O Paradoxo da Felicidade
Em Portugal quando se ouve de um pastor evangélico brasileiro a abrir uma igreja nova pensa-se normalmente em uma igreja nova com brasileiros lá dentro. Na gíria são as igrejas étnicas, que bem ajudam a dar algum ânimo ao facto de a maioria das igrejas evangélicas portuguesas estar em decadência. Não fosse a proliferação destas novas igrejas (que, em abono da verdade, tanto depressa abrem como depressa fecham) e os números de protestantes no país estariam a cair.
No ano passado estive em Paris (na Conferência do City To City) e conheci uns quantos pastores brasileiros a abrir igrejas novas em países como a França e a Itália. Por defeito, o meu cálculo foi pensar em igrejas de brasileiros em França e na Itália. Mas, voilá!, apanhei uma surpresa: não tendo a vida facilitada por falarem a mesma língua (como em Portugal), nos outros países europeus os jovens pastores brasileiros estão a abrir igrejas que se enchem com as pessoas do país onde estão. Não são igrejas de emigrantes. São igrejas de franceses e italianos.
O caso que mais me surpreendeu foi o do Pr. René Breuel. O Pr. René Breuel terá a minha idade (trintas e muitos) e, com a sua mulher Sarah e os seus dois filhos, abriu há um par de anos uma igreja no centro de Roma. É uma igreja que não é pequena para os parâmetros europeus: cerca de uma centena de pessoas. É uma igreja que faz mais do que reciclar evangélicos fartos das suas igrejas de origem - é uma igreja a crescer com pessoas que se convertem ao cristianismo através do seu testemunho. É uma igreja de gente nova, com uma linguagem solta do evangeliquez e uma frontalidade ganhadora acerca do que é fundamental no evangelho. É uma igreja italiana pastoreado por um brasileiro que tem tudo para ser o sonho de um português.
Há duas semanas pude finalmente conversar pela primeira vez com o René. Ele passou-me um livro que escreveu (ele já escreveu outro além desse) e eu passei-lhe o livro que escrevi. O livro que passei a ter nas mãos e que li em três dias chama-se “O Paradoxo da Felicidade”. E é um livro muito bom. É um livro que parece pegar no género estafado de “seja feliz em cinco passos” mas que o subverte dando-nos o que o cristianismo crê acerca do assunto. Vou tentar descrever muito basicamente a tese do livro.
Todas as pessoas têm fome de ser felizes e o pior erro é fingir que já comemos quando os nossos dentes ainda não trincaram nada - Deus fez-nos de facto para sermos felizes (até porque Deus é feliz). Mas que tipo de felicidade devemos perseguir? Não podemos procurar a felicidade dos modelos comuns porque os modelos comuns querem vestir os fregueses sem lhes tirarem as medidas. “Eles não levam em conta a natureza entortada da nossa alma, encurvada pelo pecado, e não conseguem evitar a lógica egocêntrica na qual funcionamos.” Ou seja, o apetite antropológico (um homem querer ser feliz) é sabotado pela imperfeição do sistema digestivo (nenhum homem é perfeito). O problema não é querermos ser felizes, o problema é sermos imperfeitos. Procurarmos uma felicidade que ignora a nossa imperfeição é acabarmos ainda mais cheios da última.
“A felicidade é um efeito indirecto.” Somos felizes como consequência e não como causa. “Somos alegres não quando estamos obcecados com o nosso estado emocional, mas quando, imersos em alguma actividade, relacionamento ou causa, nos entregamos à vida em autoesquecimento.” É aqui que entendemos o paradoxo da felicidade. Os cristãos ao imitarem Cristo doam-se como ele o fez na cruz, redimindo a realidade num gesto de amor que se sacrifica. “O paradoxo de Jesus expressa assim a verdade básica por trás da existência humana e da nossa busca por felicidade: salvamos nossa vida quando a perdemos, ganhamos quando damos.” Podemos acabar surpreendidos pela felicidade porque nos esquecemos dela.
Há mais coisa boa no livro (destacaria a parte que trata da questão do sofrimento: “A maneira como compreendemos a felicidade hoje, então, se está divorciada da bondade e do sofrimento, está também divorciada da realidade”) e valia a pena que ele estivesse disponível no mercado português. Creio que é possível encomendá-lo pelo site do René. É um texto que tanto serve pessoas que já declaram fé, como as outras, e que funciona como boa introdução ao cristianismo. Começa na questão da felicidade no geral para culminar na única felicidade possível que é Cristo.
No final terminei convicto que o René e a sua família têm de vir gastar mais tempo em Portugal, partilhando da experiência deles de injectar energia sul-americana ao cristianismo europeu amolecido. A Chiesa Evangelica San Lorenzo tem muito para dar além da Itália.
