O fim das férias com a Conferência Bíblica em Água de Madeiros
Com o fim da Conferência Bíblica em Água de Madeiros este Sábado, finaliza também o período de férias. Foram óptimas. Algumas notas sobre a Conferência:
- Depois de sairmos da Conferência Bíblica chego a ter vergonha de não termos planeado ir. Ou seja, fomos porque uma oportunidade surgiu à última hora, pela qual estamos muito gratos ao Pr. Mário Jorge Marques. A Convenção Baptista Portuguesa, cooperação de mais de meia centena de igrejas baptistas portuguesas, está de parabéns pela iniciativa. Valerá a pena investir ainda mais na divulgação e preenchimento da Conferência, evento ímpar no calendário dos evangélicos do País e dos baptistas em particular. O Fernando Ascenso, que dirigiu com a Connie Duarte e o Rubens Nascimento em parceria eficaz, continua numa forma invejável. O Fernando é um dos meus mestres mas já não estava num Acampamento dirigido por ele há mais de vinte anos. A sensibilidade do Fernando é uma bênção, aguda em reconhecer histórias redentoras nas pessoas com quem se cruza. Todas essas histórias repetem o padrão da história maior: a de Jesus que se deu em nosso lugar.
- Creio que boa parte da minha geração, educada em Acampamentos que dividiam o auditório em grupos mais pequenos de debate (vulgarmente chamados mini-grupos), tornou-se algo desconfiada deles. Receamos que o pretexto da conversa redunde num
best of facilitista de desabafos e pouco mais (quem quer assistir a mais um fórum da TSF?). No entanto devo reconhecer que a experiência dos mini-grupos na Conferência Bíblica foi muito positiva. A interacção compensou.
- O Dr. Shedd vai inaugurar na nossa casa uma parte da parede dedicada a fotografias da família com teólogos. Obviamente que tirámos um retrato com ele e agora
no sleep till Piper. Houve tanta coisa que nos impressionou no Dr. Shedd que enumero apenas algumas: esteve durante todo o tempo da Conferência nas instalações do Acampamento Baptista onde dormiu num quarto sem luxos; durante todo esse tempo manteve-se disponível para conversar com qualquer pessoa que o abordasse; não falhou uma única actividade, até as mais lúdicas; o modo magnânimo com que respondeu a questões teológicas potencialmente divisórias foi uma escola para mim, que ainda derrapo demasiado para o kung-fu; as palestras foram informativas, instrutivas, tranquilas, humoradas, sugestivas, fundamentadas e persuasivas, entre outras qualidades; quando falou no seu passado e na sua passagem por Portugal no final dos anos 50 explicou com clareza que a ida para o Brasil foi uma decisão tomada por razões de maior alcance missionário (e se dúvidas tivesse sobre o assunto bastou atestar no facto de ter partilhado uma frase dele no Facebook que em poucos dias foi um êxito de partilhas precisamente por causa dos meus amigos brasileiros da rede); reavivou em muitos uma urgência de evangelização a partir de um testemunho cristão sincero e de um envolvimento com a carência social dos que nos cercam; e interpelou sempre amigavelmente o nosso Caleb mesmo quando o nosso impertinente filho de dois anos e três meses lhe respondia com um desaforado "pára!".
- Nos últimos tempos tenho lido sobre a importância de resoluções pessoais. Sendo nós tão agressivamente ambíguos estamos assustados com a ideia de tomarmos decisões às quais nos mantemos fiéis. A fidelidade hoje pode ser a suprema rebeldia. Como calculam,
I'm on it. Tomei duas durante o tempo da Conferência Bíblica: 1ª, ler a Bíblia toda durante o ano (começando em Setembro). Continuamente era esmagado durante o período dos mini-grupos pela literacia implacável da irmã Cacilda da Igreja Baptista de Matosinhos. Ora, a irmã Cacilda é pouco mais velha do que eu, não tem formação académica em Teologia e sabia genealogias do Velho Testamento e episódios das igrejas do Novo Testamento como ninguém. O segredo do sucesso dela? Esse mesmo, tão simples que temos vergonha de o reconhecer: passa a vida a ler a Bíblia. A segunda resolução é cortar na internet e no Facebook em particular. As redes sociais são coisas extraordinárias em alguns aspectos mas não estou a conseguir sobreviver-lhe em termos de mordomia do tempo. Logo passo a permitir-me visitar o Facebook uma vez por dia e não mais. Sei que ainda é um horizonte miserável mas Deus é bom e vai ajudar-me (façam favor de me contactar por mail para o tiagooliveiracavaco@gmail.com e evitarem o do Facebook).
- Os Baptistas em Portugal andam à rasca procurando por novos pastores. Provavelmente, desde a chegada da denominação ao nosso País, através de cidadãos britânicos comerciantes de Vinho do Porto há pouco mais de 120 anos, que a situação não era tão complicada em termos da proporção do número de ministros para o número de igrejas. A Conferência Bíblica, não tendo como objectivo falar do assunto, não fugiu à conversa durante os períodos de intervalo. O número de pastores era lá elevado e de origens e contextos diferentes. Um desabafo que partilhei com muitos colegas foi: não deixem os novos entregues a si próprios. Carecemos desesperadamente de mentores e mestres, homens que nos ajudem mas que também nos dêem na cabeça fraternalmente. Hoje a tentação é um alheamento fácil nos modelos estrangeiros que ficam à distância de um click. Não tenho nada contra esses modelos (no caso de SDB temos sido incrivelmente abençoados pela Gospel Coalition dos Estados Unidos) mas não faz sentido ficarmos simultaneamente distantes dos que combatem a mesma luta ao nosso lado. Este Verão foi uma grande oportunidade de comunhão com outros com mais experiência que não quero espantar, antes pelo contrário. A aventura da qual fazemos parte não é apenas individual: é à escala do Universo inteiro. O Senhor Jesus não faz as coisas por menos.