quarta-feira, janeiro 29, 2014

Os diálogos que realmente interessam
O Papá leva as meninas à Biblioteca Municipal de Oeiras.
- Maria, 9 anos: Isto é o Paraíso...

terça-feira, janeiro 28, 2014

Ouvir
"Seguir Jesus não é reconhecer que nada temos a perder. É, neste contexto, precisamente o contrário. Os discípulos deixaram para trás uma carreira mais promissora de pescar peixes por outra completamente insegura de pescar homens. Claro que querer seguir Jesus por sentirmos que nada temos a perder não é necessariamente mau (Deus usa muitas razões para nos atrair a ele). Mas a tarefa de seguir Jesus tem de ser vista como a Palavra a apresenta, um compromisso radical expresso num discipulado completo."
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, janeiro 27, 2014

Teologia deliciosa
Sazonalmente ando doido por Agostinho. É sazonal na mesma medida em que é permanente. Agostinho é maior que a vida, como dizem os americanos. O Verão de 2012 bateu mais forte por ter lido o "Da Trindade". Desde essa altura que me apercebi de uma lição que o livro "Delighting In The Trinity" de Michael Reeves me veio lembrar: se não é acerca da Trindade, não é acerca do cristianismo.
Sei que a simplificação pode parecer exagerada. Afinal, boa parte da literatura cristã mais ambiciosa tenta geralmente esse mesmo exercício, de explicar que vai tratar do assunto mais importante da fé precisamente por estar a ser o mais esquecido. E assim temos os livros que colocam na maior urgência o assunto da justificação pela fé, para lembrar que sem ela o cristianismo cai. Temos os livros que colocam na mior urgência o assunto da união com Cristo, para lembrar que sem ela o cristianismo cai. Temos os livros que colocam na maior urgência o assunto da santificação, porque sem ela o cristianismo cai. Temos os livros que colocam na maior urgência o assunto da justiça social, porque sem ela o cristianismo cai. Temos os livros que colocam na maior urgência o assunto da evangelização, porque sem ela o cristianismo cai. E por aí em diante, apenas para dar cinco exemplos possíveis. A questão é que, creio de coração, a Trindade é esse assunto que merece mesmo toda a urgência, porque sem ela o cristianismo realmente cai.
Reeves diz assim logo na abertura: "What makes Christianity absolutely distinct is the identity of our God. Which God we worship: that is the article of faith that stands before all others." O que não promove uma celebração do denominador comum entre as várias confissões cristãs, mas clarifica onde podemos ter alguma comunhão dos lugares onde não podemos ter nenhuma. Dou um exemplo. Num país maioritariamente Católico Romano como Portugal é fácil para um miúdo evangélico crescer com algumas afinidades com todos os que se dizem cristãos e não são católicos romanos. As Testemunhas de Jeová, por nada charmosas que sejam no seu esmerado testemunho público em modo de quase-assédio, sabem o que é defender uma fé que não é a fé da maioria. Os Mórmones, por pouco charmosos que sejam na sua indumentária de indústria hoteleira, sabem o que é defender uma fé que não é a fé da maioria (oferecendo na juventude um ano à sua Igreja para cumprir heroicamente essa tarefa!). Mas quer as Testemunhas de Jeová, quer os Mórmones, não são cristãos, por muito que o reclamem. Não acreditam que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. Há uma palavra para isso que é tão impopular quanto necessária: heresia. Ou seja, por muito que custe a um miúdo evangélico que em Portugal sente sempre o dedo mais nervoso para premir o gatilho contra a Igreja Romana, temos em comum com ela a crença necessária no mesmo Deus, coisa que não temos com o Salão do Reino nem com a Igreja dos Santos dos Últimos Dias. O que faz os cristãos partilharem a mesma fé não é o modo como estabelecem experiências comuns entre si mas a comunhão naquilo que é a identidade do Deus em que crêem. Uma Testemunha de Jeová ou um Mórmone não são meus irmãos na fé, por muito que vivam circunstâncias semelhantes à minha de serem minoria religiosa em Portugal.
