Calvino põe mais energia no nosso esqueleto que um six-pack de Red Bull
Ainda na semana passada estive numa palestra sobre Calvino e a Predestinação na Igreja Evangélica Lisbonense. É caricato que até nos lugares que supostamente mais devem ao contributo de Calvino, ele continue a ser temido. As pessoas têm medo de Calvino. Porquê? Sinceramente, eu acho que o medo de Calvino é mais pequeno que outra coisa que, essa sim, explica o susto: a preguiça. Quando não nos damos ao trabalho de trabalhar, todo o trabalho parece assustador. Quando não lemos, todos os escritores podem parecer monstros. O medo anda quase sempre de mão dada com a preguiça.
Este paragrafozinho manhoso para vos fazer um copy paste. Como sabem, mantenho um blogue só para a leitura das Institutas de João Calvino (aqui: Lendo as Institutas). É um blogue daqueles que dá trabalhinho - tem de ser ler e tem de se escrever sobre o que se leu. Na Conferência Fiel que assisti na semana passada no Seminário da Torre da Aguilha bem se falou sobre isto. Mas quem falou foi um pastor brasileiro e, por isso, os pastores portugueses ouviram e provavelmente pensaram: "tá bem, abelha, que isto aqui é Portugal e cá os pastores não têm igrejas que valorizem a leitura séria da Palavra e o estudo da teologia". É demasiado radical a minha opinião? Certamente. Mas acredito nela a sério. Enquanto isto não for mudado pelos portugueses podem mandar vir cá o Billy Graham que as coisas ficarão iguaizinhas.
Ora, segue um texto sobre a parte das Institutas que li hoje. Pessoal: Calvino é massa! Não é preciso ser-se calvinista para perceber isso. Calvino põe mais energia no nosso esqueleto que um six-pack de Red Bull porque se apercebia que tudo se resume a louvar o Criador. Sim, louvar o Criador. Calvino não é o monstro que fazem dele. Calvino é dos maiores contribuintes para eu estar cada vez mais carismático. Dêem-se ao trabalho de ler. Segue o texto!
Ainda na semana passada estive numa palestra sobre Calvino e a Predestinação na Igreja Evangélica Lisbonense. É caricato que até nos lugares que supostamente mais devem ao contributo de Calvino, ele continue a ser temido. As pessoas têm medo de Calvino. Porquê? Sinceramente, eu acho que o medo de Calvino é mais pequeno que outra coisa que, essa sim, explica o susto: a preguiça. Quando não nos damos ao trabalho de trabalhar, todo o trabalho parece assustador. Quando não lemos, todos os escritores podem parecer monstros. O medo anda quase sempre de mão dada com a preguiça.
Este paragrafozinho manhoso para vos fazer um copy paste. Como sabem, mantenho um blogue só para a leitura das Institutas de João Calvino (aqui: Lendo as Institutas). É um blogue daqueles que dá trabalhinho - tem de ser ler e tem de se escrever sobre o que se leu. Na Conferência Fiel que assisti na semana passada no Seminário da Torre da Aguilha bem se falou sobre isto. Mas quem falou foi um pastor brasileiro e, por isso, os pastores portugueses ouviram e provavelmente pensaram: "tá bem, abelha, que isto aqui é Portugal e cá os pastores não têm igrejas que valorizem a leitura séria da Palavra e o estudo da teologia". É demasiado radical a minha opinião? Certamente. Mas acredito nela a sério. Enquanto isto não for mudado pelos portugueses podem mandar vir cá o Billy Graham que as coisas ficarão iguaizinhas.
Ora, segue um texto sobre a parte das Institutas que li hoje. Pessoal: Calvino é massa! Não é preciso ser-se calvinista para perceber isso. Calvino põe mais energia no nosso esqueleto que um six-pack de Red Bull porque se apercebia que tudo se resume a louvar o Criador. Sim, louvar o Criador. Calvino não é o monstro que fazem dele. Calvino é dos maiores contribuintes para eu estar cada vez mais carismático. Dêem-se ao trabalho de ler. Segue o texto!
