quinta-feira, novembro 30, 2006

Uma verdade incontinente
Ninguém reparou que o filme de Al Gore saíu do cartaz do Nimas? Nada me move contra a película e chego a lamentar não a ter visto. Ouvi dizer que os efeitos especiais eram excelentes. Devo reconhecer, todavia, que sou preconceituoso com a cinematografia que torna as pessoas melhores. Afinal "A Paixão de Cristo" foi um êxito de bilheteira e a minha igreja ainda continua por encher.
O Espectro do 31
Já se estava mesmo a ver que o novo super-blogue se ia esquecer de me lincar. Não desejo agoirar mas o último super-blogue que se esqueceu de me lincar teve vida curta.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Pequeno vapor
Se um blogue não servir para chorarmos a morte dos nossos bichos servirá para quê?
Ontem a minha Gata Nuvem morreu. Em muitos anos de gatos nunca tive um como ela. Certamente que continuará a assombrar esta casa com o espírito mais ronronante que alguma vez conheci.

terça-feira, novembro 28, 2006

Para além dos aperitivos
Este ano comemora-se o centenário do movimento pentecostal moderno. Foi em 1906 que, num bairro pobre de Los Angeles, William Seymour, um pregador negro, provocaria aquilo que ficou conhecido como o reavivamento da Rua Azusa. Não posso deixar de me lamentar, com o típico paroquial umbiguismo que me caracteriza, que ninguém neste país dê pela efeméride. Dirão que é coisa de agenda sub-religiosa sem impacto social. E terei de explicar que não, que o mundo Ocidental como o conhecemos foi transformado pelo movimento pentecostal moderno.
O pentecostalismo é a família cristã que registou maior movimento no século passado. Acima de católicos e qualquer grupo específico protestante. Dos Estados Unidos rapidamente se espalhou a todo o mundo, avassalando a África e América Latina e chegando mesmo à alguma Ásia. Permanece nos nossos dias como o grupo religioso em maior crescimento. Forget Islam.
O pentecostalismo tornou-se o melhor cristianismo pós-moderno. Exaustos da batalha do século XIX entre o pensamento científico e a apologética religiosa, os crentes já não se ulceravam com as discrepâncias entre os evangelhos. O que queriam mesmo era sentir no meio do seu previsível quotidiano uma sombra mínima daqueles relatos. O pentecostalismo devolveu o sobrenatural a um cristianismo massacrado por Darwin. Facilmente se abdica de pormenores hermenêuticos quando se pode falar na língua dos anjos. Naturalmente se abdica de rigores medicinais quando o pastor nos pode curar em pleno culto. Consequentemente se esquece o mundo quando Jesus está para chegar muito breve. O pentecostalismo é o mais inesperado kierkegaardianismo popular.
Claro que sobretudo à Europa custa que tantos brancos tenham sido seduzidos por uma religião de pretos. Claro que sobretudo à Academia Teológica custa que tantas igrejas tenham preferido o êxtase à doutrina. Claro que sobretudo à cristandade aristocrata custa que a fé cresça à custa das classes baixas. Mas todos têm de engolir o vigor carismático. É dele o século XX religioso.
Só uma razão apócrifa que pessoalmente me prova a importância do pentecostalismo muito para além das suas fronteiras denominacionais. Sem pentecostalismo não existiria rock'n'roll. Para que o rock fosse a música do diabo foi preciso que o pentecostalismo o tornasse muitos anos antes o louvor a Deus (a lição é simples: o diabo só copia, não inventa nada. As pessoas que se arrepiam com Diamanda Gálas nunca estiveram num culto pentecostal. Nunca ouviram alguém falar em línguas, nunca viram os corpos no chão em convulsões, nunca se juntaram ao caudal colectivo das lágrimas). A música popular é um pentecostalismo sem divino. A próxima vez que passaram por uma Assembleia de Deus baixem a vossa cabeça impenitente em gratidão. O sexo e as drogas permanecerão sempre como meros aperitivos.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Enxurrada
O livro de Job explica que o Diabo propôs uma aposta a Deus em que Job, um tipo até à altura porreiro, deixaria de o ser se perdesse todos os privilégios sociais com que era beneficiado. Deus, que se pela por uma boa aposta, aceitou. Ou seja, Job, com ou sem privilégios sociais, continuaria a ser o mesmo gajo porreiro.
Foram-se os privilégios sociais (negócios e propriedades). No meio da enxurrada foram-se também a mulher, os filhos e a saúde. Job permaneceu porreiro. O Diabo deu o braço a torcer e Deus ganhou a aposta. Foram restituídos a Job os privilégios sociais e nova família.
Os materialistas históricos não gostam da história de Job e eu continuo a arrepiar-me com a facilidade com que Deus embarca em certas apostas. Mesmo sabendo que no fim as ganha.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Os meus escassos trabalhos extra-blogosféricos

