sexta-feira, fevereiro 28, 2014

Tema delicado para Domingo: casamento entre crentes e descrentes
Os judeus não tinham na proibição de casar com pessoas de outra religião um sentimento de superioridade em relação a elas. Os judeus tinham na proibição de casar com pessoas de outra religião uma prevenção de se acharem superiores aos outros dispensando dependerem de Deus no seu círculo mais íntimo – a família. É quando nos assumimos como pessoas incapazes que exigimos que a presença de Deus esteja também na pessoa com quem casámos. Esse padrão elevado é um acto de humildade.
Hoje à noite
A minha relação com a música também é de conflito. Porque durante décadas deixei que fosse a música a dizer quem eu era, de tal modo a amava. Hoje compreendo que a música é um dom que serve para amar mais quem ma deu. Logo, apesar de continuar a amar muito a música (vendo-se na facilidade com que me sacrifico por ela), quero amar muito mais Deus. A música é boa mas o Deus da música é muito melhor.
Esta pequena introdução para vos dizer que hoje celebro um disco que gravei há onze anos com o meu companheiro Samuel Úria. Foi o quinto disco da FlorCaveira e é uma colecção de canções gravadas de um modo algures entre a recolha etnográfica e o punk. Cada vez que me encontrava com o Sami pegava no meu mini-disc ou no meu 4 pistas e registávamos o que ela trazia preparado ou o que inventávamos na hora. Éramos rapazes solteiros, gravávamos nos nossos quartos de solteiros em casa dos nossos pais, nas igrejas onde estávamos quando éramos solteiros, e até nos nossos carros de solteiros. Talvez por isso o encanto de "O Caminho Ferroviário Estreito", apesar do título austero, passe também por ser um disco muito solto. Maravilhosamente solto, permitam-me que eu diga, mesmo sendo quem o produziu.
Hoje à noite na ZDB regressamos as essas canções tão frágeis quanto fortes, tão daquele tempo como deste também. O que está em causa não é a nostalgia mas a liberdade de voltarmos a um disco que é em si absolutamente livre também.

* Entretanto a minha mulher corrigiu-me, e bem, recordando que a recta final do disco já foi registada em nossa casa, estando nós devidamente casados.


quinta-feira, fevereiro 27, 2014

Espalhar o amor
Vejam este teledisco simples mas sublime do Alex a cantar "Pousaste os auscultadores". Espalhem o amor!



terça-feira, fevereiro 25, 2014

Ouvir
A reacção de um cristão não deve ser proporcional ao mal que nos fazem, mas proporcional ao bom que Deus é. Enquanto cristãos devemos viver em função de quem Deus é e não em função do mal que nos fazem.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, fevereiro 24, 2014

Os diálogos que realmente interessam
Marta, 7 anos, começou agora a ler: Papá, podes dar-me um exemplar do livro que escreveste?
Papá: Claro.
Marta: É que estou interessada no assunto do casamento.

sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Amor de manhã e fidelidade à noite
Cada vez faz mais sentido o que diz o Salmo 92 nos versos 1 e 2: "É bom render graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo, proclamar o teu amor pela manhã, e à noite, a tua fidelidade." Durante anos foram indistintas para mim características divinas como o amor ou a fidelidade. Eram nubladamente coisas de Deus. À medida que me dedico mais à leitura da Palavra apercebo-me que o nosso cérebro foi feito para ir além de generalidades gasosas. E esta passagem hoje fala-me ao coração.
Como é que a aplico? Tendo em conta que de manhã devemos de facto focarmo-nos mais na realidade que Deus é amor. E à noite focarmo-nos mais na realidade que Deus é fiel. Porquê? Assim, de uma forma simples, tentaria explicar da seguinte maneira. Não acordamos a cada manhã porque Deus é justo. Ou seja, claro que ao acordarmos podemos reconhecer imediatamente que Deus é justo. Mas quando acordamos a cada manhã deveríamos lembrar principalmente que Deus é amoroso. Porque se Deus nos matasse a meio da noite, continuaria a ser justo. Deus não nos deve a vida. Nós não existimos porque Deus é obrigado a colocar vida em nós mas nós existimos porque Deus é amoroso. Ele deu-nos vida porque quis e não porque algo nele a isso o constrangia (essa é uma das lições duras mas necessárias da história do dilúvio: se Deus quiser eliminar a humanidade de uma vez só não se torna mau porque Deus é bom muito antes de ter criado a humanidade). A cada manhã que acordamos deveríamos então relacionar-nos com o seu amor, com a sua misericórdia. "As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos. (...) Novas são a cada manhã" diz Lamentações de Jeremias 3:22 e 23.
Por outro lado, à noite deveríamos recordar que se não morremos durante o dia é porque Deus é fiel. E fiel à sua misericórdia. Se tivemos mais um dia com vida, novamente, não é porque Deus nos devia esse dia. Mas porque Deus se relaciona connosco num primeiro momento dando-nos a graça de existirmos (é graça, não é obrigação), e, num segundo momento, sendo fiel à graça que nos deu. Logo, de manhã devemos dizer: "Deus! Fantástico! Acordei vivo! Tu és muito amoroso! Não tinhas de me dar vida esta manhã mas deste! Muito obrigado!" Sim, e tudo com pontos de exclamação. E à noite devemos dizer: "Deus! Fantástico! Não morri durante este dia! Tu és mesmo fiel em relação ao facto de seres misericordioso! Muito obrigado!" Sim, e tudo com pontos de exclamação. Um cristão que não é exclamativo é um cristão morto.
O Salmo 92 torna-me um cristão mais agradecido pelos dias que vivo deste lado da ressurreição. Eles são prova que Deus é amoroso e fiel.


