sexta-feira, setembro 28, 2007

Extraordinariamente
Esta noite vou envolver-me em matéria política comentando as eleições do PSD no 31 da Armada. Melhor só se fosse na tevê (aí veriam o polo da Pierre Cardin que o meu pai me emprestou).
Hoje confere estatuto a aura de desalinhado
Há quem se orgulhe em se achar a ovelha negra quando é apenas a ovelha perdida. Essa mesma, sobre a qual Jesus contou que o pastor abandonava as outras 99 em sossego até encontrá-la e trazê-la de volta a casa. O extraordinário é que Deus actualize o quadro agro-pecuário de há 2000 anos perdoando a vaidade contemporânea para no final mostrar que a mais ranhosa lãzuda continua a merecer o seu amor.

quinta-feira, setembro 27, 2007

O Grémio Lisbonense
Vai fechar no Sábado e com os Lacraus lá dentro. Nunca tinha postado nudez pessoal aqui no blogue. É um passo que dou em direcção ao inevitável ciber-abismo.

Sou o da direita, dos mamilos pequeninos.

quarta-feira, setembro 26, 2007

Gostar de homens XV

Pequeno Mouro.
Carrocel
Em Portugal a verdadeira questão fracturante é saber se se canta "a correr, já-lá-lá, a saltar, já-lá-lá, cavalinho não saía do lugar, já-lá-lá" ou "a correr, trá-lá-lá, a saltar, trá-lá-lá, cavalinho não saía do lugar, trá-lá-lá".

terça-feira, setembro 25, 2007

Hérpo
Nunca sofri de herpes. No entanto ao bebé cá de casa apareceu maleita semelhante. Alguém gerado por mim aparece com um mal do qual nunca padeci. Como se manifestasse agora o que pré-existia em oculto. Mais que uma curiosidade médica, parece-me poético.

segunda-feira, setembro 24, 2007

Os católicos são na maior parte das vezes ignorantes
Porque não sabem que na Bíblia Marias há muitas. Os evangélicos podem não perceber nada sobre a perenidade e beleza dos sacramentos e os insondáveis mistérios da transubstanciação mas isto aprendem antes de saberem ler.
A igualdade é contra Deus e contra a inteligência
Se Jesus se preocupasse assim tanto com a justiça social não teria permitido a sensatez de Maria ao preferir ouvi-lo em detrimento de ajudar a sua irmã Marta a arrumar a casa.
O meu tipo de patriotismo
Querer acreditar que no Minho há minhotos e as circunstâncias não deixarem.

quinta-feira, setembro 20, 2007

Vou estar por Viseu

quarta-feira, setembro 19, 2007

Contemporaneidade
"Eram homens contemporâneos. Já tinha começado a antipatizar com eles". Lars Saabye Christensen in Meio Irmão.
No último disco
Prince canta sobre o Lion Of Judah. O leão da tribo de Judá é uma imagem simbólica do Messias. E ao contrário do que parece, o Filho de Deus tem dentes afiados o que é algo que escapa a muitos teólogos dos nossos dias. Curioso que seja o Artista Anteriormente Conhecido Como Prince que actualmente já é novamente conhecido como Prince que nos faça recordar de tal.
Updates
Dois dias a pintar paredes de uma velha igreja em tons magnólia (desconhecia que magnólia era uma cor). Acalentando delírios homiléticos para um púlpito usado. Congeminando a vitória final do proselitismo no solo lisboeta.
Quase aos trinta tudo se renova sob a aparência de reciclagem missionária.

terça-feira, setembro 18, 2007

Deus não nos quer deprimidos
Os protestantes deram ao mundo o crente com direito a depressão clínica (mais Kierkegaard que Lutero, evidentemente). A ironia é que hoje qualquer católico pode deprimir-se. Os evangélicos (que resumidamente são os protestantes do Século XX que crescem) fugiram desse direito por puritanismo. Podem existir evangélicos com depressões (até porque as mulheres são eclesiasticamente muito participativas) mas a coisa não é muito bem vista. Porque no fundo os evangélicos pensam que a depressão é uma coisa do diabo.
Eu acredito em crentes com direito a depressão clínica mas ainda assim acho que é uma coisa do diabo.

