sexta-feira, março 31, 2006

Manias
O meu amigo Jorge, a minha irmã e o Alexandre Soares Silva (uma das minhas musas blogosféricas) sentenciaram-me a revelar cinco manias. Já foi há algum tempo. Tive de reflectir bastante.
1 - Urino frequentemente sentado. Faz parte do meu lado feminino. Como uma coisa não impede a outra, preservo a homofobia. Há pessoas que não compreendem que sem homofobia a homossexualidade não tem piada alguma. É divertido arrepiar a heterossexulidade alheia. Só para chatear. Ser maricas antes de ser um traço de carácter é uma expressão de recreio. Por enquanto o mais longe que vou é urinar sentado.
2 - Um dia gostava de dormir numa auto-caravana estacionada na rua. Não sei se no meu subconsciente a coisa assume contornos de conquista viril ou de simples frugalidade campestre. A minha esposa não compreende isto e receia que seja algo que polua a nossa felicidade conjugal. Devia ter-me casado com uma cigana.
3 - No carro não ouço CDs originais. Só cópias. Abro excepções quando compro um disco novo em trânsito (ainda ontem troquei a cópia que rodava do "Kaya" do Bob Marley pelo quarto álbum dos Led Zeppelin, obtido a sete euros e noventa e nove cêntimos no Carrefour de Oeiras).
4 - Não confio em casas sem gatos. E educo a minha filha neste pressuposto: uma pessoa que não alberga felinos no seu domicílio revela um desprezo pelo relato do Génesis que não é compatível com a nossa amizade. Na vida um homem serve para multiplicar-se e dar nomes aos animais. Gente que não tem filhos, ainda vá lá. Gente sem gatos (como presença simbólica da bicharada do Éden), nem pensar.
5 - Fazer conversa de situação. Eu tenho grande facilidade em ter conversas absolutamente desprovidas de interesse apenas para ocupar o tempo, transpôr constragimentos sociais, ou limitar-me a ser simpático. Prefiro a simpatia à cultura. Por isso nunca me aceitaram muito bem na Cinemateca. A afabilidade é a literacia dos iletrados e eu cresci na Amadora. Não imaginam o tempo que consigo gastar no tópico mais desinteressante. Resistência. Endurance. Tudo em prol de uma ideia de multiculturalismo e roque de civilizações. No fundo, no fundo, sou de esquerda.

Passo esta coisa:
- ao Paulo Ribeiro da Deusa do Lar
- à Nibelunga do cabelo duro
- ao Pedro Mexia
- ao Rais-ta-parta (que me deve responder em ilustrações)
- e ao maradona.

quinta-feira, março 30, 2006

Gália
I'm so bored with la France.

quarta-feira, março 29, 2006

Ter medo de mulheres

Eu tenho medo de Maria Filomena Mónica. E não há refúgio uterino que dissipe este temor.

terça-feira, março 28, 2006

Gostar de homens VIII

David, o Cronenberg.

segunda-feira, março 27, 2006

Filhos de Pastor
Valeria a pena gastar algum tempo a falar sobre filhos de Pastor. Eu próprio, não sendo filho mas neto de Pastor, incho quando me reconhecem alguma herança. "The only boy who could ever reach me was the son of a preacher man" cantava Aretha Franlin com clarividência. Uma sociedade como a nossa, com mais de 90% de catolicismo, tem dificuldade em absorver a poesia da condição.
Gordon Gano, vocalista dos Violent Femmes, filho de Pastor, entoa: "Did you do too many drugs? I did too many drugs". Apreciar filhos de Pastor é projecto para toda uma vida.

sexta-feira, março 24, 2006

Bebida
Quando o Espírito Santo desceu sobre os discípulos no dia do Pentecostes os incrédulos julgava-nos embriagados. Desde esse dia que o consenso acerca da acção do Espírito Santo é impossível. O profeta de um é o bêbado do outro.

Notinha: Na Oprah diz-se intoxicado. Uma senhora atraente que foi partilhar a sua experiência de ter participado em filmes pornográficos explicou que estava intoxicada quando o fazia. Intoxicated.
Cito
Os Sick Of It All têm uma grande frase na primeira canção do novo álbum (que ainda não saiu mas que já saquei da net - processem-me, legionários da músicka legal): "let's celebrate that we don't give a fXXX".

quinta-feira, março 23, 2006

Cabide
Algures no meio de multiquilométricos parágrafos, ideias em escafandros e frases de mordomo de colarinho apertado, Schleiermacher clarifica: a moral é um vestíbulo da religião. E eu perdoo-lhe o pré-humanismo germânico, o abuso de metáforas botânicas para justificar abstracções e o liberalismo teológico. Assento no caderninho: a moral é um vestíbulo da religião. Está decorado. Posso ir repeti-lo aos meus amigos.

