quarta-feira, abril 30, 2014

A nossa sanidade teológica depende de sabermos optar entre Robert Zemeckis e a Teologia Reformada - Uma leitura de "Deus é Soberano" de A.W. Pink - Parte III 
Não quero dar a ideia que a Teologia Reformada simplifica a questão. Aliás, quando converso sobre o assunto com cristãos não-calvinistas não me passa pela cabeça dizer que o calvinismo resolve com uma perna às costas a relação entre a vontade de Deus e a vontade do homem. Uma das virtudes do calvinismo é precisamente ele não fazê-lo. O calvinismo, ao optar por fazer eco do modo com o assunto é apresentado nas Escrituras, opta flagrantemente por lidar com um assunto difícil com a própria dificuldade que a Bíblia nos oferece. Ou seja, não há a presunção de mostrar a fórmula humana para manusear aquilo que está além do entendimento humano. E é aqui que gostaria que os meus companheiros não-calvinistas compreendessem o sarcasmo típico dos calvinistas perante aquilo que lhes parece a débil solução do livre-arbítrio.
O livre-arbítrio parece-nos sempre um chupa-chupa que uma criança recebe como prémio de ter passado uma hora sem pedir doces. É uma solução que pretende resolver dando mais do problema. Para ser filosoficamente consistente o livre-arbítrio teria de garantir que o arbítrio humano, para ser livre, estava colocado ao nível da sua potencialidade total. Onde podemos buscar a referência da potencialidade total do arbítrio? Ao seu criador, Deus. Deus é por natureza verdadeiramente livre. Ora, algum cristão ousará dizer que o arbítrio do homem é semelhante ao arbítrio de Deus, onde o arbítrio está no seu estado puro? Claro que não. Logo, e estou apenas a tentar ser minimamente lógico, o susposto livre-arbítrio humano necessita de algumas qualificações que esclareçam que o livre arbítrio não é assim tão livre, comparado com o arbítrio no seu estado puro, usado por Deus. Tendo em conta que o homem é livre debaixo de uma severa qualificação, que é a de ser por natureza pecador (o homem é inescapavelmente imperfeito), é natural que quem é filosoficamente mais exigente conclua simplesmente que o livre-arbítrio é um eufemismo para arbítrio condicionado. Kierkegaard só precisou de escrever isto uma vez para me convencer a ser calvinista.
Por outro lado, o livre-arbítrio não falha apenas em termos teóricos. Falha também em termos práticos. Crer no livre-arbítrio não faz necessariamente algo pela liberdade real de quem nele crê. Ser verdadeiramente livre não tem a ver com crer que se é livre, tem a ver com comportar-se livremente (os hospícios sempre receberam pessoas que se libertam nas suas convicções internas, absolutamente desprovidas de encaixe na realidade). Onde vai a Teologia Reformada encontrar a aplicação prática de uma vida vivida em liberdade? Ao autor da liberdade, claro. O livre-arbítrio do homem é um terreno tremido para que o homem aja livremente. O livre-arbítrio de Deus, esse sim, é um terreno firme para que o homem aja livremente. Como se manifesta esta liberdade na vida de quem crê que essa liberdade depende essencialmente de Deus? No modo como se aceita nas circunstâncias da nossa existência que elas se sujeitam ao Criador.
