quarta-feira, maio 31, 2006
terça-feira, maio 30, 2006
segunda-feira, maio 29, 2006
quinta-feira, maio 25, 2006
Hoje é dia de comprar a Revista Atlântico
Onde na página 50 escrevo:
"O problema de não festejar a primeira blasfémia das crianças é que provavelmente elas correrão o risco de desejar em adultos aquilo que não lhes foi reconhecido em infantes. Uma criança blasfema é um adulto doutrinado. É essencial reverenciar o valor em causa. Um lar onde não é amamentada a blasfémia é um lar em que qualquer arroto é teologia."
Mas mais assinalável que essas linhas é o facto de me parecer ter ganho uma invejável posição no alinhamento redactorial: ao lado da Rititi.
Onde na página 50 escrevo:
"O problema de não festejar a primeira blasfémia das crianças é que provavelmente elas correrão o risco de desejar em adultos aquilo que não lhes foi reconhecido em infantes. Uma criança blasfema é um adulto doutrinado. É essencial reverenciar o valor em causa. Um lar onde não é amamentada a blasfémia é um lar em que qualquer arroto é teologia."
Mas mais assinalável que essas linhas é o facto de me parecer ter ganho uma invejável posição no alinhamento redactorial: ao lado da Rititi.
quarta-feira, maio 24, 2006
terça-feira, maio 23, 2006
O temível sumo ético
O meu amigo/cunhado/bandmate Miguel escreve: "É legítimo rejeitar uma boa canção, uma boa pintura ou um bom texto, sejam eles quais forem. Mantemo-nos é na mediocridade de ficar sempre longe da plenitude do que foi criado". Vem mesmo a calhar porque ando de volta de uma pequena intervenção numa conferência sobre C.S. Lewis e peguei de novo n'"A Experiência de Ler". Diz a determinada altura o britânico: "Uma confusão entre a vida e a arte, ou mesmo uma incapacidade para reconhecer sequer a existência da arte, (...) a um nível mais elevado surge através da crença que todos os bons livros o são sobretudo porque nos ensinam "verdades" sobre a "vida"".
Isto pode parecer pipoquinhas para o literato médio mas não imaginam a libertação que é para o evangélico, habituado a espremer os objectos intelectuais em busca de sumo ético.
O meu amigo/cunhado/bandmate Miguel escreve: "É legítimo rejeitar uma boa canção, uma boa pintura ou um bom texto, sejam eles quais forem. Mantemo-nos é na mediocridade de ficar sempre longe da plenitude do que foi criado". Vem mesmo a calhar porque ando de volta de uma pequena intervenção numa conferência sobre C.S. Lewis e peguei de novo n'"A Experiência de Ler". Diz a determinada altura o britânico: "Uma confusão entre a vida e a arte, ou mesmo uma incapacidade para reconhecer sequer a existência da arte, (...) a um nível mais elevado surge através da crença que todos os bons livros o são sobretudo porque nos ensinam "verdades" sobre a "vida"".
Isto pode parecer pipoquinhas para o literato médio mas não imaginam a libertação que é para o evangélico, habituado a espremer os objectos intelectuais em busca de sumo ético.
Sorver
Depois de um dia passado de volta de C.S. Lewis, apenas interrompido para uma pequena caracolada com o meu pai no Chop Bar (o café onde aquele brasileiro aviou dois polícias a tiro), recebo uma chamada suspeita da mulher a pedir para regressar depressa. Certifico-me que não há problema com a filha e acelero. Quando abro a porta de casa sou informado que uma das gatas está entalada na parte de trás de um armário da cozinha há mais de uma hora sem mostrar sinais de vida. Não mexe quando picada, não mia, nada. Pouso a pasta da Texto Editora e os cinco volumes do Lewis e preparo-me para mexer num cadáver felino pela primeira vez. Sem grande entusiasmo. Quando retiro uma das gavetas que me separava da criatura, ela acorda e sai como se nada se tivesse passado. Nada se havia passado. A mulher aproveita o alívio para confessar que os estores do quarto da filha estavam outraz vez estragados. Pego numa caixa de ferramentas ridícula comprada no Carrefour de Oeiras e tento mentalizar-me ser capaz de inverter a situação. Meia-hora depois os estores voltam ao activo (explicaram-me que é abrir a caixa e alinhar as lâminas - o meu ego doméstico revigora-se). Antes de me deitar escrevo estas linhas apercebendo-me que cinco horas após a degustação dos rastejantes ainda me sai molho pelo nariz. Não voltarei a sorver do mesmo modo.