É longo este oitavo capítulo do segundo livro
das Institutas. Trata da lei moral e dos Dez Mandamentos. Calvino
inicia-o explicando que o louvor que deve ser suscitado a partir dos
mandamentos continua em força para nós, cristãos. Devemos sentir o mesmo
que os judeus sentiram quando receberam o Decálogo: uma aprendizagem
acerca da piedade ao mesmo tempo que uma aprendizagem acerca da
incapacidade de cumprir este Decálogo, produzindo um consequente temor
por Deus e uma necessidade por um mediador. O verdadeiro
auto-conhecimento é que se gera a partir daqui. Uma pessoa que não
percebe a necessidade da personalidade de Cristo é uma pessoa que não
percebe nada acerca da sua própria personalidade.
Por um lado, o que os Dez Mandamentos dizem já está inscrito na consciência de qualquer ser humano, numa forma de lei natural. Por outro, se o que os Dez Mandamentos dizem não for agitado dentro de nós pelo próprio Espírito Santo, a nossa consciência continuará adormecida. Isto é interessante. Porque explica que, se a nossa consciência já tem como lidar com o conteúdo do Decálogo, ao mesmo tempo só o pode fazer devidamente se for chocalhada pelo poder do próprio Criador. O Decálogo ensina claramente aquilo que a lei natural apresenta obscuramente.
A Lei (neste sentido, é equivalente ao Decálogo) serve para nos fazer entender que a nossa resposta a Deus tem de ser na prática da justiça, pureza e santidade. Porque essas são características da personalidade de Deus, que aprendemos através da Lei. Logo, a consequência desejável da convivência da Lei é bastante negativa mas necessária: "uma desconfiança da nossa capacidade, e uma ansiedade e trepidação de mente." Esse desespero é o que nos fará entender que, se Deus não nos ajudar, não teremos qualquer hipótese. Uma pessoa que confia em Deus precisa antes de desesperar pela sua ajuda. Sem desespero inicial, não há um cristianismo autêntico.
Mas ter uma reverência pela justiça de Deus só não chega. É preciso amar a santidade de Deus ao mesmo tempo que se odeia o pecado - a obediência é um produto desta simultaneidade (nós hoje temos muita dificuldade em obedecer porque o evangelho não é pregado na sua integridade, mostrando a necessidade de odiarmos o pecado - hoje não obedecemos porque não odiamos o pecado). Nesta questão da obediencia Calvino precisava de a explicar longe das invenções romanistas, em que muitas leis eram criadas sem terem qualquer fundamento na Palavra de Deus. O tipo de obediência a leis de homens não agrada a Deus - antes pelo contrário, é um tipo de obediência vã e que coloca o homem no centro. A verdadeira adoração a Deus é uma obediência ao que Deus pede. É a partir daqui que entendemos que lidarmos com a Lei da maneira certa é certamente lidarmos com o seu autor - perceber o que Deus manda é perceber quem Deus é.
É esta compreensão do carácter de Deus que nos faz entender a Lei no seu todo e não apenas na sua parte. O legalista é uma pessoa que entende a Lei apenas na sua parte porque ignora que a obediência à Lei respeita a personalidade de quem a criou. O que é que isto quer dizer? Que quando eu me lembro que o autor da Lei é perfeito e integra totalmente a realidade espiritual na realidade física, é absurdo eu cumprir a Lei na forma sem permitir que ela se cumpra no meu coração. Na verdade, o legalista é alguém que parece que cumpre a Lei mas, de facto, não a cumpre. Por isso Jesus passou a vida a malhar em legalistas. O legalista julga que cumpre a Lei pelo facto de seguir os seus aspectos formais. Mas o seu coração fica incólume a ela, revelando na prática que o legalista, ainda que inconscientemente, torna o autor da Lei tão imperfeito como o modo como ele a cumpre. Uma pessoa que cumpre a Lei na sua forma mas não no seu conteúdo é alguém que faz de Deus a mesma coisa. Um legalista não é uma criatura da Lei mas da carne. Por isso o Senhor Jesus não foi um legalista mas alguém que cumpriu ele mesmo a Lei. Porque o Senhor Jesus sabia que cumprir a Lei era respeitar o carácter de quem a criou - Deus. Deus, cuja forma não difere do conteúdo, dá a Lei para que ela seja cumprida em obras e no coração - segundo a sua própria natureza. "In saying that this is the meaning of the Law, we are not introducing a new interpretation of our own; we are following Christ, the best interpreter of the Law."