Quando eu acredito através da fé que Deus já predestinou a minha vida para ser salvo em Cristo, o pior que me pode acontecer pode ser, por exemplo e segundo a opinião actual de muita gente, morrer numa morte dolorosíssima. É óbvio que não desejo uma morte assim para mim. Mas se esse for o plano que Deus tem para mim, quando comparado com o valor absoluto da eternidade na sua comunhão, a ruína desse sofrimento torna-se relativa. Para o cristão aquilo que é para sempre coloca sempre em causa aquilo que é provisório. Logo, o melhor da outra vida não nos faz fugir do pior desta. Antes o seu oposto: o melhor da outra vida ilumina o pior desta. Os calvinistas quando confiam na delícia do outro lado da ressurreição, têm as maiores razões para se esforçarem nas coisas duras deste lado dela. Max Weber percebeu tudo ao contrário quando sugeriu que o empenho dos protestantes no trabalho era um modo de tentarem provar que estavam salvos. Quem crê na Teologia Reformada não quer trabalhar bem para provar que está salvo por Cristo. É mesmo o contrário. Quem crê na Teologia Reformada só pode querer trabalhar bem porque já foi salvo por Cristo. Se quisermos, a "ética protestante e o espírito do capitalismo" não são a causa da redenção, são a consequência. Existem como resultado dos calvinistas se comportarem de um modo absolutamente livre a partir do momento que sabem que Deus foi livre para os salvar. Os calvinistas estão livres para grandes ambições porque, sendo predestinados para tal, só têm de se comportar em conformidade (e se não foram, não há problema porque Deus salva pecadores que nunca foram ambiciosos).
Mas depois não é raro chegar uma acusação: se Deus já planeou tudo, somos marionetas de um destino no qual não temos participação real. Mas esta acusação só colhe se acharmos que o homem só é livre se for livre independentemente da acção de Deus. E qualquer cristão negará esse pressuposto (até para Roma, Pelágio continua a ser herético). Ou seja, qualquer cristão dirá que a liberdade do homem depende necessariamente da liberdade de Deus. A livre agência humana (aquilo que é defendido nas Escrituras, algo mais rigoroso que o livre-arbítrio) depende inteiramente da livre agência divina. Os calvinistas não se comportam como robôs, antes pelo contrário. Porque eles sabem que é por Deus ser livre que eles podem ser livres. Eles cometem esse crime contemporâneo de fazerem a liberdade depender de um argumento transcendente e não imanente (o Henrique Raposo, apesar de não ser ainda calvinista, tocou neste assunto num brilhante texto no Expresso, há semanas, em que disse que a Páscoa faz pela liberdade humana o que Kant não consegue). A partir do momento em que cremos num Deus que foi tão livre que até teve a ideia de nos criar no espaço e no tempo, nenhuma dessas limitações dissolve a liberdade inerente ao facto de criar. O tempo e o espaço não são dimensões que limitam Deus, são dimensões que nos limitam provisoriamente a nós. Mas essa limitação funciona a partir da liberdade de Deus e não a partir da finitude humana. Logo, a predestinação é o resultado cronológico de Deus ser livre e não do homem ser preso. Termos dificuldade com o facto do nosso futuro ser, de certo modo, passado para Deus mostra o quanto queremos amarrá-lo a um tempo do qual está livre. Rejeitar a predestinação é nesse sentido não um grito de liberdade humana mas uma agressão à própria liberdade divina.