Depois de um dia passado de volta de C.S. Lewis, apenas interrompido para uma pequena caracolada com o meu pai no Chop Bar (o café onde aquele brasileiro aviou dois polícias a tiro), recebo uma chamada suspeita da mulher a pedir para regressar depressa. Certifico-me que não há problema com a filha e acelero. Quando abro a porta de casa sou informado que uma das gatas está entalada na parte de trás de um armário da cozinha há mais de uma hora sem mostrar sinais de vida. Não mexe quando picada, não mia, nada. Pouso a pasta da Texto Editora e os cinco volumes do Lewis e preparo-me para mexer num cadáver felino pela primeira vez. Sem grande entusiasmo. Quando retiro uma das gavetas que me separava da criatura, ela acorda e sai como se nada se tivesse passado. Nada se havia passado. A mulher aproveita o alívio para confessar que os estores do quarto da filha estavam outraz vez estragados. Pego numa caixa de ferramentas ridícula comprada no Carrefour de Oeiras e tento mentalizar-me ser capaz de inverter a situação. Meia-hora depois os estores voltam ao activo (explicaram-me que é abrir a caixa e alinhar as lâminas - o meu ego doméstico revigora-se). Antes de me deitar escrevo estas linhas apercebendo-me que cinco horas após a degustação dos rastejantes ainda me sai molho pelo nariz. Não voltarei a sorver do mesmo modo.
segunda-feira, maio 22, 2006
Uma amiga esteve no Brasil três anos
Agora que regressou apoia a selecção brasileira no Mundial, escandalizando todos por tão instantânea perda de origens. A verdade é que, mesmo sendo do terceiro mundo, o Brasil é um país muito mais interessante que Portugal. E a bola nem é dos melhores ingredientes. Acontece que a amiga foi para o Brasil para estudar numa escola evangélica. E este é manifestamente um capítulo onde o Brasil não interessa a ninguém.
O sentido de pertença é um álibi à espera de ser desmascarado. Mas não a qualquer preço.
Agora que regressou apoia a selecção brasileira no Mundial, escandalizando todos por tão instantânea perda de origens. A verdade é que, mesmo sendo do terceiro mundo, o Brasil é um país muito mais interessante que Portugal. E a bola nem é dos melhores ingredientes. Acontece que a amiga foi para o Brasil para estudar numa escola evangélica. E este é manifestamente um capítulo onde o Brasil não interessa a ninguém.
O sentido de pertença é um álibi à espera de ser desmascarado. Mas não a qualquer preço.
sexta-feira, maio 19, 2006
Comprei o CD "A História de António Variações"
É pena não terem arriscado mais e disponibilizado as maquetes na sua integridade (ficam apenas uns segundos antecedendo as versões de estúdio). Antes assim que nada. Devemos alguma coisa ao Nuno Galopim pela edição deste disco, parece-me. Dá vontade de dizer que as maquetes de António são melhores que o álbum dos Humanos mas não seria uma comparação justa. Até porque o trabalho dos Humanos foi bom. Claro que o conceito gráfico assaloiado fotoxope-xunga persiste, o que mancha a herança de grandes capas que Variações nos deixou. É seguro, contudo, afirmar que este é o melhor disco português do ano e das últimas duas ou três décadas.
É pena não terem arriscado mais e disponibilizado as maquetes na sua integridade (ficam apenas uns segundos antecedendo as versões de estúdio). Antes assim que nada. Devemos alguma coisa ao Nuno Galopim pela edição deste disco, parece-me. Dá vontade de dizer que as maquetes de António são melhores que o álbum dos Humanos mas não seria uma comparação justa. Até porque o trabalho dos Humanos foi bom. Claro que o conceito gráfico assaloiado fotoxope-xunga persiste, o que mancha a herança de grandes capas que Variações nos deixou. É seguro, contudo, afirmar que este é o melhor disco português do ano e das últimas duas ou três décadas.
quinta-feira, maio 18, 2006
Do cardio-fitness para o Convento
É impressionante a paciência editorial para o gnosticismo. Para gostar de um Jesus humano, palavroso e com provável actividade sexual de influência oriental. As pessoas que se aproximam de Cristo por causa destas razões não precisam de Cristo. Precisam de assistente de ginásio.
