Calhaus do céu
O doutor Mário Soares anda assustado com as concepções pessoais religiosas do presidente Bush. Uma artigalhada da Nouvel Observateur esclareceu o sempre atento ancião acerca de algumas perspectivas teológicas sobre os finais dos tempos. Apocalipse e afins. É óbvio que metade dos evangélicos do nosso país chora de desapontamento com a respeitável figura.
Eu que sou uma criatura pós-25-do-4, assumo as minhas dificuldades com o
maravilhoso revolucionário. A iconografia de Abril não me altera a pulsação cardíaca. Embora já tenha andado de cravo ao peito e tudo. Tinha 16 anos.
Os evangélicos, que passaram um mau bocado durante a ditadura, abraçaram a democracia com tudo o que tinham. Confundiram, no entanto, os seus actores como seus aliados. Por isso, ainda no contexto das igrejas, parece mal quando uma pessoa se situa à direita.
As declarações do doutor Soares não me surpreendem. Este socialista sempre foi um ignorante bem-disposto. Basta ouvir as suas generalidades sobre
a América para o perceber. Evangélicos há que gostam muito do doutor Sampaio porque uma vez fez o frete de nos aturar num aniversário pomposo. Não há emenda.
A minha impaciência não se aplica aqui ao ex-presidente. Irrita-me sim que os patuscos evangélicos só se apercebam da inépcia dos seus heróis de jardim quando o meteoro lhes cai no quintal.