terça-feira, janeiro 31, 2012

Ouvir
Mau sinal se formos muito bons a elaborar esquemas de santidade e desfamiliarizados com as nossas transgressões. O sermão de Domingo passado aqui.

segunda-feira, janeiro 30, 2012

Revista de imprensa
1. O Henrique Raposo evoca Moscavide. "Até 1990, Moscavide foi a minha Lisboa. “Ir a Lisboa” era, na verdade, ir a Moscavide. O médico era lá. As coisas que não se podiam comprar no Delgado e no Francês eram por lá compradas. Aquele bairro era o nosso bazar, a nossa Istambul. Um centro comercial, mas em bom (...) No meu tempo, as filas do médico eram feitas por mães com garotos chorões. Hoje, as filas são formadas pela terceira-idade. Moscavide parece uma aldeia beirã cercada pelo bulício da ‘modernidade’ alcatroada (...) Moscavide mostra como a pirâmide demográfica deu lugar a uma espécie de losango." O Henrique é uma voz isolada reflectindo sobre a história dos subúrbios lisboetas. É um escândalo que tão pouco se fale sobre o assunto. Mas revelador que os miúdos que crescem nos subúrbios raramente chegam à imprensa. Este é o tipo de luta de classes que tenho a certeza que existe. Ocorre-me o Pedro Lomba, o Pedro Vieira e o próprio Henrique. Vejam o caso do cinema nacional: quando os filmes sobre os subúrbios perderão aquele exagero melodramático próprio dos realizadores que nunca lá viveram? A crónica do Henrique é uma escola que deve ser frequentada.
2. O Blitz fala sobre os Lacraus. A minha relação com o Blitz é um daqueles casos complicados. O Blitz tem chegado estranhamento atrasado a quase tudo do universo FlorCaveira e quando lá chega mostra desconforto (excepção feita ao Rui Miguel Abreu). O clímax foi ter noticiado o fim da editora sem nunca ter corrigido o disparate. Verdade seja dita que o que agora escreve sobre a banda revela equilíbrio e até simpatia. O Luís Guerra foi generoso nas quatro estrelas e na análise da banda (foi ele quem escreveu uma coisa que nunca me tinha apercebido que é os Lacraus serem uma espécie de portal de acesso a uma juventude inacabada). Posto isto deixo uma canção dos Anjos para animar este novo momento com o Blitz: "eu quero voltar ao ponto de partida."

sábado, janeiro 28, 2012

SDB
Amanhã, no 1º Domingo da História Oficial de SDB, Jesus vê o nosso coração do avesso. A partir das 10h30. Todos bem-vindos!

sexta-feira, janeiro 27, 2012

Pais
Falávamos ontem na Igreja sobre a triste possibilidade de tratarmos mal os nossos pais. Cristo acusa a classe religiosa dessa negligência e sentimos o calafrio na nossa espinha. John Stott escreve: "As culturas dos povos da África e da Ásia, que têm um conceito mais amplo de família (não como apenas o lar do casal), são uma permanente advertência ao Ocidente". O susto maior é o truque de fazer do empenho religioso a desculpa para não cumprir as nossas responsabilidades enquanto filhos. Não é um assunto fácil mas que nos falte a habilidade de usar o Pai do Céu para esquecer os da terra.

quinta-feira, janeiro 26, 2012

Acidente
Hoje comecei a ler Verbum Domini de Bento XVI. É um desafio partir para uma defesa da Bíblia de uma perspectiva católica mas a inteligência de Ratzinger compensa todos os fossos. “No início do ser cristão não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo.” Nem mais. O cristianismo, mais do que a imitação de Cristo, é a Sua intromissão nas nossas vidas. A Bíblia não é um manual de resoluções futuras mas o relatório do acidente.

