Red Cookies au Nostalgie
Os meus
canhotos preferidos atiram-se à religião. Escolhem, no entanto, Elaine Pagels, que é o mesmo que preferir a extroversão rural do Cais do Sodré à higiene recatada dos apartamentos do Saldanha. Mulheres da vida, cada um opta pela que mais o agrada. Entre as semi-heresias há umas mais crocantes mas a maioria vem com prazo de validade do século XIX.
Um sortido rápido então:
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não foi a Bíblia que criou a Igreja mas a Igreja Católica que criou a Bíblia" - se assim foi a Igreja fez um péssimo serviço. Sendo fruto da construção criativa de um grupo que busca a coesão o trabalho foi insatisfatório. A Escritura não aplaca as dúvidas. Nem tem "bons acabamentos". Por isso creio que é a Revelação. Pois sobrevive a uma natural fragmentação redactorial que não se preocupou em fabricar uma imagem cuidada.
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um jovem cristão (...) resolveu consolidar os cristão sobreviventes numa única organização mundial a que chamou Igreja “Católica” - só mesmo um ternurento comuna de um país católico pode reduzir o início e história do cristianismo a uma instituição agregadora e ortodoxa. A Reforma Protestante não inventou nada, grupos divergentes existiram desde sempre.
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o Estado procura sempre fortalecer-se com a religião quando entra em decadência, chamando à baila o “Deus” que Bush insiste em ter do seu lado" - esta história do Bush ser muito religioso nem para um assinante do Reader's Digest é tolerável. O Jimmy Carter, que a esquerda agora idolatra (por ter uma postura "pacifista"), sabia de cor os livros do Velho Testamento. Provavelmente o Bush não consegue enumerar sequer os cinco primeiros do Pentateuco.
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Tudo começou com S. Paulo. Apesar de ser míope, epiléptico, coxo, doente, misógino e feio, Paulo tinha a energia típica dos fanáticos e estava disposto a converter toda a gente ao Cristianismo" - confesso que a repugnância que a esquerda tem pelo apóstolo Paulo me é afrodisíaca. Dá-me sempre a necessidade de uns segundos de introspecção para recuperar a castidade dos meus pensamentos. Se num momento defendem que o Novo Testamento é uma impostura de um movimento religioso, noutro discorrem sobre Paulo com todas as convicções científicas, que nem a apologia mais pentecostal seria capaz.
Nota final: que a a canhotagem tenha problema com o Evangelho, é algo com o qual só me posso alegrar. No dia em que as Escrituras se tornem o
Manual de Bons Pensamentos para a Transformação do Mundo eu baixo um braço e levanto outro à cabeça com seis balas no tambor. Mas já que estão interessados em discussão, que não se fiquem pela pré-modernidade. A da construção fraudulenta serviu no tempo em que a humanidade cria em que o sucesso cognitivo nos ia entregar a chave da suíte da harmonia cósmica. Entretanto, passaram duas guerras mundiais, os trémulos e pegajosos dedos do Dr. Freud e o Duarte e Companhia. O que sobra? Rui Mendes e muita, muita confusão.
P.S. Ficaram ainda umas bolachas. Mas começo a ganhar barriga e a minha esposa já não me deixa devorar a caixa como antigamente.