segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Roma vs Genebra
Nos filmes todos os lutadores de boxe são católicos. É uma especialização ainda por compreender totalmente. Talvez seja uma questão litúrgica. Para Roma não há acção sem altar.
Por outro lado, na nudez formal da Reforma há menos espaço para clímaxes. Quero acreditar que porque para os protestantes tudo é ringue não há necessidade de modalidades específicas de combate.

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Para o sermão deste Domingo
Os coríntios tinham dificuldade em aceitar a ressurreição dos mortos porque pensavam como gregos. Na cabeça deles a Ressurreição significava um festival gore. Cadáveres em decomposição içados para o Céu. O Apóstolo Paulo tem de enxotar-lhes da lógica o grafismo cinematográfico. "Tolo! O que semeias não nasce se primeiro não morrer".
Até as mais compreensíveis dúvidas técnicas podem ser um pretexto para não acreditar. A fé não é da ordem do livro de instruções. E isso faz-nos pensar de uma maneira mais completa. Deus tem corpos novinhos em folha e nós andamos a tropeçar nos pés de defuntos.

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Da temperatura
Em Trollhunter, um filme sobre caçar trolls, o sangue de cristãos excita os monstros. É uma justiça poética vinda das terras frias.

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Montanha
Ando deslumbrado com o relato dos Puritanos em Nova Inglaterra. Dennis Wilson diz que "viviam no ar puro da montanha da calúnia pública", acusados de serem libertinos pelos legalistas e acusados de serem nervosos pelos libertinos.
Uma disciplina para estes dias: viver no ar puro da montanha da calúnia pública. Como os Puritanos.

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Cinco razões porque oferecemos café e bolinhos na Igreja
Mal de alguém que deposite no facto de servir café e bolinhos na Igreja a capacidade de a reavivar. Acreditem, o Espírito Santo é mais importante que o café e os bolinhos. Posto isto enumeramos cinco razões porque os servimos na Igreja.

1. Numa Igreja Evangélica tradicional costuma existir um espaço chamado Escola Bíblica Dominical (onde se ensina acerca da Bíblia de uma maneira mais sistemática) e outro chamado Serviço de Culto (onde se cultua Deus). Isso cria um período natural de pausa entre uma coisa e outra. Ora, o que é que uma pausa geralmente significa? Um café. E, já agora, um bolinho.

2. Gostamos de café. Gostamos de bolinhos. Bebemos um e comemos os outros.

3. O cristianismo bíblico é acerca de urgência e os protestantes não sabem ficar quietos (deixamos a contemplação para o catolicismo). A cafeína é um medicamento proselitista. Pode animar a pregação ou o testemunho. Não defendemos estados alterados de consciência e quem manda nos êxtases é o Espírito Santo mas também não vale a pena armarmo-nos em mariquinhas como os mórmons, que não tocam em café (de qualquer maneira, durante o culto ninguém bebe ou come que uma coisa é ter entusiasmo e outra é não ter maneiras).

4. Geralmente as pessoas sentem-se impelidas a conversar enquanto tomam café. Porque não acreditamos no anonimato dentro de uma igreja valorizamos que a congregação comunique entre si sem ser apenas em acto religioso. Enquanto uns se queixam que o café servido é fraquinho, outros trocam receitas de bolos. Se isto não é também espiritualidade, nada é.

5. O café e os bolinhos servidos são grátis. Ninguém paga por eles. Somos uma Igreja de mãos abertas. O que não nos impede de incentivar todos a serem bons dizimistas e generosos nas ofertas. A generosidade é uma estrada de dois sentidos.

Ah, uma razão última e apócrifa: não servimos descafeinados. Se querem adormecer que não entrem numa Igreja Baptista onde se prega o Evangelho.