Um dos problemas do legalismo é que ele vive da aparência do cumprimento da Lei. O legalismo parte do princípio que, desde que nenhuma regra seja quebrada, a Lei é cumprida. Mas essa não é a lógica da Lei. Quando nós olhamos para os Mandamentos rapidamente nos apercebemos que cada um deles encerra em si um universo. Como? Quando, por exemplo, lemos no Sexto Mandamento que não devemos matar, não é só de uma proibição que se trata. Não matar é certamente uma proibição mas comunica também muitas afirmativas. Calvino explica que é o Sexto Mandamento que nos deve fazer ajudar a vida da pessoa à nossa volta com todos os meios que tenhamos ao nosso alcance. Um legalista está-se nas tintas para isto. Um legalista julga que nunca matou ninguém por nunca ter interrompido o batimento cardíaco de nenhuma criatura. Mas um não-legalista sabe que não matar ninguém é muito mais do que isso: é servir a vida de todos os outros à nossa volta. A Lei é muito mais que uma aparência de cumprimento.
Por que razão é que os Mandamentos surgem então tão abreviados? Para que a nossa consciência possa ser acordada com a pior manifestação dos nossos pecados. Nesse sentido, a Bíblia diz “Não Matarás” para que nos impressionemos com o pior que pode acontecer com a nossa atitude de indiferença à vida dos outros. Isto na prática significa que o pior que podemos fazer com a nossa indiferença à vida dos outros é matá-los, de facto. Mas significa também que matamos o nosso próximo de outras maneiras que não chegam ao homicídio. A Lei de Deus é completa porque, ao resumir-se em Dez Mandamentos, nos revela breve e eficazmente um oceano de pecado em que podemos cair. "A ira e o ódio não parecem tão maus quando são designados pelos seus nomes; mas quando são proibidos sob a designação de assassínio, compreendemos melhor como são abomináveis à vista de Deus."
Deus dividiu a Lei em duas tábuas para na primeira compreendermos como devemos louvar e, na segunda, como esse louvor transforma o modo como nos relacionamos com os homens. E isto é importante porque coloca no louvor a Deus a base de toda a ética. Não é por eu ser bom que louvo a Deus. É o oposto: é porque louvo a Deus que posso ser bom. É esta lógica que permite o resumo que em Mateus 22:37 Jesus faz da Lei, enquanto amar a Deus e ao nosso próximo como a nós mesmos.
Por um lado, o que os Dez Mandamentos dizem já está inscrito na consciência de qualquer ser humano, numa forma de lei natural. Por outro, se o que os Dez Mandamentos dizem não for agitado dentro de nós pelo próprio Espírito Santo, a nossa consciência continuará adormecida. Isto é interessante. Porque explica que, se a nossa consciência já tem como lidar com o conteúdo do Decálogo, ao mesmo tempo só o pode fazer devidamente se for chocalhada pelo poder do próprio Criador. O Decálogo ensina claramente aquilo que a lei natural apresenta obscuramente.
A Lei (neste sentido, é equivalente ao Decálogo) serve para nos fazer entender que a nossa resposta a Deus tem de ser na prática da justiça, pureza e santidade. Porque essas são características da personalidade de Deus, que aprendemos através da Lei. Logo, a consequência desejável da convivência da Lei é bastante negativa mas necessária: "uma desconfiança da nossa capacidade, e uma ansiedade e trepidação de mente." Esse desespero é o que nos fará entender que, se Deus não nos ajudar, não teremos qualquer hipótese. Uma pessoa que confia em Deus precisa antes de desesperar pela sua ajuda. Sem desespero inicial, não há um cristianismo autêntico.
Mas ter uma reverência pela justiça de Deus só não chega. É preciso amar a santidade de Deus ao mesmo tempo que se odeia o pecado - a obediência é um produto desta simultaneidade (nós hoje temos muita dificuldade em obedecer porque o evangelho não é pregado na sua integridade, mostrando a necessidade de odiarmos o pecado - hoje não obedecemos porque não odiamos o pecado). Nesta questão da obediencia Calvino precisava de a explicar longe das invenções romanistas, em que muitas leis eram criadas sem terem qualquer fundamento na Palavra de Deus. O tipo de obediência a leis de homens não agrada a Deus - antes pelo contrário, é um tipo de obediência vã e que coloca o homem no centro. A verdadeira adoração a Deus é uma obediência ao que Deus pede. É a partir daqui que entendemos que lidarmos com a Lei da maneira certa é certamente lidarmos com o seu autor - perceber o que Deus manda é perceber quem Deus é.
