cristãos e que isso é inadmissível. Basicamente expôs a Propiciação a partir de Romanos 3:23-26 e resumiu-a como o sacrifício que permite justiça, que possibilita que Deus possa perdoar pessoas que são culpadas. Na prática significa que Jesus não morre primariamente para nos salvar dos nossos pecados mas que Jesus morre para nos salvar do próprio Deus (sinners in the hands of an angry God, anyone?). Porque a ira de Deus com o nosso pecado é tal que não temos como pagar-lhe a dívida. Só o próprio Deus nos pode salvar de Deus. E fá-lo em Jesus. Isto não faz de Deus um monstro esquizofrénico mas apenas conclui aquilo que a Bíblia afirma: um Deus justo não pode ser indiferente à injustiça. O preço de tornar gente má em gente justificada foi grande e manifestou-se na vida do próprio Cristo, Deus encarnado. Nada disto era novo para mim, antes pelo contrário. Esta é a noção que tenho da salvação da minha alma, colocada pelas Escrituras em termos de algo que foi feito por mim e não em termos de algo que eu posso fazer por mim próprio (por isso chamo Jesus de Salvador e não de personal trainer). Mas naquela manhã relembrar estas coisas foi diferente.
Há no meio evangélico, e por conta das tais últimas duas décadas demasiado neo-pentecostais, uma tendência para valorizar momentos particulares na nossa relação com Deus na medida em que esses momentos registam suposta informação nova em relação ao Deus com que nos relacionamos. É essa obsessão, típica de uma geração mais fã de noticiário do que discernimento, que faz com que charlatães sejam recebidos nas igrejas de braços abertos porque alegadamente trazem revelações recentes da parte de Deus. Nem sempre os cristãos evangélicos se apercebem que esse expediente de nova revelação é um meio perverso de manipulação e domínio, porque em boa-fé nenhum crente quer desprezar o que Deus diz e a credulidade é o terreno do auto-iluminado. Com isto não quero dar a ideia que não creio que Deus se revela pessoalmente, além das Escrituras. Ou melhor, devo dizer antes e apenas que nenhuma revelação pessoal pode sobrepôr-se à revelação de Deus na Bíblia (os cristãos de Bereia são descritos na Bíblia como mais nobres que os de Tessalónica porque ouviram a palavra dos Apóstolos com avidez e exame no cânone velho-testamentário). E a razão pela qual escrevo acerca do dia 19 de Setembro de 2013 é precisamente porque senti que Deus falou poderosamente comigo.
"Deus falou poderosamente comigo" é um cliché entre evangélicos. O que quer dizer? Ou, pelo menos, o que quer dizer em relação à experiência que tive? No final do sermão do Paul Washer estava comovido. Estava comovido eu e grande parte das cerca de duas centenas presentes. Na minha adolescência era normal que os finais das reuniões da noite dos Acampamentos Baptistas de Verão fossem pontuados por muita choradeira. Tendemos nos anos seguintes a termos alguma dificuldade com aquilo que nos parece excesso de emoção adolescente mas a verdade é que algumas das decisões mais importantes que tomei na vida foram entre muito ranho e transposições de sol para mi menor. O que me aconteceu naquela manhã não foi igual mas em alguns aspectos parecido. Não regressei à puberdade mas pelo menos estive num lugar semelhante em que concordarmos com o que ouvimos produz um forte efeito em nós, visivelmente expresso nas nossas emoções. Talvez sejamos uma cultura tonta a prolongar indefinidamente a adolescência por não percebermos que algumas das melhores coisas que nos aconteceram lá não estão vedadas à idade adulta. O Tiago que por acreditar que Deus o salvou chorava desalmadamente aos 14 anos pode e deve continuar a chorar com a alma toda aos 35 pela mesmíssima razão. É certo que é provável que aconteça mais raramente. Mas também por isso será mais precioso.
Mas não expliquei o que me aconteceu no dia 19 de Setembro de 2013. E acho que não o vou conseguir fazer bem porque nem eu sei bem. Sei que senti as verdades em que creio há quase trinta anos de um modo intenso. Sei que essas verdades, não sendo informação nova para mim, me deram sentimentos novos. Sei que senti que devo falar aos outros acerca disso porque acima de despejar os meus arrebatamentos emocionais sobre a população está a origem deles - o Senhor Jesus salvou-me e isso é aquilo que garantidamente é o mais importante que tenho para comunicar nesta vida. Sei que este texto dá um pífio memorial, se comparado com o original do Blaise. Ainda por cima está um início de Outono ameno que não convida a usar agasalho. Se morresse agora ninguém encontraria um documento literário decente na minha roupa. Mas deixaria um esqueleto que no dia 19 de Setembro foi especialmente animado pela fé que me servirá para toda a eternidade.

quarta-feira, setembro 18, 2013

Dia muito especial, razão nº 2








Um amigo fiel como há poucos, nascido há 34 anos. Samuel Úria em modo Xungaria no Céu, ilustrado pelo Pedro Lourenço.
Dia muito especial, razão nº1


















Os meus pais casados há 42 anos.