"Delighting In The Trinity" tem no seu subtítulo a partícula que melhor resume a sua importância: "An Introduction to the Christian Faith". Reeves explica: "I could believe in the death of a man called Jesus, I could believe in his bodily ressurrection, I could even believe in a salvation by grace alone; but if I do not believe in this God, then, quite simply, I am not a Christian. And so, because the Christian God is triune, the Trinity is the governing center of all Christian belief, the truth that shapes and beautifies all others. The Trinity is the cockpit of all Christian thinking." O modo como Reeves vai orientar a sua reflexão é muito acessível e sugestivo. Sempre com humor, o livro recorda que a Trindade é uma necessidade teológica como uma necessidade devocional. Contrariando um certo costume que aceita a crença na Trindade na mesma medida em que rapidamente a sacode para fora da rotina da fé, etiquetando-a como parte abstracta, Reeves afirma que o facto de Deus ser triuno é o que menos especulativo existe no cristianismo: quando falamos de Jesus, o filho de Deus Pai que foi ungido pelo Espírito Santo, acabamos necessariamente a proclamar a Trindade.
Há um teste do algodão que nos permite avaliar quais os pontos realmente importantes acerca da nossa fé a partir das pessoas que por causa deles se sentem irritadas. Quando esse teste se faz para a Trindade, quais os que mais se eriçam? Os muçulmanos, que crendo que Deus é um, se escandalizam com a crença cristã que a unidade inclui a diversidade de pessoas. O mesmo se aplica ao Judaísmo. Dizendo de uma maneira menos simpática, essa é a razão porque, apesar de islâmicos e judeus terem a mesma origem abraâmica dos cristãos, não têm o mesmo Deus.
É por Deus ser uma Trindade que o valor do amor existe no cristianismo de um modo que não existe em nenhuma outra fé. "Jesus Christ, God the Son, is the logic, the blueprint for creation. He is the once eternally loved by the Father; Creation is about the extension of that love outward so that it might be enjoyed by others. (...) The God who loves to have an outgoing Image of himself in his Son loves to have many images of his love." O mundo existe porque existe uma história de amor entre Deus Pai e Deus Filho que pelo poder do Espírito Santo cria pessoas. E, atenção, que isto não sexualiza Deus mas espiritualiza o sexo dos homens. Só temos filhos porque uma relação familiar já existe dentro do próprio Deus. Se não existisse Trindade não podíamos amar Deus, os nossos filhos ou fosse o que fosse.
Corram para este livro porque se quiserem amar o cristianismo, amem-no por causa da Trindade. Se o quiserem odiar, odeiem-no por causa da Trindade. Se vamos ter opiniões acerca da religião, que elas se fundem na própria identidade da divindade, e não na identidade dos que crêem nela. É um narcisismo insuportável aquele de querermos atrair pessoas à fé a partir do modo ela nos fica bem. Antes de haver vida nos nossos belos olhos azuis, já havia toda a vida que interessava dentro do Deus que é beleza triuna.


