quarta-feira, janeiro 25, 2012

Ouvir
Muitas vezes, quão mais sofisticada é a nossa fé, mais distraída fica do essencial. Não procuramos tornar o nosso cristianismo mais complexo, antes pelo contrário. O sermão de Domingo passado aqui.
"As Nove Marcas de Uma Igreja Saudável" de Mark Dever
O título do livro de Mark Dever tinha tudo para dar errado comigo há uns anos. Qualquer indício de receitas simples era o que bastava para me afastar. Porque a literatura evangélica teve a sua dose atordoante de remédios rápidos para todo o tipo de maleitas, com mais promessas que resultados. Talvez por causa disso a minha geração tenha crescido desconfiada de generalizações mas caindo noutra armadilha, tão ou mais infantil: achar que pessoas que não arriscam respostas são necessariamente mais inteligentes. Conseguimos perceber que este fenómeno não vai dar coisa boa se o aplicarmos a pessoas de que, supostamente tendo fé, se espera algum tipo de certezas. Não falta público para os sacerdotes da dúvida mas essa já muito raramente é a minha praia.
O que não quer dizer que "Nove Marcas de Uma Igreja Saudável" seja um livro ultra-rigoroso nas suas pretensões. Dever explica que as "suas nove marcas" não são necessariamente nove marcas atestadas em termos absolutos. São, seguramente, as nove marcas que a sua experiência pessoal confirma assim como o pastorado da sua igreja. E a maneira como Mark Dever articula as suas convicções com o percurso da Igreja Baptista de Capitol Hill é um dos trunfos do livro. Existe a força de uma proposta teórica ao mesmo tempo que o caminho particular de uma comunidade oferece um contexto. Não se trata apenas de concordar ou não com a tese do livro, trata-se também de a apreciar nas suas reivindicações junto do lugar onde nasceram. Afinal, o contributo de Dever não se propõe a arrojos académicos ou novidades historiográficas. Trabalha a favor da Igreja como a entendemos tradicionalmente (no contexto evangélico), essa instituição com dois mil anos de experiência e uma eternidade de garantia.
E quais são essas marcas de uma Igreja Saudável? Pregação expositiva, Teologia bíblica, compreensão bíblica do Evangelho, compreensão bíblica da conversão, compreensão bíblica da evangelização, compreensão bíblica da membrazia, disciplina bíblica da igreja, promoção do discipulado e crescimento cristãos e uma compreensão bíblica da liderança da igreja. Dever já tem falado sobre outros temas que não estando aqui compreendidos também dizem respeito à saúde de uma igreja. O que não o impede de enfatizar convictamente estes. E deixar claro que a repetição dos termos "compreensão bíblica" é tão intencional quanto atrevida. De cada vez que se junta a ideia de compreensão à Bíblia está-se a dizer uma coisa simples mas com muito impacto. Porque a partir do momento em que vivemos convencidos que podemos compreender, vivemos convencidos que podemos mudar. Isto, pelo menos, para os que crêem que uma cabeça que pensa implica um coração que sente e uma vontade que se acende (uma associação perfeitamente discutível mas que deverão aceitar com benevolência para a defesa do argumento em causa).
Mesmo para os que não se sintam atraídos por um título como "Nove Marcas De Uma Igreja Saudável" há razões de chega para darem uma chance. Porque a tese de Mark Dever, não escrita com grande refinação ou nuance, é feita de boa matéria-prima. A convicção de que a simplicidade da mensagem do Evangelho não é um defeito. Mas um combustível de transformação. Em dois mil anos de saúde inconstante da Igreja, temos umas valentes mãos cheias de exemplos. Os maus não chegam para perdermos a certeza dos bons.

Nota: um dos sabores mais agradáveis na leitura deste livro foi o facto de resultar de uma oferta voluntária e espontânea de um membro da Igreja Baptista de SDB a todos os outros. Uma comunidade com este tipo de generosidade tem de ser promissora.

terça-feira, janeiro 24, 2012

Um mês de antecedência


















Cartaz do Ben Monteiro.