quarta-feira, fevereiro 19, 2014

A intolerância dos tolerantes
Os cristãos evangélicos são frequentemente caricaturados como criaturas do não. O último não é o não ao casamento homossexual. A caricatura não é completamente injusta porque efectivamente os cristãos evangélicos, confiantes que a palavra divina revelada na Bíblia é suficientemente perceptível no que diz respeito à sexualidade, crêem que o casamento homossexual é incompatível com o cristianismo. Mas importa lembrar que o não ao casamento homossexual funciona a partir de um sim. Deus inventou o casamento, casamento esse que existe quando um homem e uma mulher se juntam numa união que é tão física quanto espiritual. Como qualquer outra coisa na vida, o casamento é alguma coisa também por não ser outras coisas. Numa cultura obcecada pela ideia de que a realidade é apenas o nome que lhes damos, é natural que o casamento possa ser reinterpretado em loop infinito. A ironia triste é que, a pretexto da liberdade do casamento poder ser o que se quiser, acabará sendo coisa nenhuma. A outra ironia triste é que as pessoas que estejam certas do valor concreto e positivo de algo como, por exemplo, o casamento, acabam a ser rotuladas como criaturas negativas. Mas, tudo bem. Não hão-de ser os progressos retroactivos da contemporaneidade a retirar a convicção aos cristãos. Um ambiente cultural adverso não é nada de novo para a fé no crucificado.
O livro de Albert Mohler, "Desejo e Engano" ("Desire and Deceit" no original), entrega-se à tarefa de situar a posição evangélica no debate acerca da sexualidade. Albert Mohler é um teólogo baptista e presidente do Southern Baptist Theological Seminary no Kentucky, nos Estados Unidos. Não é homem de falas mansas e não tem medo de polémicas. Não é, nesse sentido, um escritor convidativo. Não procura ganhar no campeonato da nuance mas parte logo para a clareza mesmo quando essa clareza eventualmente desmotiva os leitores menos convencidos daquela que já é a sua convicção. Da parte que me toca posso dizer que Mohler não é dos escritores que mais me atraem mas o facto de não se mostrar preocupado com isso acaba por conquistar a minha admiração. Até porque nos assuntos da carne é fácil gaguejar mas Mohler fala sem solavancos. Num volume breve, "Desejo e Engano" resume os aspectos mais significativos da reconfiguração dos temas da sexualidade numa sociedade dita pós-cristã. Todo o latim é gasto numa perspectiva de luta. Os cristãos não têm como fugir da frente.
Uma das boas características de escritores como Albert Mohler é que não estão interessados em criar novos raciocínios sobre velhos assuntos (pelo menos, sempre que consideram que tal não se justifica). Isto dá-lhes uma humildade que se salda em pertinência. São vigilantes a ler os seus adversários e tratam-nos com a honra de uma divergência aberta. Sou inspirado por esta atitude porque creio que criar convergências onde elas não existem faz mais pelo desrespeito pela diferença do que pela convivência civilizada na ausência de consenso. As pessoas que discordam de Albert Mohler deveriam desejar que mais Mohlers existissem porque assim teriam seguramente mais adversários, mas adversários de uma rara honestidade intelectual. E são coisas destas que fazem uma sociedade realmente plural, não a terraplanagem do politicamente correcto.
Um exemplo de que Mohler percebe do que está em causa quando os cristãos discordam nas matérias sexuais: "Quando mudamos a questão do que os indivíduos fazem para o que eles são em termos de conceitos psicológicos, a equação moral é transformada completamente. A ideia de que a autonomia pessoal é o próprio cerne do que significa ser humano está agora omnipresente na cultura terapêutica. Assim, a autonomia, a auto-estima e a auto-realização tornam-se as realidades mais importantes. Qualquer coisa que reprima a demonstração desinibida dos anseios interiores é considerada prejudicial e repressiva, devendo, portanto, ser ilegal e imoral, marginalizada e erradicada." Ou seja, quando uma sociedade valoriza uma pessoa não tanto pelo que ela faz mas mais pelo que ela reivindica ser, é natural que qualquer conceito moral sobre as suas acções passe a estorvar. Nesse sentido, libertámo-nos internamente de tal modo que no exterior já ninguém nos pode agarrar.
É natural que agora todos celebrem o grito do Ipiranga mas só as gerações dos nossos filhos e netos poderão atestar da qualidade da liberdade que conquistamos actualmente. Estamos tão convictos, por exemplo, do casamento homossexual que não toleraremos as vozes que coloquem em causa a nossa participação em semelhante conquista. Por isso o matrimónio entre pessoas do mesmo sexo não só se auto-proclama como um progresso cívico mas busca a ilegalização de quem dele discorda. Para estes torna-se imperativo obliterar do discurso público das vozes que continuam colocando o assunto da prática homossexual em termos morais. Basta ver como no nosso País os partidos alegadamente conservadores discutem o assunto, tornando-o terreno de realpolitik e nunca de divergência filosófica frontal (os partidos ditos conservadores refugiam-se em pretextos que ainda é cedo demais para o casamento, para a co-adopção e por aí fora). Mohler explica: "O que aconteceu não foi apenas que a homossexualidade era num momento considerada abominável e, no momento seguinte, algo normal. O que ocorreu foi isto: crer que a homossexualidade era errada era algo normal e aceitável num momento, mas no momento seguinte tornou-se um sintoma de enfermidade e intolerância moral." Resumindo: hoje quem discorda do casamento homossexual deve ser tão ou mais ilegalizado que quem antes sofreu por ser homossexual. Diz Mohler, e digo eu também, que podemos procurar uma sociedade melhor que esta. Não será a Disneylândia, mas será um lugar onde os valores morais podem ser divergentes porque são aceites enquanto valores morais. Mas para isso é necessário que os anti-moralistas (ou os anti-fundamentalistas) percebam que têm uma moral (ou um fundamentalismo). O sub-título do livro de Mohler deixa para adivinharmos o que precisamos de entender sobre o assunto: "O verdadeiro preço da nova tolerância sexual". É a intolerância.


