quarta-feira, outubro 31, 2012

Martinho
















A data de hoje é o Dia da Reforma Protestante. Foi apropriado ler esta manhã a frase de John Owen, citado por Martyn Lloyd-Jones: "os crentes não são feitos para as igrejas, mas as igrejas é que são nomeadas para os crentes."

terça-feira, outubro 30, 2012

Ouvir
O Pr. Jónatas Lopes falou-nos este Domingo passado sobre o tanto que Jesus disse através do silêncio. Aqui (clicar em cima aqui).

segunda-feira, outubro 29, 2012

Segunda canção de "Amamos Duvall"



Daqui a duas semanas sai o disco. Esta canção, "Cem Toneladas", vem de Marcos 13 e de uma óbvia simpatia por Jack White (com um twist meio folclórico).

sexta-feira, outubro 26, 2012

Na reunião de oração
Ontem na reunião voltámos a falar na estranha sintonia entre o beijo de Judas e a espada de Pedro. Não para igualar duas atitudes distintas (Judas traía e Pedro lutava) mas porque ambas partem de uma incompreensão acerca do tipo de Salvador que Jesus é. Para os que vão à Igreja é provável que seja mais produtivo pensar na atitude de Pedro ao cortar a orelha do servo do Sumo-Sacerdote no momento da prisão do Mestre. Muitas vezes os cristãos ao quererem defender Cristo acabam atacando-o. O gesto aparentemente corajoso de Pedro (pegou na espada e mostrou acção, caramba!) não é isolado. Faz parte de um processo que a esta altura do Evangelho de Marcos passa pelo aviso de Jesus que em breve o discípulo o trairia, a resposta a esta revelação em forma de fanfarronice de Pedro, o sono que logo a seguir o derrota, a agressividade ao pegar na espada e cortar a orelha a Malco, e o auge na tripla traição ao cantar do galo. O heroísmo de Pedro é uma paradoxal amostra que tem problemas com o tipo de Salvador que Jesus é. Já vem de antes (e em Marcos 8 é especialmente nítido pela bipolaridade de ser simultaneamente pedra de fundação e pedra de tropeço ao declarar que Jesus é o Cristo e imediatamente censurar a cruz como plano de concretização desse messianismo).
O Filipe a partir deste texto falou dos episódios em que ao querermos defender a fé damos por nós a defendermo-nos a nós próprios. Esta é uma relação sensível que deve merecer aos crentes uma especial humildade. De tornar a nossa luta pela ortodoxia um gesto de sintonia com a forma como o nosso Senhor salva. Isto não é nada fácil mas a sombra do exemplo de Pedro poder ser muito útil para discípulos frequentemente precipitados como nós.

