A Mãe do EscândaloQuis a Providência que não tivesse tempo para assistir à passagem do Papa por Lisboa: nasceu-me um filho. Por isso perdi a hipótese de ouvir com a atenção devida um dos homens mais inteligentes, corajosos e íntegros da nossa História actual. Sinto que por causa disso a metade vazia do copo pesou mais. Na ausência de ouvir os discursos que proferiu sobrou-me, ao invés, apontamentos avulsos que na comunicação social ecoaram previamente. Dito isto, e correndo o risco de não fazer justiça a uma visita que nos enobrece civicamente, salientarei o que não serve de elogio.
Na Antena 1, um sacerdote católico que não recordo o nome, sugeria uma pérola conceptual: mariologia cristocêntrica. E veio-me à memória o inesperado sabor amargo de quando há pouco li a penúltima encíclica de Bento XVI, "Spe Salvi". Num texto acessível, claro, convidativo, o desfecho trai. Contra qualquer nitidez teológica, ao arrepio de qualquer desenvolvimento racional, contrariando qualquer fundamento bíblico, Joseph Ratzinger, discorrendo sobre a importância da esperança na fé, enxerta Maria. Ou seja, relega para essa fraqueza simbólica do catolicismo (uma Mãe que convence onde o Filho não) o poder da persuasão final. Tristemente confirmando que o problema da Universalidade Romana é o regionalismo pagão da Mamã.
Enquanto cristão, protestante, baptista, ouço sempre Bento XVI com expectativa. Com admiração até, provocando-me naturais incompreensões entre os meus. Mas o desapontamento não é raro (graças a Deus, a Reforma não foi um capricho de outro alemão). Ao chamar Portugal "Terra de Santa Maria" o Papa acertou em cheio. Nada poderia ser neste país mais triste para o Cristianismo.