quarta-feira, março 22, 2006

Pax Romana em Ré Maior
Uma nódoa nesta magnífica rodela: "We acknowledge the financial support of the Government of Canada throught the Canada Music Fund for this project". O Canadá é um país de gente de fracos pélvis. Não merece fazer parte do continente americano (consta que pouco se morre de armas de fogo naquelas paragens). Conheço poucas coisas mais vergonhosas do que um Governo subsidiar bandas de roque-enrole. O nosso país, que me parece ter ainda mais gente com fracos pélvis que o Canadá, ainda não reuniu os pelintras necessários para aprovar uma lei tão rasteira. Anda lá perto, de qualquer maneira. Parece que as rádios têm de passar uma percentagem de música portuguesa (a medida mais fascista que o Século XXI conheceu nesta naçãozinha). Os artistas nacionais, que nem a coerência atingem de ter carreiras constantemente más (até Vitorino, campeão entre os bardos queixinhas, tem grandes discos), abrem os biquinhos insatisfeitos no côro de auto-comiseração afinado. Dó sustenido.
Esta gente devia lembrar-se que a única mancha na filmografia de João César Monteiro é ter sido subsidiada pelo Estado. Este maniqueísmo ideológico vos deixo: mantenham a moedinha de César para os alcatrões da Pax Romana.

terça-feira, março 21, 2006

A irmã gémea
É uma bênção ter uma irmã gémea. Vivi 23 anos suspenso em nenufarizantes mistérios. Até que a minha irmã gémea casou e me deixou sem grande remédio a não ser casar também.
Quando reencontro amigos do liceu todos perguntam aquelas essenciais generalidades sobre como vou, o que faço e se constituí família. Mas os olhos dos amigos do liceu só brilham quando me inquirem sobre a minha irmã gémea. É nesse momento que se dissolvem as muito temporárias enunciações acessórias e me aquieto para dar lugar ao que realmente perdura: a minha irmã gémea.

segunda-feira, março 20, 2006

Andor
Tentava dormir depois do almoço quando o ressoar dos tambores me traçou outros planos. Fui à janela e vi a fanfarra rítmica dos bombeiros. Surpreendeu-me no horizonte dois estandartes em tons carmim. Imponentes. Seguiu um Senhor dos Passos (creio que é assim que se chama na terminologia católica) em cima de uma carrinha de caixa aberta. Quando julgava assistir ao final da procissão surge a inevitável Nossa Senhora. Faço os meus esforços inter-confessionais mas a mariolatria revolve-me o estômago. Se a Igreja Romana por uma pré-experiência de quotas resolveu inclinar-se perante uma figura feminina por que razão escolheu Maria? Nem só de mãezinhas vive a reverência. Asseguro-vos: Maria não é absolutamente a fêmea mais interessante das Escrituras. Só assim de repente lembro-me de outras duas ou três. Adianto uma apenas. Raabe (a sua história está em Josué 6:1-27). Nunca apreciarei esculturas para fins devocionais. Mas com Raabe no andor o meu tardo-ecumenismo não sairia beliscado.

sexta-feira, março 17, 2006

Assim tudo faz sentido
A dada altura Calvino sugere que o que poderá ter distinguido Abel de Caim foi, não tanto a bondade do primeiro mas, a superior maldade do segundo.
Do livreiro
Escala-estantes is back.

quinta-feira, março 16, 2006

TV II
Apesar de Margarida Marinho ter destaque não acompanho a novela da TVI. Um homem não consegue ir a todas. Talvez seja por estar fora do enredo mas não compreendo porque aparece tantas vezes de robe. Será que me está a escapar o papel da sua vida?
TV
O Marco viu a mãe partir para a Argentina por causa de problemas financeiros causados pelo pai. O vizinho, bêbado, condenou o facto. In vino veritas e isso. Não é simpático mas muitas vezes o borrachão tem a razão do lado dele. O Marco aguentou e o pai também. Life must go on (não tarda o Marco vai partir para a Argentina mas a essa parte ainda não cheguei).

quarta-feira, março 15, 2006

Gata tardia
Há blogues que existem há muito tempo e que nós, por uma razão ou outra, não chegamos a descobrir. Quando isso acontece sente-se uma culpa que tem a ver com a falta de pontualidade ser uma coisa demoníaca.
Descobri a Seta Despedida há um mês, se tanto. Gosto muito. Daqui vai a gata preta e branca cá de casa para a Alexandra Barreto.

terça-feira, março 14, 2006

Cito
"O homem deve fazer tudo com religião, não por religião", Schleiermacher in Sobre a Religião.
"É verdade que eu acredito pouco em verdades objectivas. Mas o diabo é uma delas.", Paulo Ribeiro in Deusa do Lar.
"I'm through with white girls", Dirtbombs in Dangerous Musical Noise.