(Continua.)

terça-feira, abril 29, 2014

A nossa sanidade teológica depende de sabermos optar entre Robert Zemeckis e a Teologia Reformada - Uma leitura de "Deus é Soberano" de A.W. Pink - Parte II
Pink faz-nos lembrar que crer na predestinação não é um assunto em que devamos baixar o tom de voz, como quem declara um capítulo escuro acerca da personalidade de Deus. Como quem diz: "Já viram bem como ele teve o descaramento de viciar o jogo?" Antes pelo contrário, crer na predestinação é o que nos garante que Deus não trata o mundo como uma brincadeira que inventou mas sobre a qual perdeu o controlo. Não quero soar demasiado irreverente mas sempre que tento tirar conclusões da lógica de quem se intimida com a predestinação parece que volto aos filmes de adolescentes sozinhos em casa durante um fim-de-semana em que os pais saíram. Deus não é Tom Cruise em "Risky Business", tentando arrumar a casa antes que a consciência dos seus progenitores regresse para o censurar. Por que faço esta comparação? Porque creio sinceramente que o modo como tendemos a desculpar a existência do mal à sombra de que Deus nos dá livre-arbítrio tende a colocar-nos como juízes da administração que o Criador faz do mundo que criou. Dito curto e grosso: não temos de acalmar a fúria de quem tem problemas em crer na existência de Deus a partir de tanta tragédia acontecer. Temos antes de respeitar essa fúria afirmando que tanta tragédia acontecer não despede por justa causa Deus do seu emprego de tomar conta do mundo. Antes pelo contrário: tanta tragédia acontecer é o que através da fé nos garante que Deus é muito maior que o mal que permite ao mundo. Porque ele tirará do mal que permite ao mundo um bem muito maior. Lembram-se do livro de Job? Lembram-se do facto de Deus salvar o mundo usando a pior tragédia de todo o cosmos que foi a morte do seu próprio Filho? O cristianismo não singra por fugir do mal do mundo. O cristianismo singra por vencer o mal do mundo. Catequese básica, queridos leitores. Agostinho resumia esta questão assim: "Está mais de acordo com Deus tirar bem do mal que não permitir que o mal exista."
Na prática, a predestinação é a confirmação no tempo do facto de que Deus ser maior que o mal não significa que não o use para o bem (sem que isso faça dele o autor do mal). Na prática, a predestinação é o que nos assegura de que o que Deus resolveu fazer antes de criar o tempo é aquilo que fará quando o tempo chegar ao fim. Na prática, a predestinação é o que nos sossega que Deus continua a ser Deus. Mas isto funciona melhor nas palavras de Pink. "A julgar por aquilo que se ouve dos evangelistas dos nossos dias, o ouvinte sério não é obrigado a concluir que eles representam um Deus tomado de intenções benévolas, mas incapaz de levá-las a bom termo; que deseja sinceramente abençoar os homens, mas estes não lhe dão licença para fazê-lo? Logo, o ouvinte não é forçado a inferir que o diabo assumiu a primazia e que Deus é mais digno da nossa compaixão do que da nossa adoração? (...) Há apenas uma alternativa possível: ou Deus domina ou é dominado."
E Pink vai mais longe, demonstrando que investir no livre-arbítrio para amenizar os danos resultantes do mal existir no mundo é um travestismo da transcendência, porque coloca nos homens a avaliação da conduta divina. Diz assim: "O que se faz mister agora é a demonstração completa, positiva e construtiva da divindade de Deus. (...) Dizer que Deus é soberano é declarar que Deus é Deus. (...) Dizer que Deus Pai propôs a salvação de toda a raça humana, que o Filho de Deus morreu com a expressa intenção de salvar todos os homens e que Deus Espírito Santo está agora a esforçar-se por ganhar o mundo para Cristo, quando se pode observar facilmente que a grande maioria dos nossos semelhantes está a morrer no pecado e a passar para uma eternidade desesperadora, seria dizer que Deus Pai está frustrado, Deus Filho está insatisfeito, E Deus Espírito Santo está derrotado. (...) Argumentar que Deus 'está a fazer o melhor que pode' para salvar toda a humanidade, mas que a maioria dos homens não lhe permite salvá-los, é dar a entender que a vontade do Criador é impotente e que a vontade da criatura é omnipotente. Lançar a culpa sobre o diabo, como muitos fazem, não remove a dificuldade; porque se Satanás está a anular o propósito de Deus, então Satanás é omnipotente, e Deus já não é mais o ser supremo."
Ler "Deus é Soberano" de Pink é sobretudo emocionante (como é ler qualquer coisa verdadeira que, por alguma razão, anda esquecida). Porque rara é a página em que não pensamos: "ele disse mesmo o que acabei de ler?" Se tivesse de simplificar muito uma das razões que me leva a identificar-me com a doutrina da Reforma diria: amo a doutrina da Reforma (que é a doutrina cristã!) porque ela solta a coleira a Deus. Tem sido assim em dois mil anos de cristianismo. Atanásio, contra os cuidados higiénicos dos arianos, a tirar a coleira à identidade extravagante de um Deus triuno. Agostinho, contra os êxitos humanistas de Pelágio, a tirar a coleira a um Deus que conquista cada centímetro da nossa salvação. Ockham, contra a sofisticação escolástica de Aquino, a tirar a coleira a um Deus maior maior que a teologia dos homens. Lutero, contra o sindicalismo filantropo de Erasmo, a tirar a coleira a um Deus com uma liberdade infinitamente maior que a nossa. John Piper, contra uma cristandade contemporânea que legaliza a fé desde que se restrinja a uma estética, a soltar a coleira a um Deus que não só mostra os dentes como efectivamente morde e despedaça todas as manobras de sua domesticação. Quero ser cuidadoso com esta metáfora. Até porque não há qualquer tipo de semelhança entre o Criador e um ser canino. Mas então por que razão insistimos em atrelá-lo à nossa presunção de controlo? Ou manda Deus ou mandam os homens. Pink não tem medo de esclarecer.

