terça-feira, novembro 30, 2004

Questão transteológica
Por que razão hão-de merecer menos benevolência aqueles que não distinguem Paulo de Tarso de Paulo Coelho dos que não distinguem o Tony Carreira do Toy?
Os minutos que separam
Há quem construa altares na tarde de sexta-feira e se ponha nos copos à noite para disfarçar com vinho tinto o cheiro do incenso.

segunda-feira, novembro 29, 2004

Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele (Provérbios 22:6)
O bebé cá de casa parece gostar de ouvir o oboé. Aos seis anos vou experimentar-lhe o gosto pelo Pascal.
Quando os poetas não são entendidos
A Spectator da semana passada traz uma reportagem sobre a batalha de Fallujah. Diz que os soldados americanos punham o disco dos Rage Against The Machine no carro e tomavam gosto na tarefa de matar insurrectos. Sim, os vermelhíssimos Rage Against The Machine. Zack de La Rocha deve estar pior que estragado.

sexta-feira, novembro 26, 2004

Xau
Vou ali gravar o melhor disco de 2005 e volto já.

Levo este do piano, este do oboé e este da garganta.
Tetas
Malfeitores por natureza somos todos. Todos. Malfeitores por gosto somos só alguns. Só alguns.
Os Remos e os Rómulos que mamam na loba humanista que me perdoem.

Ansioso por pregar
A Igreja Baptista de Moscavide tem um novo púlpito. Que é um velho púlpito. Servia de armário da louça na cozinha mas com as recentes obras foi reabilitado. A aberração de acrílico que nos últimos anos sustinha a Bíblia do pregador foi agora, providencialmente, de lado colocada.

quinta-feira, novembro 25, 2004

Dicas para uma vida mais saudável II
Não queira compreender politicamente um povo se não apreciar primeiro a sua gastronomia.
Dicas para uma vida mais saudável
Assim que ouça alguma pessoa usar por duas vezes no espaço de cinco anos a palavra "fundamentalista" saiba que nada de realmente eterno pode dela receber.
Kierkegaard, uma vez mais
Os "Papers And Journals" do bom Sören, que comprei com quase lágrimas nos olhos, dizem a certa altura:

"It is our age´s tragedy that everyone speaks the truth - how much better it would have been to live in an age when everyone lied but the stones spoke the truth".

Depois de escrita uma coisa destas a pessoa pode morrer com plena paz de alma.

quarta-feira, novembro 24, 2004

Cão
Os meus leitores mais civilizados não conhecerão Dog Murras, esse grande cantor angolano. O Senhor castigará estas almas a seu tempo. Uma das suas cantigas diz:

"A cruz que eu trago
Jesus recusou
experimentou
não aguentou
".

Eu sou um homem religioso. E por isso aprecio uma boa hesitação teológica colocada em ritmo africano.
Iluminura iconoclasta
Neste desenho eu sou a criatura de mãos no rosto, perto da Palavra. O título é "Assim seja" após "A paz, no lugar do armagedão, antes de perigosos protestantes dizimarem higiénicos europeus". O original está aqui.



São visíveis ainda o Samuel Cadastrado Úria com um bigode de irrepreensível recorte e o Paulo Carteirista Ribeiro com os seus já ilustres óculo de Cobra, o braço forte da lei.
Para os mais esquecidos
O índio de ontem chama-se Yakari.

terça-feira, novembro 23, 2004

O meu último pecado
Não ter ido a tempo de escrever um versículo na Bíblia Manuscrita, esse granítico projecto inconstitucional, proselitista e homofóbico.
Qualidade
Qual é uma das minhas grandes qualidades? Gostar de índios mas igualmente de cowboys.



(Hoje em dia já não se pode dizer que se gosta de cowboys. Peço desculpa.)
Misturas
Pego no Cervantes e no Agostinho e levo-os para a varanda. O dilema cruza-me a consciência: devo levar também o leitor de CDs? Tenho já um White Stripes e um Zen Guerrilla postos de parte. Misturar punk rock com teologia é habitual neste T2. Não me tem sujado a doutrina nem espiritualizado o esqueleto.