Um obrigado à Sara e ao Tiago Falcoeiras que me ofereceram este livro maravilhoso.

sábado, janeiro 25, 2014

Logo às 19h!


sexta-feira, janeiro 24, 2014

Faça compras no El Corte Inglés
Prateleira 1.


















Prateleira 2.


quinta-feira, janeiro 23, 2014

Dois anos
Esta fotografia fez ontem dois anos. A fotografia é apenas um isco para relembrar uma coisa maior do que ela, que é o facto da Igreja Baptista de São Domingos ter feito ontem dois anos. Para ser igreja autónoma foram necessários antes mais de quatro anos. Por isso a data de ontem lembra uma história de, pelo menos, quase sete anos (e não esquecendo que o processo originou-se em Moscavide ainda em 2006).
Esta fotografia é talvez lá em casa o nosso retrato preferido da família. Claro que muita dessa preferência se deve ao talento único da Vera Marmelo que a tirou. A Vera já nos fotografou em mosh pits, em casamentos, em sessões de aconselhamento, ao sol e à chuva. Neste momento saíamos precisamente do serviço de culto que oficializou o nascimento da Igreja Baptista de São Domingos de Benfica, realizado no cinema antigo de Moscavide. Tinha sido um culto muito longo (mais de duas horas) e o sentimento era um cansaço saboroso. Acho que isso se percebe no facto de eu e a Rute sorrirmos naturalmente ao mesmo tempo que o Caleb e a Maria nem tanto. Há muita verdade nesta imagem e por isso ainda a usamos tanto mesmo tendo passado dois anos (ela é usada na contracapa do livro editado há um mês e pouco).
Os planos de Deus são imprevisíveis para nós. Dois anos depois de ter nascido a Igreja Baptista de São Domingos de Benfica deixa de existir nessa forma. Este Sábado juntamo-nos à Segunda Igreja Baptista de Lisboa, na Lapa. Foi um caminho conjunto de um ano e quatro meses, depois de um par de falsas partidas. Quando duas igrejas se tornam uma o que se procura, pelo menos no nosso caso, não é a dissolução de uma delas mas a refundação das duas. Por isso continuamos a história da Segunda Igreja Baptista de Lisboa, com quase 85 anos, levando até ela a nossa também. Seguramente temos pela frente um caminho de adaptação que não pode nunca obscurecer a ambição. E a ambição não é saber que Deus tem obrigatoriamente de nos dar um crescimento fantástico. A ambição é ter a certeza que o trabalho de uma igreja local é servir aqueles que já lhe pertencem e os outros que Deus acrescentará. Trabalha-se para o que já se vê e para o que ainda não se vê.
Mais uma vez, o pedido costumeiro: tenham-nos nas vossas orações.


quarta-feira, janeiro 22, 2014

Os diálogos que realmente interessam
- Joaquim, 6 anos: Papá, tu és do hip-hop ou do rock?
- Papá, 36 anos: Sou dos dois!

terça-feira, janeiro 21, 2014

Ouvir
"Durante um ano pregámos o evangelho no que soa bem e no que soa bera. Como posso dizer a jovens crentes que não podem namorar com não-crentes se eu mesmo caí na mesma tentação? Por causa de Cristo e não por minha causa. Como posso dizer a sovinas que não podem suspender as suas contribuições e dízimos se eu não nasci generoso? Por causa de Cristo e não por minha causa. Como posso dizer a viciados que têm de deixar de fumar, de praticar o pecado da gula, de não descansarem convenientemente, se eu próprio também estou preso a maus hábitos? Por causa de Cristo e não por causa de mim próprio. E podia continuar. Entendemos que deixar Cristo trabalhar passa por pregar o seu poder e pregar no seu poder. E isto vê-se também em desconforto para pecadores, que ainda somos. Vivermos juntos nesse poder custa mas compensa."
O pesado sermão de Domingo passado pode e deve ser ouvido aqui (clicar em cima de aqui).

sexta-feira, janeiro 17, 2014

Bound!


terça-feira, janeiro 14, 2014

Ouvir
"O meu apelo nesta manhã é que o Espírito Santo nos ilumine e confronte com a boca que fechamos não dizendo que amamos Jesus, e com a boca que fechamos não dizendo que temos prazer nele. O objectivo não é que papagueemos verdades que não sentimos mas que não caiamos na contradição de não dizer aquilo que supostamente cremos."
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, janeiro 13, 2014

Como C.S. Lewis abanou o mundo agnóstico

[Na semana passada partilhei este texto num pequeno grupo que na Livraria Férin me deu a oportunidade de louvar mais uma vez o talento de C.S. Lewis.]

