quinta-feira, julho 28, 2011
quarta-feira, julho 27, 2011
In Bloom
Estou a ler Harold Bloom pela primeira vez e já tenho a certeza que andei a perder. “O Cânone Ocidental” também tem sido parte importante deste Verão e agora, quase a acabá-lo, fico mais convicto de livros seguintes que se impõem. Naturalmente Shakespeare (a tese central da vida de Bloom é “Shakespeare é o melhor e dá tareia a qualquer um”, que não deixa de ser convidativa apesar do cheiro a ginásio) e logo a seguir Cervantes (que só li em contos dispersos). Depois Dante (que é uma falha imensa para um pregador) e depois Milton (que é uma falha mais imensa ainda para um pregador protestante). Os escritores que gosto mais abrem espaço para mais escritores que porventura gostarei também.
Por último, uma citação que mostra o génio de Bloom: “Nós adoptámos Kafka como o escritor mais canónico do nosso século porque todos nós epitomizamos a cisão entre o ser e a consciência, que constitui o verdadeiro tema dele”.
Estou a ler Harold Bloom pela primeira vez e já tenho a certeza que andei a perder. “O Cânone Ocidental” também tem sido parte importante deste Verão e agora, quase a acabá-lo, fico mais convicto de livros seguintes que se impõem. Naturalmente Shakespeare (a tese central da vida de Bloom é “Shakespeare é o melhor e dá tareia a qualquer um”, que não deixa de ser convidativa apesar do cheiro a ginásio) e logo a seguir Cervantes (que só li em contos dispersos). Depois Dante (que é uma falha imensa para um pregador) e depois Milton (que é uma falha mais imensa ainda para um pregador protestante). Os escritores que gosto mais abrem espaço para mais escritores que porventura gostarei também.
Por último, uma citação que mostra o génio de Bloom: “Nós adoptámos Kafka como o escritor mais canónico do nosso século porque todos nós epitomizamos a cisão entre o ser e a consciência, que constitui o verdadeiro tema dele”.
terça-feira, julho 26, 2011
Patrick e Keanu
Quarta mixtape pronta e sincera de 2011. Cortesia da FlorCaveira e da Amor Fúria. Podem sacá-la aqui. E tentar arranjá-la fisicamente, que é um pequeno luxo disponível apenas a 333 pessoas.
O talento é de muita gente mas destaca-se agora a capa do nosso habitual Silas Ferreira.
Quarta mixtape pronta e sincera de 2011. Cortesia da FlorCaveira e da Amor Fúria. Podem sacá-la aqui. E tentar arranjá-la fisicamente, que é um pequeno luxo disponível apenas a 333 pessoas.
O talento é de muita gente mas destaca-se agora a capa do nosso habitual Silas Ferreira.
segunda-feira, julho 25, 2011
Ontem foi um dia pleno, total
Baptizámos a Filomena entre lágrimas de alegria. Há coisa melhor para um cristão? Demos uma Bíblia à nossa Maria que, com sete anos, não descansou enquanto não leu um versículo em voz alta na mesa depois do jantar. Que nunca lhe falte a vista e a voz para a Palavra. Visitámos ainda as meninas do Filipe e da Sofia, nascidas há quatro dias. Pequeninas e lindas.
Dias viçosos, de agora e de sempre. Temos corpos demasiado pequenos para esta alegria.
Baptizámos a Filomena entre lágrimas de alegria. Há coisa melhor para um cristão? Demos uma Bíblia à nossa Maria que, com sete anos, não descansou enquanto não leu um versículo em voz alta na mesa depois do jantar. Que nunca lhe falte a vista e a voz para a Palavra. Visitámos ainda as meninas do Filipe e da Sofia, nascidas há quatro dias. Pequeninas e lindas.
Dias viçosos, de agora e de sempre. Temos corpos demasiado pequenos para esta alegria.
sexta-feira, julho 22, 2011
quinta-feira, julho 21, 2011
A Árvore da Vida
Finalmente vi “A Árvore da Vida”. Devo dizer que, ao contrário de tantas outras ocasiões, ia inclinado pelas opiniões positivas para gostar do filme. Não sou particularmente sensível ao argumento de um filme valer por transcender os seus limites (até porque os limites não me parecem uma coisa má) e “grandes reflexões” não me costumam abrir o apetite no ecrã. Por isso o instinto tinha tanto de querer contrariar o meu cepticismo como de abrir-me ao deslumbramento colectivo (caramba, quando foi a última vez que realmente me entusiasmei com um filme?). Como me falavam em liberdade narrativa preparei-me para a seca (dinossauros envolvidos? Céus).
