O Casamento da Joana e do Joel
Leitura de Efésios 5:15-33
Às vezes ler a Bíblia assusta-nos quase tanto quanto nos assusta o casamento. E isto não é uma coisa má: que a Bíblia não nos poupe dos sustos. Se eventualmente alguém tem a ideia que a Bíblia é um bom livro para se ler e ficar bem-disposto, para em caso de desespero adquirir uma alegria instantânea, então é porque ainda leu muito pouco a Bíblia. Nas páginas das Escrituras os amantes não correm na praia para os braços uns dos outros em câmara lenta. Talvez não falte quem procure desesperadamente os excertos bíblicos que mais se assemelhem mas a verdade é que quando fala do casamento, a Palavra de Deus não engana ninguém. O casamento aparece tão maravilhoso quanto exigente. Por isso é natural que ao lermos estas linhas da Palavra o tal sobressalto aconteça. Qual é a noção de casamento que o cristianismo defende, afinal de contas?
Ao lermos um texto destes pode acontecer que tenhamos mais medo que o casamento corra bem do que corra mal. Num casamento é fácil que coisas corram mal. Não é preciso muito trabalho para que isso aconteça. Por outro lado, os sinais que aqui na Palavra nos são dados acerca da saúde de um casamento podem parecer, à primeira vista, piores que a doença. Basta voltar a ler. Sujeição uns aos outros (no verso 21)? Submissão ao marido (no verso 22)? Sacrifício pela mulher (no verso 25)? Como nos sentimos animados para uma coisa que parece tão pouco sedutora? O que procuram, afinal, a Joana e o Joel neste dia?
Porque acreditamos que a Bíblia é uma testemunha fiel da vontade de Deus, procuramos nela os contornos do casamento. E do Génesis ao Apocalipse uma coisa é indesmentível: foi Deus que inventou o casamento e o casamento é uma coisa maravilhosa. Se formos ao relato da Criação, logo no iniciozinho, encontramos o Criador a repetir: "isto é bom." Deus cria a luz e diz: é bom. Deus cria a Terra e o Mar e diz: é bom. Deus faz a erva, as árvores e as sementes e diz: é bom. Deus cria o sol e a lua e diz: é bom. Deus cria os peixes e as aves e diz: é bom. Deus cria os animais da terra e diz: é bom. Deus viu tudo o que tinha feito e disse: é muito bom! Deus viu o homem sozinho e disse: não é bom. E resolveu o assunto criando o casamento. O casamento é muito bom, segundo toda a Bíblia, porque é uma ideia de Deus e tira as pessoas da solidão.
Todos os homens que casam com mulheres, independentemente de acreditarem em Deus ou não, usufruem de uma ideia dele. É isso que os cristãos acreditam. A felicidade que um casamento pode oferecer está ao alcance das pessoas que têm fé e das outras também. Mas é verdade que as pessoas que têm fé no Deus na Bíblia olham para o casamento sabendo que a felicidade que ele proporciona tem um objectivo maior. Deus quer que os homens e as mulheres casem porque Deus quer que, num certo sentido, os homens e as mulheres casem com ele. As histórias de amor que celebramos num casamento alcançam o seu significado final quando essas histórias celebram uma história maior: a história de amor entre esses noivos e Deus.
Quando nos juntamos neste dia celebramos mais do que a história de amor da Joana e do Joel, bonita que já é. Hoje não atribuímos um prémio à Joana e ao Joel por esse par elegante e gracioso que eles formam. E não os condecoramos porque os prémios são para o final da carreira, não para o início. Hoje não os felicitamos por um romance notável, aquilo que na maior parte das vezes podemos achar que é a condição necessária de um bom casamento. Talvez por isso sejamos uma geração com tantas dificuldades em viver casada: estamos tão obrigados a ser felizes que a felicidade se torna um fardo. Acontece, como dizia, que um casamento não é o culminar de uma grande história de amor. Apenas o seu começo.
Hoje estamos juntos para celebrar o casamento da Joana e do Joel que, por sua vez, celebra o casamento de Cristo com aqueles que ama, a Igreja. Podemos e devemos celebrar hoje com a Joana e com o Joel porque celebramos Cristo. Nos Jotas de Joel e Joana tem sempre de estar o Jota de Jesus. Por essa razão nós olhamos para estas palavras da Bíblia não como uma tarefa pesada mas como um trabalho que vale a pena. A Joana submetendo-se, como a Igreja perante Cristo. O Joel sacrificando-se, como Cristo pela Igreja. Em tudo submetendo-se mutuamente e servindo um ao outro, como explica o verso 21. A entrada de Cristo neste casamento não é uma intromissão. Jesus não chega para desmanchar o prazer mas para pô-lo a funcionar. É a distância de Jesus o método mais rápido e infalível de matar a alegria de um casamento e, em último grau, matar o próprio casamento.
Os cristãos não acreditam que um casamento se suporta. Acreditam que um casamento se saboreia. O próprio Jesus, que fez o seu primeiro milagre público num casamento, não permitiu que o vinho acabasse. Onde Ele está o paladar fica satisfeito. O cristianismo é a religião dos casamentos. Ansiamos por casamentos! Porque em cada casamento provamos a fidelidade de Deus e antecipamos o maior casamento de todos que viveremos na Eternidade: o da Igreja com Cristo. Estaremos juntos com o Nosso Pai!
Este é um dia de grande alegria porque a Joana e o Joel vivem uma grande alegria. E esta grande alegria deles é apenas uma maquete desta alegria maior que temos em Cristo. Hoje, nós, que os acompanhamos, somos obrigados a esta mesma disciplina bíblica: sermos alegres.