quarta-feira, outubro 24, 2012

"Redescobrindo os Pais da Igreja", de Michael Haykin
É uma fraqueza geral dos evangélicos, a de mostrarem pouco interesse pelos Pais da Igreja. Aliás, só falar em Pais da Igreja, tendo em conta que Padres da Igreja é uma expressão equivalente, arrepia os cabelos dos mais historicamente anti-católicos. No entanto esse regionalismo evangélico português, hiper-sensível à religião maioritária, vale a pena ser repensado para nos tirar a ignorância dos primeiros cinco séculos da história da Igreja. Não faz bem nenhum aos Protestantes o típico salto cronológico directo para o Século XVI. No primeiro semestre deste ano a Igreja Baptista de São Domingos de Benfica estudou as confissões históricas do Cristianismo e foi óptimo. Andávamos a perder uma riquíssima nuvem de testemunhas. Hoje somos uma comunidade que ama os Pais da Igreja, homens como Atanásio, Agostinho, Jerónimo, e por aí fora. Até uma certa antipatia prévia por Aquino (que já é posterior) foi reconsiderada. O Passado mudou-nos o Presente.
O livro "Redescobrindo os Pais da Igreja" de Michael G. Haykin pode ser um excelente primeiro passo. Haykin é professor de História no Southern Theological Baptist Seminary em Kentucky e coleccionou oito artigos que escreveu anteriormente para compilá-los num único volume. Colocar o Século XXI em perspectiva, buscar inspiração para uma caminhada devocional com Cristo, promover o entendimento do testemunho básico da fé e do Novo Testamento, refutar as histórias erradas sobre a Igreja Antiga, ser um instrumento de nutrição pessoal: estes são objectivos de Haykin. Não esquecendo que "os Pais não são as Escrituras. São companheiros experientes de conversa sobre as Escrituras e o seu significado. Ouvimo-los com respeito, mas não tememos discordar quando erram."
Michael Haykin escreve acerca das vidas de Inácio de Antioquia, da Carta a Diogneto, Orígenes, Cipriano, Ambrósio, Basílio de Cesareia e Patrício. Apresenta-lhes as virtudes e os deslizes, conseguindo sempre entusiasmar o leitor para saber mais depois do que fica a saber agora. "Redescobrindo os Pais da Igreja" funciona apenas como aperitivo mas um aperitivo saboroso. A leitura faz-se economicamente e com ritmo, contextualizada no cenário evangélico, pois ele é distinto do católico. Os Protestantes dão nomes hebraicos aos seus filhos porque os nomes dos Pais da Igreja não vêm na Bíblia. E começar pelo livro de Haykin pode ser mais acessível que entrar pela biblioteca patrística adentro sem preparação.
A edição não é a mais cuidada. A tradução parece apressada, existem gralhas desnecessárias e até o conceito gráfico, bem planeado, parece executado à pressa. Mas à editora Fiel deve reconhecer-se o mérito de promover junto dos Reformados a restituição de um zelo com a História do Cristianismo que recentemente os evangélicos terão esquecido. É boa hora para que desinteressados sejam chocalhados e descubram que a crença nas doutrinas da Graça tem um impacto no tempo. Não houve século que Deus tenha desamparado os que escolheu. E os primeiros sete séculos da era cristã estão recheados de testemunhas inspiradíssimas. Não regressaremos delas os mesmos.

terça-feira, outubro 23, 2012

Ouvir
Cristo fica sozinho. Completamente abandonado. Os homens que o odeiam acorrentam-no, os homens que o amam abandonam-no. Ambos não o compreendem e reagem de acordo com essa incompreensão. O que Jesus está a fazer parece absurdo aos que o seguem e parece perigoso aos que o desprezam.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, outubro 22, 2012

Amamos Duvall - a capa


















A música ainda não conhecem mas já é capa do ano. O talento é do Pedro Lourenço e da Sofia Martins do Estúdio Fera.
Querendo Deus, o disco sairá dia 13 de Novembro, data que comemora o nascimento de Santo Agostinho. Vai ser duplo, não tanto porque andava em modo White Album mas mais porque andava em modo Use Your Illusion. Os títulos das canções são:

DISCO 1
1. Atanásio contra o mundo
2. Amamos Duvall
3. Sirenata
4. Os rapazes do pouco fazem fogo
5. Rãs nos aposentos de Reis (com Filipe da Graça)
6. Homens de água (Igrejas cheias ao Domingo, parte II)
7. Casa com vista para as trincheiras
8. O que é que se passa contigo? (com José Camilo)
9. Dança como David (com Eduardo Mano)
10. Miudagem, como é que é?
11. Rocha no coração
12. Contigo sou sempre agradecido (com Samuel Úria)

DISCO 2
1. Estás casado com o Estado
2. 100 Toneladas
3. Faz filhos
4. A casa vem abaixo
5. Orquestra de ladrões (com Stealing Orchestra)
6. Xungaria no Céu (com Selma Uamusse Van Nespen e Alex Dalva Teixeira)
7. Alguém perdeu o ferrão
8. Também queres cantar (com Nick Nicotine)
9. Qual é o segredo por que as meninas gritam de medo? (com HMB)
10. Esquadrão Túlipa
11. Canção para a Sílvia e para a Fátima
12. A medida da felicidade