quarta-feira, novembro 22, 2006

A educação de mais uma M. Cavaco
O Senhor dobrou a minha alegria. Ontem por volta das onze e um quarto da noite a médica em pleno Bloco de Partos mandou-me sentar. Disse que estava com má cor. Expliquei posteriormente que a tez de quem acabou de cheirar o peixe do Ordralfabetix caracteriza-me desde sempre. Sou mariquinhas mas nunca foi homem de desmaiar.

terça-feira, novembro 21, 2006

O mau novo disco de Tom Waits
Começamos mal logo na capa. O lettering usado poderia ilustrar os últimos Green Day de Sacavém; o 94 Page Book é um embuste: limita-se a reproduzir as letras sem dar o mínimo de informação acerca das músicas (quando foram gravadas, se foram incluídas em discos, quem tocou os intrumentos e quais foram eles - um disco de Tom Waits sem receitas é o mesmo que servir cozido à portuguesa acompanhado a Pringles); a cantiga sobre o Médio Oriente tem uma letra que podia ter sido escrita por Júlia Pinheiro.
Nota final: as canções são essenciais (e saliento a versão de "Goodnight Irene" de Leadbelly que por si só já valia os 35 euros) mas edição é medíocre. Alguém que tenha paciência para respigar bibliograficamente umas horas pelos sites dos fãs mais dedicados, que tenha acesso a uma boa impressora a cores no serviço, e que não se deixe deslumbrar pelo Photoshop, pode sacar as músicas da net e ter em casa o disco excepcional que a Anti não soube fazer.

Só para verem a diferença, aqui há uns anos fiz uma recolha bastante humilde da net de cantigas exteriores ao catálogo dos álbuns e bibliograficamente a coisa estava mais apresentável. Esta colecção tem 15 pérolas que não fazem parte do disco agora publicado.
Macacos me mordam se eu não fizer nome na indústria musical.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Som
As pessoas às quais as reportagens da Sic distorcem a voz para lhes preservar o anonimato soam todas como o António Lobo Antunes.
Divergência fracturante
Perdoem-me a quebra no consenso político mas Ségolène Royal não é bonita. Ou, quando muito, é em França.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Mães
"O facto de ter trabalhado num bar de alterne não quer dizer que não seja uma óptima mãe", Manuel Luís Goucha há uns tempos no "Você na TV!".
Gosto do Manuel Luís Goucha mas está a parecer-me que vai votar Sim no referendo do aborto.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Na HM
Devo admitir que me converti à HM. Pela primeira roubei ao relógio o necessário para me aperceber das virtudes da loja. Trouxe até dois pares de brincos (já não me recordo quando havia sido a última vez que comprara brincos) por dois euros e noventa. A minha mulher fez questão de os reprovar num loop ocular. Compreendo-a porque são numa linha muito Cristiano Ronaldo: brilhantes, pirosos, mesmo à preto. Mas ambos sabíamos que era uma questão de tempo até eu usar semelhantes pepitas de pechisbeque.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Pius-pius
"Revelation is not a predicate of history, but history is a predicate of revelation", disse o Karl Barth que fez muito bem em preferir o aperto da biblioteca à ornitologia (os pássaros sempre os teremos connosco).