Provavelmente a primeira coisa que deveria dizer é que, se não tenho a certeza que C. S. Lewis abanou o mundo agnóstico, tenho pelo menos a certeza que C. S. Lewis abanou o meu mundo cristão. E se começar por aqui sei que a margem de erro do que gostaria de partilhar acerca de C. S. Lewis fica menor. Espero que o carácter pessoal das minhas palavras não desencorage ninguém, até porque diria que um dos talentos de C. S. Lewis é colocar o carácter das pessoas no sítio que lhe é devido: um lugar alto. Alto ao ponto de ser encantado.
No ano passado, que comemorava o 50º aniversário da sua morte, uma das conferências que foi realizada a pretexto da efeméride tinha o título de "C. S. Lewis, o Racionalista Romântico". Lewis, tal como o seu contemporâneo e amigo Tolkien, tal como Chesterton, antes deles, era um britânico que rigidamente defendia que a nossa imaginação deve andar solta. E isto não para que o tino se perca mas para que seja encontrado no lugar certo. Que lugar é esse? Na alma dos homens. Parece um crime acreditar que os homens têm espíritos quando a ciência só lhes permite terem corpos. Mas diria que o cepticismo em relação ao que é espiritual é um luxo de quem convive apenas com pessoas que estão habitadas pelo sopro divino da vida. Quem já assistiu à morte de alguém sabe que alguma coisa desaparece nesse momento. Não é uma questão de acreditar além do que vemos. É uma questão de acreditar também pelo que vemos. É nesse sentido que só é possível ser romântico quando se é realista. Se a realidade for desencantada, deixa de ser real.
Talvez seja revelador acerca da nossa cultura o facto de uma "imaginação fértil" ser uma expressão geralmente usada para descrever pessoas com dificuldade em lidar com a realidade. Uma das lições recentes que tirei deste Advento ensinou-me o seu oposto. Pedindo antecipadamente perdão por aproveitar estes segundos para fazer um resumo de alguns pontos dos meus últimos sermões (uma tentação à qual faço por não resistir: a de pregar às pessoas que não se juntam na minha igreja para me ouvirem pregar), impressionou-me o modo como a Escritura apresenta José, o pai terreno adoptivo do Senhor Jesus, como um homem que, aos nossos olhos modernos, parece concilicar o inconciliável. José é um homem que, por ouvir anjos em sonhos, põe as mãos à obra. Faz assim não abandonando Maria grávida, e volta a fazê-lo para levá-la e ao bebé Jesus para a segurança do Egipto quando o sinistro Herodes promulga a matança dos inocentes. É completamente injusto que José passe como actor secundário nas cenas natalícias quando une tão harmoniosamente os sonhos que tem ao trabalho que realiza. Quando Fernando Pessoa escreveu: "Deus quer, o homem sonha, a obra nasce" de certeza que tinha acabado de ler acerca de José no Evangelho de Mateus ou no de Lucas. No cristianismo o facto de um homem saber coisas que estão além do laboratório é o que o faz laborar a sério.
O extraordinário do exemplo de C. S. Lewis é que, ao contrário da nossa precoce sensação que resta aos homens de fé retirarem-se dos debates, ele envolveu-se a sério neles. O escritor do fantástico que era devorado pelas crianças, nas "Crónicas de Nárnia", foi o apologista dedicado do cristianismo entre os doutores, em obras como "Cristianismo Puro e Simples". Se tivesse de recomendar apenas um livro seu, escolheria aquele que considero que, surpreendentemente, consegue uma síntese perfeita destes dois elementos de ficção delirante e apologética ortodoxa. "Vorazmente Teu", ("The Screwtape Letters" no original) é uma colecção de cartas trocadas entre um demónio inexperiente e o seu tio, demónio veterano que o aconselha na tarefa de atormentar a alma de um britânico que vive a conturbada década de 40 no passado Século XX. Foi publicado há uns anos pela infelizmente extinta editora Grifo e, com a ajuda da Providência, pode ser descoberto em alfarrabistas. É um dos meus livros preferidos de sempre. É incrível de tão saudavelmente louco como saborosamente lúcido.
Não deixa de ser curioso que caiba às pessoas de fé, e aos cristãos em particular, a tarefa de abanar o mundo dos que não a têm. A nossa memória tende a ser curta e acreditar em coisas que o mundo sempre acreditou (e que maioritariamente continua a acreditar fora do Ocidente) parece ser hoje uma transgressão. E podemos mencionar a crença no Criador, no sentido da existência, no carácter sagrado da vida, para alguns exemplos mais óbvios. Se Lewis chocalhou a paz agnóstica (vamos chamá-la assim) também é porque a paz agnóstica parece querer calar à força os velhos credos. Não era por acaso que Chesterton chamava à tradição a democracia dos mortos. C. S. Lewis pode parecer extravagante para todos os que se esforçam para não verem o que é celeste no comum. Os outros continuarão a fazer parte desse balanço de razão e romance, ao ritmo da prosa inspirada de uma grande multidão de mulheres e homens que também integra essa dança. A verdade é que parece que há mais movimento aí.

