Encerrado para férias

"É decisivo que as férias, tempo aberto a múltiplas errâncias, não se tornem um período errático e vago; tempo plástico e criativo, não se enrede nas derivas consumistas; tempo propício à humanização, não se percam na fuga de si mesmo e no ruído do mundo. Em toda a tradição bíblica o repouso é uma oportunidade privilegiada para mergulhar mais fundo, mais dentro, mais alto."

Com estas palavras do José Tolentino Mendonça vos deixo durante o mês de Agosto. Este ano lectivo foi um tempo que dificilmente a memória apagará, tais as coisas novas que Deus me deu a mim e à minha família. Entretanto, recordem o teledisco da "Praia Verde". Um abraço e até já.

Hip-hip

"O Hipopótamo de Deus"
Amanhã tenho o privilégio de partilhar umas palavras sobre o último livro do Tolentino Mendonça. Às 18h30 na Assírio do Chiado.

Paridade
Talvez por já haver tantos a bater no último disco dos Arcade Fire apetece defendê-lo. Assim, e ainda numa audição prematura (a primeira foi tolhida pela simultaneidade da fluência do skate na paisagem modernista de Nova Oeiras), regista-se o feliz abandono daquela grandiloquência sónica que, sendo apreciável, ameaçava amarrar a banda à banda sonora de um Braveheart futuro e indie-friendly. Não há nada pior que o arrebatamento instituído.

Um post político


Adidas Culver Vulcanized a 15 euros no Freeport. Viva José Sócrates.

Rebenta a bolha
Na First Things Ron Rosenbaum arrasa "The Pregnant Widow" de Martin Amis, clarificando que "Money" sim, é a obra-prima que interessa. No one could burst the bubble of contemporary civilization's sacralization of "self-esteem" better than Martin Amis, escreve. E eu que nunca li o Martin Amis faço uma resolução de pôr as mãos em cima de "Money" o mais rápido possível. Se é para rebentar a bolha da sacralização contemporânea da auto-estima, contem comigo.

Alvura dominical
Provavelmente hoje há demasiada informalidade na maneira como as pessoas se vestem para ir à igreja. Em S. Domingos de Benfica não é excepção. Mas ao mesmo tempo não é raro antever na pequena congregação um público fiel do Sartorialist.



Uma versão possível do nosso sunday best.

Hoje é o oitavo aniversário do meu casamento
A minha felicidade é maior do que a que antevia antes de me casar. Explico: é maior porque também é diferente. Na perspectiva de um miúdo evangélico que guarda a virgindade para o matrimónio há coisas que acontecem logo a seguir que nos frustram. Afinal, descobrimo-nos tão hipersexualizados como os fornicadores: o casamento é muito mais do que a visão da cama à Século XXI. Vamos entendendo que o plano de Deus tem a ver com uma nova identidade e não uma gratificação orgasmática para quem se conteve. Não dava para projectar desforras enquanto amante insuperável, querendo no leito a prestação de um Casanova para nos claustros atingir a elevação de um Agostinho
Por isso a importância dos filhos. Em oito anos vieram quatro, o que dá uma média interessante para os nossos estéreis tempos. Os meus filhos são a consolidação da transformação que o casamento impõe. De algum modo são a minha melhor conversão ao cristianismo. Em oito anos de casamento vou-me apercebendo que o segredo é, paradoxalmente, a extinção das espécies para a sua real sobrevivência. Serão os dois uma só carne. As pessoas não casam para ser felizes. As pessoas casam para ser novas. Sou muito grato a Deus pela minha mulher.

O soluço semi-pagão dos portugueses
Pelo meu amigo Gonçalo, que assistiu ontem ao Prince, soube que a determinada altura do concerto o cantor declara o amor a Portugal, ao que se segue uma pergunta ao público: "Do you love me, Portugal?". A resposta foi mais que satisfatória e o artista continua: "Do you love God?". Ah, o descaramento pio dos norte-americanos. Quem me dera ter assistido ao soluço semi-pagão dos portugueses.

Semana Algarvia a favor do Evangelho
"The Hebrew genius for making the absolute concrete has conditioned the Southerner's way of looking at things. That is one of the reasons why the South is a storytelling section. Our response to life is different if we have been taught only a definition of faith than if we have trembled with Abraham as he held the knife over Isaac. Both of these kind of knowledges are necessary, but in the last four or five centuries, Catholics have overemphasized the abstract and consequently impoverished their imaginations and their capacity for prophetic insight."