terça-feira, fevereiro 18, 2014

Ouvir
Quando a mulher é criada, o homem é como que re-criado também. O casamento é uma operação profunda de transformar quem somos. Não é possível estarmos dentro do casamento desejando preservar a visão que temos acerca de nós antes do casamento. Deus não nos cria para sobrevivermos ao casamento mas para morrermos nele e nascermos de novo – o esquema habitual do cristianismo! O casamento é uma instituição cem por cento cristã. Foi inventada para imitar Cristo.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Uma canção
A verdade é que hoje é raro tocar ao vivo, sobretudo a nome próprio. Foi só uma canção no Sábado, na festa dos 30 anos da Associação de Beneficência Luso-Alemã. Mas foi especial. Porque, em primeiro lugar, a ABLA é uma organização evangélica fenomenal. A sua história, resumida num vídeo curto mas poderoso, mais uma vez me impressionou. A sua directora, Telma Teixeira, é uma mulher por quem tenho uma grande admiração. Deus a abençoe e à ABLA.
Em segundo lugar, ao cantar a "Canção para a Maria não furar as orelhas", tive a oportunidade de tocar umas das minhas músicas preferidas (como é que alguém pode dizer isto acerca de uma canção feita por si mesmo sem soar ridículo?) com uma banda de luxo. Tinha o Joel Silva, o Héber Marques, e o Joel Xavier, parte nuclear dos HMB. No minuto que subimos ao palco, o meu mais novo, o Caleb, achou que as luzes lhe assentavam bem. E assim ficou, ao meu lado, imóvel e concentrado durante os cinco minutos da canção. Fiquei com vontade de voltar a pegar na guitarra eléctrica na companhia desta gente ilustre.