terça-feira, setembro 17, 2013

Ouvir
Arrependimento tem a ver com o nosso DNA. Aquele que anunciou Jesus, João Baptista, pregava o arrependimento. Há uma dinâmica de arrependimento que tem de existir em nós. O mesmo aconteceu com Job quando Deus lhe respondeu: arrependeu-se.
O sermão do Pr. Nuno Ornellas, de Domingo passado, aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, setembro 16, 2013

Xungaria no Céu
Não é a primeira vez que faço parte da edição de um disco que é imediatamente disponibilizado na internet. Parece-me muito bem. Mas também me parece bem que seja adquirido por míseros cinco euros na loja. Só a capa feita pelo Pedro Lourenço vale isso e mais. Não me parece desajustado dizer que a festa que a Xungaria fez há dois dias no Porto foi séria. Por vos amarmos não nos contemos (do verbo conter). Ouçam já e, se puderem, comprem depois.
Clicar aqui (em cima de aqui).


















Só para terem uma ideia do espírito: Xungaria na Cordoaria foi Rei Leão.

sexta-feira, setembro 13, 2013

No sleep till Porto

 

 

quarta-feira, setembro 11, 2013

Tou Pronto


terça-feira, setembro 10, 2013

Ouvir
Em muitas ocasiões que sentes que precisas de ir para o hospital vais sentir que Deus te leva a passear no Jardim Zoológico. Ter fé passa por confiar em Deus mesmo quando te parece que ele se enganou no cenário onde te colocou.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, setembro 09, 2013

"Hermenêutica Bíblica" de Manuel Alexandre Júnior
Há cerca de um ano li a "Hermenêutica Retórica" de Manuel Alexandre Júnior. Quando o fiz foi numa altura em que lia outros livros que reavivaram a minha convicção de que quando Deus criou o ser humano, criou-o com um cérebro. Um ano depois continuo convicto que esta tese é tão antiga quanto urgente. Por isso, ao ler agora a "Hermenêutica Bíblica" do mesmo autor, sinto uma espécie de nostalgia pelo verão de 2012 em que a "Trindade" do Agostinho me devolvia a crença que os neurónios existem. O estudo da linguagem que Manuel Alexandre Júnior tem desenvolvido na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa deveria ser acarinhado por todos aqueles que nos nossos dias buscam por alguma racionalidade.
Talvez a melhor forma de resumir a diferença de "Hermenêutica Retórica" da "Hermenêutica Bíblica" seja o uso que a última faz da primeira para convidar os leitores a reconhecer o valor, a beleza e a consistência da Bíblia. Nesse sentido, as ideias centrais da "Hermenêutica Retórica" são relembradas e aplicadas na "Hermenêutica Bíblica". É uma aula prática depois da teórica (os exemplos de aplicação dessa hermenêutica integrada à Carta aos Gálatas e à Primeira Carta aos Coríntios são preciosos). Vale a pena não perder uma nem outra e, neste caso, ler os dois livros ("Hermenêutica Retórica" é edição da extinta e saudosa Alcalá e "Hermenêutica Bíblica" é edição recente, de 2010, da Sociedade Bíblica de Portugal, que tem livraria na na Rua José Estêvão em Lisboa).
Acreditar que a Bíblia é a revelação do próprio Deus dá mais trabalho do que acreditar que Deus não se revela. Porque quem acredita que Deus se revela tem o trabalho seguinte de compreender a revelação, tarefa que todos os outros podem naturalmente dispensar. A revelação divina, no modo como os judeus e os cristãos a percebem, é um processo que pede tanto olhos para ler como aquilo que fica atrás deles, miolos. Daí Manuel Alexandre Júnior ser um homem que por crer na inspiração divina das Escrituras se dá ao trabalho. A muito e a bom. Por exemplo, visível quando fala na questão hermenêutica fundamental: "que método devo eu seguir para descobrir com mais rigor o sentido do texto bíblico?"
O equilíbrio entre esforço intelectual e a crença que, em último grau, a melhor compreensão depende da própria intervenção de Deus é o que faz do cristianismo uma fé única. Não é de modo algum contraditória com o contributo que ofereceu para a cultura logocêntrica do Ocidente. Porque a Bíblia pede que pensemos mas declara que ninguém se salva a pensar. Ou seja, não nos redimimos num acto de lógica mas na pessoa que é o logos, Cristo. Claro que onde quer que o cristianismo recue, recuará necessariamente aquilo que Manuel Alexandre Júnior tem passado a sua carreira dizer: "o pensar bem pressupõe não só ter ideias e tê-las lógica e esteticamente arrumadas, mas também ter um estilo de vida, um viver em conformidade com o que se crê." Os cristãos acreditam que é possível pensar bem porque acreditam que o próprio autor do pensamento assim o fez e assim lhes permite. Essa permissão é na verdade um invasão graciosa do plano divino no quotidiano. Daí que o cristianismo se atarefe no raciocínio sem desejar qualquer logolatria. É paradoxal e apaixonante. A "Hermenêutica Bíblica" é acerca desta ginástica cerebral que não dispensa o coração.