Quando Flannery O'Connor escreve estas linhas revela que o seu génio literário corresponde também ao inesperado triunfo cultural de um lugar que é geralmente tido como uma terra de saloios. Mencken, eat your heart out. O catolicismo de O'Connor é culturalmente evangélico e é bom que os progressistas se assustem. Definitivamente, will rise again. Está escrito na Bíblia.

E assim se termina uma gloriosa semana algarvia (tão prazenteira que traz desconforto a uma alma puritana como a minha). Quando no ano passado via slashers dos anos 80 filmados em resorts turísticos e sacava batidas para um EP de Verão, este foi só literatura e piedade. Para aliviar a sublimidade dos dias devo reconhecer que reaprendi a fazer xixi no mar.

Das duas uma a favor do Evangelho
"At its best our age is an age of searchers and discoverers, and at its worst, an age that has domesticated despair and learned to live with it happily." antevê a tal católica solteira sulista de imaginação ardente.

E falando em Sul, Cabanas de Tavira nunca esteve tão ao rubro. Sotavento über alles. Está tudo a rever o teledisco!

Freaks a favor do Evangelho
"Whenever I’m asked why Southern writers particularly have a penchant for writing about freaks, I say it is because we are still able to recognize one. To be able to recognize a freak, you have to have some conception of the whole man, and in the South the general conception of man is still, in the main, theological." escreve novamente a imprescindível O'Connor.

E já agora, aproveitem mais uma dádiva: o novo disco do B Fachada pode ser sacado aqui. O B esteve na FlorCaveira por duas edições e, agora que nos abandonou, tem o desplante de continuar a fazer grandes discos.

Safaris na Satanilândia a favor do Evangelho
"My subject in fiction is the action of grace in territory held largely by the devil", escreve novamente a fiel Flanéria.

Choque, grito e tamanhões a favor do Evangelho
"When you can assume that your audience holds the same beliefs as you do, you can relax a little and use more normal means of talking to it; when you have to assume that it does not, then you have to make your vision apparent by shock, to the hard of hearing you shout, and for the almost-blind, you draw large and startling figures." escreve Flannery O'Connor em Mystery And Manners (esta semana no Algarve vai ser truely epifânica).

CR-RIP
Gostar de Cristiano Ronaldo era também um acto de resistência. Perdoávamos-lhe o narcisismo, o provincianismo, o deslumbramento, a iliteracia e a bazófia porque os seus opositores eram muito piores. Ele nunca foi um dos nossos por isso nem sequer era necessário apelar ao pronto sentimento de classe. Consagrar-lhe tão obeso estatuto de estrela era uma maneira de continuar a preservar no futebol um dos seus maiores trunfos: o jogo é uma vibrante perda de tempo.
Agora saímos órfãos. Com esta trôpega clonização CR9 arrumou moralmente as botas.

CR-RIP
Gostar de Cristiano Ronaldo era também um acto de resistência. Perdoávamos-lhe o narcisismo, o provincianismo, o deslumbramento, a iliteracia e a bazófia porque os seus opositores eram muito piores. Ele nunca foi um dos nossos por isso nem sequer era necessário apelar ao pronto sentimento de classe. Consagrar-lhe tão obeso estatuto de estrela era uma maneira de continuar a preservar no futebol um dos seus maiores trunfos: o jogo é uma vibrante perda de tempo.
Agora saímos órfãos. Com esta trôpega clonização CR9 arrumou moralmente as botas.

Ipsterices avulsas
Dois mil e dez ficará como o ano em que voltámos a cortar as calças de ganga para fazer calções.

Paulo e os invejosos
"The apostle Paul's strategy, one that he assigned to us, was to provoke the Jews to cultural envy", escreve Douglas Wilson. No ringue com hebreus e gentios. De escuteiros pressurosos está o Inferno cheio. Let the haters hate.

Um segredo chamado Bruno Morgado

Vale mais um minuto de VHS com ele que uma eternidade de película com outro qualquer.

Trabalho dos Picos Gémeos, Adriano e Filipe Fernandes.

Calções



Ontem. Pela Verinha.