É esta compreensão do carácter de Deus que nos faz entender a Lei no seu todo e não apenas na sua parte. O legalista é uma pessoa que entende a Lei apenas na sua parte porque ignora que a obediência à Lei respeita a personalidade de quem a criou. O que é que isto quer dizer? Que quando eu me lembro que o autor da Lei é perfeito e integra totalmente a realidade espiritual na realidade física, é absurdo eu cumprir a Lei na forma sem permitir que ela se cumpra no meu coração. Na verdade, o legalista é alguém que parece que cumpre a Lei mas, de facto, não a cumpre. Por isso Jesus passou a vida a malhar em legalistas. O legalista julga que cumpre a Lei pelo facto de seguir os seus aspectos formais. Mas o seu coração fica incólume a ela, revelando na prática que o legalista, ainda que inconscientemente, torna o autor da Lei tão imperfeito como o modo como ele a cumpre. Uma pessoa que cumpre a Lei na sua forma mas não no seu conteúdo é alguém que faz de Deus a mesma coisa. Um legalista não é uma criatura da Lei mas da carne. Por isso o Senhor Jesus não foi um legalista mas alguém que cumpriu ele mesmo a Lei. Porque o Senhor Jesus sabia que cumprir a Lei era respeitar o carácter de quem a criou - Deus. Deus, cuja forma não difere do conteúdo, dá a Lei para que ela seja cumprida em obras e no coração - segundo a sua própria natureza. "In saying that this is the meaning of the Law, we are not introducing a new interpretation of our own; we are following Christ, the best interpreter of the Law."
Um dos problemas do legalismo é que ele vive da aparência do cumprimento da Lei. O legalismo parte do princípio que, desde que nenhuma regra seja quebrada, a Lei é cumprida. Mas essa não é a lógica da Lei. Quando nós olhamos para os Mandamentos rapidamente nos apercebemos que cada um deles encerra em si um universo. Como? Quando, por exemplo, lemos no Sexto Mandamento que não devemos matar, não é só de uma proibição que se trata. Não matar é certamente uma proibição mas comunica também muitas afirmativas. Calvino explica que é o Sexto Mandamento que nos deve fazer ajudar a vida da pessoa à nossa volta com todos os meios que tenhamos ao nosso alcance. Um legalista está-se nas tintas para isto. Um legalista julga que nunca matou ninguém por nunca ter interrompido o batimento cardíaco de nenhuma criatura. Mas um não-legalista sabe que não matar ninguém é muito mais do que isso: é servir a vida de todos os outros à nossa volta. A Lei é muito mais que uma aparência de cumprimento.
Por que razão é que os Mandamentos surgem então tão abreviados? Para que a nossa consciência possa ser acordada com a pior manifestação dos nossos pecados. Nesse sentido, a Bíblia diz “Não Matarás” para que nos impressionemos com o pior que pode acontecer com a nossa atitude de indiferença à vida dos outros. Isto na prática significa que o pior que podemos fazer com a nossa indiferença à vida dos outros é matá-los, de facto. Mas significa também que matamos o nosso próximo de outras maneiras que não chegam ao homicídio. A Lei de Deus é completa porque, ao resumir-se em Dez Mandamentos, nos revela breve e eficazmente um oceano de pecado em que podemos cair. "A ira e o ódio não parecem tão maus quando são designados pelos seus nomes; mas quando são proibidos sob a designação de assassínio, compreendemos melhor como são abomináveis à vista de Deus."
Deus dividiu a Lei em duas tábuas para na primeira compreendermos como devemos louvar e, na segunda, como esse louvor transforma o modo como nos relacionamos com os homens. E isto é importante porque coloca no louvor a Deus a base de toda a ética. Não é por eu ser bom que louvo a Deus. É o oposto: é porque louvo a Deus que posso ser bom. É esta lógica que permite o resumo que em Mateus 22:37 Jesus faz da Lei, enquanto amar a Deus e ao nosso próximo como a nós mesmos.