sexta-feira, fevereiro 14, 2014

Zelosamente mais do mesmo
Estamos uns poucos a ler este livro porque antes muitos viram televisão. Durante o ano passado saiu o jackpot a Reza Aslan que teve numa entrevista desajeitada que deu para a Fox News o passaporte para o fenómeno viral. Em menos de nada o seu livro passou a best seller e a sensação mediática. Vale a pena dizer, todavia, que este fenómeno de internet merecia ser resolvido na internet. Ou seja, para qualquer pessoa com uma ligação à rede basta ler este artigode Ross Douthat (clicar aqui) para entender que Reza Aslan não tem areia para uma camioneta com rodas para uma estrada fora do caminho mole das sensações da net. Quem quiser uma compreensão mais profunda do assunto, e entender as razões pelas quais Aslan é teologicamente inofensivo, bastar ler este texto de John Dickson (clicar aqui). Uma maneira de simplificar isto é dizer que geralmente o mercado das novidades editoriais interessa-se pela teologia quando a teologia recicla as teses mais ultrapassadas. Se vamos gastar tempo a ler Jesuses alternativos, Aslan só chega à lista com muita boa-vontade.
Mas também há coisas boas que podem ser ditas acerca deste livro. Um primeiro mérito é Reza Aslan honrar a tradição cristã evangélica de pedir verdade das coisas. Enquanto encontrou verdade na Bíblia, foi evangélico. Quando deixou de a encontrar, deixou de ser evangélico. Apesar de eu acreditar que errou ao deixar de ser evangélico (porque errou ao deixar de encontrar verdade na Bíblia), ao menos preservou um sentido de apego à ideia de verdade. Isso é uma qualidade de Aslan e, ainda que concretizada de forma oblíqua, do livro que escreveu. Para todos os efeitos, Aslan está preocupado em defender uma visão de Cristo com algum tipo de suporte na realidade. Se é certo que acabe numa tese no mínimo delirante, pelo menos herdou algo de combatividade intelectual dos tempos que gastou entre os cristãos evangélicos. Creio que isso é pedagógico para o ambiente cristão relaxado em Portugal, em que a fé é apreciada na medida em que se poupa de ser defendida em discurso racional.
A escrita criativa do currículo de Aslan é, de facto, a escrita criativa de "O Zelota" (ao contrário do que reclama para si próprio, Aslan não é um teólogo académico). E isso é segundo mérito. Aslan consegue mesmo oferecer emoção àquilo que poderia ser mais uma derivação chata da teologia céptica contemporânea. Nesse aspecto, "O Zelota" deveria inspirar aos da teologia crente contemporânea a desejarem o mesmo nível de intensidade. O leitor é cativado pelas descrições do tempo e cultura de Jesus e, a esse nível, o livro funciona lindamente. Aslan teve a capacidade de convergir estudo em entretenimento, o que não precisa de ser uma blasfémia.
Um terceiro mérito é editorial e é "O Zelota" conseguir servir do gémeo bom de José Rodrigues dos Santos, para falar do solo nacional, e de Brown, para falar do solo estrangeiro. Chamo gémeo bom porque, enquanto autores de obras fictícias, mais facilmente Rodrigues dos Santos e Dan Brown servem de gémeos maus da família. Assim, “O Zelota” é bem sucedido porque parece oferecer seriedade às histórias exorbitantes de vendas massivas dos ficcionistas. Missão para a qual, na verdade, se revela incapaz. Este clã é o que investe na tarefa, sempre rentável em termos de mercado, que é desmascarar o cristianismo. É uma coisa sazonal, a de anunciar que, agora sim, chegou (mais) um livro que (de uma vez por todas, depois de todas as outras vezes que já se esperavam últimas) expõe as falácias da fé cristã. Todavia, um dos sintomas comuns a Rodrigues dos Santos e a Reza Aslan, manifesta-se no modo como manuseiam a Bíblia para a tarefa à qual se propõem. Num primeiro momento dizem que a Bíblia foi manipulada para que um determinado tipo de cristianismo triunfasse. Num segundo momento usam essa mesma Bíblia, que disseram ser manipulada, para provar que o cristianismo que triunfou não tem razão (em particular, Aslan faz isso com o verso, que martela ao longe de todo o livro, de Mateus 10:34). Em suma, a teoria da conspiração auto-valida-se em circuito interno. Funciona assim: a Bíblia é mentira porque eu quero (porque não tem consistência) e a Bíblia é mentira porque eu quero (porque oferece consistência à inconsistência que lhe aponto). Em que ficamos? Sei que abuso deste provérbio mas mais uma vez aplico-o: não se pode querer sol na eira e chuva no nabal. E é isso que Reza Aslan faz em "O Zelota". Por um lado, diz que a credibilidade da Bíblia é escassa para crer no que ela diz. Por outro, constrói com pouquíssimas e muito seleccionadas partes da Bíblia e com outro escasso material uma teoria alternativa acerca de quem foi Jesus. É, no mínimo, intelectualmente irrazoável. Como é que de tão pouco se afirma tanto é um dos pontos crucialmente mais débeis de "O Zelota". A terceira virtude do livro é simultaneamente o primeiro vício que gostava de lhe apontar.
Outra debilidade de "O Zelota" funciona duplamente e está no seu propósito e no modo como prossegue para ele. Ao querer drenar o cristianismo da sua matéria transcendente Aslan não oferece mais que uma enorme trapalhada lógica. Três exemplos: para levantar o seu próprio Jesus, Aslan põe-no debaixo de João Baptista. Sem fundamento histórico convincente, Reza afirma que o primeiro foi essencialmente um discípulo do segundo. Um segundo exemplo é o modo como Aslan nos assegura que a grande maioria das afirmações dos evangelistas são fantasiosas, excepto aquelas que corroboram a sua visão que Jesus não passava de um agitador político (o primeiro tipo de afirmações é sempre uma invenção, o segundo é sempre seguramente histórico). Um terceiro exemplo é a justificação do entusiasmo dos primeiros cristãos de morrerem por uma história supostamente inventada de ressurreição (e é revelador que Aslan não avance qualquer argumento para despir racionalmente a ressurreição). Numa nota de rodapé, fala da tese de dissonância cognitiva de Festinger. Basicamente a ideia é que quanto mais enganados os discípulos estavam, mais convincentes se tornavam. Dois mil anos de rejeição do cristianismo não conseguiram resolver o escândalo do túmulo vazio e o autor de "O Zelota" parece ter a presunção de o fazer esvaziando-nos a todos os miolos. É, no mínimo, uma estratégia curiosa. À força de querer encontrar uma resposta natural contra a crença cristã no homem que era Deus, todo o empenho é colocado em abraçar com toda a força as teses opostas, independentemente da sua coerência intelectual. Para que não seja Cristo, Jesus é-nos oferecido zelota.
Não se justifica o estrondo em volta de “O Zelota”. Acaba por ser crónico que as teorias que tentam fugir da divindade de Jesus (uma questão de fé, claro) terminem invariavelmente a torná-lo muito mais desinteressante. Como de uma personagem tão mais diluída se conseguiu uma fé que solidamente transformou o mundo é uma crença que as pessoas sem fé precisam de uma maior quantidade dela para explicar.