segunda-feira, novembro 22, 2004

Da dificuldade com o imaginário
Há pessoas que têm dificuldade com o imaginário religioso da minha escrita. Absolutamente normal. Eu tenho dificuldade com o imaginário sexual da escrita de uns, dificuldade com o imaginário literário da escrita de outros, dificuldade com o imaginário económico da escrita de tantos. Caríssimos, istão não é a Dica da Semana. Mas umas folhas de um diário perdidas pelo autor. Que ainda não sabe bem se o fez de propósito.
Da falta de paciência
O maior problema dos ímpios? A falta de paciência. Ainda não começaram o cativeiro no Egipto e já querem a morte dos primogénitos. Não vale interromper o fabrico de tijolo para ir rezar. As gotas têm o seu tempo: primeiro o suor, só depois a lágrima.
Os quarenta anos de deserto são mais do que quarenta impaciências. A teimosia dos judeus não tinha limites: as águas do Mar Vermelho foram indignas demais para molhar as sandálias dos antigos escravos mas generosas o suficiente para engolir as quadrigas oleadas do exército do Faraó. Lição aprendida? Nem por isso. Só bocas demasiado ingratas comem pão do céu.
Um segredo simples: paciência, muita paciência, para a hora e o lugar onde o Senhor nos concede a entrevista. A cada Monte Sinai a sua sarça ardente.
Pergunta para os meus amigos católicos
A que santo se reza quando pifa o computador?

sexta-feira, novembro 19, 2004

Prenúncio
"Run for cover, motherfuXXXr!", Pass The Ducth, Missy Elliott.
Os protestantes estão na televisão. Ontem foram duas ocasiões: Causas Comuns na 2 e os Madeirenses Errantes no primeiro canal. Será o tal armagedão que os higiénicos europeus falavam mencionando o cenário americano? Eu sei que hoje acordei com sede de poder. E ainda não houve bebida que me suprisse a avidez.
Chatice
Um amigo disse que as pessoas que têm razão são chatas. Mas pior são as que sendo chatas não têm qualquer razão.

quinta-feira, novembro 18, 2004

Música III
"I'm a neon sign and I stay open all the time" (Amity, Elliott Smith, XO, DreamWorks Records).
Música II
Pergunta: Os U2 são ou não uma grande banda?
Resposta: São.
Pergunta: E há pachorra para eles?
Resposta: Não.
Música
Depois de ter visto "Paco Bandeira ao vivo em Cuba" (Alentejo) na RTP Memória tornei-me fã.

quarta-feira, novembro 17, 2004

Utilizador/pagador II
Sou contra as portagens na CREL. Não por uma questão política. Eu costumava ir lá com um amigo comer hamburgers ao Mac. Não há nada mais poético do que um MacDonald's numa autoestrada. Nos subúrbios a poíesis é assim. Estraga-se por taxas rodoviárias.
Utilizador/pagador
Blogues como os do Vizinho do Mar deveriam ser pagos. "Não tenho o futuro em grande conta. Falta-me o optimismo dos que não sabem que a realidade é apenas um pretexto para a redenção".
Poço literário
Eu tento ser o mais chestertoniano possível: dizer as verdades elementares em grande estilo. Não é nada fácil e só raramente sucedo. Mas o importante é ter um rumo. Tirar a água de um só poço. Estando inquinada ou não há que bebê-la até ao fim.
Troca
O Lourenço já há algum tempo que abandonou o projecto para se dedicar à complexidade e contradição.

terça-feira, novembro 16, 2004

Do ridículo
Eu tenho alguns amigos evangélicos que parecem sofrer do fígado por causa de George Bush. Julgo que o senhor do Texas os repugna por algum tipo de caricatura à qual eles, cristãos afáveis, estão imunes.
Urge ler Kierkegaard. Quem tanto do ridículo foge mais no ridículo cai. Estes crentes querem acreditar na ressurreição dos mortos ao mesmo tempo que lêem Daniel Sampaio. Misericórdia para as nossas almas!
Ciência
As escolas públicas devem ensinar que esta geringonça toda veio da macacada. Sublinhando que é uma teoria. Dando espaço para quem acredita que este geringonça toda não veio da macacada. Fui instruído a não crer no "grande chim-pum". Mas a conviver com o facto de que fosse o "grande chim-pum" a explicação para o início desta geringonça toda. Na América há cristãos que querem que não se ensine que esta geringonça toda veio da macacada. E que o seu primeiro momento não seja o "grande chim-pum". Reivindicam que o relato do Génesis deveria substituir a teoria da macacada e do "grande chim-pum". Não concordo. É bom que a escola ensine todos os despautérios possíveis como justificação das coisas. As criancinhas precisam de boas ficções. Por uma única razão. A realidade não se ensina.

segunda-feira, novembro 15, 2004

As melhores prendas de anos são as atrasadas
Qual é a vantagem óbvia do calvinismo?
Não acreditar no livre-arbítrio.
Corda
Na guitarra que toco na igreja a corda que mais se parte é o Lá.

sexta-feira, novembro 12, 2004

Logo
Cantar-se-ão temas como:
- A Isabel é intelectual (porque perdeu a virgindade na Feira do Livro) - mp3 aqui
- Tens um 666 escrito na testa
- Queluz está a arder
- A estranha via da monogamia
A hora de início, ao contrário do que o cartaz indica, é 20.30.