P.S. E um obrigado ao meu primo Timóteo que me ofereceu o exemplar do livro.

sexta-feira, setembro 06, 2013

Aula de equitação para o sermão de Domingo
Deus não precisa de chamar burro a Job mas precisa de o fazer cair do cavalo de algumas considerações mais galopantes que tomou.

terça-feira, setembro 03, 2013

Imaculadas matanças
Parece-me que qualquer pessoa que gaste algum tempo a ver filmes tem de chegar àquela altura em que forma uma opinião acerca de Stanley Kubrick. Eu, que já passei tempo suficiente a ver filmes, ainda não sei bem. Assim à partida há três filmes dele que me impressionam: o "Shining", o "Full Metal Jacket" e o "A.I." (eu sei, eu sei, foi o Spielberg mas parece-me inegável que não haveria "A.I." sem Kubrick). Todavia ainda me sinto num lugar pouco firme. Tendo em conta que já há algum tempo vi também o  "Spartacus", o  "2001", o "Clockwork Orange" e o "Eyes Wide Shut" sinto que tenho de regressar ao bom Stanley a bem da minha bamboleante cinefilia.
Decidi começar por um que nunca tinha visto: o "The Killing". Esta é uma das primeiras coisas que me intriga no Kubrick (e nessa intriga vai um grande ponto a favor): o modo como conseguiu estabelecer marcas na história do cinema com géneros completamente distintos. Se qualquer pré-adolescente pode reconhecer o "The Shining" como um dos filmes mais assustadores de sempre, não é difícil que um amante do cinema clássico americano se encante do charme noir do "The Killing". Só este facto não é assinalável? Talvez não seja a ilustração mais sofisticada mas o Kubrick parece-me um Michael Jordan que abandona o basketball para ser tão bom ou melhor no golf.
Claro que qualquer pessoa pode dizer que não é assim tão raro um realizador competente em géneros distintos. Apenas para mencionar um exemplo já referido, o próprio Spielberg fez coisas únicas em terrenos bem distintos. Mas, e assumindo a análise prematura que faço do Kubrick, creio que o Stanley finta os géneros de um modo distinto. A cada filme, e por muito que varie o registo, sente-se sempre que Kubrick não trabalha géneros diferentes para variar mas que trabalha géneros diferentes para permanecer. E para permanecer no quê? Essa é para mim a questão mais interessante.
"The Killing" traz a história de uma golpada quase perfeita. O realizador para contar a história principal conta uma infinidade de outras histórias secundárias, trabalhando com uma habilidade rara no encadeamento não necessariamente cronológico dos acontecimentos (aquilo que a Wikipedia nos avisa ter servido de inspiração para o "Reservoir Dogs" do Tarantino). Seria sempre obrigatório notar isto na época em que Kubrick o faz em "The Killing", porque os anos 60 não estavam de beicinho como nós hoje estamos por pulinhos temporais nos filmes. Aliás, vale a pena dizer que talvez o excesso de truques na timeline por parte dos novos realizadores passe por mais facilmente conseguirem imitar as formas de novos habilidosos como o Tarantino, do que imitar os conteúdos (ou, dito de outra forma, párem de imitar o Tarantino nos dribles que geralmente os melhores golos que marca são de bola parada - o conteúdo). Kubrick, que filma "The Killing" com um estilo irrepreensível (basta ver o rigor fotográfico de cenas como a do sniper contratado quando treina no campo de tiro), sabe que é preciso chegar a um clímax que seja tão conseguido esteticamente quanto eticamente. O que atinge na última sequência, da mala do dinheiro.
Esta tal última sequência da mala do dinheiro é inesquecível porque está ao nível de toda a minúcia com que todas as outras foram preparadas mas porque, simultaneamente, sentimos que a supera. Quando nos recordamos de "The Killing" é difícil não recordar imediatamente que conta a tal história de um golpe quase perfeito. E quando pensamos na quase perfeição do golpe, pensamos também em como a última cena estraga tudo com a mesma impecabilidade com que tudo tinha sido arranjado. Dando a ideia que um acaso sem jeito tem mais força do que o plano mais esforçado. A sua dedicação é às aparentes pausas do sentido. E é aqui que chego a um ponto algo prematuro mas que parece possível de ser generalizado acerca do Kubrick: o quase é muito importante para ele. Stanley tenta ser total a filmar o que é incompleto. É de um tempo em que o rigor estético servia um horizonte ético. Kubrick será frequentemente chocante por ser intransigentemente íntegro com o que quer mostrar. Diria, para não variar, que é uma qualidade bíblica (e dos profetas do Velho Testamento em particular), ainda que os resultados variem. Pelo sim pelo não vou manter-me a rever-lhe os filmes.


Falta menos de duas semanas


Ouvir
Deus não olha para o sofrimento apenas como uma causa do pecado. O sofrimento passa a ser uma experiência cristã, não votada apenas ao reflexo da maldição. Quando sofremos é sinal que pode haver muito mais nesse sofrimento que apenas o nojo de Deus por nós. Não é à toa que Jesus nos salva sofrendo.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).