Usando o jargão: o filme vê-se perfeitamente bem. “O Comboio de Sombras” de José Luis Guerin, de que gostei, esse sim, custava e dava para compreender que as pessoas saíssem a meio. Malick agora deu-nos manteiga comparado com o The Thin Red Line que representou muito maior esforço nos meus anos universitários experientes em pessegadas. Começar com um versículo de Job só pode dar certo, Deus não apenas como personagem mas como resignação nunca falha, a abertura ao imenso é uma coragem heróica nestes dias calculistas. Claro que há uma vertigem nesse olhar que de tão impressionado pode redundar em adoração pagã e não é casual que falte uma igreja protestante a uma família americana do sul americano no pós-guerra. Mas o que de mais me marcou é o tanto que vi em tão pouco. Nesse sentido, a duração e os planos são enganadores: Malick não trabalhou para encher o olho mas para esvaziá-lo através do que o arregala. Como combater fogo com uma explosão. “A Árvore da Vida” é justissimamente um filme histórico. Um épico frugal.
Finalmente vi “A Árvore da Vida”. Devo dizer que, ao contrário de tantas outras ocasiões, ia inclinado pelas opiniões positivas para gostar do filme. Não sou particularmente sensível ao argumento de um filme valer por transcender os seus limites (até porque os limites não me parecem uma coisa má) e “grandes reflexões” não me costumam abrir o apetite no ecrã. Por isso o instinto tinha tanto de querer contrariar o meu cepticismo como de abrir-me ao deslumbramento colectivo (caramba, quando foi a última vez que realmente me entusiasmei com um filme?). Como me falavam em liberdade narrativa preparei-me para a seca (dinossauros envolvidos? Céus).
Usando o jargão: o filme vê-se perfeitamente bem. “O Comboio de Sombras” de José Luis Guerin, de que gostei, esse sim, custava e dava para compreender que as pessoas saíssem a meio. Malick agora deu-nos manteiga comparado com o The Thin Red Line que representou muito maior esforço nos meus anos universitários experientes em pessegadas. Começar com um versículo de Job só pode dar certo, Deus não apenas como personagem mas como resignação nunca falha, a abertura ao imenso é uma coragem heróica nestes dias calculistas. Claro que há uma vertigem nesse olhar que de tão impressionado pode redundar em adoração pagã e não é casual que falte uma igreja protestante a uma família americana do sul americano no pós-guerra. Mas o que de mais me marcou é o tanto que vi em tão pouco. Nesse sentido, a duração e os planos são enganadores: Malick não trabalhou para encher o olho mas para esvaziá-lo através do que o arregala. Como combater fogo com uma explosão. “A Árvore da Vida” é justissimamente um filme histórico. Um épico frugal.
quarta-feira, julho 20, 2011
terça-feira, julho 19, 2011
segunda-feira, julho 18, 2011
Cabanas de Tavira
Cabanas de Tavira acontece uma semana por ano já há algum tempo na nossa família. Houve alturas onde desperdicei o tempo sem sequer ir à praia e contentando-me em pouco mais que piscina, revistas e DVDs. Tenho vergonha. Hoje, e com a agenda mais apertada na gestão da energia dos miúdos, o lema é aproveitar cada segundo. Praia de manhã com todos, almoço em casa na varanda em frente à Ria, regresso à praia enquanto os meninos dormem comigo agora sozinho para fazer as minhas devoções e leituras, uma hora de piscina porque eles não perdoam, jantar de petiscos quase sempre numa esplanada e, por último, passeio pela acanhada marginal. Chegávamos à meia-noite partidos. Num dia fomos a Altura, Praia Verde e Ayamonte para impressionar as crianças com a ideia de estarem fora do País.
Este privilégio acontece porque a Tia Lena, dona da casa de Cabanas, teima em ser generosa e, escândalo, anfitriã. Passa este tempo todo connosco. É dose, acreditem. São sete dias que acontecem cheios porque quando dependemos dos outros aproveitamos mais na convicção de que nada realmente nos pertence. A prova de que ir ao Algarve também pode ser um exercício espiritual.
Cabanas de Tavira acontece uma semana por ano já há algum tempo na nossa família. Houve alturas onde desperdicei o tempo sem sequer ir à praia e contentando-me em pouco mais que piscina, revistas e DVDs. Tenho vergonha. Hoje, e com a agenda mais apertada na gestão da energia dos miúdos, o lema é aproveitar cada segundo. Praia de manhã com todos, almoço em casa na varanda em frente à Ria, regresso à praia enquanto os meninos dormem comigo agora sozinho para fazer as minhas devoções e leituras, uma hora de piscina porque eles não perdoam, jantar de petiscos quase sempre numa esplanada e, por último, passeio pela acanhada marginal. Chegávamos à meia-noite partidos. Num dia fomos a Altura, Praia Verde e Ayamonte para impressionar as crianças com a ideia de estarem fora do País.