Para o meu amigo Rui.

segunda-feira, setembro 17, 2007

O dilema do pregador
É ao receber um elogio pelo sermão desconfiar que foi absolutamente mal sucedido.
Volto a Clara de Sousa
Que nesta muito fraca série de televisão chamada "Família Superstar" mostra o quão urgente é o debate público entre pensadores sobre a categoria da mulher divorciada aos 40.
Jesus diz que
Haverá mais alegria no Céu por um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento. Claro que está a ser irónico. A pior raça é a dos justos que não necessitam de arrependimento.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Ordem alfabética
Os Beastie Boys escolheram essa designação para nas lojas de discos poderem ser vendidos entre os Beach Boys e os Beatles. Inventar um nome para nos ensanduichar filosoficamente parece-me das tarefas mais interessantes do mundo.

quinta-feira, setembro 13, 2007

Gostar de homens em antevisão dylaniana

Cate Blanchett.

quarta-feira, setembro 12, 2007

Um texto que escrevi há uns tempos para uma revista brasileira
A reanimação dos vivos

Foi manifestamente exagerada a notícia do falecimento de Johnny Cash. Ainda no passado Julho nos trouxe um dos melhores discos do ano (“American V – A Hundred Highways”) provando que a morte é reputação insuficiente para arruinar a carreira de um bom artista. E, garantem-nos, temos canções para mais umas quantas edições novas. Alguém vá ao cemitério de Hendersonville no Tennessee corrigir a data do epitáfio.
É forçoso assinalar que os discos mais vigorosos de 2006 foram de cantores perto da sepultura: Bob Dylan, Rolling Stones, Neil Young. Daí que atravessar para o outro lado do rio da Eternidade se torna um pormenor nessa grande distracção que é a produção musical. Lamentavelmente Johnny Cash caiu nas graças da crítica desde que começou a gravar com Rick Rubin (este é o quinto disco da série American Recordings, se não contarmos com “My Mother’s Hymn Book” e a caixa “Unearthed”) o que prova que nem sempre os críticos podem estar errados. Nós, os que gostamos de ter os nossos heróis bem esquecidos pelo Mundo, temos de suportar demasiada unanimidade, homenagem e bajulação a um homem que merecia fechar os olhos em tranquilidade.
Johnny Cash é, sobretudo, um cantor religioso. Ora, é do conhecimento geral que a verdadeira finalidade da música é a religião. O próprio rock’n’roll corresponde a um benevolente gesto de solidariedade de Deus em relação ao Diabo. Lúcifer é um sem-terra a quem o Criador emprestou uma cabana. Ou seja, antes do lago de enxofre ainda há tempo para abanar as ancas. Logo à segunda faixa do mais recente disco relembramos, todavia, a personalidade do real proprietário: “God’s Gonna Cut You Down” (em português de Portugal: “O Senhor vai limpar-te o sebo”). Já faziam falta aos topes fonográficos dois minutos e trinta e oito segundos de castigo divino.
Esta é a flagrante tragédia da música popular do nosso tempo: nem a vitalidade para ser música do Demónio possui. No tempo de Johnny Cash a distância entre a Igreja e o Inferno era de um Mi para um Fá. Hoje um astro do Rock para ter sexo e drogas tem de advogar os direitos das criancinhas esfomeadas do Terceiro Mundo. O quotidiano das freiras católicas de Calcutá é mais perverso.
Por ter sempre ligado a sua música à sepultura a carreira de Johnny Cash foi de uma rara vitalidade. Uma espécie de recompensa para quem se comprometeu alegremente em viver enlutado. De agricultores inundados a presidiários suecos, passando por soldados traídos e amantes infiéis, qualquer alma podia ser iluminada pelas sombras de uma canção do barítono. Uma lição para os que ainda respirando se encontram desprovidos deste sopro de vida. O cadáver do Homem de Negro tem muito futuro pela frente.