(Continua.)
Ouvir
Fomos criados para declarar as palavras "Senhor meu e Deus meu!". O objectivo último da nossa existência é reconhecer Cristo como nosso Deus.
O encontro de Tomé com Jesus no sermão pregado pelo Filipe Sousa no Domingo passado, aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, abril 28, 2014

A nossa sanidade teológica depende de sabermos optar entre Robert Zemeckis e a Teologia Reformada - Uma leitura de "Deus é Soberano" de A.W. Pink - Parte I
Em primeiro lugar gostava de declarar amor ao talento de Robert Zemeckis. "Em Busca da Esmeralda Perdida", os "Regresso ao Futuro", "What Lies Beneath" e o recente "Flight" são o suficiente para que queira ver sempre com interesse o que dele vai sair. E mais. Mais porque os dois primeiros exemplos são filmes que interferiram directamente na minha infância. E gostava de me concentrar no segundo, não por razões cinematográficas mas teológicas. Até porque este é um texto sobre um livro e não sobre um filme. A verdade é que o Robert Zemeckis conseguiu plantar em mim (e receio que em muitos mais) cenas que influenciam o modo como pensamos o tempo. Sei que colocado desta maneira isto soa um bocado a Zizek requentado, mas o ponto do meu argumento é que ainda hoje, quando penso na minha relação com o tempo, os meus neurónios resvalam por inércia para o esquema do "Regresso ao Futuro".Em causa está o dilema central da personagem principal do filme, Marty McFly: o modo como ele se comporta no passado (tendo sido transportado fantasticamente para o tempo dos seus pais) determina o futuro (que, neste caso, é o regresso ao presente que abandonou). Tentando colocar isto de uma maneira simples, diria que cresci a achar que o futuro é necessariamente o resultado daquilo que faço hoje. Em termos absolutos não abandonei essa convicção. Porque é lógico que o futuro é fruto do que faço no presente. Mas o que mudou na minha convicção é que o factor determinante no modo como entendo actualmente o tempo deixou de ser o que eu faço. Hoje estou absolutamente convicto que o que determina o tempo não é primariamente o que eu faço mas o que Deus faz (e tentarei explicar melhor adiante). Nesse sentido, perdi um mestre em Marty McFly para perceber que as Escrituras reivindicam para si esse papel. Não adianta um cristão declarar que acredita que a Bíblia é a revelação de Deus se, de cada vez que ele pensar sobre a questão do tempo, dispensa-a em favor da ficção do Robert Zemeckis. É optar entre um visão antropocêntrica das coisas ou uma visão realmente teocêntrica. Para um cristão não deve haver dilema.
E, muito sucintamente, o que é que um cristão crê acerca do tempo? Crê que o tempo é uma criação de Deus. Logo, e óbvia e consequentemente, se Deus é que cria o tempo, o tempo sujeita-se a ele e não Deus que se sujeita ao tempo (a diferença entre criador e criatura, claro). Ou seja, o que acontece com o tempo é o que Deus quer que aconteça. Toda a história do Cosmos, quando vista temporalmente, é uma história fundamentada no facto de Deus a dominar, sendo ele o único que é eterno (e eterno em três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo). O que sabemos mais? Sabemos que além de criar o tempo, Deus criou-nos neste mundo dentro do tempo. Não podemos responder exaustivamente por que razão o fez mas podemos ter a certeza que assim é. Para o cristão, o facto de ele viver esta vida dentro do tempo não o impede de crer que viverá outra fora dele, daí a esperança na vida eterna (e, sem querer entrar em muita especulação, valeria que nos lembrássemos que a vida eterna é mais uma vida além do tempo que propriamente uma vida de tempo mais tempo mais tempo mais tempo, e por aí fora à escala infinita).
Creio que não é problemático afirmar que, criando Deus o homem dentro do tempo, Deus aceita por vontade sua relacionar-se com o homem dentro deste limite que criou. E, nessa medida, há uma auto-limitação à qual se oferece. É, todavia, necessário esclarecer que essa auto-limitação à qual Deus se oferece não o constrange absolutamente uma vez que Deus relaciona-se com os homens também fora deste limite, na eternidade. O facto de Deus colocar limites no modo como se relaciona com os homens nesta vida não significa que os limites passaram a mandar em Deus, porque na outra vida esses limites não existirão. A discussão mais filosófica na teologia é a que vem depois, aquela acerca de como esses limites temporais funcionam no modo como Deus se relaciona com o homem. E é aqui que começam a espernear as célebres questões do livre-arbítrio, da predestinação, da omnisciência, entre outras.
A minha posição nestas questões é conhecida. Quero sempre defendê-la não por ser a minha mas por estar convicto que é a do próprio Deus, revelado nas Escrituras. Mas ao defendê-la sinto a necessidade de dizer que creio na fé genuína de muitos cristãos que não a defendem. O facto dos calvinistas perceberem melhor este assunto do tempo não lhes dá o monopólio do céu porque ninguém vai para o céu por aceitar a verdade da predestinação (meaning: somos salvos por sermos predestinados em Cristo, não somos salvos por defendermos a predestinação). Se volto ao assunto agora é a pretexto do livro "Deus É Soberano" de A. W. Pink. Este livro é sobre muito mais do que apenas a predestinação. Mas é também e inevitavelmente sobre ela. E sobre o modo como tiramos consequências necessárias de acreditar que Deus é soberano. Ou, dito de um modo bem coloquial, se Deus é que manda nisto tudo (aquilo que na prática significa dizermos que ele é simultaneamente justo, bom, omnipotente, omnisciente e omnipresente), o que é que isso significa nos acontecimentos do mundo?