Este privilégio acontece porque a Tia Lena, dona da casa de Cabanas, teima em ser generosa e, escândalo, anfitriã. Passa este tempo todo connosco. É dose, acreditem. São sete dias que acontecem cheios porque quando dependemos dos outros aproveitamos mais na convicção de que nada realmente nos pertence. A prova de que ir ao Algarve também pode ser um exercício espiritual.
sexta-feira, julho 15, 2011
Leituras estivais III
Terceiro calhamaço: “Personas Sexuais” de Camille Paglia pela Relógio D’Água. Para nos libertarmos dos excessos veraneantes da carne nada melhor que uma lésbica que faz pouco das lésbicas, uma feminista anti-feminista, uma pagã que admira o cristianismo. (...) Camille Paglia é tudo o que podia ter dado certo com Freud.
Terceiro calhamaço: “Personas Sexuais” de Camille Paglia pela Relógio D’Água. Para nos libertarmos dos excessos veraneantes da carne nada melhor que uma lésbica que faz pouco das lésbicas, uma feminista anti-feminista, uma pagã que admira o cristianismo. (...) Camille Paglia é tudo o que podia ter dado certo com Freud.
quinta-feira, julho 14, 2011
Leituras estivais II
Segundo calhamaço: “Da Democracia na América” de Alexis de Tocqueville pela Relógio D’Água. (...) Se se lê um americano visitando a Europa, que se leia depois um europeu visitando a América. (...) Não é literatura de viagem nem Direito mas apenas um dos mais necessários textos sobre o Ocidente moderno. (...) Os Estados Unidos nunca mais serão os mesmos aos nossos olhos.
[Conselho publicado na Ler deste mês]
Segundo calhamaço: “Da Democracia na América” de Alexis de Tocqueville pela Relógio D’Água. (...) Se se lê um americano visitando a Europa, que se leia depois um europeu visitando a América. (...) Não é literatura de viagem nem Direito mas apenas um dos mais necessários textos sobre o Ocidente moderno. (...) Os Estados Unidos nunca mais serão os mesmos aos nossos olhos.
[Conselho publicado na Ler deste mês]
quarta-feira, julho 13, 2011
Leituras estivais
Primeiro calhamaço para o Verão: “A Viagem dos Inocentes” do Mark Twain pela Tinta da China. (…) Um americano visita a Europa e abre o coração. A porta é os Açores e não é propriamente uma entrada triunfal. Os portugueses são impiedosamente descritos como, de resto, todos os restantes europeus. A graça de Twain tem dois sentidos e é fonte de inesgotável humor e inteligência generosa. Este livro devia ser dado nas escolas e ser um exemplo político: navegar é preciso e escrever a seguir também.
[Conselho publicado na Ler deste mês]
Primeiro calhamaço para o Verão: “A Viagem dos Inocentes” do Mark Twain pela Tinta da China. (…) Um americano visita a Europa e abre o coração. A porta é os Açores e não é propriamente uma entrada triunfal. Os portugueses são impiedosamente descritos como, de resto, todos os restantes europeus. A graça de Twain tem dois sentidos e é fonte de inesgotável humor e inteligência generosa. Este livro devia ser dado nas escolas e ser um exemplo político: navegar é preciso e escrever a seguir também.
[Conselho publicado na Ler deste mês]
terça-feira, julho 12, 2011
segunda-feira, julho 11, 2011
Já está nas bancas
A Revista Ler onde escrevo sobre o livro "Apenas Miúdos" da Patti Smith:
Quando Patti Smith solta “Jesus morreu pelos pecados de alguém mas não pelos meus”, a frase parece ter aquela quantidade mínima de blasfémia à qual boa parte dos artistas contemporâneos se candidata para se mostrarem emocionantes. A explicação é dada pela cantora na página 296 do seu “Just Kids”, vencedor do National Book Award e agora editado em Português pela Quetzal sob o título colado de “Apenas Miúdos”: “Cristo era um homem contra o qual valia a pena rebelarmo-nos, pois ele era a própria rebelião”. Apesar da provocação soar a tentativa de programa estético o que vamos encontrar no livro passa pouco por manifestos. É um relato inspirado de um encontro entre dois nomes importantes da cultura popular norte-americana recente. Patti Smith, rocker de poemas, e Robert Mapplethorpe, fotógrafo de vertigens carnais.
