Nem lhe tocava
Antes de ser um inesgotável prazer isto é também trabalho. Este disco chegou a ser previsto para fins de 2007. Chega dois anos depois, numa nova dispensação da Graça em que existem estúdios, agenciamentos, cachets de concertos. E prateleiras da Fnac. Sobretudo prateleiras da Fnac.

O Inventor
O Manuel Fúria sempre chateeou as pessoas pelos motivos certos: por não ter nascido pobre ou proletário ou classe-média e não fingi-lo, por prezar a bênção que é escolhermos os nossos inimigos e não a deixarmos ao sabor das circunstâncias, por não disfarçar o seu entusiasmo de enfatuamento pós-moderno. Talvez por também desejar essas coisas ficámos logo amigos. A minha mulher, que já está habituada a que volta e meia me apaixone por amigos novos (I'm still homófobo, descansem), apercebeu-se em Maio de 2007 que o Manel passava a fazer parte do cenário (e até lhe perdoa o facto de ele trocar sempre o nome dela com o da sua irmã). Desde essa altura o Manel criou uma das melhores bandas de roque português, os Golpes, e trata (ainda que indisciplinadamente) da Editora que também construiu, a Amor Fúria (uma obsessão que tem com os Heróis do Mar). Atura a minha crueldade com frequência (sou intratável com poucos além da minha mulher e filhos) e balda-se miseravelmente aos nossos almoços.
Tem um blogue agora (depois de O Céu Ou Las Vegas há uns anos) que deve ser visita diária.

Um louvor
Aqui no escritório onde trabalho na Igreja Baptista de S. Domingos de Benfica estão na parede 11 posters de palestras organizadas desde Outubro de 2007. Apenas para mencionar os nomes dos palestrantes não-evangélicos I give to you: Pedro Mexia, Tolentino Mendonça, Francisco José Viegas, Carla Quevedo, Pacheco Pereira, Ferreira Fernandes, Pedro Lomba, Jacinto Lucas Pires, Filipe Costa Almeida, João Lisboa e Henrique Raposo. Não deixa de ser uma contradição esta de se ter uma hall of fame num local que se quer santo.
No Sábado passado tivemos, com o Rúben Oliveira, o Rui Ramos que hoje lança a sua "História de Portugal" na Sociedade de Geografia. Numa intervenção que urge aparecer fixada em texto o Rui Ramos falava sobre ler Calvino. E dizia que ler Calvino tem de ser lê-lo, e não legitimá-lo a partir dos seus eventuais contributos para um futuro que não conheceu. Impressionou-me semelhante arrojo e coragem perante a ideia de transcendência que naturalmente discorre das linhas do Reformador vindos de alguém que não reivindicou fé. Rui Ramos ganhou em mim um leitor para a vida.

Uma dieta para Dezembro
O Evangelho de Lucas tem 24 capítulos. Um por dia e sobram seis dias de folga.

Teste o seu calvinismo II
Você sabe que é um cristão calvinista quando a palavra "humanista" nunca serve de elogio.

E não esqueçam a palestra sobre Calvino amanhã
Dezanove horas na Igreja Baptista de SDB. Rúben Oliveira e Rui Ramos. We're the real Canal 2.

Hoje
Às 20h na MTV escolho quatro telediscos. Em estreia televisiva absoluta estará "Zé" do B Fachada.

Cinco
Há cinco discos que com justiça podem ser considerados individualmente o melhor da década. A saber:

- "Elephant" dos White Stripes
- "White Blood Cells" dos White Stripes
- "Sung Tongs" dos Animal Collective
- "Feels" dos Animal Collective
- "Wonderful Rainbow" dos Lightning Bolt

Tenham paciência.

Teste o seu calvinismo
Você sabe que é um cristão calvinista quando num filme sobre uma catástrofe global concorda mais com o vilão do que com o herói.

É isto

Marcar na agenda
O ano não poderia acabar sem que a Igreja Baptista de S.Domingos de Benfica dedicasse uma palestra a João Calvino. Estarão Rúben Oliveira e Rui Ramos e de certeza que será mais um contributo extraordinário para um país que teima em não dar o crédito devido a este homem.

Free Fernanda Now!
Os progressistas sempre foram tímidos no amor (recordo a admiração que senti quando ao chegar à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, principalmente de miúdos esquerdistas, me apercebi que a maioria fugia de confessar namorados - nos subúrbios de onde venho os namorados celebram-se e exibem-se nas ruas). Free Fernanda Câncio. A Esquerda precisa de abrir o coração.

Do Blogue de Direita da Sábado.

Pós
Ainda não acabei de ler o livro e "A Estrada" já é o filme do ano.

A democracia do contágio
Urgências pediátricas tranformadas num filme de zombies. Todos mascarados, só olhos, quase medo. Não há luta de classes para o resfriado. Vale-nos o facto de ser apenas uma letra a mais. A novidade epidémica é sobretudo sociológica. Já nos gripámos por coisas piores.

Câmara dois
Não sou muito versado no que diz respeito a gravar músicas especiais para a televisão. A minha única experiência foi para o Canal de Satélite da Igreja Maná. Hoje eu e uns quantos da editora vamos à MTV no espírito da Quadra.
Haja percurso.

Os loucos estão certos
Está a chegar às lojas (leia-se Fnac) uma nova edição da FlorCaveira. Chama-se "Virou!" e junta Jorge Cruz, Bernardo Barata, João Pinheiro, João Gil e B Fachada. Este super-grupo vai pelo nome de Diabo na Cruz. Imaginem o Vitorino e os Raconteurs juntos numa discoteca de província. É ainda melhor.

Autos
Quando na Carta aos Efésios* o Apóstolo Paulo se auto-entitula "o mínimo de todos os santos" não o faz por auto-depreciação pós-moderna (o truque de que os humoristas desta geração abusam). Ele, que um versículo antes justificava a autoridade do seu ministério de pregar aos gentios, realmente acredita que o mérito de pouco serve quando se trata de fé.
Pessoas mínimas a braços com trabalhos máximos, uma economia existencial do cristianismo.

* Efésios 3:8

Sábados
Desconfio sempre das pessoas que querem casar todos à sua volta excepto elas próprias.

Agora estou também no Blogue de Direita da Sábado. Até o Maradona lá anda. It's gotta be good.

No leitor de MP3
- "Um Projecto Global" do Alexandre Soares. Mil novecentos e oitenta e oito e o mais arrojado GNR mostrava a solo a importância do Toli César Machado e do Jorge Romão.
- "What Will Be" do Devendra Banhart. Eu gosto do Devendra ainda que ele insista em fazer discos demasiado longos.
- "Phrazes For The Young" do Julian Casablancas. Totalmente a favor do fim dos Strokes.
- "Before The Frost" dos Black Crowes. A atemporalidade dos Black Crowes é das coisas menos roque-enrole que melhor faz ao roque-enrole.
- "Off The Wall" do Jackson. Há que respeitar o luto.

Lulu
Em ano por excelência calvinista não esqueçamos o tal alemão, o seu martelo e os pregos. Sábado foi Dia da Reforma.