quarta-feira, janeiro 08, 2014

Para quem não viu


Ouvir
Não devemos procurar naturalidade na nossa relação com Deus porque cada milímetro da relação que podemos estabelecer com ele é fundado na sua capacidade sobrenatural de vencer a única coisa que é verdadeiramente natural em nós: o pecado.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, janeiro 06, 2014

Voltando ao Cânone (Parte I)
Geralmente o argumento vai mais ou menos assim: os protestantes não têm como colocar a Igreja debaixo da autoridade da Bíblia uma vez que foi a autoridade da Igreja que nos deu a Bíblia. Seria tudo mais simples se esta tese fosse sustentável mas acontece que não é. E Michael Kruger ajuda-nos a compreender isto em "Canon Revisited". Por isso, todos aqueles que se sentem seduzidos por Roma por parecer que a Igreja do Papa resolve os problemas de um cristianismo à deriva por falta de ordem na casa, deveriam apanhar este volume.
Antes de tentar resumir os pontos fortes de "Canon Revisited", permitam-me um ponto prévio que tenta olhar algumas fragilidades reais e actuais no modo como me parece que os católicos romanos resolvem a questão da relação entre autoridade da Igreja e autoridade da Bíblia. Com ele quero alertar em boa-fé que, julgando os meus companheiros católicos romanos que fortalecem a sua posição de confiança no lugar de onde emana a autoridade última da sua fé (seja a Igreja, seja a Bíblia), acabam enfraquecendo-a. Porquê? Porque me parece que o modo contemporâneo como os meus companheiros católicos romanos estão a confiar na Igreja nem é, em último grau, pela confiança filosófica que depositam na capacidade dela ser credível enquanto fonte de autoridade. E por que o afirmo? Pelo que o comportamento dos meus companheiros católicos romanos mostra.
Em primeiro lugar o comportamento dos meus companheiros católicos romanos, no que diz respeito às questões da autoridade da Igreja e da Bíblia, mostra um pragmatismo preocupante. Esse pragmatismo revela-se no no pouco envolvimento com os textos bíblicos no quotidiano dos católicos romanos. De cada vez que o assunto é a Bíblia fica frequentemente a ideia que os católicos romanos se aliviam achando que isso é matéria dos protestantes. Isto não é bom para ninguém, nem para os católicos romanos nem para os protestantes, pois fragiliza a seriedade da leitura da Bíblia como testemunho sincero para os que, ainda de que maneira diferente, crêem nela, como também para o testemunho sincero para o que não crêem. Ou seja, os católicos romanos não ganham nenhum ponto a favor de Roma mostrando ignorância bíblica. Antes pelo contrário. O que um Protestante deve esperar em boa-fé do seu companheiro católico romano é que, mesmo que de um modo distinto, ele se envolva com a Escritura. Não fico minimamente feliz quando um companheiro católico romano me oferece de mão beijada a presunção de que eu, por defeito de ser evangélico, conheço melhor a Bíblia que ele. E não fico feliz porque o que mais me interessa numa conversa com um católico romano não é sentir que a minha fé é mais consistente que a dele por eu conhecer melhor a Bíblia. O que mais me interessa numa conversa com um católico romano é que ele partilhe comigo, entre outras coisas, a alegria de conhecer a Palavra - isto sim, parece-me fraternidade.
Em segundo lugar o comportamento dos meus companheiros católicos romanos, no que diz respeito às questões da autoridade da Igreja e da Bíblia, mostra um pragmatismo que também é preocupante por raiar algumas vezes o puro cinismo. Muitos católicos romanos afirmam despreocupadamente, quando o assunto é a fonte da autoridade para a fé, que lhes chega reconhecimento do funcionário dessa autoridade e não tanto a função dela. Comigo tem acontecido ouvir um maior apelo ao argumento favorável a crer que o Papa é quem define o que é verdade, do que à relação com essa verdade propriamente dita. Ou seja, uma espécie de descanso por saber quem definirá para mim o que é verdade porque aparentemente isso me livra da tarefa complicada de saber o que ela é. Diria que é uma armadilha terrível. Creio que muitas das conversões de protestantes ao catolicismo romano enfermam deste dispositivo: quando me sinto perdido por tantas posições diferentes acerca do caminho que devo seguir, resolvo o conflito aliviando o peso de saber qual o caminho certo confiando num conselho em particular acerca dele. Por bem-intencionada que seja a nossa confiança na pessoa na qual decidimos confiar, essa confiança depositada não nos dá a garantia que aquele é o caminho certo (e esta parece-me ser também uma das razões pelas quais Roma é uma igreja de dogmas: o relacionamento com a verdade não parece estar tanto no conteúdo da verdade mas na infalibilidade que Roma tem quanto à capacidade de reconhecê-la). Roma pode ser atraente para o cansaço dos miúdos pós-modernos pela mesma razão que deprimia a energia racionalista dos modernos: não precisa de debater o fundamento das coisas porque ela mesma é quem o define. O pior, e é isto que pode tornar absolutamente cínico o comportamento de alguns católicos romanos, é que resolve o problema de saber o que é a verdade por meio de evitar interagir com ela - alguém o fará por mim. E aqui de pouco servirá apontar que a minha crítica sofre do típico individualismo epistemológico protestante porque é o individualismo católico romano que sai a ganhar com a tarefa abreviada de saber afirmar pessoalmente o que é a verdade. É neste sentido que me preocupa observar a opção pelo elemento da "beleza" pela qual os católicos romanos hoje optam. E, atenção, que serei o primeiro a reconhecer aos protestantes a falta da importância da contemplação na maneira de exprimirem a sua fé. Mas a "beleza do cristianismo" pode ser uma maneira fácil de defender a fé quando me sinto pouco capaz de o defender no terreno impopular da verdade. Até que ponto a conversão generalizada do discurso romano à beleza não é uma desistência filosófica? Até que ponto não estaremos todos mais inclinados para falar acerca do belo não por estarmos convictos acerca dele mas por nos sentirmos cínicos em relação a tudo o resto?