A Revista Ler onde escrevo sobre o livro "Apenas Miúdos" da Patti Smith:
Quando Patti Smith solta “Jesus morreu pelos pecados de alguém mas não pelos meus”, a frase parece ter aquela quantidade mínima de blasfémia à qual boa parte dos artistas contemporâneos se candidata para se mostrarem emocionantes. A explicação é dada pela cantora na página 296 do seu “Just Kids”, vencedor do National Book Award e agora editado em Português pela Quetzal sob o título colado de “Apenas Miúdos”: “Cristo era um homem contra o qual valia a pena rebelarmo-nos, pois ele era a própria rebelião”. Apesar da provocação soar a tentativa de programa estético o que vamos encontrar no livro passa pouco por manifestos. É um relato inspirado de um encontro entre dois nomes importantes da cultura popular norte-americana recente. Patti Smith, rocker de poemas, e Robert Mapplethorpe, fotógrafo de vertigens carnais.
sexta-feira, julho 08, 2011
Este Domingo
Avançamos para um Domingo em que pensamos sobre a maneira como a Igreja deve louvar. O caminho é de alargamento: dons em serviço, natureza dos ministérios, compromisso com a comunidade, entre outras coisas que integram a devoção. Anima-nos compreender e abraçar o louvor como um estilo de vida, de facto. Porque o que o Senhor Jesus fez não merece nem um centímetro a menos.
Avançamos para um Domingo em que pensamos sobre a maneira como a Igreja deve louvar. O caminho é de alargamento: dons em serviço, natureza dos ministérios, compromisso com a comunidade, entre outras coisas que integram a devoção. Anima-nos compreender e abraçar o louvor como um estilo de vida, de facto. Porque o que o Senhor Jesus fez não merece nem um centímetro a menos.
quinta-feira, julho 07, 2011
Maria José Nogueira Pinto
Em 2003 escrevi neste blogue que a Maria José Nogueira Pinto era a mulher mais bonita de Portugal tirando a minha esposa. A falta que vai fazer é imensa porque era a melhor mulher no nosso espaço político. Permitam-me a simplificação que vai além do mero elogio fúnebre. Fé, coragem, beleza: a tristeza é grande quando estas coisas perdem nitidez nos dias. Deus console a família (e um abraço para o Eduardo, que tenho privilégio de conhecer).
Em 2003 escrevi neste blogue que a Maria José Nogueira Pinto era a mulher mais bonita de Portugal tirando a minha esposa. A falta que vai fazer é imensa porque era a melhor mulher no nosso espaço político. Permitam-me a simplificação que vai além do mero elogio fúnebre. Fé, coragem, beleza: a tristeza é grande quando estas coisas perdem nitidez nos dias. Deus console a família (e um abraço para o Eduardo, que tenho privilégio de conhecer).
quarta-feira, julho 06, 2011
terça-feira, julho 05, 2011
segunda-feira, julho 04, 2011
Finais de Domingo
Podia não dar-se o caso mas dá. Quase todos os finais de Domingo me sinto especialmente grato pela comunidade da qual faço parte. Sou a pessoa mais suspeita para falar mas estas palavras não se fazem de imparcialidade. Temos um caminho pela frente que só Deus conhece, o que não impede que declare o prazer de agora pela companhia dos meus irmãos perante a Palavra aberta. Este mês de Julho, então, torna-se ainda mais importante na antecipação do primeiro baptismo em mais de três anos de trabalho. Nós, portugueses, somos uma raça da treta no que a assumir compromissos diz respeito. Ainda assim, e por um assombroso mistério, o Senhor Jesus morreu por pecadores tão desclassificados como nós. Sinto um privilégio enorme por estar nesta casa chamada Igreja Baptista de S. Domingos de Benfica.
[A fotografia do harmónio, do boletim dominical e da mixtape da Páscoa foi tirada pelo Tiago Ramos.]
Podia não dar-se o caso mas dá. Quase todos os finais de Domingo me sinto especialmente grato pela comunidade da qual faço parte. Sou a pessoa mais suspeita para falar mas estas palavras não se fazem de imparcialidade. Temos um caminho pela frente que só Deus conhece, o que não impede que declare o prazer de agora pela companhia dos meus irmãos perante a Palavra aberta. Este mês de Julho, então, torna-se ainda mais importante na antecipação do primeiro baptismo em mais de três anos de trabalho. Nós, portugueses, somos uma raça da treta no que a assumir compromissos diz respeito. Ainda assim, e por um assombroso mistério, o Senhor Jesus morreu por pecadores tão desclassificados como nós. Sinto um privilégio enorme por estar nesta casa chamada Igreja Baptista de S. Domingos de Benfica.
[A fotografia do harmónio, do boletim dominical e da mixtape da Páscoa foi tirada pelo Tiago Ramos.]