Otília
Otília coleccionava histórias de padres devassos. Embora não tivesse opinião formada acerca da doutrina do pecado original.
Para a harmonia da família
A verdadeira questão é: podem homens de trinta anos aprender a ronronar?

quinta-feira, novembro 11, 2004

Da razoabilidade
Anda para aí muito ímpio indignado com aquilo em que um cristão é capaz de acreditar. Parece que é inconcebível esperar por eventos tão raros como um fim do mundo de convulsões sobrenaturais. E se eu acreditar na Besta, no Apocalipse e no arrebatamento dos fiéis? A gentil alma incrédula é que tem de justificar a irrazoabilidade do meu credo. O mundo que conheço justifica bem o final do acto em apoteose metafísica.
Um exemplo. Por volta dos 18 anos fui a um concerto dos Pearl Jam. Entre uns quantos milhares de pessoas não vi uma única de origem africana. Se seguir à risca os pruridos racionalistas dos sacerdotes objectivos devo concluir que Eddie Vedder não gosta de pretos? Porque o intelectual nunca viu um milagre no caminho que faz diariamente da sua casa na Graça para o S. Luiz no Chiado isso significa que toda a Lisboa está vedada a anjos?
Até Tomé ficaria embaraçado no meio desta gente.
Uma equivalência
Na Marinha Grande, terra do meu pai, lembro-me do costume brejeiro de ensinar as criancinhas a dizer asneiras. Os adultos maledicentes riam que nem Barrabás a festejar com vinho a amnistia inesperada.
Hoje as coisas sofisticaram-se. Nas revistas semi-culturais da moda paga-se a senhoras de trinta anos para escrever textos com muitos palavrões.

quarta-feira, novembro 10, 2004

Do saudável equilíbrio das coisas
"And the whole damn place goes crazy twice
and it's once for the devil and once for Christ
"
(Leonard Cohen, Closing Time do álbum "The Future").
Abençoada a blasfémia do João Miranda
Querem-nos convencer que os EUA têm um problema de promiscuidade entre a igreja e o estado. Ora, se Portugal tivesse a constituição federal americana e se o nosso Tribunal Constitucional fosse constituido pelos juizes ultraconservadores do Supremo Tribunal dos EUA, as aulas de Religião e Moral, o estatuto da Universidade Católica, a atribuíção da TVI à Igreja Católica e a Concordata seriam declarados inconstitucionais.
Pequeno telegrama patriótico
Querido país stop Os nossos evangélicos são maus stop Mas os nossos ateus conseguem ser ainda piores stop.

terça-feira, novembro 09, 2004

O desenho do meu amigo Paulo tem de ser posto aqui

Título: "O país que temos. Soares e os malvados fundamentalistas religiosos. Bin é uma mulher. Bush vai ser pai do anticristo".
Piropo
"Your girl started lookin' good five beers ago" (cantiga "Runnin' Up On Ya" dos House Of Pain, do disco "Same As It Ever Was").
Gilbert Keith
O problema em ler Chesterton é que sobram poucas frases por sublinhar.
Casa de ferreiro
Há uma semana fui excessivo em chamar ignorante a Ferreira Fernandes. Os leitores da Voz sabem que os profetas se habituaram a falar muito alto e que quando chega a altura de sussurrar o volume nem sempre é o mais ajustado.
O escriba redigia assim na edição da Sábado de 17 a 23 de Setembro de 2004:
"Mas um grupo que é dado como ganho para o campo republicano, os Cristãos Evangélicos (igrejas fundamentalistas, geralmente de brancos), é menos monolítico no voto do que se pensava". E mais: "Um quinto dos brancos das igrejas fundamentalistas (como a Southern Baptist e a Assembly Of God) é pluralista nas posições políticas".
Ferreira Fernandes percebe pouco dos temas da minha paróquia, como reconheceu num e-mail espirituoso que me enviou. E eu reconheço que não era necessário generalizar sobre a sua ignorância. No meio de tanta fraqueza na carne venha o que atire a primeira pedra.