(Continua.)


quinta-feira, abril 24, 2014

Os diálogos que realmente interessam (contado pela Mamã)
Papá, chegado de um passeio bastante longo com os meninos e moralizando sobre o cansaço deles: Vocês quando forem crescidos vão lembrar estes passeios e dizer que fomos muitos felizes.
Joaquim, 6 anos: Ó Papá, tu só dizes coisas românticas.

terça-feira, abril 22, 2014

Ouvir
Dois mil anos depois dos acontecimentos da Páscoa ainda sentimos que o baptismo coreografa excelentemente aquilo que as nossas palavras só não conseguem dominar: somos pessoas novas pelo facto de Cristo ter voltado à vida. O que Jesus fez ao ressuscitar não foi só manifestar um regresso à existência. Foi dar-nos a nós uma inteiramente nova.
O sermão de Domingo passado, especial por ser da Páscoa e de baptismos, pode ser ouvido aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, abril 21, 2014

Para quem não leu a entrevista do Público ontem no papel


















Pode ler aqui (clicar em cima de aqui).

sexta-feira, abril 18, 2014

Cruz


quarta-feira, abril 16, 2014

Minha mana


terça-feira, abril 15, 2014

Ouvir
No cristianismo a repetição não funciona por causa da rotina mas por causa da renovação. Em cada manhã é a própria existência que acontece como que pela primeira vez novamente. Como diz Chesterton, Deus volta a dizer ao sol: “levanta-te!”, como a criança que não se cansa da mesma brincadeira. Fantástico!
O último sermão da série sobre a Família, aqui (clicar em cima de aqui).