terça-feira, setembro 11, 2007

É preciso
Ser eu a escrever que Diana Chaves tem talentos fisionómicos excelentes para tudo excepto para publicidade a óculos de sol? A mulher com bochechas, uma espécie raríssima nos nossos dias (internacionalmente encabeçadas sem mácula por Meg White), oferece desafios com os quais a voragem mercantil não se compadece.
É preciso
Ser eu a escrever que Clara de Sousa não deveria participar na Família Superstar?
Madrástria
Um protestante português nunca poderá ser patriota. É, por natureza do seu desalinhamento religioso, um traidor. João Ferreira de Almeida, o primeiro tradutor da Bíblia para a nossa língua que se converteu ao calvinismo por influência dos holandeses, foi queimado em efígie.
É possível arrepiarmo-nos a ouvir a "Portuguesa" porque não há madrasta que seja eternamente má. Mas conhecemos bem este Portugal pequenino, pleno de delicadezas às ombreiras das portas bem caiadas, católico, esfomeado, desconfiado e profundamente sinistro.

segunda-feira, setembro 10, 2007

Tanatologia quotidiana II
Conversar com um homicida que espetou uma faca nas costas de um desgraçado e no final despedirmo-nos num abraço.

sexta-feira, setembro 07, 2007

Nas cenas com muito sangue muito riem
Creio que a última vez que estive no S. Jorge foi para ver a Mary Poppins. Hoje foi para ver o Dario Argento e o Carpenter. Nada de tão diferente, portanto.
Talvez seja do estilo de vida que professo mas só nestas ocasiões (ciclos de cinema) é que me apercebo que existe gente a ligar às mesmas coisas que eu (música e filmes) e a fazer questão de o demonstrar no modo como se veste derrotando-me uns bons escalões acima.
Miúdas de olhos muito pintados, rapazes de calças muito justas, cinemas de ar muito pouco condicionado.

quinta-feira, setembro 06, 2007

A roupa da Dama
Quando entrei para o Ciclo (para a Escola Preparatória D. Francisco Manuel de Melo na Amadora, que me metia muito medo pois eu saía de uma plácida quarta classe no Externato O Cisne) ficava impressionado com os metálicos dentro das suas t-shirts de Iron Maiden. Cedo me ensinaram na igreja acerca desses grupos satânicos o que só aumentou o meu fascínio pelo sinistro universo musical dos pré-adolescentes dos subúrbios.
Hoje as t-shirts dos Iron Maiden são um símbolo de cultura pop. Usam-nas o Justin Timberlake e o David Beckham. Se um dia tiver uma (o que não é impossível) será uma traição à antiga convicção que até a roupa podia transportar o peso da maldade humana.
Tanatologia quotidiana
O medo de enjoar o sabor da água.
Motel X


Já todos devem saber mas vale sempre a pena recordar que neste momento Lisboa tem um Festival de Cinema de Terror a decorrer. Mais aqui.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Maneiras
Erasmo era muito mais educado que Lutero e quando os dois discutem acesamente o livre-arbítrio nunca o primeiro pisa o terreno do insulto. Já o frade é diferente. Um dos encantos de ler Lutero está em reconhecer-lhe a inteligência para além da bocarra. Esta característica era profética do protestantismo por vir: a intelectualidade, a ética e a ousadia seriam lenha por arder não fosse o rastilho eficaz de uma oralidade de rapazinho de 16 anos sob o hábito de um monge.
Pátria
Até onde estamos dispostos a ir como Nação em relação a esta tendência de calçar chinelos em todo o lado?

terça-feira, setembro 04, 2007

Crónica de calçado
As férias trouxeram-me três pares de ténis novos aos preços espertos do costume. Comecemos pelos menos ousados: all-star rasos pale blue que desencantei no Freeport de Alcochete por 19 euros e qualquer coisa. Não havia os actualmente imprescindíveis brancos que eu detestei até ao presente ano mas esta tonalidade joga perfeitamente com gangas à Lucky Luke (posso assegurar que as calças super slim-fit que comprei na Zara de tanto uso já se colaram aos meus membros inferiores, tendo cometido a proeza barra sensatez de ter abandonado definitivamente os calções este Verão).