terça-feira, novembro 14, 2006

A Educação de M. Cavaco III
A minha filha já sabe dizer "Antena 2" (é uma resolução pessoal recente, a de contrariar a exclusividade do roque-enrole na minha fruição estética musical - uma hora por dia, entre as 9 e as 10 da manhã). Quem sabe um dia não ouvirá o Requiem de Fauré como eu ouço o primeiro álbum dos Ramones? Só espero que mantenha alguma da vulnerabilidade suburbana do pai porque as meninas da música clássica a maior parte das vezes vestem-se pavorosamente.

segunda-feira, novembro 13, 2006

É preciso cautela
Com os discos do Justin Timberlake. Há uma ou duas cantigas perfeitas que buzinam na MTV a toda a hora e que nos levam à tremura de não resistir comprar o CD na loja, adiando mesmo aquele Dylan de 73 que falta para completar a discografia. Depois, pesarosos, apercebemo-nos em casa que de facto o disco tem aquelas duas cantigas perfeitas mais três bastante aceitáveis enterradas em baldes de inanidades áhrendbi (uns N'Sync requentados).
Felizmente que o primeiro álbum comprei a menos de 4 euros no OeirasParque, num caixote de grades metálicas que volta e meia despacha Cat Powers e Princes a menos de quinhentos paus. Com este segundo, agarrei o momento de serenar-me e não ceder à fotografia da bola de espelhos magnificamente esmagada pelos pés do cantor. Vim para casa, saquei a coisa da net e agora comprazo-me por escrever este post.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Elevador

"Ao contrário do que dizia John Lennon, o cristianismo continuará muito depois do Rock'n'Roll desaparecer", Paulo Ribeiro no Trento na Língua.

quinta-feira, novembro 09, 2006

Agora sim
Ted Haggard, destacado pastor evangélico americano, reconheceu o envolvimento com prostituição masculina e anfetaminas. Não têm sido raros os sentidos soluços entre a cristandade. Ora, existe aqui um equívoco de origem teológica que convém apontar. De cada vez que um cristão eminente tropeça sob o subsídio de chocante carreira viciosa oculta o que sai abalado? A fé defendida pelo miserável pecador? De modo algum.
O cristianismo parte de uma premissa fundadora: o homem é pecador. Sem isto a vida de Jesus teria sido um refrescante voucher turístico pela Criação do Papá. Cruzeiro no Mar Morto, termas em Samaria e os bares nocturnos de Jerusalém. Porque a humanidade estava condenada se desfez o Messias da máquina fotográfica e se esvaíu em sangue. Da sua morte e ressurreição não resultaram grandes postais mas deu para arranjar a Salvação universal.
Ted Haggard pastoreava uma igreja de 14 mil membros? Óptimo. Ted Haggard caíu em profunda desgraça? Melhor ainda. Este é o mais eloquente testamento de fé que alguma vez poderá deixar à sua congregação. Porque Ted Haggard é um tratante miserável Jesus morreu por ele. Até à altura ele era um mero funcionário do Templo. Aspirava as alcatifas e recolhia as caixas da colecta enquanto expunha fórmulas teológicas exactas. Agora sim, pode encarnar na sua débil carne o mistério do Evangelho.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Desperdício
A bem da vida privada, da civilização e recato tudo muito certo acerca da inadequada curiosidade jornalística sobre o namoro do Primeiro-Ministro. Mas para mim, que julgo achar a Fernanda Câncio gira, é uma oportunidade perdida para me identificar de algum modo com José Sócrates.

terça-feira, novembro 07, 2006

Objectos inanimados noutra prateleira

Ou apenas o good old bookporn.

segunda-feira, novembro 06, 2006

A minha prateleira de discos VII
A seguir à Aretha Franklin vem a Argentina Santos.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Acerca do indizível
"Like almost every philosopher who has located his subject in the unsayable, Kierkegaard goes on to say a great deal about it", Scruton sobre Kierkegaard.
A educação de M. Cavaco II
A minha filha já sabe dizer "Asics" (de Asics Tiger).

quinta-feira, novembro 02, 2006

Na cama dele
O Deus do livro de Ezequiel é uma Mónica Sintra. Passa o tempo a desfiar as traições às quais é sujeito por Israel, a mulher adúltera. E neste caso não são só cantigas.
A educação de M. Cavaco
A minha filha já sabe dizer "OeirasParque".