É impressionante a paciência editorial para o gnosticismo. Para gostar de um Jesus humano, palavroso e com provável actividade sexual de influência oriental. As pessoas que se aproximam de Cristo por causa destas razões não precisam de Cristo. Precisam de assistente de ginásio.
quarta-feira, maio 17, 2006
terça-feira, maio 16, 2006
Cuidados
Jesus deixou o cuidado da Igreja a Pedro e o cuidado da mãe a João. Um bom pastor não tem de ser um bom filho.
Jesus deixou o cuidado da Igreja a Pedro e o cuidado da mãe a João. Um bom pastor não tem de ser um bom filho.
segunda-feira, maio 15, 2006
sexta-feira, maio 12, 2006
Cito
"Ser livreiro circuncidou-me o espanto intelectual", João Leal in Small Church.
"Ser livreiro circuncidou-me o espanto intelectual", João Leal in Small Church.
quinta-feira, maio 11, 2006
Em 1999
Tinha uma banda chamada A Instituição. Poucos entendiam a carga heideggeriana do nome. Participámos num concurso promovido pela Câmara Municipal de Corroios e varremos aquilo. As nossas canções não eram grande coisa (permitam-me a presunção dialéctica) mas éramos os únicos a abanar as ancas em palco. Porque a Providência não me favoreceu com um bom traseiro desde cedo resolvi atenuar a carência dando uso aos quadris.
Eu sou o tipo da direita, claro. O da guitarra é o senhor do Blog do Piano.
Tinha uma banda chamada A Instituição. Poucos entendiam a carga heideggeriana do nome. Participámos num concurso promovido pela Câmara Municipal de Corroios e varremos aquilo. As nossas canções não eram grande coisa (permitam-me a presunção dialéctica) mas éramos os únicos a abanar as ancas em palco. Porque a Providência não me favoreceu com um bom traseiro desde cedo resolvi atenuar a carência dando uso aos quadris.
Eu sou o tipo da direita, claro. O da guitarra é o senhor do Blog do Piano.
quarta-feira, maio 10, 2006
terça-feira, maio 09, 2006
segunda-feira, maio 08, 2006
Investigo sobre o Wes Craven no IMDB
Deparo-me com as seguintes linhas numa curta biografia: "Wes was born in Cleveland in 1939. After an unhappy childhood (he was raised in a Baptist family) he left Cleveland to study for a degree in English Literature, at Wheaton College, Illinois". Repararam? À infância infeliz segue um parêntesis informando que foi educado numa família baptista. Há por aqui algo de valorativo, não há?
Deparo-me com as seguintes linhas numa curta biografia: "Wes was born in Cleveland in 1939. After an unhappy childhood (he was raised in a Baptist family) he left Cleveland to study for a degree in English Literature, at Wheaton College, Illinois". Repararam? À infância infeliz segue um parêntesis informando que foi educado numa família baptista. Há por aqui algo de valorativo, não há?
sexta-feira, maio 05, 2006
O dia em que todos acordámos doze por cento mais feios
Naquela manhã de Maio ninguém poderia esperar que o destino tivesse mudado para toda a humanidade. E sem que um único pudesse prever. A alvorada trouxera um acréscimo no grau de fealdade da população mundial: todos amanheciam doze por cento mais feios. Os efeitos espalhavam-se muito para além de uma noite mal dormida. Qualquer insónia era tímida tendo em conta os prejuízos causados por tão inesperada transformação.Quem era feio estava ainda mais feio. Costuma-se dizer que ninguém nasce bonito mas após esta madrugada a velha frase não voltaria a ser repetida. Naquele momento quase todos estavam mais feios que à nascença (exceptuando os que no decurso da vida haviam melhorado esteticamente do nascimento à maturidade numa escala superior a doze por cento). Quem era assim-assim roçava agora a feiura deliberada. Quem era engraçadinho era agora assim-assim. É de calcular os dissabores matrimoniais causados nesta faixa da humanidade. Não são assim tão poucos os engraçados e a verdade é que sendo numericamente superiores aos belos os efeitos sociais positivos que permitem são de longe mais eficazes (a prova é que poucos de nós reconhecerão que o nosso cônjuge é belo mas certamente não lhes pouparemos a categoria de engraçados - da família da graciosidade). Os belos, esses, eram agora meramente engraçados. E foi nestes que o dissabor se tornou insuportável. Até porque a beleza e o poder económico andam muitas vezes de mão dada. Quando os belos se contemplaram ao espelho brotou-lhes nos poros aquele arrepio que geralmente redunda em pedidos de indemnização. Mas quem nos pode indemnizar de acordarmos doze por cento mais feios? O Estado? Pois.