segunda-feira, novembro 08, 2004

Bum!
Viver na expectativa de ouvir o estrondo a qualquer momento.
Descanso
Não tenho muito a temer: a minha mulher zela para que tenha os impostos em dia e o meu pastor lê o meu blogue.
Adeus romano
O Valete Fratres foi-se embora. Um acontecimento que adquire uma ressonância semi-profética. O João Noronha foi a primeira pessoa dos blogues que conheci pessoalmente. Um papista como deve ser. É muito importante que não desapareça.

sexta-feira, novembro 05, 2004

É marcar nas agendas
De hoje a oito há concerto. Barulhento.
Proclamação
Há quanto tempo eu aqui não louvava o Senhor por ter inspirado no cavalheiro Osbourne uma obra tão excelsa quanto o "Paranoid" dos Black Sabbath?

Pergunta
Ora, para mim, que tenho orgulho na religião que professo e nenhum em ser de direita, que espécie de direita religiosa é a que se me aplica?
Go crazy
O meu bebé está fisicamente parecido com o Eminem.

quinta-feira, novembro 04, 2004

Atenção
O Pedro Mexia escreve sobre o pecado que lhe imputei.
O que eu gosto mesmo é de ver casas
A minha amiga Filipa nasceu a 1 de Novembro. No dia de todos os mortos, portanto. Resolvo comemorar a sua existência indo ver um DVD por ela oferecido. "Querido diário" de Nanni Moretti. Um grande filme. Sublime na sua inesperada mostragem de fachadas de prédios.

Uma achega
Eu apoiei Bush não pelo Presidente ter a Bíblia na mão esquerda. Mas por ter a espada na mão direita.
Vamos lá com calminha - em que o autor ilumina as almas em trevas para a natureza semi-salvífica dos Estados Unidos e oferece uma lição de História a discentes que chumbaram por faltas
Ainda andavam os quakers a fugir em caixotes flutuantes e já existia o que em muitas cabeças europeias nunca apareceu - uma concepção razoável de estado e de como ele deve conviver com a religião. Eu devo ser livre para acreditar que o Labour Of Love dos UB40 é revelação divina e, simultaneamente, o meu parceiro na fila da sopa deve poder achá-lo a pior e mais inenarrável obra discográfica de todo o cosmos. Cada um que use a garganta para proclamar a sua verdade. No final todos sorveremos a nossa tigela em paz.
O que isto significa na prática (para ajudar ímpios mal-intencionados): eu tenho de poder acreditar à vontade que a homossexualidade é pecado. E não posso obrigar ninguém a concordar comigo. Tem de haver espaço para sustentar todos os disparates. Até mesmo aquele que diz que somos criaturas feitas para nos entendermos.
Este é um país de ignorantes. E nos domínios da religião nem se fala (os encores são inevitáveis). Já a cavalo no século XVI os Baptistas na Inglaterra recusaram fazer parte da religião da Rainha. Não quiseram nada com o governo. Chamaram-lhes dissidentes e não-conformistas. Suaves proto-anarquistas, se quiserem. Resultado: um século XVII a estrebuchar sangue da boca às mãos dos anglicanos. Mas chega de História senão teria de mencionar a Suiça, a Holanda e a América e isto não é a ONU.
Estes neo-guardiões da tolerância imposta desconhecem um simples facto: um baptista defende, por natureza, a separação entre igreja e estado. E eu, sou baptista desde os 14 anos. Verdades de Estado são coisa de Lúcifer. Mas há muita gente a querer ganhar o campeonato na secretaria.
Olham para os EUs em achaques voltairianos. O Presidente diz "God" e é o código secreto para a insurreição dos fundamentalistas. Nunca lá foram, nunca leram o Mark Twain, nunca falaram com um da espécie, nunca salivaram em frente ao Dunkin' Donuts. O que eu não gosto em Bush nas suas suposições mais místicas é precisamente o mesmo que não gosto em qualquer pastor no púlpito da minha igreja - reivindicar o acesso exclusivo à vontade divina. Mas isso, estes polícias da boa-vontade não sabem porque não têm cultura nem interesse em saber. A melhor oferta dos cristãos? Espaço na cidade para beatos e malfeitores. Cada um deita-se à noite como e com quem quiser. O governo não mete a pata na alcofa nem na consciência.
Passei um fim do ano na pele do turista pindérico em plena Times Square ouvindo cânticos patriotas. A coisa assustou-me, pois claro, como qualquer outro gemido de multidão. Mas sei que os Estados Unidos da América são o melhor país do mundo. Porquê? Porque ofereceram Jerry Falwell e Anton La Vey, o perseguidor de Larry Flint e o mentor da igreja satânica.
Último e derradeiro conselho: lembram-se do clássico "A Deus o que é de Deus, a César o que é de César"? JC, o próprio, inventou. Agora posso continuar a fabular sobre efeminados carnívoros e suburbanos martirizados ou tenho de fugir já dos legionários?