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Para o sermão deste Domingo (baby, I'm on fire)
O Apóstolo Paulo junta as coisas: as pessoas pecam porque não compreendem a Ressurreição de Cristo. Não num sentido intelectual estrito (senão seríamos gnósticos) mas numa compreensão que é um acontecimento espiritual. Os cristãos tornam-se santos porque a Ressurreição de Jesus intromete-se-lhes no caminho mudando tudo. A nossa verdadeira identidade é o que acontece pelo facto do Filho de Deus não ter ficado quietinho na sua sepultura.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

T, autores
Depois de ter terminado o livro em que o americano visita a Europa ("The Innocents Abroad" do Mar Twain - que saudades já deixou!) é hora do europeu visitar a América. Bem-vindo sejas Tocqueville (e a tua "Da Democracia na América" - temos leitura para muito, muito tempo)!

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

A minha oferta de Dia dos Namorados para vocês



São Valentim há-de valer pouco no calendário de um protestante mas como sou todo amor aproveito o dia para vos deixar uma oferta. Em Outubro entusiasmei-me a ouvir o "South Of Heaven" dos Slayer (um dos discos que eles menos gostam) e deu-me vontade de improvisar manhosamente sobre o talento deles. Tendo em conta que a banda sempre namorou um satanismo soft (mais feito de testosterona adolescente que anti-teologia séria) voltei a uma das velhas questões culturais cristãs do passado Século XX: why should the devil have all the good music? Assim sendo improvisei umas rimas semi-proselitistas sobre excertos das dez canções do disco. Tudo isto na minha confiável precariedade de meios técnicos. O resultado é este "Inverno Desinspirado do Rapaz do Sul do Céu (Uma pilhagem sonora em baixa-fidelidade com propósitos evangelísticos)" - podem sacá-lo aqui. Pedi ajuda ao Silas Ferreira que claramente me fez a capa do ano (aguardem pelas t-shirts em breve) e rematou os pormenores gráficos. É uma edição completamente artesanal (welcome back fotocópias a preto e branco, CD-Rs baratos, folhas dobradas e discos numerados pelo autor) limitada a 333 exemplares (com metade do número da besta conseguimos mais e melhor).
Alguns de vós receberão ainda hoje este disco nos vossos lugares de trabalho ou em breve vos chegará às mãos. Afinal isto é um labor amoroso com dedicação missionária. As pessoas que se sintam ofendidas por querer evangelizá-las através da música talvez devam proteger-se cardíacamente e evitar a audição deste disco. Ou, pelo contrário, ouvi-lo com mais urgência.
Por último deixo-vos também um teledisco que concebi e o Ben Monteiro (verifiquem o trabalho dele aqui) concretizou. Mash-up policy, naturalmente. Tentámos manter na imagem o trash-metal-pop das cantigas, daí as angústias teológicas, os rodopios cinéticos, a exuberância oitentista brasileira (quero ouvir esse aplauso para a Cláudia Magno!) e a referência ao 50 Cent (porque no fim de contas isto é puro hip-hop).
Como dizem os namorados: amo-vos muito!

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Para o sermão deste Domingo
Depois de um texto onde o Apóstolo Paulo por três vezes pede silêncio à Igreja de Corinto (1Cor14:26-40) chegamos ao penúltimo capítulo da Carta aos Coríntios onde a Ressurreição é o assunto. A clareza impõe-se: caso não exista Ressurreição concreta andamos todos a perder tempo com o cristianismo. A isto chama-se ser prático.
Espreitem o vídeo de Fevereiro.

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Horas e números
Nem mesmo o amaneiramento pegajoso de Danny Boyle consegue estragar a força de 127 Hours. James Franco é bom, a banda-sonora, sendo espertalhona, cumpre (Boyle sempre gostou de mostrar indie-cred e o momento Sigur Ros perto do fim ilustra bem a estética de épico insuflado à força que hoje os anúncios de cerveja não poupam) mas o trunfo é aquilo para o qual o realizador não precisou de se esforçar: a história incrível de Aron Ralston.
Nota final: queremos Boyle de volta a filmes de números mas agora para continuar o 28 Days Later (o meu preferido dele).