sexta-feira, abril 11, 2014

Para o Nuno, na despedida da Família Soares
Dois anos depois volto a ver família a despedir-se de Portugal. Mas, graças a Deus, essa despedida é mais positiva que negativa. Porquê? Porque a minha família não está a deixar Portugal necessariamente por causa do que Portugal não consegue fazer por ela. A minha família está a deixar Portugal principalmente por causa do que ela pode fazer pelos outros que não são portugueses. E isso é raro e um património para todos os que fazem parte desta família. Porque, se ainda cá estivermos daqui a vinte anos, poderemos puxar pela memória e dizer aos nossos filhos que não foi a crise que levou embora os nossos familiares mas que foi Deus. Faz muita diferença para a herança que se deixa aos nossos filhos. É uma oportunidade para amarem sobretudo Deus e, se possível, amarem também o País onde nasceram.
Hoje ao pequeno-almoço a nossa mesa da cozinha teve de dar para mais duas meninas. A Joana e a Júlia, filhas da minha irmã Sara e do meu cunhado Nuno. Faltavam a Luísa e o José, que põem quatro crianças no marcador genealógico dos Soares. Voltei a lembrar o que aconteceu há dois anos, quando os meus outros sobrinhos que partiram para o Mississipi passaram uma noite lá em casa (neste texto aqui). Agora serão sete os sobrinhos que não acompanharei de perto. Custa mas vale a pena. E por isso o meu esforço e da Rute (muito maior o da Rute que passa mais tempos com eles) é nestas ocasiões dar-lhes o divertimento que eles querem poupando-os de demasiados choros. É meio paradoxal: chorarmos às escondidas enquanto escrevemos textos de despedida para que as despedidas sejam menos choradas.
Quero com este texto abençoar a partida para a República Checa da minha irmã Sara, do meu cunhado Nuno, e dos meus sobrinhos Joana, Júlia, Luísa e José. Como há uns meses falei do que o meu coração sente pela minha irmã (neste texto aqui), gostaria de me concentrar no meu cunhado. É difícil fazer justiça à minha história com o Nuno. Porque a minha história com o Nuno tem muitos pontos bem diferentes entre si. A minha primeira memória do Nuno é a de um adolescente seguro de si, enquanto eu, que o contemplava com menos uns anitos, nem tanto. O Nuno Soares era no início dos anos 90 o galã por excelência do Acampamento Baptista de Água de Madeiros. Pertencia à Igreja Baptista do Vale da Amoreira, que tinha outros galãs mas nenhum com a popularidade do Nuno. Nós, que estávamos na Igreja Baptista de Queluz, olhávamos para os do Vale numa mistura de humildade (porque éramos mais novos) e alguma impaciência (porque os galãs do Vale eram muito seguros da sua popularidade). No fundo, no fundo, desejávamos também ser como eles mas custava-nos admitir isso. Anos mais tarde lembro-me de ter uma conversa com o Nuno por volta de 1994, creio, e de ficar com uma ideia que o Nuno era mais do que o miúdo que boa parte das miúdas queriam. Ainda assim, isso não impediu que me perturbasse um pouco saber, em 1997, que a minha irmã gémea andava a passear com ele. Pouco tempo depois começavam a namorar e o Nuno do Vale passou a ser o futuro Nuno da família.
Foi fácil amar o Nuno. Porque o Nuno tem um coração que rapidamente conquista o nosso. Na prática o aparato do passado, saldado na popularidade com as miúdas, era apenas uma fase provisória e inicial de conhecermos uma pessoa de quem não é difícil gostar porque tem muito para ser gostado. Isto não significa que tudo tem sido fácil no amor que tenho pelo meu cunhado. Eu e o Nuno, tendo Deus chamado para o mesmo caminho de o servirmos, temos muitas divergências. E durante pelo menos uma década reconheço que me faltou a maturidade de colocar as nossas divergências sob a perspectiva correcta. Zanguei-me com o Nuno em discussões que não eram assim tão importantes. Não estou com isto a desvalorizar o que distingue algumas das nossas convicções. Provavelmente insistirei com ele nestas matérias até ao final dos nossos dias deste lado da ressurreição. Como provavelmente ele fará justamente o mesmo comigo. Se Deus quiser, eu continuarei a ser o calvinista resmungão que implica com a expansividade informal do meu cunhado. Mas onde quero chegar é que isso é menos importante tendo em conta aquilo no qual estamos de acordo.
O meu cunhado, mesmo quando não me parece tão solidamente implantado na prudente doutrina e tradição, tem uma coragem cristã que eu não tenho. Admiro-o profundamente por isso. Pelo amor tão escancarado a Jesus. Pelo modo irrequieto de não parar enquanto não está a testemunhar. Por ver no futuro as coisas que do presente só podem ser descobertas através da fé. Pela disponibilidade para o arrependimento e para o perdão. Pelos braços abertos às dificuldades que resultam de ser fiel à Palavra. Quero ser como ele nestas coisas porque ser assim só acontece quando Jesus está em nós. Imitar nisto o Nuno também é imitar Jesus. De quantas pessoas na nossa vida podemos dizer isto?
Deus abençoe a Família Soares na partida para a República Checa. Deus te abençoe, como dizem os americanos quando se referem aos cunhados, meu irmão-na-lei. Mas mais que meu irmão na lei, meu irmão na graça. Sou muito grato ao Senhor por ti.