Em Portugal quando se ouve de um pastor evangélico brasileiro a abrir uma igreja nova pensa-se normalmente em uma igreja nova com brasileiros lá dentro. Na gíria são as igrejas étnicas, que bem ajudam a dar algum ânimo ao facto de a maioria das igrejas evangélicas portuguesas estar em decadência. Não fosse a proliferação destas novas igrejas (que, em abono da verdade, tanto depressa abrem como depressa fecham) e os números de protestantes no país estariam a cair.
No ano passado estive em Paris (na Conferência do City To City) e conheci uns quantos pastores brasileiros a abrir igrejas novas em países como a França e a Itália. Por defeito, o meu cálculo foi pensar em igrejas de brasileiros em França e na Itália. Mas, voilá!, apanhei uma surpresa: não tendo a vida facilitada por falarem a mesma língua (como em Portugal), nos outros países europeus os jovens pastores brasileiros estão a abrir igrejas que se enchem com as pessoas do país onde estão. Não são igrejas de emigrantes. São igrejas de franceses e italianos.
O caso que mais me surpreendeu foi o do Pr. René Breuel. O Pr. René Breuel terá a minha idade (trintas e muitos) e, com a sua mulher Sarah e os seus dois filhos, abriu há um par de anos uma igreja no centro de Roma. É uma igreja que não é pequena para os parâmetros europeus: cerca de uma centena de pessoas. É uma igreja que faz mais do que reciclar evangélicos fartos das suas igrejas de origem - é uma igreja a crescer com pessoas que se convertem ao cristianismo através do seu testemunho. É uma igreja de gente nova, com uma linguagem solta do evangeliquez e uma frontalidade ganhadora acerca do que é fundamental no evangelho. É uma igreja italiana pastoreado por um brasileiro que tem tudo para ser o sonho de um português.
Há duas semanas pude finalmente conversar pela primeira vez com o René. Ele passou-me um livro que escreveu (ele já escreveu outro além desse) e eu passei-lhe o livro que escrevi. O livro que passei a ter nas mãos e que li em três dias chama-se “O Paradoxo da Felicidade”. E é um livro muito bom. É um livro que parece pegar no género estafado de “seja feliz em cinco passos” mas que o subverte dando-nos o que o cristianismo crê acerca do assunto. Vou tentar descrever muito basicamente a tese do livro.
Todas as pessoas têm fome de ser felizes e o pior erro é fingir que já comemos quando os nossos dentes ainda não trincaram nada - Deus fez-nos de facto para sermos felizes (até porque Deus é feliz). Mas que tipo de felicidade devemos perseguir? Não podemos procurar a felicidade dos modelos comuns porque os modelos comuns querem vestir os fregueses sem lhes tirarem as medidas. “Eles não levam em conta a natureza entortada da nossa alma, encurvada pelo pecado, e não conseguem evitar a lógica egocêntrica na qual funcionamos.” Ou seja, o apetite antropológico (um homem querer ser feliz) é sabotado pela imperfeição do sistema digestivo (nenhum homem é perfeito). O problema não é querermos ser felizes, o problema é sermos imperfeitos. Procurarmos uma felicidade que ignora a nossa imperfeição é acabarmos ainda mais cheios da última.
“A felicidade é um efeito indirecto.” Somos felizes como consequência e não como causa. “Somos alegres não quando estamos obcecados com o nosso estado emocional, mas quando, imersos em alguma actividade, relacionamento ou causa, nos entregamos à vida em autoesquecimento.” É aqui que entendemos o paradoxo da felicidade. Os cristãos ao imitarem Cristo doam-se como ele o fez na cruz, redimindo a realidade num gesto de amor que se sacrifica. “O paradoxo de Jesus expressa assim a verdade básica por trás da existência humana e da nossa busca por felicidade: salvamos nossa vida quando a perdemos, ganhamos quando damos.” Podemos acabar surpreendidos pela felicidade porque nos esquecemos dela.
Há mais coisa boa no livro (destacaria a parte que trata da questão do sofrimento: “A maneira como compreendemos a felicidade hoje, então, se está divorciada da bondade e do sofrimento, está também divorciada da realidade”) e valia a pena que ele estivesse disponível no mercado português. Creio que é possível encomendá-lo pelo site do René. É um texto que tanto serve pessoas que já declaram fé, como as outras, e que funciona como boa introdução ao cristianismo. Começa na questão da felicidade no geral para culminar na única felicidade possível que é Cristo.
No final terminei convicto que o René e a sua família têm de vir gastar mais tempo em Portugal, partilhando da experiência deles de injectar energia sul-americana ao cristianismo europeu amolecido. A Chiesa Evangelica San Lorenzo tem muito para dar além da Itália.