sexta-feira, outubro 19, 2012

Por uma Teologia do Sono
Pode parecer ridículo mas é mais ou menos isto que temos andado na igreja: numa teologia do sono. Isto porque seguimos a sugestão do texto em Marcos 14:32-42. Quando a primeira pancada que a fanfarronice de Pedro leva é precisamente no momento em que dorme na hora errada. Só para dar algum contexto - Pedro tinha-se armado em esperto quando Jesus o avisou que estava breve o tempo em que seria por ele traído. Quando o Mestre lhe pediu, e a João e a Tiago, para vigiarem com ele num dos piores momentos da sua vida, prestes a conhecer o clímax na cruz, todos adormeceram. Por isso seguimos a mesma moral da história. De pouco nos serve defendermos a nossa mais ortodoxa coragem cristã quando não a levamos para o sono. O princípio mais importante é o de estarmos espiritualmente acordados. E isto pode levar-nos a dormir menos ou a dormir mais (grandes heróis da fé tiravam horas ao sono para as dedicarem à oração). Acontece que no geral a geração cristã contemporânea ainda não chegou a esse grau de exigência. O nosso maior problema com o descanso é não o sabermos dominar. É uma fera à solta na nossa casa, um bicho por domesticar. Por isso dormimos demais, dormimos de menos, dormimos fora de horas, dormimos no trabalho, dormimos para curtir, dormimos por curtir, e por aí fora. Talvez alguma da popularidade dos zombies na nossa cultura seja um espelho inesperado reflectindo um caos sonolento que nos pertence. Tendemos para nos acalmarmos apenas quando um terapeuta certificado nos diagnostica um distúrbio que explica medicamente aquilo que não quisemos resolver espiritualmente.
O exercício colocado à igreja foi: a maneira como durmo beneficia ou prejudica a minha vida familiar? A maneira como durmo beneficia ou prejudica a minha vida na igreja? Ontem quando partilhávamos questões na reunião o Manel deu um exemplo: "quando mais cansado eu estiver o mais vou acelerar as minhas orações para poder finalmente dormir." É um caso tão simples quanto sincero. De uma maneira geral é a oração que deve roubar ao sono e não o contrário. Esse foi o exemplo de Jesus e de cristãos de notável vida piedosa. As pessoas na reunião reflectiram ainda sobre a maneira como a nossa vida devocional também não se resume à oração. O João partilhou que tem entendido que se não tirar tempo às séries televisivas dificilmente vai ler coisas que fortaleçam a sua fé. Procurar a presença de Deus agita-nos a agenda e eventualmente mexe-nos o sono. A boa notícia no meio disto tudo é que faz-nos estar mais acordados para, entre outras coisas, o sofrimentos dos outros. É incrível porque a nossa vida melhora quando isso acontece, temo-nos apercebido na igreja.

quarta-feira, outubro 17, 2012

Trinta e cinco
De manhã, acabado de acordar, encontro do outro lado da porta cinco pessoas. A mulher e quatro crianças. Cantam os parabéns e pela primeira vez na vida passa-me pela cabeça que sem querer dei origem a uma cidade. Aquela pequena multidão é a minha família e a coisa mais extraordinária é pensar que somos apenas um elo numa cadeia de felicidade muito superior aos 35 anos que agora me elogiavam.

terça-feira, outubro 16, 2012

Ouvir
Primeiro, na hora do sofrimento Jesus pede a Deus Pai o seu desejo: ser livre dele. Temos neste exemplo uma caução para podermos orar pelo fim do nosso sofrimento. Mas na hora do sofrimento Jesus reconhece também que acima da sua vontade deve prevalecer a do Pai. Este é um segundo ponto e pode funcionar como um modelo seguro para as nossas orações - orar pelo fim do nosso sofrimento acautelando que o contrário pode ser a vontade de Deus e que nos devemos submeter a ela.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, outubro 15, 2012

