Bons bandidos
Parece-me que os méritos da série televisiva "The Walking Dead" ainda são oscilantes. Mas os últimos episódios têm arribado. As personagens começam a tornar-se mais interessantes. Até agora as personagens têm sido razoavelmente fracas, com uma dose de overacting assinalável, tendo em conta o domínio do oposto, e muitas vezes mesmo irritantes. John Carpenter devia ser mais imitado, no que diz respeito à composição de personagens (carecemos desesperadamente de simplificação psicológica - action movies não se dão bem com heróis em crises de Virginia Woolf). Mas falava das personagens de The Walking Dead. A que mais me tem interessado é Merle, o redneck mau (The Walking Dead ensina-nos através de Daryl que há rednecks bons). No último episódio apercebemo-nos que Merle, o grunho, é afinal dado a erudições. Não só sabe ler como cita a Bíblia de cor. Como se esperaria no caso da sua limitação física, recorda Mateus 18:8-9 ("Portanto, se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar, corta-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida manco ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno. Se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida com um só dos teus olhos do que, tendo dois, seres lançado no fogo do inferno.")
É uma coisa da cultura americana - os maus sabem versículos da Bíblia de cor. Aliás, na cultura americana talvez seja mais fácil encontrar um mau versado no Good Book do que um bom. Pode parecer assim que os cristãos saem mal vistos mas nem por isso. Porque, com ou sem a consciência disso, a cultura americana comunica que o evangelho atrai malfeitores. E nesse sentido mostra-se muito mais próxima da Palavra. São as culturas que associam a Bíblia à moral e aos bons costumes que mais se mostram longe de a conhecer. Claro que tudo isto não é estranho ao facto dos Estados Unidos serem um País de maioria protestante. Em toda a labiríntica diversidade evangélica americana persiste o caminho comum da Bíblia estar aberta.
As pessoas que o evangelho chama são efectivamente as más. Claro que sob esta especificação persiste uma mais subtil que nos informa que, na realidade, não há pessoas boas. No sermão da semana passada tentei explicar o fenómeno, quando falava acerca de Colossenses 1:13-20, dizendo que é sempre mais fácil dizer que a fé mostra coisas novas a quem crê do que dizer que a fé mostra coisas novas a quem crê que são sobre a maldade de quem crê. Na Bíblia a dignidade antropológica depois do Éden está bastante encarquilhada. E é por causa disso que o momento da redenção no cristianismo é tão sujo: o sangue de Cristo está a verter-se na cruz por traidores e não por amigos. O resultado é que um verdadeiro bandido sente-se atraído pela Bíblia porque encontra-se na sua mensagem. Da mesma maneira que todos os que estão convencidos fazerem parte dos bons, dificilmente se sentirão. A Palavra de Deus é desmancha-prazeres para os que surfam na sua auto-estima.
Reconhecendo que menciono o "The Walking Dead" para efeitos de defesa da ortodoxia cristã, faço-o também a favor do cinema e da televisão. Para um crime de melhor qualidade na ficção é preciso mais catequese. Peguem no Merle, no Robert DeNiro em modo Max Cady no "Cape Fear", ou no Robert Mitchum em modo Reverend Harry Powell no "The Night Of The Hunter", apenas para três exemplos óbvios. A melhor segurança da ficção é lembrar a verdade documentada na Bíblia de que Deus ama bandidos. Sejamos exigentes com eles.
Parece-me que os méritos da série televisiva "The Walking Dead" ainda são oscilantes. Mas os últimos episódios têm arribado. As personagens começam a tornar-se mais interessantes. Até agora as personagens têm sido razoavelmente fracas, com uma dose de overacting assinalável, tendo em conta o domínio do oposto, e muitas vezes mesmo irritantes. John Carpenter devia ser mais imitado, no que diz respeito à composição de personagens (carecemos desesperadamente de simplificação psicológica - action movies não se dão bem com heróis em crises de Virginia Woolf). Mas falava das personagens de The Walking Dead. A que mais me tem interessado é Merle, o redneck mau (The Walking Dead ensina-nos através de Daryl que há rednecks bons). No último episódio apercebemo-nos que Merle, o grunho, é afinal dado a erudições. Não só sabe ler como cita a Bíblia de cor. Como se esperaria no caso da sua limitação física, recorda Mateus 18:8-9 ("Portanto, se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar, corta-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida manco ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno. Se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida com um só dos teus olhos do que, tendo dois, seres lançado no fogo do inferno.")
É uma coisa da cultura americana - os maus sabem versículos da Bíblia de cor. Aliás, na cultura americana talvez seja mais fácil encontrar um mau versado no Good Book do que um bom. Pode parecer assim que os cristãos saem mal vistos mas nem por isso. Porque, com ou sem a consciência disso, a cultura americana comunica que o evangelho atrai malfeitores. E nesse sentido mostra-se muito mais próxima da Palavra. São as culturas que associam a Bíblia à moral e aos bons costumes que mais se mostram longe de a conhecer. Claro que tudo isto não é estranho ao facto dos Estados Unidos serem um País de maioria protestante. Em toda a labiríntica diversidade evangélica americana persiste o caminho comum da Bíblia estar aberta.
As pessoas que o evangelho chama são efectivamente as más. Claro que sob esta especificação persiste uma mais subtil que nos informa que, na realidade, não há pessoas boas. No sermão da semana passada tentei explicar o fenómeno, quando falava acerca de Colossenses 1:13-20, dizendo que é sempre mais fácil dizer que a fé mostra coisas novas a quem crê do que dizer que a fé mostra coisas novas a quem crê que são sobre a maldade de quem crê. Na Bíblia a dignidade antropológica depois do Éden está bastante encarquilhada. E é por causa disso que o momento da redenção no cristianismo é tão sujo: o sangue de Cristo está a verter-se na cruz por traidores e não por amigos. O resultado é que um verdadeiro bandido sente-se atraído pela Bíblia porque encontra-se na sua mensagem. Da mesma maneira que todos os que estão convencidos fazerem parte dos bons, dificilmente se sentirão. A Palavra de Deus é desmancha-prazeres para os que surfam na sua auto-estima.
Reconhecendo que menciono o "The Walking Dead" para efeitos de defesa da ortodoxia cristã, faço-o também a favor do cinema e da televisão. Para um crime de melhor qualidade na ficção é preciso mais catequese. Peguem no Merle, no Robert DeNiro em modo Max Cady no "Cape Fear", ou no Robert Mitchum em modo Reverend Harry Powell no "The Night Of The Hunter", apenas para três exemplos óbvios. A melhor segurança da ficção é lembrar a verdade documentada na Bíblia de que Deus ama bandidos. Sejamos exigentes com eles.