terça-feira, abril 08, 2014

Ouvir
É a partir de Deus que os noivos recebem o poder de permanecerem juntos. A união dos esposos não está na capacidade que eles têm previamente de concordarem um com o outro. Mas está na capacidade de serem ambos transformados por Deus para que permaneçam unidos.
O valor da companhia no casamento pregado no Domingo passado, aqui (clicar em cima de aqui).

segunda-feira, abril 07, 2014

Foi assim em Aveiro


sexta-feira, abril 04, 2014

As razões porque precisamos mais de Cristo e nem assim tanto de Jesus - Parte V 
O que faz do Cristianismo uma religião sem igual é Jesus ser o Cristo. Em termos práticos: o que faz do Cristianismo uma religião sem igual é que o seu profeta é o seu Deus. É isto que fez com que Jesus fosse acusado compreensivelmente de blasfémia. A Palestina de há dois mil anos estava cheia de revolucionários e de rabis. Não estava era cheia de homens que declarassem ser o Redentor. Uma coisa é dizer que somos enviados de Deus. Outra coisa completamente diferente é dizermos que, ao sermos enviados por Deus, somos um com ele próprio. Nesse sentido a multidão teve todas as razões de sobra para, quando colocada parante a escolha entre o mestre e o assassino, escolher o assassino. Porque o assassino, podendo ser culpado pela morte de homens, não se arrogava ter a mesma vida de Deus. É preciso que compreendamos isto: o facto de Barrabás ter sangue nas mãos era um delito ridículo comparado com a identidade que Jesus afirmava ter em comum com Deus. Dois mil anos depois continuamos a preferir Barrabás. Simplesmente temos uma maneira mais sossegada de pedir a sua libertação.
Pedimos a libertação de Barrabás quando gostamos de Jesus drenando-o das afirmações que ele fez sobre si próprio. Simpatizaremos com Jesus desde que lhe ofereçamos um desconto céptico aos milagres, simpatizaremos com Jesus desde que relativizemos a ética radical, simpatizaremos com Jesus desde que aburguesemos os seus ensinos teológicos. A mais triste ironia é que nos convençamos que somos a favor da sua vida quando na prática acabamos por engrossar a multidão que prefere a sinceridade de um assassino à ousadia de um Messias. Os Fariseus levam de vantagem sobre nós o ódio assumido e escancarado por Jesus. Nós, como não gritamos tanto e como somos uma cultura escandalizada com a pena de morte, julgamo-nos melhor que eles. Mas na realidade continuamos tanto a suprimir a existência de Cristo, o Filho de Deus, como os do Sinédrio. A nossa tolerância com o Salvador é tanta como a dos legalistas judeus: ele que exista desde que deixe de acreditar que tem o poder para salvar alguém.