Os dez anos da Coluna Infame
Não é um bom prenúncio escrever estas linhas em murmuração mas sinto que não tenho alternativa. O que se passou com a capa do Atual do Expresso? Com a do Ípsilon? Com a do suplemente do DN? Com a do I que até arrisca mais? A da Visão, a da Sábado, a do Jornal de Letras? O mesmo com a tv e com a rádio - onde estão as cabeças de quem trata da nossa imprensa escrita e audiovisual? Fez dez anos que a Coluna Infame começou e, pelo que sei, o máximo que a data mereceu foram umas notas do próprio Pedro Mexia na sua coluna semanal do Expresso. Dizem que o País está em crise e tenho a certeza que o esquecimento do blogue do João Pereira Coutinho, do Pedro Lomba e do Pedro Mexia apenas a confirma no domínio moral.
Sustento o meu escândalo: a Coluna Infame foi um dos factos culturais mais relevantes no nosso País das últimas duas décadas. E estou convencido que o futuro me dará razão quando olhar tudo com mais distanciamento. Porque tenho a certeza que a influência da Coluna Infame poderá ser facilmente reconhecida até pelos que nunca a leram. Não é preciso ter tido a página nos favoritos, só é preciso não estar desligado do que hoje temos e do que antes dela não tínhamos.
Falo a partir do meu modesto exemplo. Da minha religião e do meu panque-roque. Quando há dez anos comecei a ler a Coluna Infame o impacto foi total. Houve uma descoberta que assumi de um modo tão enamorado quanto ensurdecedor. Quando a Coluna Infame entrou no meu coração eu saí do armário. Foi como se reconhecesse naquele momento e à luz do dia aquilo que durante toda a vida tinha acontecido em sonambulismo. Claro que houve o exagero típico de qualquer paixão, a simplificação expectável de qualquer amor e o alheamento natural de qualquer namoro. A Coluna Infame funcionava para mim como uma chave de leitura para o que queria escrever daí para a frente. Imitei-a o mais que pude, persegui-a até aos limites e prometi-lhe fidelidade eterna. Tudo isto na forma do blogue que criei para mim. Se eu nunca fui da Coluna Infame a verdade é que a Voz do Deserto só existiu por ter a certeza que ela, a Coluna, sempre me pertenceu. O facto de ter acabado prematuramente, sem sequer um ano ter completado, só aumentou em outros como eu o desejo de lhe mantermos o espírito vivo. E hoje, dez anos depois, a Coluna Infame continua viva. Os mais distraídos só precisam de ser relembrados.
Da minha parte sei que há uns quantos mais evangélicos mais descarados também às custas da Coluna Infame. Da minha parte sei que há uns quantos músicos independentes mais descarados às custas da Coluna Infame. A Igreja Baptista de São Domingos de Benfica vive com uma coragem insuflada pelo Espírito Santo mas o exemplo do João e dos Pedros inspirou-me a mim, hoje pastor, a não ter vergonha de afirmar o que acredito independentemente de ser popular e a ter prazer em não ter vergonha de afirmar o que acredito independentemente de ser popular. A FlorCaveira já existia antes da Coluna Infame, mas o exemplo do João e dos Pedros inspirou-me a mim e aos outros músicos da editora a afiarmos a nossa palavra na nossa música e materializarmos a mistura em mais artesanato sónico. E claro que podia sair da minha esfera pessoal e confessar que acho impossível o sucesso do Gato Fedorento (e portanto de todo o novo bom humor) sem a Coluna Infame, que acho impossível a renovação da opinião política sem a Coluna Infame, e que acho impossível um apetite recente por boa literatura contemporânea sem a Coluna Infame.
Já se aperceberam da minha tese. Reconhecer a importância da Coluna Infame é reconhecer a importância da maioria das melhores coisas que na última década aconteceram ao País. Que as pessoas não saibam da responsabilidade do João Pereira Coutinho, do Pedro Lomba e do Pedro Mexia é também um dos prazeres que torna maior o privilégio de fazer parte da minoria que sabe.

sexta-feira, outubro 12, 2012

Na reunião de quinta-feira e antecipando o próximo Domingo
Ontem falámos sobretudo sobre a maneira como ainda hoje podemos escandalizar-nos em Cristo. O mesmo que aconteceu com os discípulos na noite da prisão do Senhor acontece connosco: porque de repente os acontecimentos nos parecem difíceis de engolir na nossa lógica do que o Messias deve ser, fugimos a sete pés. Escandalizarmo-nos em Cristo é isso. Encontrar nele alguma coisa que nos choca ao ponto de acharmos que está a fazer mal o seu papel de Salvador. Os discípulos achavam inconcebível que uma campanha para implementar o Reino de Deus incluísse o cárcere. Por isso naquela hora deixam de reconhecer em Jesus a autoridade. E correm para salvar o que Jesus naquela hora entrega: a vida.
Quando nos escandalizamos em Cristo, e ainda que não seja a nossa intenção, é como se o chamássemos de incompetente na sua maneira de ser salvador. É duro mas explica também a facilidade em nos afastarmos de Jesus nas horas críticas. Não nos parece aceitável que a fé tenha a ver com o sofrimento. No Domingo que vem vamos continuar neste assunto. Associando-o a um teste muito simples que a Palavra nos sugere: o sono. A maneira como dormimos pode ser uma prova simples do tipo de discípulos que somos.
Na parte da reflexão de ontem o Joel disse uma coisa muito interessante: “um das maneiras de nos apercebemos das coisas que a igreja está a fazer é conversando com pessoas que estão fora dela.” O Miguel disse: “o perdão do pecado não tem a ver com esquecimento mas com a chegada de uma nova realidade.” Estas são apenas algumas frases soltas da nossa conversa comunitária mas que exemplificam algumas das lições que o evangelho de Marcos nos está a trazer.