segunda-feira, janeiro 23, 2012

As minhas palavras para um dia tão especial como o de ontem
Para que a nossa História em SDB possa começar é necessário falar-vos brevemente da nossa pré-história. O que nos entusiasma nesta pequena Igreja Baptista já tem rastro no passado. E se é certo que a fidelidade de Deus tem sido uma experiência colectiva na comunidade, também é verdade que tem sido uma experiência pessoal.
Devo a mais que estes Pastores a quem demos a oportunidade esta tarde. Mas estes três Pastores foram fundamentais. De qualquer modo, e antes ainda deles ainda, os primeiros a encaminharem-me foram os meus pais, a Eunice e o Henrique. Os meus pais tornaram fácil o que podia ter sido difícil, natural o que podia ser estranho, sincero o que podia ser fingido. Não herdei o cristianismo dos meus pais mas eles ensinaram-me nele e isso é de um valor eterno. Tive a saborosa companhia das minhas irmãs, Rute e Sara. Ao mesmo tempo os meus tios prolongaram a generosa herança do meu avô materno, o Pastor Joaquim Lopes de Oliveira, o exemplo maior da minha raiz. Certamente, se ainda estivesse connosco, ficaria de cabelos arrepiados (os poucos que tinha) com muitas das minhas maneiras mas quero acreditar que a sua satisfação seria grande pelo neto que segue a mesma voz que ele seguiu.
O Pastor Jorge Leal, meu primeiro Pastor em Campolide e na Amadora, tem sido um Mestre e um exemplo de integridade. Sempre aprendi com ele, entre outras coisas, que dois mil anos de Cristianismo têm muito para nos ensinar e que ser fiel à Palavra não nos garante sucesso entre os homens. É uma inspiração para mim e para SDB. O Pastor João Rosa de Oliveira foi quem me pastoreou mais tempo, desde os oito aos 22 anos. É um exemplo de serviço e cuidado pastoral como nunca vi noutro. Foi quem me baptizou e quem sempre me ofereceu a liberdade de exprimir os meus dons mesmo quando ainda não eram grandes dons. Foi graças a ele que pela primeira vez dirigi um estudo bíblico e preguei, na Igreja Baptista de Queluz. Foi graças a ele que pude fazer música terrível mas com capacidade de atingir outros, mesmo que distantes da minha fé. Sempre aprendi com ele que servir a Deus é uma questão de humildade e que o descanso real fica provavelmente para o outro lado da Eternidade. É uma inspiração para mim e para SDB. O Pastor Jónatas Figueiredo foi o primeiro Pastor que quis imitar. Dirigiu muitos dos acampamentos em que, na adolescência e juventude, tomei algumas das decisões mais importantes. Foi sempre uma alavanca na minha vida, sugerindo-me desafios novos que mudavam o destino imediato. Em particular este, o de pensar seriamente na possibilidade de usar a minha vida para servir a Deus numa igreja local. Sempre aprendi com ele que pregar o Evangelho é um exercício de excelência, energia e entusiasmo. É uma inspiração para mim e para SDB.
Devo ainda mencionar outras duas pessoas que, não sendo pastores, também me facilitaram o caminho. O Fernando Ascenso, professor constante, sempre escancarando novas oportunidades de testemunho em lugares pouco religiosos, demonstrando que o testemunho de Cristo não é somente uma questão de dever mas de necessidade. A maneira como se olha, como se fala, como se escreve, como se arrisca. Têm sido práticas nossas porque durante anos foram dele. A outra pessoa é o meu primo Timóteo, que chamamos de Tim. No final da minha licenciatura em Ciências da Comunicação recebeu-me na Sociedade Bíblica para um estágio profissional e pôs-me a tratar da edição de uma nova tradução da Bíblia. Tive de fotocopiar uma Bíblia inteira em dois dias de um Agosto quente, que foi um dos trabalhos mais duros de sempre da minha vida. Pouco tempo depois foi meu padrinho de casamento e o homem que literalmente me mostrou o Novo Mundo, quando por duas vezes me guiou em visitas a Nova Iorque. A minha gratidão com ele é grande.
Por último, e num destaque necessário, o meu próprio Pastor até hoje. O meu tio Teotónio Cavaco. Não tenho como descrever a sua importância por uma simples razão: o que aqui celebramos não é o início do ministério do Tiago mas a natural continuação do ministério do Teo. Os verdadeiros homens de Deus não trabalham para si mas para os outros e sei que vou debaixo de uma sombra gigante. A minha dívida a ele não pode ser saldada.
Simultaneamente a nossa Igreja em Moscavide. Nesta última quinta-feira, quando passava o último dia ao serviço da Igreja recordei a maneira como aqui cheguei há 10 anos. Vinha solteiro com casamento marcado, inexperiente, imaturo mas aberto. Uma década depois somos um lar de seis, uma missão de doze, e projectos mil de proclamar Cristo. Esta Igreja de Moscavide foi a casa que nos acolheu e o terreno que acolheu a semente. Sem ela não estávamos aqui. Foi ela que aceitou a ideia de voltar ao lugar que já tinha sido um Igreja durante algumas décadas de esforçado ministério do Pastor Horácio Cipriano em São Domingos de Benfica e trabalhar para a sua reabertura.
Quando em Outubro de 2007 começámos a reunir um grupo minúsculo em São Domingos de Benfica tínhamos mais desejo que discernimento. Éramos duas famílias, a Cavaco e a Bento, e uma agenda megalómana de eventos com intelectuais ilustres e concertos com uma nova geração de artistas ressentidos. No meio disso tentávamos ser uma igreja. A pouco e pouco foram chegando mais algumas pessoas, em tão mau ou pior estado que nós. Fomos tendo mais uns filhos para disfarçar o pequeno salão que não enchia. Uns visitavam-nos à espera de rock e saíam desapontados com os Hinos do Cantor Cristão. Outros esperariam animação e levavam predestinação. Alguns passaram e seguiram. Adiámos a data de autonomia um ano e finalmente, quase três anos depois, baptizámos a primeira pessoa. Nos intervalos de todos os fracassos tem-nos valido a Graça de Deus. A fazer de pecadores tão miseráveis como nós pessoas com o descaramento de acreditar que têm futuro por causa de Cristo. No meio dos exageros da nossa juventude temos encontrado a medida suficiente em querer ser apenas uma igreja local fiel ao Evangelho. Teremos certamente o nosso estilo próprio mas o conteúdo não precisa de ser reinventado. A nossa História será a História de Jesus em nós. A do Tiago e da Ana Rute, do Miguel, da Marta e do Ricardo, da Filomena e do João, da Eunice, da Ana Rita, do Joel, e da Débora e do Tiago. E dos que connosco seguirão.
Para prevenir qualquer possibilidade de cheiro de extrema-unção acabo falando do futuro. Não temos sido assistidos pelo Espírito Santo para predizê-lo. Mas como o Sami tão bem canta, “sei mais da Eternidade que do amanhã”. Colocando-se a possibilidade de terminar hoje a nossa vida aqui deste lado da Eternidade, creio que iríamos em grande na nossa insignificância. Confiamos na soberania do Deus que tratamos como Pai. Somos uma família aguardando pelo regresso a um lar que ainda não conhecemos mas que já nos pertence. Por isso vivemos também como uma família aqui. Uma família de famílias. A minha própria, família Cavaco, não se encontra tratada em particular, porque não se pode separar o coração do corpo em que habita. A consagração ao ministério pastoral é da Ana Rute, da Maria, da Marta, do Joaquim e do Caleb. Por causa de Jesus eles são aqui a medida da minha felicidade. E a felicidade é o assunto deste dia. Um assunto certamente meu e da minha família, certamente dos membros da Igreja Baptista de São Domingos de Benfica, certamente de todos nós aqui presentes e certamente daqueles que virão.
Não falamos de nós. Falamos de Cristo. É Nele que está a nossa fé.
Que o Senhor nos ajude.