A prova de que hoje vivemos no Ocidente um clima de que a salvação é um negócio tão privado e pessoal como a escolha de uma operadora telefónica, é que só a permitimos com base na satisfação do cliente. Ou seja, "se te sentes salvo assim, bom para ti!" O problema é que este espaço de mercado livre que é oferecido a Cristo não esbarra com os consumidores do seu produto, os cristãos - esbarra com as declarações de monopólio do próprio Cristo. Muitos dizem-se cristãos partindo do princípio que lhes cabe a eles traduzirem as palavras de Jesus para encaixarem no consumo que fazem dele. Tornam-se os crentes os delineadores das fronteiras da sua própria crença, como quem escolhe o tarifário para o modo como quer usar o aparelho. Quem é salvo passa a dizer ao salvador as condições de como quer ver a salvação usada. Pode ser um produto com saída mas em termos espirituais é uma candonga.
Na prática esta pequena série de textos separou no título aquilo que queria juntar nos seus parágrafos. Sim, nem é tanto preferir Jesus a Cristo. É mesmo compreender que os dois vêm juntos num só. Uma boa parte das pessoas que confessa ter uma grande admiração por Jesus está a fazê-lo porque essa admiração é um modo de controlá-lo - de o manter domesticado e restrito às festas que lhe queremos assentar no pêlo. Sei que a imagem é forte e não quero chocar. Mas é por isto que aconselho vez após vez a quem admira Jesus que corra para as Escrituras para rapidamente se desapontar com ele. No Evangelho de Marcos, por exemplo, quem percebe melhor Jesus não são os pastelões dos seus discípulos mas os seus adversários. Os demónios e os hipócritas religiosos estão muito mais acordados para tirar as consequências certas do que Jesus ensina porque têm a perder quando se aproximam dele. Um dos nossos grandes problemas hoje é que só queremos entrar a ganhar. E se Jesus nos colocar em causa, rapidamente o embrulhamos numa hermenêutica sofisticada que signifique que, no fundo no fundo, ele está a meu favor simplesmente é preciso contextualizar muito muito bem as suas palavras.
Posso simplificar muito muito muito? As boas notícias do evangelho são estas: estás perdido sem Deus mas em Cristo tens a salvação. Não tens a salvação por Cristo ser mais do mesmo que tu já és (que presunção miserável). Tens a salvação em Cristo porque, para o problema do pecado que não conseguimos resolver, temos a solução divina através do sacrifício do próprio Filho de Deus. É revoltante a ideia do nosso maior fracasso material ser limpo por outra pessoa que não nós e que ainda por cima é espiritual? Claro que é. É por isso que este salvador acabou crucificado, minha gente. Zangarmo-nos com Deus, ofendidos que estamos por sermos acusados por ele, é o melhor início da grande amizade que podemos ter com ele. É por isso que chamar Cristo a Jesus é essencial. Porque recorda-nos que este é o tipo de mensagem que provoca sangue: ou o sangue que é vertido para nosso perdão, ou o sangue que queremos ver no corpo de quem teve o descaramamento de dizer que faz por nós o que nós mesmo não conseguimos.

terça-feira, abril 01, 2014

Ouvir
A nossa relação com a ideia de termos filhos não pode ser norteada pelo que cremos acerca de nós mas pelo que cremos acerca de Deus. Na prática isto significa que é irrelevante o que nós achamos acerca de quando devemos ter filhos e quantos filhos devemos ter se isso não depender do que achamos acerca de Deus.
O sermão de Domingo passado aqui (clicar em cima de aqui).