quarta-feira, outubro 10, 2012

SDB
Este fim-de-semana passado foi um passo importante para a nossa igreja. Saímos do nosso ninho original. Isso aconteceu porque o espaço se tornou insuficiente para a congregação presente ao Domingo de manhã (às 10h30). Nas reuniões de Quinta-Feira continuamos em SDB (às 20h). Por outro lado começámos a cooperar com a Segunda Igreja Baptista de Lisboa, uma igreja com mais de oitenta anos (aos Domingos às 16h). Na prática significa que a Igreja Baptista de SDB passa a estar presente em três locais diferentes dentro da cidade de Lisboa: São Domingos de Benfica (que nos dá o nome), Benfica e Lapa. Estamos tão entusiasmados quanto decididos a ficar na dependência de Deus para sabermos lidar com este privilégio. Somos novos, inexperientes, um bocado descarados e temos a capital do País a dar-nos conversa. Tenham-nos nas vossas orações.

terça-feira, outubro 09, 2012

Ouvir
Mais do que estar a defender o valor da vida de Jesus, Pedro está a defender o valor da sua própria vida ao defender a vida de Jesus. A veemência de Pedro não visa em último grau Cristo, visa-o a si próprio. Pedro está a construir uma reputação de fidelidade a partir da sua auto-imagem. Vai acabar mal.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de "aqui").