sexta-feira, janeiro 20, 2012

Domingo
Creio que não preciso de explicar muito sobre a importância do próximo Domingo. A pequena comunidade baptista da qual faço parte passará a ser uma igreja autónoma. E, ao mesmo tempo, é reconhecida formalmente a minha vocação pastoral através da consagração. É mais que um evento religioso. É uma festa certamente para os que já crêem mas também para os nossos amigos que, tendo passado ou não por SDB, caminham connosco. Por ser acerca de Cristo é acerca de nós todos. Às 16h no Auditório da Junta de Freguesia de Moscavide (conhecido pelo antigo cinema). Celebrar é uma responsabilidade.

quinta-feira, janeiro 19, 2012

iPródigo
A gente boa do iPródigo compilou os textos que na semana passada escrevi sobre trabalho e generosamente colocou-os no site. Um abraço de agradecimento (apesar de detestar aquela fotografia). Ah, e as palavras do Português de Portugal que são mais esquisitas no Brasil estão explicadas.

terça-feira, janeiro 17, 2012

Ouvir
Compreender é importante para sentir. E sentir importante para compreender. Deus não está interessado em conquistar-nos parcialmente. Deus está a transformar-nos em absoluto. O sermão de Domingo aqui.

segunda-feira, janeiro 16, 2012

Elo
Desde Setembro de 2010 que, quando chego às sete e meia à Praia de Santo Amaro para mergulhar, nunca vi ninguém no mar excepto um par de amigos amigos meus que raramente me acompanha ou uns septuagenários que nos meses de calor antecipam o banho. Podem imaginar o desplante que senti na segunda-feira passada ao encontrar um jovem que já se secava na toalha. Ia meter conversa, com aquele à-vontade que as pessoas que acham que fazem coisas invulgares têm com os da mesma espécie, mas o rapaz nem me deu chance, de tão compenetrado que estava em seguir a sua vida. Quebrou-se mais um elo da minha vaidade. Mergulhar no Oceano às sete da manhã não é apenas para quem pode (eu numa virilidade eremita), é para quem quer.

sábado, janeiro 14, 2012

Amanhã
Os discípulos têm medo de fantasmas e os seus corações são duros. Amanhã a partir das 10h30 em SDB.

sexta-feira, janeiro 13, 2012

Criatividade e humildade
Há um provérbio que diz que "só trabalha quem não sabe fazer mais nada". Não vem na Bíblia, tresanda a chica-espertice mas talvez nos sirva para alguma coisa. Quando Jesus visita a casa de Marta, Maria e Lázaro, três irmãos, Maria fica sentada a ouvi-lo enquanto Marta trabalha sem parar. Sabemos que Marta se queixa da passividade de Maria e que Jesus, algo inesperadamente, esclarece que de facto Maria escolheu "a melhor parte". Não por ser espertalhona mas porque genuinamente queria aproveitar todos os momentos com o Mestre. A partir desta história não faltam sociólogos que dizem que os Católicos imitam Maria na sua contemplação, e os Protestantes Marta na sua hiper-actividade. A simplificação não deixa de ter graça e ser útil para ganharmos perspectiva sobre nós próprios.
Ter uma relação cristã com o trabalho e o descanso é tão mais difícil pelo facto de crermos que no Céu os esforços são desnecessários. Darmos por nós a acreditar que aqui o trabalho tem de ser mais suportado que saboreado não é difícil. Ainda mais num contexto onde nos impacientamos esperando uma espécie de Paraíso na Terra chamado "realização pessoal" (os Céus sabem como tenho vontade de partir para a violência quando ouço as pessoas a falar sobre realizarem-se pessoalmente - mas Deus dá-me calma). Quando os cristãos acreditam que o trabalho é bom não é porque enquanto o praticamos nos conhecemos melhor (e toda essa metafísica narcisista de "nos descobrirmos a nós próprios", "nos superarmos" ou "transpormos os nossos limites"), mas porque conhecemos melhor Deus. Trabalho é Teologia. Essa operação é da mais pura criatividade (Chesterton que dizia que Deus era uma criança contente com uma brincadeira que acabara de inventar ao dar ordem ao sol para que se levantasse). Ao mesmo tempo que pedagógica para nós, chamados a concordar com a qualidade da criação de Deus sem termos a patente da invenção. Se a criatividade nos faz arriscar, certamente o louvor ao Criador nos oferece humildade.
No meio destes cinco textos trapalhões, eu diria às duas queridas pessoas da minha congregação de SDB que me pediram para ser mais convincente sobre o assunto do trabalho: os nossos empregos, por mais chatos que sejam, são a prova que Deus nos deseja criativos e humildes.
Trabalhando para depender
Simone Weil dizia que não conhecia lavradores ateus. Porque as pessoas que mais dependiam da sua força para trabalhar na terra sabiam que ao mesmo tempo dependiam também de outra força sobre a qual não dominavam. Num mundo de publicitários e informáticos a tendência é, ainda que inconscientemente, sentir que o nosso trabalho é um ciclo que se completa dentro do nosso próprio controlo. A ideia de depender de factores externos frustra-nos. Perante qualquer adversidade provocada por outros é o próprio sentido da nossa vocação que fica colocado em causa. O agricultor cansava-se mas via o fruto. O operário cansa-se e só vê uma pequena parte do processo de produção. Naturalmente, o velho cansaço físico do homem que trabalha na terra é mais produtivo que o cansaço da ausência de horizonte pós-industrial. Os antigos iam para a cama arrasados. Nós vamos para a cama deprimidos.
O Cristianismo, que não precisa de combater o progresso tecnológico, ensina que somos criaturas dependentes. E que isso é uma bênção. Muitas vezes a nossa infelicidade laboral é o resultado de aspirarmos à auto-suficiência. Não dá para ser um bom adorador ao mesmo tempo que nos fingimos de deuses. Ironicamente, o melhor profissional é aquele que se sente privilegiado por participar. Da mesma maneira que Deus convidou o homem para dar nomes aos animais. O pior profissional é o que se acha insubstituível. Deus mete-lhe um elefante à frente e ele queixa-se do tamanho das orelhas.

