Compacto Férias de Verão 2007- Duas semanas num local de fusão de parque de campismo com turismo rural com vagas pretensões ecológicas. O tão nobre intento é traído pelo facto de ser projecto de uma família portuguesa da Linha de Cascais (a ecologia dos povos latinos é sempre expiação de pecados, a ecologia dos povos europeus do norte é o chato efeito da educação protestante). Resultado: uma família de tios a inquirirem diariamente se já tínhamos visitado todas as poças de água da Serra da Arada.
- Nestas duas semanas a mais de mil metros de altitude passei as minhas primeiras férias de Inverno durante as férias de Verão.
- Na agenda cultural saboreio parte de um concerto do Saul (agora um rapazinho de 16 anos). Eu, que fui educado por um pai púdico, abomino música consagrada à brejeirice (seja ela genuinamente nacional como a Pimba ou intelectualmente tolerável como a nova onda de música de dança dos países pobres - ver Banda do Rolê do Brasil e o novo kuduro que os brancos já podem gostar [haverá, nesse sentido, projecto mais desprezível que os Buraka Som Sistema que até a Revista Atlântico elogia? - há quantos anos falava eu do Hélder em ausência de legitimação intelectual colonialista sem que ninguém me ligasse?]) dou a mão à palmatória: temos entertainer. Não existe um pingo de elevação ou inteligência no espectáculo de Saul e os clichés são óbvios mas o artista cumpre e entretém com mais metafísica e senso de pudor geográfico que Paulo Furtado (aka Legendary Tiger Man, aka Wray Gunn) o holograma coimbrão com o qual Elvis recusaria palitar os dentes.
- Tinha previsto passar parte considerável do tempo envergando camisolas interiores de alças (não confundir com mangas cavas - corto relações com quem usa mangas cavas) mas permaneceram arquivadas na mala. Tenho bom corpo para o efeito. Braços saídos da cabeça de Tim Burton, duas micro-tatuagens, um fio de prata dado pela minha mulher. Pura fashion verité.
- Acabo de ler o American Pastoral e a Teologia da História do Balthazar. Um equilíbrio admirável entre as depressões topográficas do ethos ultra-atlântico e a inesperada ortodoxia poetizante católica de um alemão.
- Morre Eduardo Prado Coelho, um dos meus professores preferidos do tempo da Faculdade. O homem que foi Žižek antes de Žižek.
- No que à bebida diz respeito sou oficialmente um efeminado: Sagres Lima Light, caipirinhas, Frizes de Groselha, Água das Pedras de Pêssego.
- Passo as quatro semanas entre o arrependimento por vocalizar excessivamente as minhas discórdias com a minha denominação religiosa e a vaidade de uma opinião sem curvas. A minha reputação é questionada e perdidos alguns privilégios de veraneio entre os fiéis. Deus e a minha descendência julgar-me-ão.
- Um mês seguido na companhia permanente das minhas duas criancinhas e começo a moderar a minha cruzada pela explosão demográfica (já vem um terceiro a caminho, não esqueçam). Brinco. Crescei e multiplicai-vos, bárbaros embalados pela Nokia! Mas o bem que me sabe a chegada de Setembro.