quarta-feira, novembro 03, 2004

Este é um país de gente ignorante
Sobretudo nos domínios da religião. Já o disse tantas vezes que quase ruboresço. Mas vamos por partes.
- Ferreira Fernandes é ignorante: numa "Sábado" de há umas semanas atrás colocava baptistas e pentecostais no pack-promoção fundamentalistas-em-saldo.
- Mário Soares é ignorante (mas isso é mais uma coisa que de tão óbvia igualmente me faz ruborescer): malha nos metodistas acusando-os de serem perigosos born again christians.
- Os gays portugueses politicamente activos na blogosfera são ignorantes: para além de se documentarem sobre temas religiosos na Notícias Magazine vigiam as movimentações de fanáticos evangélicos como eu.

Explicações
1. Bill Clinton é baptista. Bush é metodista. Sabendo nós que os metodistas são na generalidade mais liberais na doutrina e os baptistas nem por isso, segundo a dedução desta patarata turba Clinton é mais fundamentalista que Bush.
2. A igreja baptista onde cresci na Rua 9 de Abril de Queluz tinha como vizinhos apenas umas portas à frente uma Assembleia de Deus. Dois núcleos de born again christians separados por tão escassas caixas de correio que a única comunicação que preservavam era a troca de lugares de estacionamento. Basta conhecer dois evangélicos de igrejas diferentes para saber que cada um trata da sua vidinha. Com pouco vagar para deixar a "mais poderosa nação do mundo dominado pela cegueira religiosa".
3. Os evangélicos nunca poderão ser fonte de preocupação por uma única razão: são classe média. Classe média não tem categoria para construir ditaduras.

Conclusões
Jornalistas, ex-presidentes da república e panascas vigilantes: parece-me um terreno bem mais fértil para dormir à noite com o coração nas mãos.
Prólogo
Imito conscientemente quatro pessoas na blogosfera: Pedro Mexia, Pedro Lomba, João Pereira Coutinho e Maradona-Causa-Modificada. Os Pedros deixam-me mal pela primeira vez - declararam a sua intenção de voto (a expressão é aqui perfeita) em Kerry. Com uma tese esfarrapadíssima de que Bush não cumpriu as suas obrigações. Eles sabem que estão enganados. E que a coisa menos sexy possível é votar Kerry. Quando se perde a vaidade em política, perde-se tudo.

terça-feira, novembro 02, 2004

Uma interpelação
Nesse grupo de universitários evangélicos houve um que no final se veio meter comigo. Fez uma graçola porque parece que estava à espera de outra matéria na palestra. Riu-se, grotescamente desfigurado, porque acha sempre muita piada às minhas derivas temáticas. Era um consumidor defraudado.
Tenho de reconhecer o meu fraco por consumidores defraudados. Eu tenho dificuldades em resistir ao demónio da entrega fraudulenta dos produtos. Não se trata de trabalhar em hotelaria e cuspir para o café do cliente antipático. Mas de oferecer descafeinado a quem nos pede bicas a tremer.
O dono da batida
Fui falar a um grupo de universitários evangélicos. Pediram-me que incidisse sobre a comunicação social. Mas à volta dessa maldição eu não tinha nada a acrescentar. Tenho sempre poucas novidades a dar. Sou bom sobretudo em lamentações. Pêsames, condolências e notas obituárias.
Urge equilibrar a balança. Se todos só pensam em dançar tem de haver alguém que marque o ritmo rangendo os dentes.
Apontamento genealógico
Passou-me uma coisa pela cabeça - uma máquina de rapar o cabelo, a pente três. O meu pai, ao ver, reprova o penteado. Ri-se e diz que no tempo dele só os que sofriam de moléstia é que o faziam. Agora são os filhos, quase trinta anos no BI, pais de brinco na orelha.