Carta aberta à NuchaEstimada Nucha,
aceite esta humilde carta aberta enquanto um gesto de amizade. Curiosamente até nos cruzámos há uns anos nas gravações dos programas evangélicos do Canal 2 mas não se deve recordar de mim. O que é perfeitamente insignificante para o caso. Escrevo porque ouvi falar de uma entrevista que recentemente deu à Sic onde falava da experiência passada de se identificar enquanto cristã evangélica. Rapidamente a vi no
YouTube e senti a necessidade de lhe escrever. Porquê? Porque, apesar de ser notória a ponderação que procura ao falar do assunto, creio que foi injusta na maneira como falou genericamente acerca "
dessas igrejas".
Devo reconhecer a legitimidade que a Nucha tem para demonstrar a sua desilusão com a comunidade evangélica em particular por onde passou. Nenhuma igreja está imune de cometer erros. Independentemente dos factos (e felizmente ignoro por que igreja passou) a Nucha encosta equivocamente ao nome de "evangélicos" expressões como "
lavagens ao cérebro" e lugares onde "
nos deixamos levar". A diversidade das Igrejas Evangélicas é larguíssima. De tal maneira que desconfio que, por exemplo, a Nucha se pudesse tornar evangélica ao ouvir um sermão meu. Com isto quero dizer cuidadosa mas frontalmente que a Nucha converteu-se à mensagem evangélica na qual achou conforto. E se teve todo o direito para o fazer, maior deveria ser o cuidado agora na hora da desconversão. Sugeria por isso o exercício: "converti-me pela razão A, desconverti-me pela razão B". Sem essa franqueza apenas aumentará a ignorância e a pouca boa-vontade que no geral os portugueses já mostram em relação a qualquer confissão cristã não-católica.
Deixe-me ir mais longe. Foram algumas as ocasiões em que ouvi o testemunho de fé da Nucha nessa fase. Nunca coloquei em causa a sinceridade e a autenticidade da conversão que partilhava. Hoje, sinto-me desconfortável: quem falava naquelas alturas? Uma pessoa enganada? Uma pessoa sinceramente enganada? Uma pessoa enganadamente sincera? Ainda que invoque ter sido violentada psicologicamente como justificaria um exercício de tamanha liberdade e coragem? Não me custa a acreditar que pudesse estar confusa então da mesma maneira como pode continuar confusa hoje. E aqui uma palavra de reprovação para os evangélicos que, obcecados por uma notoriedade que a maioria católica lhes nega, usaram a Nucha como prematura e desajustada porta-voz da fé. Já não é a primeira vez e duvido que seja a última. Quando entenderão estes evangélicos? Se pregamos com mais entusiasmo pelo embalo de um famoso que acredita em Jesus acabamos a pregar a fama em vez de Jesus.
Uma das explicações para estas sinceras incoerências na vida da Nucha tem, a meu ver, com o facto de que os evangélicos também eram à ocasião um público novo, uma espécie de micro-revitalização da sua carreira. Quem desdenharia, ainda que a pretexto de um evento religioso, cantar num Pavilhão Atlântico para uma audiência cheia de fé? Eu estava lá nesse Dia do Evangélico e a Nucha também.
Dito isto resta-me acrescentar que para beneficiar a Igreja Católica à qual regressou a Nucha deverá empenhar-se. Ser mais exigente em tudo aquilo que na Igreja Evangélica que frequentou foi relaxada. Para beneficiar Roma não faça "
da sua casa a sua igreja". Seja fiel na sua paróquia. Vá ler o último livro do Papa. Peregrine. Confesse-se. Se não ganhar agora a fé robusta que antes publicitava então os evangélicos ainda mais facilmente reivindicarão que não esteve à altura do que o Evangelho pedia.
Por último quero dizer à Nucha que peço a Deus pela sua saúde. E acrescentar que apesar da controvérsia religiosa encontrei na tranquilidade com que respondeu ao programa da Sic uma centelha daquilo que creio ser a vontade de Deus para todos: viver. Mantenha no coração o Jesus que tatuou na pele e receba o meu abraço,
Tiago.