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Ouvir
Cristo desfaz a fronteira entre o que somos e o que sabemos. O sermão de Domingo passado aqui.

quarta-feira, janeiro 11, 2012

As preferências laborais de Deus
Se é certo que Deus gosta do trabalho, isso não quer dizer que qualquer trabalho satisfaz Deus. Deus preferia a pastorícia de Abel à agricultura de Caim. Deus preferia o desemprego de Raabe ao seu rendimento certo enquanto prostituta. Deus preferia que Jonas fosse um profeta devorado a um ex-profeta. Deus preferiu a redução dos hábitos de leitura dos Efésios à sua indústria de livros esotéricos. Deus preferiu que os Tessalonicenses prosseguissem nos seus turnos laborais quotidianos à espera pelo regresso de Jesus nos telhados das suas casas. Porque Deus valoriza o trabalho as pessoas que O buscam expõem-se às Suas preferências. E por isso podem ter de mudar de emprego.

terça-feira, janeiro 10, 2012

Quatro empregos bíblicos pouco tradicionais
Quatro empregos que a Bíblia conta e que, na sua aparente estranheza, podem ajudar-nos a olhar para o nosso pensando que Deus está interessado no assunto.

1. Para todos os efeitos, e mesmo que a primeira carreira tenha sido o ar calmo e beato da pastorícia, David foi Rei. Governante, Presidente, Estadista. E também soldado. Alguns dos Salmos são a prova que em muitas horas de serviço David não descortinou grande sentido na sua carreira. Antes pelo contrário. Como seria possível que semelhante distinção profissional acarretasse tal avalanche de problemas? Uma das partes mais difíceis era ter um emprego que meia volta envolvia pessoas a quererem matá-lo e David, tendo a consciência que Deus está interessado no trabalho dos Seus filhos, limitava-se a confiar. É certo que se queixava, que barafustava e que aqui e ali descambava mesmo em auto-comiseração. Mas a sua carreira exigente permitiu-lhe também a reputação do Rei judeu mais popular de sempre e de um dos maiores poetas de toda a História. Deus estava interessado na profissão de David. E David percebia-o.

2. Obadias, mordomo de Acabe e Jezabel (não confundir com o profeta Obadias). Basicamente Obadias organizava a casa dos piores reis de toda a Bíblia. Quando Jezabel começou a sua campanha de paganização e mandou matar os profetas, Obadias abrigou e escondeu cem deles em duas cavernas alimentando-os. Obadias era um homem de Deus trabalhando com monarcas do Diabo. Quando se encontra com Elias, provavelmente o profeta mais heróico do Velho Testamento, precisa de lhe explicar que é difícil trabalhar naquela empresa mas até aí era possível ser fiel a Deus. Aconselha alguma calma a Elias pelo risco de vida que ele próprio, Obadias, corria. A Palavra parece demonstrar que os dois tipos de fidelidade a Deus eram possíveis a partir destes dois homens: o do homem que tem o emprego numa companhia conduzida pela malícia da mulher do patrão, e o do activista corajoso que denuncia a corrupção dos governantes. Deus estava interessado na profissão de Obadias. E Obadias percebia-o.

3. Lídia trabalhava na indústria da moda. É certo que haverá diferenças entre a venda de púrpura de então e o mercado de alta-costura de hoje mas a relação existe. Lídia era um exemplo de empreendimento (ou como hoje gostamos de dizer de uma maneira meio saloia, uma entrepreneur). Converte- se quando ouve a pregação de Paulo na sua cidade, em Filipos. E apercebemo-nos que rapidamente a sua casa se torna um centro de adoração e estratégia missionária. Lídia torna-se um exemplo de iniciativa e ousadia de testemunho, possivelmente em meios que temos como pouco inclinados para a fé. Deus estava interessado na profissão de Lídia. E Lídia percebia-o.