segunda-feira, outubro 08, 2012

Qual é a missão da Igreja?
Não vale a pena chatearmo-nos pela moda que algumas palavras se tornam. No contexto das igrejas evangélicas esse é um fenómeno frequente que nos deve merecer uma dose de paciência igual à da prudência. Sem criar pretextos para guerras desnecessárias. É uma vontade minha, a de procurar acerca dos temas mais populares das épocas, uma postura de discernimento que fique acima da postura de debate. Deus ajudar-me-á então a serenar o ímpeto de ser do contra. Até porque no fundo o reaccionário faz tanto parte do problema quanto o revolucionário. Tenho tentado trocar o sarcasmo pela sabedoria e, como calculam, não é muito fácil. Sobretudo quando o sarcasmo dá a aparência de que por reagirmos às coisas estamos supostamente a pensar sobre elas, quando muitas vezes nem chegámos a raciocinar.
Dito isto, assumo já uma das palavras que no meio evangélico ganhou muita popularidade e que em mim pouca boa vontade. Essa palavra é missional. Creio que lhe podemos reconhecer dois defeitos prévios: é foneticamente feia e, evocando uma palavra mais antiga, sofre daquela presunção que todos os neologismos padecem quando ainda estão muito encostados aos velhologismos mas cheios de vontade de os largar. A primeira pergunta que fiz ao termo missional é a que continuo a fazer depois de ter lido alguma coisa sobre o assunto: vale a pena substituir o adjectivo (que também é substantivo) missionário por missional? Continuo a achar que não. Mas o que de melhor aprendi sobre o tema foi lendo o livro "Qual a Missão da Igreja?" de Kevin DeYoung e Greg Gilbert.
Antes de falar sobre o livro conto apenas um breve episódio. Há uns anos assisti a uma palestra no Instituto Bíblico Português dada pelo Dr. Roy Sciampa. O Dr. Sciampa é um académico notável que durante alguns anos deu aos evangélicos o privilégio de ensinar aí, no Instituto. Também se distinguiu por participar na tradução da Bíblia para português corrente. Nessa palestra falava sobre a Carta aos Efésios e, apesar da sua esmagadora erudição, não me senti persuadido pela leitura que fez do capítulo cinco, que me pareceu mais ansiosa em aliviar o texto daquilo que podia ser uma condescendência com "relações opressivas" entre homens e mulheres (nunca tendo definido quem estaria em condições de justamente qualificar uma "relação" de "opressiva") do que em interpretá-lo. Na altura coloquei uma questão mais genérica sobre recear a desvalorização da doutrina da justificação pelo tom da comunicação ser mais a cosmovisão cristã e a vivência holística (mais duas expressões atrasadamente em voga no meio evangélico português que não são muito a minha onda e que, diga-se de passagem, são foneticamente feias). Lembro-me que quando coloquei a pergunta citei o Ed Stetzer, um missiólogo baptista americano, quando diz que "se tudo é missional, nada é missional". Não recordo em particular as respostas que obtive mas lembro que nunca tinham ouvido falar do Ed Stetzer e talvez tenha acabado apenas por parecer aos ouvidos daquela plateia o fundamentalista alarmado de serviço (estou habituado). Não nego que precisei de resistir ao cinismo quando há pouco tempo editei um programa de TV da Aliança Evangélica gravado noutra palestra do Instituto Bíblico onde o convidado, que não fixei o nome, citava Ed Stetzer. Só para terminar a referência a este episódio devo dizer que o Dr. Sciampa ouviu-me ainda em particular, depois de terminada a sessão e que ainda troquei alguns e-mails com ele sobre o assunto. Apesar de ter discordado dele naquela matéria fui tratado com respeito e fraternidade. O privilégio foi sobretudo meu, de ter sido recebido com generosidade por alguém que tem uma vida inteira de dedicação ao estudo da Palavra.
Na contracapa de "Qual a Missão da Igreja?" pontua: se tudo é missão, nada é missão, que descobri ser original de Stephen Neill. No livro DeYoung e Gilbert empreendem um esforço considerável e recompensador lendo na Bíblia aquela que é a preocupação missionária que a percorre do início ao fim. Para isso colocam o alicerce na Grande Comissão de Mateus 28 mas não recusam a compreensão temática bíblica mais larga. Esclarecem que "se há implicações missiológicas em Génesis, a sua ênfase não é «vai e abençoa todos» e sim «vai e chama todas as nações a colocarem a sua fé em Cristo»". Mas é no cruzamento que fazem entre a compreensão do que missões são na Bíblia e a sua interpretação mais popular em alguns círculos evangélicos contemporâneos que creio que o maior trunfo dos autores se estabelece: "Um dos maiores enganos em grande parte da recente literatura sobre missão é uma suposição de que, o que quer que Deus esteja fazendo no mundo, isso também é nossa tarefa (...) Há certas coisas que Deus tenciona fazer um dia e nas quais não temos qualquer participação (...) Os autores bíblicos entenderam que as palavras finais de Jesus [em Mateus 28] eram as mais importantes (...) que deu para formar a identidade missional deles." Com isto o objectivo de DeYoung e Gilbert não é desincentivar a obra missionária (um cristão missionariamente desincentivado é um cristão em pecado) mas esclarecer que o argumento para missões ou justiça social não pode exorbitar o seu terreno bíblico: "A história bíblica não é a respeito de trabalharmos com Deus para tornar o mundo correcto novamente. É a respeito da obra de Deus em tornar-nos rectos, para vivermos de novo com ele." Para isso escreverão acerca de entender a palavra evangelho e entender o significado de Reino de Deus (uma expressão que pode ser usada preguiçosamente por uma geração pouco inclinada para as más conotações institucionais do termo igreja). Reconhecem o fenómeno de indiferença à pobreza que muitos evangélicos mostraram sobretudo ao longo do Século XX, e tentam restituir ao problema o seu mandato bíblico. Esclarecendo que "a Grande Comissão tem de ser a missão da igreja por duas razões muito básicas: há algo pior do que a morte, e há algo melhor do que a prosperidade dos homens."
Gostava de terminar acentuando o que de mais urgente encontrei neste volume. Há a tendência de tornarmos triunfalista a maneira como evangelizamos (independentemente do modo como estabelecemos a relação entre evangelização e justiça social). O risco é evangelizarmos mais a partir dos agentes da evangelização que do autor da evangelização. Ou seja, as igrejas gostam do que fazem porque estão a fazê-lo e não porque gostam de quem as mandou fazer. Se eu pudesse sintetizar numa frase os meus receios com as tendências ditas missionais diria que o verdadeiro evangelista poupa-se de orgulhos porque de cada vez que evangeliza lembra-se que o evangelho que declara não lhos permite (é uma má frase but you get the idea - nesse sentido, não existem missionários de crista levantada). Uma história de salvação pela graça de Deus nunca pode deixar inchados os que a pregam. A minha acusação final seria esta, e espero que não pareça injusta. Sinto que grande parte das vezes o termo missional é usado em jeito de censura ao suposto mau trabalho que fizeram as gerações que usaram o termo missionário. Posso estar errado mas o feeling parece-me mais de ressentimento que de empenho evangelístico. Se estiver a avaliar mal pelo menos avalio a partir dos meus maus instintos. Sei bem o quanto o meu ego se estica quando dou por mim a confundir a maneira como vivo o cristianismo com o próprio cristianismo (se quem usar o termo missional o fizer com paciência por quem só usa o missionário já valeu a pena esta confissão desajustada). Ficarmos sobretudo nas palavras de Jesus quanto à tarefa missionária pode ser muito mais seguro que as ampliarmos além do que o autor disse.