terça-feira, fevereiro 11, 2014

Imprensa cor-de-rosa


Ouvir
"Não abracemos uma perspectiva sobre a família que põe Cristo a servi-la e não a família a servir Cristo. Boa parte das nossas frustrações acerca da nossa família não estão relacionadas com o facto de Cristo não ser louvado pela nossa família mas mais pelo facto de sentirmos que Cristo não louva o modo que escolhemos viver a família. Um exemplo: durante anos as minhas discussões com a minha esposa eram muito frustrantes quando achava que ela dizia algo injusto acerca de mim. Hoje não fico contente quando ela diz algo sobre mim que não considero justo. Mas a partir do momento que me apercebi que o casamento não é acerca de mim mas acerca de Cristo, passei a lidar com esses episódios de um modo diferente. Se Deus permite que a minha mulher me diga uma coisa que considero injusta, a minha luta não é convencê-la com a continuação da discussão que ela está errada. Mas é, com a ajuda do Espírito Santo, comportar-me de uma maneira que ela reconheça como certa. Passei a poupar em palavras e a investir em prática. O que eu estava a procurar, manifestando no modo como discutia com a minha mulher, era que o casamento deveria proporcionar-me a ausência de ser acusado injustamente. A minha visão de casamento perfeito não condizia com a possibilidade de não ser reconhecido como justo. Quando passei a olhar para Cristo como fundamento do casamento, apercebi-me que necessariamente teria de lidar com a possibilidade de não ser justo porque é quando tenho a presunção de ser justo independentemente da concórdia da minha mulher que de certeza não estou a colocar Cristo no centro do meu casamento."
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

sexta-feira, fevereiro 07, 2014

Coloquem na agenda este amoroso evento


 















João Miguel Tavares e Samuel Úria juntos não é todos os dias.

quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Miguel
Há 28 anos que tenho no Miguel uma amizade única. Hoje que faz anos gostava de agradecer a Deus pela vida dele. Tenho-lhe um grande amor e nestas quase três décadas nunca me cansei de estar ao pé dele. O que não seria nada fora do normal porque as amizades também passam por momentos de cansaço. Mas posso dizer que nunca me cansei de estar ao pé dele.
Esta música que gravei com o Sami faz todo o sentido para o Miguel (que é a primeira pessoa a aparecer comigo neste teledisco). Deus te abençoe, companheiro.