4. Onésimo. Onésimo é um escravo que foge do seu senhor, Filemón. Entretanto Onésimo converte-se através do testemunho de Paulo e Paulo resolve escrever a Filemón, que também era cristão, apelando ao perdão. Calculamos que não deve ser fácil ser escravo (embora as condições da escravatura na Antiguidade concediam algumas liberdades cívicas assinaláveis) mas o facto é que a partilha da fé do senhor de quem tinha fugido não assegura que Onésimo passava a ficar livre da antiga responsabilidade. Paulo tem de pedir. A carta incluída no Novo Testamento não nos dá os detalhes do desfecho. Mas aponta que até para um emprego escravo seria necessário demonstrar fidelidade à autoridade. Deus estava interessado na profissão de Onésimo. E Onésimo percebia-o.

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Planeta Música



0:16 olhos nos olhos
0:24 a verdadeira direcção da música está aqui
0:43 o típico 1,2,3
0:34 o guitar hero inspira e sabemos que tudo acabará bem
0:47 primeira aproximação ao baterista
0:52 olhos fechados, alma aberta
1:03 descida gingada do vocalista
1:09 b-r-e-a-k-!
1:19 compenetração do organista convidado que nos tempos livres é uma estrela muito maior que a banda que aqui serve
1:38 o outro break do baterista que é o grande pormenor da canção
1:42 a harmonia suada mas em falsete do guitar hero
2:07 batida à Abba a separar a banda de toda a multidão restante
2:13 springsteen, claro
2:25 avanço duplo
2:36 grito ao baterista para esforço final e retoque ultra-boss
2:43 a segunda voz é um dogma inabalável
2:51 final roqueiro como aqueles estúdios no Porto nunca tinham visto

No fim: uma canção sobre encarar a morte com fé.
Também somos o que fazemos
A partir do texto do Evangelho de Marcos sobre a multiplicação dos pães (Marcos 6:30-44) falámos também sobre descanso (porque essa era a intenção da viagem para o lugar deserto onde acontece o milagre). Ao falarmos sobre descanso falámos necessariamente de trabalho. E houve um apelo à compreensão bíblica de que o trabalho é uma ideia de Deus (assim como o descanso). E por isso uma coisa que deve animar os cristãos.
No sermão tive de reconhecer, em comparação com a maioria das pessoas na congregação, as vantagens que me assistem. Tenho o melhor emprego do Mundo. Sou sustentado para estudar a Bíblia e valer uma pequena comunidade de crentes. Mesmo nos dias mais difíceis, que os há, é difícil querer virar-me contra o Patrão. Porque é a igreja que me paga mas o Patrão é Deus. E parece-me que em caso de divergência não há sindicato que me valha contra semelhante chefia.
Depois do serviço de culto duas pessoas provocaram-me a que as tentasse ir convencendo ao longo da semana através de posts do blogue para essa difícil tarefa de ter alegria no trabalho quando o emprego não ajuda. É uma tarefa para a qual duvido estar à altura mas tentar é um compromisso que tenho com as pessoas da comunidade. Por isso, vamos ver.
Nietzsche fazia pouco do cristianismo (e de boleia do judaísmo) pela alegada obsessão da religião com a ideia da produtividade. Ajudou a estilhaçar alguma da harmonia para qual sobretudo o Protestantismo tinha contribuído ao unir a profissão comum de qualquer pessoa à sua fé (Miguel de Unamuno dizia que Lutero tornou civil o cristianismo ou podemos sempre recordar a "Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo" do Max Weber). Desajudados pela curiosidade crescente com as religiões orientais que promovem a contemplação como uma espécie de grau acima do trabalho (uma tendência que o catolicismo, tipicamente mediterrânico, também mostra), estamos hoje num desequilíbrio entre um extremo vindo da herança pragmática protestante e o outro da fascinação com as críticas a essa herança. Ao primeiro as pessoas gostam de chamar capitalismo selvagem e diz: só és aquilo que produzes. O segundo, que não sei como as pessoas lhe gostam de chamar porque leva menos tareia, diz: és aquilo que está para além do que fazes.
Esperando que este contexto sirva para esclarecer alguma coisa, acrescentaria ainda uma convicção pessoal. Confirmando que sou tudo menos imparcial nesta discussão. As Escrituras mostram uma procura por integridade e não para a fragmentação. Por isso Deus é tão sensível ao que os homens fazem. Porque o que os homens fazem mostra muitas vezes de uma maneira mais sincera o que sentem por Deus, acima da eloquência dos discursos religiosos. Se é seguro dizer que o que somos não é apenas o que fazemos, é igualmente seguro dizer que também somos o que fazemos.
Após este longo prelúdio começaria por persuadir a favor da reconexão. Voltar a ligar o nosso coração àquilo que fazemos, partindo do princípio que essa relação pode andar meio desconjuntada. Voltar a ligar a nossa fé ao que fazemos nos nossos empregos (e com os nossos empregos). Porque, em absoluto, e mesmo que as nossas profissões sejam pouco religiosas, continuamos a acreditar que é Deus o nosso patrão. É um primeiro passo. A minha explicação é fraca mas o princípio que me leva a tentar defendê-la tão desajeitadamente é precioso. Deus está interessado em meter-se na nossa profissão.
Do Concílio
Alegria. Muita. Dia 22 fazemos a festa. Obrigado pelas orações e mensagens. O privilégio foi meu e o trabalho de Deus.

quinta-feira, janeiro 05, 2012

Preparando-me para o Concílio VI - faltam dois dias - O que o Concílio Examinador é e o que o Concílio Examinador não é
Alguns amigos, sobretudo fora do meio Baptista, têm feito algumas perguntas acerca do que é o Concílio e como funciona. Ui. Este é um assunto que merece alguma discussão mesmo nos limites modestos da denominação. Tentando ir pelo seguro enumero pelo menos três coisas que seguramente o Concílio é e três coisas que seguramente o Concílio não é.

