Vamos lá com calminha - em que o autor ilumina as almas em trevas para a natureza semi-salvífica dos Estados Unidos e oferece uma lição de História a discentes que chumbaram por faltas
Ainda andavam os
quakers a fugir em caixotes flutuantes e já existia o que em muitas cabeças europeias nunca apareceu - uma concepção razoável de estado e de como ele deve conviver com a religião. Eu devo ser livre para acreditar que o Labour Of Love dos UB40 é revelação divina e, simultaneamente, o meu parceiro na fila da sopa deve poder achá-lo a pior e mais inenarrável obra discográfica de todo o cosmos. Cada um que use a garganta para proclamar a sua verdade. No final todos sorveremos a nossa tigela em paz.
O que isto significa na prática (para ajudar ímpios mal-intencionados): eu tenho de poder acreditar à vontade que a homossexualidade é pecado. E não posso obrigar ninguém a concordar comigo. Tem de haver espaço para sustentar todos os disparates. Até mesmo aquele que diz que somos criaturas feitas para nos entendermos.
Este é um país de ignorantes. E nos domínios da religião nem se fala (os
encores são inevitáveis). Já a cavalo no século XVI os Baptistas na Inglaterra recusaram fazer parte da religião da Rainha. Não quiseram nada com o governo. Chamaram-lhes dissidentes e não-conformistas. Suaves proto-anarquistas, se quiserem. Resultado: um século XVII a estrebuchar sangue da boca às mãos dos anglicanos. Mas chega de História senão teria de mencionar a Suiça, a Holanda e a América e isto não é a ONU.
Estes neo-guardiões da tolerância imposta desconhecem um simples facto: um baptista defende, por natureza, a separação entre igreja e estado. E eu, sou baptista desde os 14 anos. Verdades de Estado são coisa de Lúcifer. Mas há muita gente a querer ganhar o campeonato na secretaria.
Olham para os EUs em achaques
voltairianos. O Presidente diz "God" e é o código secreto para a insurreição dos fundamentalistas. Nunca lá foram, nunca leram o Mark Twain, nunca falaram com um da espécie, nunca salivaram em frente ao Dunkin' Donuts. O que eu não gosto em Bush nas suas suposições mais místicas é precisamente o mesmo que não gosto em qualquer pastor no púlpito da minha igreja - reivindicar o acesso exclusivo à vontade divina. Mas isso, estes polícias da boa-vontade não sabem porque não têm cultura nem interesse em saber. A melhor oferta dos cristãos? Espaço na cidade para beatos e malfeitores. Cada um deita-se à noite como e com quem quiser. O governo não mete a pata na alcofa nem na consciência.
Passei um fim do ano na pele do turista pindérico em plena Times Square ouvindo cânticos patriotas. A coisa assustou-me, pois claro, como qualquer outro gemido de multidão. Mas sei que os Estados Unidos da América são o melhor país do mundo. Porquê? Porque ofereceram Jerry Falwell e Anton La Vey, o perseguidor de Larry Flint e o mentor da igreja satânica.
Último e derradeiro conselho: lembram-se do clássico "
A Deus o que é de Deus, a César o que é de César"? JC, o próprio, inventou. Agora posso continuar a fabular sobre efeminados carnívoros e suburbanos martirizados ou tenho de fugir já dos legionários?