terça-feira, fevereiro 04, 2014

Ouvir
"É o facto de Jesus confrontar a mulher Samaritana com o modo errado como ela vive o casamento que permite que ela reconheça nele uma autoridade para lhe ensinar acerca de Deus. (...) Foi preciso que Cristo pusesse o dedo na ferida da mulher para que ela entendesse que estava na presença de alguém com quem podia abrir o coração. Quando nesta manhã trazemos um assunto que pode ser penoso para muitos, como este da família, é o mesmo que tentamos. O objectivo desta série de sermões, quando apontar os erros que vivemos na matéria da família, não é condenar-nos mas chamar-nos à devida adoração a Deus."
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, fevereiro 03, 2014

As Igrejas Baptistas e o Ecumenismo

[Na Sexta-Feira passada tive a oportunidade de conversar com alguns jornalistas no gabinete de imprensa do Opus Dei acerca da relação que as Igrejas Baptistas têm com o ecumenismo. Este texto resume os pontos essenciais dessa conversa.]

É um acto de notável ecumenismo oferecer, no rescaldo da semana mais ecuménica do ano, a palavra a um não-ecuménico, membro de uma Igreja Baptista como eu sou. Essa generosidade proporciona-me a possibilidade de tentar justificar porque de um modo geral os baptistas não se consideram ecuménicos, pelo menos no sentido mais contemporâneo da palavra. Aliás, diria que oferecer essa explicação é possivelmente o gesto mais ecuménico que conseguimos. Por isso, aceitem-no não como uma reacção mal-disposta a uma causa que rejeitamos mas como a tentativa de exercer o melhor ecumenismo que conseguimos. Simplificando: o ecumenismo possível de um baptista como eu é esclarecer porque não é ecuménico.
Talvez a maneira mais fácil de um baptista explicar porque não é ecuménico é fazê-lo a partir dos que não são baptistas. Alguma coisa como, "porque eles não são baptistas eu não procuro comunhão com eles". O problema é que esta explicação, podendo ter algum suporte, peca por defeito. O não-ecumenismo de um baptista como eu não assenta na certeza que a comunhão é segura com os cristãos que fazem parte da sua confissão religiosa. O não-ecumenismo de um baptista como eu mais facilmente assenta no facto de que a comunhão com cristãos é um assunto de tal forma delicado que até com baptistas ela pode não verificar-se. Um baptista não é ecuménico por só se sentir em comunhão com os da sua denominação. Um baptista não é ecuménico por até com os da sua denominação poder não se sentir em comunhão. Para tentar exemplificar elenco dois exemplos de dois baptistas com os quais, se me fosse dada a oportunidade, não estabeleceria comunhão.
Para ilustrar o meu não-ecumenismo, o primeiro baptista com o qual não estabeleceria comunhão seria o Pastor Fred Phelps. O Pastor Fred Phelps é o Pastor da Igreja Baptista de Westboro, no Kansas, nos Estados Unidos. Apesar da Igreja Baptista de Westboro ter tanta legitimidade como a Igreja Baptista da Lapa, que pastoreio, para se chamar Igreja Baptista, é uma comunidade que se tem destacado por cunhar alguns dos piores slogans religiosos das últimas décadas e por transmitir incansavelmente uma mensagem de ódio divino. Os baptistas de Westboro especializaram-se em dizer o que Deus alegadamente odeia sem vestígios de dizer o que ele ama. Como eu sou alguém que só poder ser baptista porque crê que Deus me amou quando eu ainda não o amava a ele, nunca teria comunhão com um baptista que transmite uma fé que ignora esse amor. Porque a minha fé não sobrevive sem o amor de Deus, não posso ter comunhão com alguém que prega o desprezo pelo que me salva.
