Convido os leitores a alegrarem-se comigoAndo deslumbrado com a capacidade que temos para memorizar. O certo é que hoje a memorização não tem grande reputação. E avanço três (possivelmente fracas) razões que o justificam:
1. Associamos a memorização a uma coisa do tempo dos nossos pais e avós e, mesmo que não o assumamos, na maior parte das vezes comportamo-nos como se fôssemos mais inteligentes que eles.
2. Para memorizar é provável que tenhamos de fazer exercícios tão curiosos como dizer as coisas em voz alta para nós próprios. Quem fala sozinho geralmente é tido como louco e essa é uma imagem que ainda não aprendemos a apreciar.
3. Memorizar envolve gastar tempo a não fazer mais nada. Isso pode parecer uma simples perda de tempo até porque hoje o as actividades mais populares são as que compreendem várias coisas ao mesmo tempo. Numa época de inter-penetrações a concentração soa a triste onanismo (perdoem-me a metáfora).
Posto isto deixem-me mostrar o que memorizei. Ou melhor, o que decorei. Que é uma palavra mais mal-afamada por ausência de discernimento do mundo em geral. Decorar é trazer no coração. Eis o capítulo 13 da Primeira Carta aos Coríntios (versão de João Ferreira de Almeida na Bíblia de Genebra, a melhor, claro)! Terão de aceitar em boa-fé que o que passarei a escrever vai em directo sem batota de consulta (se os blogues não arriscarem no pedido de generosidade dos leitores para que servirão?):
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Ainda que eu fale as linguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência, ainda que eu tenha tamanha fé a ponto de transportar montes, se não tiver amor nada serei. Ainda que eu distribua todos os meus dons entre os pobres e ainda que eu entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor nada disso me aproveitará.
O amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal, o amor não se alegra com a injustiça mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta; o amor jamais acaba mas havendo profecias desaparecerão, havendo línguas cessarão, havendo ciência passará; porque em parte conhecemos e em parte profetizamos; quando porém vier o que é perfeito então o que é em parte será aniquilado. Quando eu era menino falava como menino, sentia como menino, pensava como menino. Quando cheguei a ser homens desisti das coisas próprias de menino. Agora vemos como em espelho, obscuramente, então veremos face a face. Agora conheço em parte, então conhecerei como também sou conhecido. Agora pois permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor."
Não é um triunfo?