Em segundo temos estes Adidas Gazelle (um modelo clássico que deveria calçar qualquer pessoa com a escolaridade obrigatória) em rosa. O rosa estar na moda não é de agora (1977, o ano em que Elvis morreu e eu nasci, foi o ano mais rosa do passado Século XX). O rosa já foi a cor da sodomia e do socialismo português. É tempo de reabilitação e de usá-lo sem complexos. O meu cunhado comprou-mos também no Freeport de Alcochete por 14 euros (temos um código que quando um encontra uma ocasião destas se apressa a avisar o outro - fenómeno que conto estender à literatura assim que encontrar alguém tão simultaneamente sovina e letrado quanto eu).

Por fim, a Jóia da Coroa. Este slip-on branco obtido por 4 euros e noventa e nove no Intermarché da Marinha Grande já destronou os Vans e Vision Street Wear deste T3 de Oeiras. Barred's Sports consta no interior. Fine with me. Fico tal e qual o Johnny Ramone na capa do primeiro dos Ramones. O branco nos pés é de uma eloquência visual intransponível. Alvo mais que a neve, já diz o hino.

Eat your heart out, Lourenço boy.

segunda-feira, setembro 03, 2007

Compacto Férias de Verão 2007
- Duas semanas num local de fusão de parque de campismo com turismo rural com vagas pretensões ecológicas. O tão nobre intento é traído pelo facto de ser projecto de uma família portuguesa da Linha de Cascais (a ecologia dos povos latinos é sempre expiação de pecados, a ecologia dos povos europeus do norte é o chato efeito da educação protestante). Resultado: uma família de tios a inquirirem diariamente se já tínhamos visitado todas as poças de água da Serra da Arada.

- Nestas duas semanas a mais de mil metros de altitude passei as minhas primeiras férias de Inverno durante as férias de Verão.

- Na agenda cultural saboreio parte de um concerto do Saul (agora um rapazinho de 16 anos). Eu, que fui educado por um pai púdico, abomino música consagrada à brejeirice (seja ela genuinamente nacional como a Pimba ou intelectualmente tolerável como a nova onda de música de dança dos países pobres - ver Banda do Rolê do Brasil e o novo kuduro que os brancos já podem gostar [haverá, nesse sentido, projecto mais desprezível que os Buraka Som Sistema que até a Revista Atlântico elogia? - há quantos anos falava eu do Hélder em ausência de legitimação intelectual colonialista sem que ninguém me ligasse?]) dou a mão à palmatória: temos entertainer. Não existe um pingo de elevação ou inteligência no espectáculo de Saul e os clichés são óbvios mas o artista cumpre e entretém com mais metafísica e senso de pudor geográfico que Paulo Furtado (aka Legendary Tiger Man, aka Wray Gunn) o holograma coimbrão com o qual Elvis recusaria palitar os dentes.

- Tinha previsto passar parte considerável do tempo envergando camisolas interiores de alças (não confundir com mangas cavas - corto relações com quem usa mangas cavas) mas permaneceram arquivadas na mala. Tenho bom corpo para o efeito. Braços saídos da cabeça de Tim Burton, duas micro-tatuagens, um fio de prata dado pela minha mulher. Pura fashion verité.

- Acabo de ler o American Pastoral e a Teologia da História do Balthazar. Um equilíbrio admirável entre as depressões topográficas do ethos ultra-atlântico e a inesperada ortodoxia poetizante católica de um alemão.

- Morre Eduardo Prado Coelho, um dos meus professores preferidos do tempo da Faculdade. O homem que foi Žižek antes de Žižek.

- No que à bebida diz respeito sou oficialmente um efeminado: Sagres Lima Light, caipirinhas, Frizes de Groselha, Água das Pedras de Pêssego.

- Passo as quatro semanas entre o arrependimento por vocalizar excessivamente as minhas discórdias com a minha denominação religiosa e a vaidade de uma opinião sem curvas. A minha reputação é questionada e perdidos alguns privilégios de veraneio entre os fiéis. Deus e a minha descendência julgar-me-ão.

- Um mês seguido na companhia permanente das minhas duas criancinhas e começo a moderar a minha cruzada pela explosão demográfica (já vem um terceiro a caminho, não esqueçam). Brinco. Crescei e multiplicai-vos, bárbaros embalados pela Nokia! Mas o bem que me sabe a chegada de Setembro.