As ruas do ChiadoQue no Ocidente somos mais civilizados que os outros dou de barato. Isto só incomoda quem tenha remetido para o conceito de civilização algum tipo de poder salvífico. Acontece que Jesus é que salva, não a civilização. Este é o problema de grande parte da esquerda: saiu do Egipto mas o Egipto não saiu deles. Recusam a religião mas comportam-se religiosamente com sucedâneos (a civilização, a cultura, o progresso, a poesia, o ecumenismo e as ruas do Chiado).
Há ainda outro argumento forte mas, ele próprio, pouco civilizado. Que fica mal escrever nos jornais mas para isso é que servem os blogues. Os grandes defensores da relatividade entre as civilizações vivem em locais que lhes colocam poucos desafios. Dou algo mais concreto. Raramente cresceram na Amadora, poucos amigos têm de outras raças que não pertençam ao seu estrato cultural, não sabem distinguir um cabo-verdiano de um angolano, ainda estão para dançar forró numa festa de brasileiros, desconsideram Hélder o Rei do Kuduro em favor do Coltrane, nunca tentaram distribuir Bíblias em Marrocos, etecétera, etecétera. Um símbolo forte deste fenómeno está em Diana Adringa que no ano passado incorporou o mais vergonhoso acto de liberdade de expressão num documentário videográfico que ilibava
ad aeternum a raça negra da Grande Lisboa de qualquer acção pecaminosa. Jesus não precisa de morrer pelos pretos, segundo Adringa, porque os pretos não "
pecaram e destituídos estão da glória de Deus". Esta blasfémia ninguém apontou.
Segunda parte do meu forte argumento: eu que cresci na Amadora, eu que certamente tenho mais amigos de outras raças que estes apóstolos da relatividade cultural, eu que sei distinguir um cabo-verdiano de um angolano, eu que já dancei forró em festas de brasileiros, eu que não desconsidero o Hélder Rei do Kuduro em favor do Coltrane, eu que já tentei distribuir Bíblias em Marrocos, etecétera, etecétra, asseguro-vos o seguinte: o Ocidente é mais civilizado que tudo o resto. Provisoriamente isto importa e muito. Dá-nos mais higiene e melhor prestação de serviços. Não devemos abdicar da higiene e da boa prestação de serviços. Em termos absolutos a conversa é outra. Deus pouco se interessa pela higiene e pela correcta prestação de serviços. Para Deus o salivante árabe vale o mesmo que o justo tibetano. Quer Bento XVI quer Robert Mugabe carecerão da misericórdia divina no Dia do Juízo sem que possam influir grande coisa no veredicto. Mas isto é da fé. O que sobra, e com todo o respeito pelos meus amigos que discordam, é de pouca valia no câmbio eterno. Útil mas de pouca valia.