Sisudez is the new gagSerá difícil responder
ao Maradona e
à Carla, pelo menos à altura da inteligência que lhes foi dada. Tento. Falava que o humor é sobrevalorizado: este é o tema central daquele post.
I stand by my words. O humor é sobrevalorizado. Há coisas mais importantes que o humor. Esta sobrevalorização do humor relaciona-se, parece-me óbvio, com a subvalorização de outras qualidades, complicadas hoje de valorizar. Nesse sentido, é natural que invoque coisas como a tristeza para atenuar o deslumbramento actual com o humor. E esta era outra interessante e longa conversa: a definição de tristeza. Parece-me que o Maradona peca por atribuir pouco importância àquilo que a tristeza pode ser. O exemplo do
sketch da Rainha Santa Isabel é promissor. Mesmo sendo protestante, e por isso não possuo afinidades emocionais com a senhora, creio que optar pelo génio humorístico do Herman e do MEC
regardless das circunstâncias é revelador da sedução instantânea do humor perante outros valores. Entre o Herman, o MEC e a Rainha Isabel (para os protestantes não existem esse tipo de santos, relembrem) inclino-me imediatamente para a monarca. Tenham paciência: o MEC é o máximo e o Herman já o foi também, mas quem pode contra o poder de uma mulher com uma coroa e, ainda por cima, virtuosa?
Não disse que recolho piadas quando elas entristecem. Até porque para pregadores há uma tradição de piadas que necessariamente devem entristecer os pecadores à volta (é abrir a Bíblia e ler as piadas frequentemente entristecedoras de Jesus). Creio sim que o humor é, novamente,
overrated nessa coisa do
fazer pensar. Só o podemos fazer com um sorriso nos lábios? Eu, que pedincho por mais almoços na presença do Maradona, acredito num Maradona para além da piada. E é aqui que gostaria de terminar: o Maradona subestima o poder fracturante e divisor da verdade nestas matéria do humor, parece-me. Não houvesse verdade nos textos do Maradona e todos faríamos o downgrade para essa vasta galáxia de blogues do engraçadismo, como diria Pacheco Pereira (há santidade nos textos do Maradona, sempre disse).
A Carla pergunta: "
Como argumento que as pessoas que mais se ofendem são muitas vezes as menos tolerantes e as mais manipuladoras?" Nada disso me espanta. Espanta-me que a intolerância e a manipulação sejam necessariamente ostracizadas a favor da tolerância e da não-manipulação. Sou saudável e naturalmente intolerante e manipulador nas coisas em que mais creio. Numa medida, ainda assim, muito mais insignificante comparada com a intocabilidade do humor como valor supremo nestes dias. Disponhamos um terço do tempo que dedicamos à piada a averiguar o que poderá ser a tristeza dos outros. Uma mera questão de equidade cronométrica. Onde precisarei de mais esclarecimentos é nessa referência do "adiantar", uma palavra que me assusta por me parecer demasiado hegeliana (mais exigente ainda que falar em valores mais importantes).
Se me falta a graça dos homens, que me console a divina (perdoem-me o excesso mas ando num Padre António Vieira
mood).