segunda-feira, março 13, 2006

Sai, Satanás
Temos tido na igreja a visita de uma senhora oriunda da Igreja Universal do Reino de Deus. Desde há uns 15 anos que os evangélicos tradicionais perdem alguma população para os movimentos neo-pentecostais. Mas também há o fluxo oposto: gente que se aborrece com o frenesim sobrenatural e procura comunhão noutras congregações mais plácidas.
Esta senhora traz da IURD algumas coisas preciosas. O fervor físico com que colabora na liturgia é flagrante. Estranho ao recato baptista mas favorável a quem dirige o culto. Acompanha o sermão sussurrando améns e aleluias ao mesmo tempo que revigora o conceito de dinâmica da Palavra.
Nunca fui a um serviço da IURD. Não preciso de o fazer para reconhecer algumas qualidades que por lá habitam. Desprezo a sua superstição mestiça disfarçada de teologia dos 100 metros. Mas tal não me impede de admirar o estilo daquele povo. E invejar cada decibel dos seus amens e aleluias. São crentes que jogam para ganhar. Mulato-Mourinhos-semi-protestantes. Estão-se nas tintas para os pudores da imprensa.
Quando quiserem expulsar os demónios do próximo repórter do Tal & Qual que entrar à paisana no salão da Alameda, apitem. Terei todo o gosto em participar no exorcismo.

sexta-feira, março 10, 2006

Uma superação da fisionomia
Na reunião de oração o Pastor menciona que Jesus foi reconhecido no caminho de Emaús pelo estilo.
Do relativismo moral geográfico
Os crentes evangélicos brasileiros não bebem álcool. Os crentes evangélicos brasileiros em Portugal abrem excepções.

quinta-feira, março 09, 2006

Uma pessoa precisa de modelos

quarta-feira, março 08, 2006

Trapos
Quando era de esquerda vestia-me como os de esquerda. No Calçado Guimarães comprei umas daquelas botas cinzentas mais conhecidas entre alguns pelas "pêlo de rato". Nem dois contos eram. Depois também tinha um casaco verde escuro de lã, apanhado na Zara. Esse não fora nenhuma pechincha. Até a esquerda tem de ceder a pontuais excessos orçamentais para completar um uniforme (o modo como os anarquistas gastavam mais de 15 contos nas indispensáveis Doc Martens era flagrante - o look operário britânico sai caro).
De resto aborrece-me que algumas pessoas que ainda são de esquerda nunca tenham andado fardadas. Para que servem as ideologias se elas não chegam aos trapos?

terça-feira, março 07, 2006

segunda-feira, março 06, 2006

Obras da carne
Paulo na carta que escreve aos Gálatas enumera as obras da carne: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizade, porfias, emulação, ira, peleja, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices e glutonarias. Dezasseis. Temos muito por onde nos entreter.
Obra e graça
Era uma jovem muito activa na igreja. Tinha diversas opiniões e um raro poder de iniciativa. Acabava por aborrecer os outros irmãos. Até que engravidou e deixou de contar com a mesma disponibilidade para a congregação. Foi de certeza o Espírito Santo.

sexta-feira, março 03, 2006

Três
Antecipo a comemoração do terceiro aniversário deste blogue porque não escrevo aos Sábados.
Apenas uma nota. Gosto muito de ter um blogue. Sou até uma pessoas mais feliz desde que tenho um. De vez em quando pessoas com mais dinheiro que eu dizem mal de mim, o que me causa grande perplexidade. Mas não chega para desfazer esta pequena felicidade.
Um abraço ao Pedro Mexia, ao Pedro Lomba e ao João Pereira Coutinho que me fizeram querer ser como eles no ciber-ecrã.
Sou grato pela fidelidade das vossas leituras.
Ebenézer.

quinta-feira, março 02, 2006

Devemos quem somos às calças curtas de Sören Kierkegaard
Nota prévia: Sören Kierkegaard não representa a segunda vinda do Messias. Também devemos ter em conta que aos nórdicos da Europa falta sentido de humor e uma mundanidade que lhes alivie a agenda epistemológica. Mas se o Ocidente ainda é capaz de reunir meia-dúzia de qualidades políticas é graças a Sören Kierkegaard. E por consequência às suas calças curtas.
O lamento é do próprio: em 1849 o filósofo queixa-se que as suas calças baloiçavam tão melancolicamente quanto a sua existência. E agastava-o o facto de essa suspensão vestuária ser motivo de troça popular. Trajava como um velho. Nunca tivera tempo para ser jovem.
Sabemos que se perde demasiado tempo com Nietzsche. As tentativas de atentado contra a divindade perpetradas pelo alemão não chegam aos calcanhares semi-descobertos do dinamarquês. Ainda somos razoavelmente livres? Ainda temos o privilégio de poder morrer de anti-depressivos? Ainda elegemos democraticamente os nossos governantes? Agradeçamos às meias patentes de Sören Kierkegaard.
Lâmina no horizonte
O meu cabelo parece o do Príncipe Encantado do Shrek.

quarta-feira, março 01, 2006

Violências há muitas
O Ivan escreve: "A moral de Munique (de Spielberg) é boa, mas o filme não deixa de ser mau por causa disso".
Discordo. É mais isto: "A moral de Munique (de Spielberg) é má, mas o filme não deixa de ser bom por causa disso".
O melhor discurso na película é o de Golda Meir. Aquele que corre o risco de ser considerado hipócrita, prepotente e desumano. Nem sempre o Steven pode acertar.
O blogue Tristes Tópicos
É muito bom. O post "Do amor e outros estatutos terminológicos" é de tal exemplo.
Apoio
A m.A.M.A. (maradona Ao Mundial da Alemanha) promovida pelo Vasco.