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

PJ
Não sei o que se passa na cabeça de PJ Harvey mas sou completamente a favor de "Let England Shake". Apenas ouvi uma vez mas toda a descordenação, esganiçamento, leveza, embaciamento, desafinação me parecem justificados. Discos para fazer o país tremer - quem pode ser contra?

terça-feira, fevereiro 08, 2011

Resolvendo o Século XX na cabeleira
Não deixa de ser divertido este regresso dos cortes de cabelo de lados aparados e cumes exuberantes. Um meio-caminho entre o Terceiro Reich e o rockabilly.

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Dream Copyright
Já tudo foi dito sobre a tristeza que é o fim dos White Stripes. Só posso acrescentar, noutra toada, o alívio que é deixar de ter o Jack White a concretizar-me as ideias.

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

À boleia do sermão para este Domingo
Uma das intenções que percorre toda a Primeira Carta de Paulo aos Coríntios é o desejo do Apóstolo plantar no coração daqueles crentes uma paixão pela edificação da Igreja.
Aceitar este desafio hoje é esclarecer o próprio conceito de Igreja. Por exemplo, para os Baptistas não existe Igreja Universal sem igrejas locais absolutamente autónomas (como no modelo neo-testamentário). Um dos méritos deste entendimento é enxotar as glórias fáceis de uma Igreja Universal tão sublime quanto abstracta (Kevin DeYoug diz que a Igreja Invisível cria cristãos invisíveis). Daí que não seja estranho que algumas das pessoas que no meio evangélico mais se entusiasmam com o crescimento do Reino serem as mesmas que se repugnam com a existência de um Rei.
Proponho um exercício para testar noções. Let's think old. Os rostos dos sexagenários mais irritantes da nossa igreja local são a mensagem do capítulo do amor em 1 Coríntios 13. Num certo sentido o Apóstolo Paulo apela: que o nosso coração palpite pela mais custosa rotina dos Domingos de manhã. Se nos sentirmos incapazes é como se interrompêssemos o caminho do Senhor para a cruz dizendo-lhe: "Ó Jesus, por estes quadradões não vale a pena morreres". A tragédia é que o Inferno tem a medida dos nossos maiores sonhos para uma Igreja nas nuvens que não pede sacrifícios.

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

Blues
Apelo à vossa paciência mas agora que dizem que a música portuguesa aprendeu a gostar de si própria fico com saudades dos outros tempos. Isto também a propósito da última canção dos Fleet Foxes. Suportem outra generalização: fora de Portugal aparecem proporcionalmente mais canções com letras que vale a pena ouvir. Leiam o arranque da tal "Helplessness Blues":

I was raised up believin'
I was somehow unique
Like a snowflake distinct among snowflakes
Unique in each way you can see

And now after some thinkin'
I'd say I'd rather be
A functioning cog in some great machinery
Servin' some thing beyond me

But I don't I don't know what that will be.
I'll get back to you someday
Soon you will see.


É óbvio que o rock'n'roll tem tudo a ver com o ritmo. Mas quando é o ritmo mais as palavras, ceús, temos uma dádiva nas mãos. Teremos odiadores nos académicos e nos brutos mas sentimos o compasso do amor no coração.

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Dar-lhes corda
É um hábito mostrar a caixa do CD que ouço no carro à minha segunda e ao meu terceiro. Hoje quando ouvíamos o "Give 'Em Enough Rope" dos Clash o Joaquim perguntava acerca do cowboy derrubado e a Marta inquiria por que razão os passarinhos lhe mordiam a camisola. O panque-roque tem o dom de usar os bichinhos para revelar que depois da Arca de Noé as acomodações logísticas podem ser um desafio. Parecem-me preciosos subsídios teológicos mas devem ser administrados às crianças com alguma prudência.