(Continua)


sexta-feira, janeiro 03, 2014

Para o sermão de próximo Domingo
Que é em João 1:1-18. Deus só sabe existir ao mesmo tempo que age. E isto tem profundas consequências na vida daqueles que acreditam na existência deste Deus. Significa que a nossa vida deve ser transformada por ele. Fazendo uma ligação muito breve e directa: é pelo facto de Jesus ser o Verbo que a nossa vida não tem alternativa a ser transformada por ele. Deus existir é a realidade mais prática do mundo.
Sobre o "Felizes Para Sempre"
A minha mulher aqui, no blogue dela (clicar em cima de aqui), escreve uma nota muito importante acerca do livro que escrevi com ela.

"O conceito de casamento, explicado neste livro, não prevê a possibilidade de o meu marido escrever sobre este tema e eu não ter a mesma opinião sobre ele. No dia em que isso acontecer, poderá ser um livro sobre qualquer outro assunto. Nunca sobre o casamento."

Sei o que estão a pensar porque eu também estou a pensar no mesmo. Deveria ter sido a minha mulher a escrever o livro e eu a escrever a nota.

quinta-feira, janeiro 02, 2014

Começar o ano como deve ser


















"God is love because God is a trinity." Mais. "What makes Christianity absolutely distinct is the identity of our God. Which God we worship: that is the article of faith that stands before all others."

Este livro maravilhoso foi-me oferecido pela Sara e pelo Tiago Falcoeiras, lá da Igreja.