O que torna esta tragédia superior a qualquer tragédia de uma obra de José Saramago é que geralmente nas obras de José Saramago as pessoas têm dificuldade em aperceber-se da sua miséria. Ou são cegas ou o seu país está lentamente a ir à deriva para o Oceano. Vesgo ou em mar alto a pessoa tem mais com que se distrair. A sua preocupação torna-se da ordem do remediar. Caminhar apalpando ou amarrar o Cabo Espichel a um qualquer rochedo saliente da Galiza. Ora quando acordamos doze por cento mais feios os olhos são as primeiras testemunhas da catástrofe. Ficamos ensimesmados no problema. Com os valores praticados no mercado da cirurgia estética não existe grande alternativa senão a resignação.
No dia em que todos acordámos doze por cento mais feios o abandono à tristeza foi um sentimento comum. Ninguém quer ser doze por cento mais feio.
Naquela manhã de Maio ninguém poderia esperar que o destino tivesse mudado para toda a humanidade. E sem que um único pudesse prever. A alvorada trouxera um acréscimo no grau de fealdade da população mundial: todos amanheciam doze por cento mais feios. Os efeitos espalhavam-se muito para além de uma noite mal dormida. Qualquer insónia era tímida tendo em conta os prejuízos causados por tão inesperada transformação.Quem era feio estava ainda mais feio. Costuma-se dizer que ninguém nasce bonito mas após esta madrugada a velha frase não voltaria a ser repetida. Naquele momento quase todos estavam mais feios que à nascença (exceptuando os que no decurso da vida haviam melhorado esteticamente do nascimento à maturidade numa escala superior a doze por cento). Quem era assim-assim roçava agora a feiura deliberada. Quem era engraçadinho era agora assim-assim. É de calcular os dissabores matrimoniais causados nesta faixa da humanidade. Não são assim tão poucos os engraçados e a verdade é que sendo numericamente superiores aos belos os efeitos sociais positivos que permitem são de longe mais eficazes (a prova é que poucos de nós reconhecerão que o nosso cônjuge é belo mas certamente não lhes pouparemos a categoria de engraçados - da família da graciosidade). Os belos, esses, eram agora meramente engraçados. E foi nestes que o dissabor se tornou insuportável. Até porque a beleza e o poder económico andam muitas vezes de mão dada. Quando os belos se contemplaram ao espelho brotou-lhes nos poros aquele arrepio que geralmente redunda em pedidos de indemnização. Mas quem nos pode indemnizar de acordarmos doze por cento mais feios? O Estado? Pois.
O que torna esta tragédia superior a qualquer tragédia de uma obra de José Saramago é que geralmente nas obras de José Saramago as pessoas têm dificuldade em aperceber-se da sua miséria. Ou são cegas ou o seu país está lentamente a ir à deriva para o Oceano. Vesgo ou em mar alto a pessoa tem mais com que se distrair. A sua preocupação torna-se da ordem do remediar. Caminhar apalpando ou amarrar o Cabo Espichel a um qualquer rochedo saliente da Galiza. Ora quando acordamos doze por cento mais feios os olhos são as primeiras testemunhas da catástrofe. Ficamos ensimesmados no problema. Com os valores praticados no mercado da cirurgia estética não existe grande alternativa senão a resignação.
No dia em que todos acordámos doze por cento mais feios o abandono à tristeza foi um sentimento comum. Ninguém quer ser doze por cento mais feio.
quinta-feira, maio 04, 2006
quarta-feira, maio 03, 2006
Há dois anos
Surgia a melhor consequência dos meus actos. Com pouco mais de três quilos. Desde esse dia que se me turvaram as prioridades. Perdi o relativismo moral. Descobri o sentido da vida. Os filhos. Tanto assim que acabo de encomendar outro.
Surgia a melhor consequência dos meus actos. Com pouco mais de três quilos. Desde esse dia que se me turvaram as prioridades. Perdi o relativismo moral. Descobri o sentido da vida. Os filhos. Tanto assim que acabo de encomendar outro.