O que o Concílio Examinador seguramente é:
- uma oportunidade de aprofundar a fraternidade entre os Baptistas chamando os Pastores e representantes de outras Igrejas Baptistas a apreciarem o candidato ao ministério pastoral. A alegria de uma Igreja deve ser de muitas.
- uma oportunidade de conferir que a fidelidade bíblica não é apenas uma preocupação nossa mas também dos outros. As recomendações e pareceres dados pelos Pastores (e outros representantes) reunidos no Concílio não devem ser desprezados.
- um hábito que alarga a visão do ministério futuro da pessoa que agora passa pelo Concílio a um campo mais vasto. O Pastor de uma Igreja hoje pode ser Pastor de outra Igreja amanhã.

O que o Concílio Examinador não é:
- a entidade que confere a legitimidade para o examinado ser Pastor. As Igrejas, sendo comunidades autónomas, é que escolhem e reconhecem o seu líder.
- um evento para distanciar os Pastores dos leigos. Leigos podem ser enviados a um Concílio e colocar questões como os Pastores o fazem.
- um evento estático. A fraternidade entre comunidades e Pastores não deve terminar na concórdia de um dia mas ser uma atitude para o futuro.

quarta-feira, janeiro 04, 2012

Preparando-me para o Concílio V - faltam três dias - Os Heréticos
O que seria a Igreja sem os heréticos? Os heréticos são muito úteis para em, primeiro lugar, permitir que a Igreja torne a fé mais clara e, em segundo, serem expulsos. Depois há ainda os casos raros de heréticos que nas confusões da Cristandade estavam mais certos que os seus juízes (Lutero, como exemplo óbvio). Provavelmente hoje as pessoas têm medo da palavra heresia não tanto porque contemplam a amplitude da Verdade mas porque pelam-se de medo de estarem erradas. Este medo pode vir em forma de humildade epistemológica (o truque pós-moderno) mas talvez revele mais cobardia intelectual. Uma Igreja que não exclui ninguém é um lugar de indiferença. Todos são aceites porque ninguém realmente conta.
Estudar a História do Cristianismo é perceber que grande parte das Doutrinas fundamentais se desenvolvem quando as heresias se anteciparam. Exemplos: a Doutrina das Escrituras é do tempo do gnosticismo e dos debates sobre o Cânone entre os séculos II e IV; a Doutrina de Deus, de Cristo e do Espírito Santo solidifica-se nos séculos IV e V por causa das controvérsias trinitarianas e cristológicas; a Doutrina do Homem vem por causa das turbulências pelagianas dos séculos V e VI; a Doutrina da Salvação é muito fruto das polémicas entre católicos e protestantes do Século XVI e reformados e arminianos no Século XVII; e a Doutrina dos Últimos Acontecimentos substancia-se mais no século XIX e XX por causa do Dispensacionalismo e Adventismo.
Claro que hoje a maneira de nos relacionarmos com o conceito de heresia é muito diferente. Porque existem igrejas para todos os feitios e porque felizmente na Cristandade já ninguém precisa de morrer por particularidades teológicas. O que torna o assunto mais discreto mas igualmente importante. Ser fiel à fé continua a ser uma aventura para os nossos dias.

terça-feira, janeiro 03, 2012

Ouvir
Dois velhos perto da morte ficam cheios de vida por causa de um bebé. O sermão de Domingo aqui.
Preparando-me para o Concílio IV - faltam quatro dias - Doze Baptistas Eminentes
Digamos que esta pedagogia é sobretudo estética. Eis doze baptistas que podem solidificar as nossas convicções denominacionais no caso de já sermos baptistas, ou amolecer o nosso coração para as belezas da denominação baptista. Certamente não será assunto no Concílio de próximo Sábado.

1. John Bunyan. John Bunyan foi um Puritano inglês que escreveu uma obra incontornável na literatura anglo-saxónica, "O Peregrino". As suas convicções, mais que a reputação literária, mereceram-lhe a prisão.

2. Martin Luther King. Martin Luther King é provavelmente o Baptista que os Baptistas mais gostam de falar em países onde o Protestantismo é irrisório. A importância de Luther King é óbvia e um orgulho para os restantes Baptistas. Mas Luther King também tinha uma teologia aguada e fraquezas matrimoniais. A prova que um herói nunca deixa de ser um homem.

3. Outro exemplo de um Baptista que os Baptistas gostam de falar em países onde o Protestantismo é irrisório: Bill Clinton. Sobretudo em Países Europeus mais à Esquerda é fácil apontar para Presidentes Americanos Democratas. Porque os Republicanos são quase sempre vistos como papões (preconceito que os próprios evangélicos portugueses alimentam). Os méritos de Clinton são provavelmente menos famosos que as suas nódoas (perdoem-me a figura tão gráfica).