quarta-feira, outubro 03, 2012

Vestir a camisola
Na minha família o valor do futebol é quase zero. Apesar de nunca ter sido atleticamente sofisticado quando era miúdo jogava tanto como os outros. Com perplexidade fui-me apercebendo à medida que crescia que gostar de futebol não era necessariamente gostar de jogar futebol. Talvez seja excesso de pragmatismo da minha parte mas a única coisa que me consegue entusiasmar no futebol é jogá-lo (ainda que muito debilmente). Os clubes, as devoções, a leitura de jornais desportivos, as transacções dos jogadores, os campeonatos, parecem-me uma idolatria tão óbvia quanto aborrecida (não era à toa que há umas gerações não havia preferências futebolísticas nas igrejas evangélicas). Discutir o jogo sem o jogar? Absurdo.
Com tudo isto estão a ver o tipo de doutrinação que os meus miúdos recebem em relação à bola. É verdade que lhes digo que sou do Benfica (porque não vejo necessidade de deixar de ser do Benfica, dessa maneira tão passiva como sou dos Lakers) mas a identificação clubística deles é mais um resultado dos tios que ligam ao assunto. A Tia Raquel casou com o Tio Miguel, um distinto benfiquista numa linhagem de distintos benfiquistas. O primo Tomás segue o mesmo caminho e vai passando ao meu Joaquim os artefactos dessa sucessão. Há dias o Joaquim recebeu uma camisola do Benfica à séria e tem insistido em usá-la. É bonita, de facto. Hoje foi então o dia.
Já se está mesmo a ver. Há dois dias o autocarro do Barcelona passou por mim e eu sem perceber nada do alarido. Hoje de manhã já não estava tão alheado embora tenha saído de casa sem saber o resultado de ontem (não esqueçam que ando em detox de Facebook). Sabia que havia o risco de envergar a camisola do Benfica num dia sensível. E assim foi quando a revelação nos foi dada. O Joaquim, orgulhosíssimo do traje, é saudado à porta da escola por um avô de um colega que imediatamente lhe diz: "ontem não tivemos sorte mas vamos acreditar!". Claro que não entendeu nada da mensagem a apenas sorriu (uma coisa que faz desde o dia que nasceu). O pai dele, eu, fica a saber que de repente uma distraída escolha de roupa pode influenciá-lo para sempre: vestir a camisola a seguir a uma derrota. Com tanta indiferença pela bola posso estar a contribuir para um benfiquista resoluto. Queira a Providência que seja essa a atitude dele muito além do futebol.

terça-feira, outubro 02, 2012

Ouvir
Quando conhecemos o passado judeu conhecemos o nosso futuro gentio. É a história de uma Salvação que se dilata, mesmo além das fronteiras étnicas. Não olharmos para trás não nos permite saborear o impacto do que vivemos agora e do que acontecerá no futuro. Amamos ainda mais Cristo quando o encontramos anunciado na Páscoa hebraica.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima do aqui).

segunda-feira, outubro 01, 2012

Amamos Duvall
Deus deu-me a possibilidade de gravar um disco novo. Tive o meu amigo João Eleutério, do Armazém 42, a produzi-lo comigo. A ideia é sair mais ou menos daqui a um mês. A primeira canção que o anuncia é esta, "Amamos Duvall".
O teledisco foi feito pelo Alex D'Alva Teixeira, o rapaz mais musicalmente quente de 2012. O Alex anda a rebentar, o que é inteiramente justo e me deixa orgulhosíssimo, espécie de avô que sou para ele. Além disso meteu as segundas vozes nesta canção. Tudo boas razões para darem à cantiga uma chance. Partilhem-na.