Para ilustrar o meu não-ecumenismo, o segundo baptista com o qual não estabeleceria comunhão seria, nos antípodas do Pastor Fred Phelps, o Pastor Martin Luther King (e é claro que mesmo que quisesse não podia ter comunhão com Martin Luther King porque ele faleceu em 4 de Abril de 1968 - mas aceitem esta referência para o seguimento lógico do meu argumento). E aqui quero fazer um esforço de ser bem entendido. Gostaria de ter estado ao lado do Pastor Martin Luther King nos relvados de Washington ouvindo-lhe os sonhos para uma América sem racismo e estou absolutamente convicto que Deus o usou poderosamente para lutar contra essa tragédia. Mas a razão pela qual não cederia o púlpito da igreja que sirvo ao Pastor Baptista Martin Luther King não é pelas coisas acertadas que disse fora da igreja mas pelas coisas erradas que disse dentro dela. Martin Luther King era céptico acerca da Ressurreição de Cristo, da Trindade, da filiação divina de Jesus, entre outros exemplos de doutrinas essenciais para baptistas como eu. Como eu sou alguém que só poder ser baptista porque crê que a Bíblia tem legitimidade para as afirmações que faz acerca de Deus, nunca teria comunhão com um baptista que transmite uma fé que desvaloriza essa confiança nas Escrituras. Porque a minha fé não sobrevive sem a autoridade da Bíblia, não posso ter comunhão com alguém que rejeita o fundamento escrito onde estabeleço a convicção da minha salvação pessoal.
Para um baptista como eu a comunhão não é um valor que depende primarimente do seu uso mas da sua origem. Ou seja, quando um baptista pensa em comunhão cristã ele pensa primeiro no que a qualifica e só depois como vai aplicá-la. Por outras palavras, na comunhão cristã um baptista como eu procura necessariamente Cristo e só depois os homens e as mulheres nos quais esse Cristo é encontrado. Tudo é radicalmente cristológico e não antropológico. Por isso um baptista como eu tem surpresas porque muitas vezes Cristo não é encontrado noutros baptistas e, por outro lado, pode ser encontrado noutros que não são baptistas. Como um baptista como eu entende que o ecumenismo tende a procurar primeiro o uso e só depois a origem, não se sentirá a perder nada de realmente essencial por não ser ecuménico.
Ao afirmar esta prática de não-ecumenismo o que faz um baptista como eu do texto do Evangelho de João, capítulo 17, verso 21? Afinal é o próprio Jesus que diz: "Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste." Um baptista como eu não pode desvalorizar a unidade entre os cristãos porque foi Cristo que a pregou mas um baptista como eu vai valorizar a unidade entre os cristãos precisamente por ter sido pregada por Cristo. Ou seja, e colocando a questão pela negativa e de um modo bem simples: se Cristo não for encontrado nos outros cristãos, não precisamos de ter comunhão com eles. Joel Beeke explica melhor do que eu: "O maior fardo na oração de Cristo em João 17 não é que os santos devam gozar união uns com os outros, embora isso esteja implícito no texto, mas antes que os crentes possam gozar uma união com o Pai e com o Filho, porque o Pai e o Filho estão neles (João 14:20, 1 João 4:15)."
Os baptistas, como outros cristãos evangélicos, ao não fazerem parte dos encontros ecuménicos podem muitas vezes passar uma ideia de indiferença à unidade entre cristãos. E isso pode e deve ser corrigido na medida em que a divisão entre cristãos é um mal. No entanto o árbitro último que pode apitar essa divisão terá de ser o próprio Cristo e não os cristãos. Em termos práticos, o que não falta hoje aos baptistas e a outros cristãos evangélicos é um saudável e fraterno ambiente inter-denominacional. Aliás, estivesse a comunicação social mais atenta para os eventos entre evangélicos e rapidamente veria que juntam muitos mais cristãos do que os encontros ecuménicos inflaccionados na sua cobertura mediática. Para finalizar, acrescento apenas aquele que deveria ter sido o primeiro esclarecimento. Por todas estas razões, aceleradas pelo princípio que os baptistas abraçam de que cada igreja local é autónoma, não falo em nome da Igreja Baptista. Não existe uma Igreja Baptista no sentido global do termo. Mas existem muitas Igrejas Baptistas locais com experiências humanas de sucesso e fracasso no princípio divino da comunhão.