A polémica que fazia falta
Nem todos os leitores recordarão. Há uns mesitos atrás fiz referência a um
blogue de actualização semanal no qual participo:
Os Animais Evangélicos. E se não alimentei alarde é porque o vejo voltado sobretudo para a mente religiosa. Ali, mais do que em outro lado qualquer, escrevo para crentes.
Com surpresa e agrado, um número razoável de católicos exprime o seu apreço por aquelas linhas. Não é fácil compreender e simpatizar com evangélicos. Eu próprio tenho as minhas dificuldades. Mas carrego a minha cruz diária. No entanto, uma interessante reacção ocorre. Indignação. Romanos higiénicos do costume, místicos orfãos de espiritualidade e discípulos das energias positivas, entre outros. Desta vez, o João do
Companheiro Secreto. Admitia ele, que nem o divã do Júlio Machado Vaz nos valeria.
Compreendo a dificuldade da tarefa. No corpo redactorial d'Os Animais, e dando um exemplo, o meu amigo Samuel Nunes tem ousado falar dos pecados da carne. Homossexualidade, pedofilia, aborto... ele expulsará o demónio. Desde o primeiro número que temos Arautos de Sodoma à perna. Como na praga de gafanhotos do Egipto. Os epítetos pulam: homofóbicos, medievais, fundamentalistas. Sei que não vale a pena perder tempo com corações duros em pijamas cor-de-rosa. E não sou tentado a ter grande respeito por pessoas que vivem sem sombras de remorsos.
Mas gostava de aproveitar a boleia das sugestões psiquiátricas do
João para referir algo, à laia de conselho. Se for um leitor atento, reparará que naquele conjunto humilde de articulistas não existe um diapasão único. Desde a esquerda moderada à direita calvinista, passando pelo anarquismo de uso privado, há de tudo um pouco. Uma convicção e uma crença comum, todavia. Um conceito decente de pecado. Sei que isto parecerá estranho vindo de um protestante, caro
João. Nós até reconheceremos a utilidade ocasional de um divã. Mas retribuo. Arranje um confessionário o quanto antes.