4. Último exemplo de um Baptista que os Baptistas gostam de falar em países onde o Protestantismo é irrisório: Jimmy Carter. Ler novamente o parágrafo anterior mas sem a parte das manchas. Cresci a ouvir louvores a Jimmy Carter porque era inclusivamente professor de Escola Dominical. Talvez não tenha tido o mesmo talento para administrar o País. Mas diga-se em seu abono que gerou consensualmente a reputação do melhor Ex-Presidente dos Estados Unidos. E devo parar com os políticos Baptistas porque a lista é enorme e não quero ter de confessar que o chato do Al Gore também é Baptista (ups!).

5. Vamos elevar a fasquia. Johnny Cash. Johnny Cash é provavelmente o Baptista mais amado pelos artistas. O que é absolutamente justo porque ofereceu uma caução teológica à verdade absoluta que os bons nunca vestem branco.

6. Acção pura agora. Chuck Norris. Chuck Norris prova que não existem traseiros moles na denominação. Artes marciais? Ok na medida em que se aproveita os pontapés e rejeita-se a chachada zen.

7. Clarence Clemons. Claro. O Big Man tinha de ser nosso. Quem seria o Boss se não contasse com um Baptista para o proteger? Daí que estejamos apreensivos ao que Springsteen poderá fazer ao vivo desde que o Senhor chamou o Homem do Fôlego.

8. John Rockefeller. Porque Jesus disse que era difícil um rico entrar no Reino dos Céus, não impossível. O bom Rockefeller dava fielmente o dízimo (a décima parte do seu rendimento). Maravilha.

9. Mahalia Jackson. Se não souberem quem é a Mahalia Jackson alguém vos devia arrancar as orelhas à catanada.

10. Billy Graham. Provavelmente o evangelista que pregou a mais pessoas em toda a História. Ainda está vivo. No Youtube há uma entrevista gira que lhe é feita pelo Woody Allen nos anos sessenta.

11. Buddy Holly. Apenas para dissipar alguma dúvida acerca dos Baptistas serem os mais rockabillies de todas as criaturas de Deus.

12. Um Baptista português para nos animar. Samuel Úria. O Samuel Úria é Baptista e provavelmente uma das maiores razões para os portugueses ganharem boa vontade em relação à nossa amada denominação.

É uma lista de doze Baptistas entre tantos possíveis. Temos escritores, heróis, Presidentes da República, evangelistas, estrelas de cinema e rockers. É claro que os Estados Unidos reclamam quase a totalidade. Mais uma razão para começarem a encher S. Domingos de Benfica.

segunda-feira, janeiro 02, 2012

Lente














Na lente do Enric Vives-Rubio todos somos bem-apessoados.
Preparando-me para o Concílio III - faltam cinco dias
Coisas queridas aos Baptistas (ou uma maneira mais popular de mencionar os seus traços distintivos)
1. A Bíblia é a regra de fé e prática. Sola Scripta. Os documentos históricos são possivelmente fascinantes mas como podem competir com palavras inspiradas pelo próprio Deus?
2. A cabeça da Igreja é o próprio Cristo. Há pessoas fantásticas mas ser chefe é trabalho exclusivo do fundador.
3. Os dois ofícios reconhecíveis na Igreja são o do Pastor (função descrita na Escritura também pelos termos presbítero, bispo, ancião, pregador e mestre) e do Diácono. No more, no less.
4. As duas ordenanças deixadas à Igreja são o Baptismo e a Ceia do Senhor. A noção de sacramento não tem base bíblica. Pode parecer chique, conferir mística, simular solidez. Mas é forma no lugar do fundamento.
5. Sacerdócio Universal de cada cristão. Não há classe religiosa que possa prometer aquilo que é íntimo a cada homem: relacionar-se pessoalmente com Deus.
6. Faz parte da Igreja quem é Igreja. Explicando. Faz parte da Igreja quem é regenerado espiritualmente e toma a decisão de obedecer ao mandamento do Baptismo. Os nossos filhos, que educamos zelosamente na Igreja desejando a sua conversão, só farão parte da Igreja quando eles mesmos reconhecerem o mesmo tipo de identidade espiritual e quiserem ser baptizados. Na fé não há sobrinhos nem netos.
7. Cada Igreja é autónoma. A sério. A Igreja Baptista de São Domingos de Benfica pode fazer de uma maneira, a Igreja Baptista de Benfica fazer de outra, e a Igreja Baptista de Sete Rios de outra ainda. A legitimidade reside na assembleia própria de cada Igreja. Não existem hierarquias a facilitar a vida e a decidir no lugar dos membros. Ser independente dá trabalho mas vale a pena.
8. Separação entre o Estado e a Igreja. Ao longo da História os Baptistas foram perseguidos por Anglicanos, Católicos, Protestantes e Puritanos por defenderem que César não se deve meter com Deus (e antes dos Baptistas outros defenderam também este princípio). Engraçado. Quatrocentos anos depois a ideia generalizou-se. Ainda bem. Temos ajudado nalguma coisa.