quinta-feira, janeiro 28, 2016

A bilha e a fonte (ou, somos todos judeus e não sabíamos)

As pessoas vivem dentro da Bíblia e não sabem. Como freudianos funcionais que somos, não nos apercebemos como alguns dos conceitos que organizam a nossa maneira de olhar para a existência vêm da Bíblia. O nosso problema é que, como lemos pouco a Bíblia, damo-nos ao luxo de julgar que a nossa maneira de olhar para a vida tem pouco a ver com ela. Esta é uma ignorância trágica.

Ao ler o teólogo holandês do Século XX chamado Geerhardus Vos, apercebi-me disto mais uma vez. Vos está a explicar o modo como Deus começa a revelar-se aos homens no início do Velho Testamento. Logo no início deste processo, um dos modos preferidos de Deus é revelar-se através dos sonhos. E é interessante porque Deus escolhe revelar-se através dos sonhos porque quando o homem dorme, fica mais solto da sua identidade acordada e, consequentemente, mais facilmente pode receber uma mensagem da parte de Deus. A lógica é: quanto mais longe o homem fique de si mesmo, mais perto pode ficar de Deus - e os sonhos oferecem uma ocasião privilegiada para este jogo de proximidades e distâncias.

É curioso porque Freud, sendo judeu (neste caso, um judeu não-crente) aplica esta mesma lógica mas ao contrário. Como Freud já não crê no Deus da religião a que pertence etnicamente, não vai sugerir que o sonho é bom porque ficamos mais longe de nós próprios e então podemos ficar mais perto de Deus. Como já não tem Deus como conteúdo, Freud vai ficar apenas com a embalagem. Ou seja, Freud vai defender que de facto há algo de melhor em sonhar, mas um melhor que já não é reconhecido pela proximidade a Deus, antes um melhor que é reconhecido pela proximidade a nós próprios. Todo o jogo de decifrações psíquicas de Freud tem a ver com ele achar que é nos sonhos que nos conhecemos verdadeiramente. Freud, como judeu sem fé, continua a apreciar os dispositivos apreciados por Deus (neste caso, os sonhos), simplesmente aprecia-os agora sem chegar à meta final que é apreciar o Deus que usa esses dispositivos.

Por outro lado, quando compreendemos isto também podemos apreciar o génio do pensamento judaico que é uma vigorosa antropologia negativa. As Escrituras judaicas não padecem do mal contemporâneo da obsessão pela auto-estima. Quando as Escrituras nos dizem que Deus usa os sonhos para se revelar, porque nos sonhos é mais fácil Deus comunicar tendo em conta que estamos mais longe de nós próprios, há um recado pouco simpático que nos está a ser deixado. Esse recado diz: não confies demasiado na tua mente porque muitas vezes a tua mente atrapalha na hora de compreenderes Deus. Isto não significa um suicídio intelectual (até porque é preciso pensar bem para perceber que não nos salvamos a pensar), mas o convite a acreditarmos que a solução é sempre depender de Deus em lugar de depender de nós próprios.

Get it, freudianos? Vão à fonte e não fiquem apenas na bilha.



terça-feira, janeiro 26, 2016

Disco novo da FlorCaveira aqui

O C de Crochê mata-me as saudades de a FC editar um disco feito sem preocupações com a ortodoxia cristã (acho que o último disco pagão tinha sido o de Diabo na Cruz há meia dúzia de anos) e dos Sublime. Versão física em breve!


Ouvir

A coisa mais essencial que Jesus diz sobre a sua vida foi a coisa que o fez ser condenado à morte: ele, ao ser um com o Pai, é Deus. Percebemos isto? Uma afirmação de um calibre destes não dá vontade aos homens de dizer “viva Jesus!” Dá vontade de dizer “morra Jesus” - foi o que aconteceu. É por isso que Jesus ser Deus é o pior para o nosso orgulho.

O sermão de Domingo passado, chamado "Rachando Jesus Cristo ao meio", pode ser ouvido aqui.

sexta-feira, janeiro 22, 2016

Trinta e seis minutos e quarenta e cinco segundos de perfeição

À custa de querer ir ao assunto da identidade, preguei na semana passada o sermão mais difícil de compreender da minha carreira pastoral. Foram pelo menos uns bons vinte minutos em que o avião esteve lá em cima, com a maioria da congregação a raciocinar com mais dificuldade que um alpinista nos Himalaias sem garrafa de oxigénio. Agradeço a Deus pelas pessoas da minha igreja, que têm paciência comigo mesmo nos momentos em que posso ser mesmo complicado. A piada é que em grande parte o sermão era acerca de devermos ser pessoas mais simples.

O plano para próximo Domingo é não levantar tanto voo da passagem bíblica, mantendo a abstracção em níveis praticáveis para um Domingo de manhã. Já viram esta coisa engraçada que acontece aos cristãos? Ao passo que no Ocidente uma parte das pessoas usa o Domingo para viver em morte cerebral, os cristãos devem dar o melhor dos seus miolos ao louvor a Deus. O Deus cristão tem uma exigência que está ao nível do seu sentido de humor: usem o Domingo para descansar mas descansem exercitando os vossos neurónios na compreensão da Palavra. Parece fácil.

No próximo Domingo planeio voltar a martelar na questão da identidade, mas sobretudo a partir da identidade de Jesus. No próximo Domingo planeio demonstrar que há muitos tipos de simpatia por Jesus que são tudo menos cristianismo. Uma das ideias centrais será: Jesus pode inspirar-te em muita coisa mas isso não significa que ele é o teu Deus. Jesus pode ser uma inspiração para ti sem que seja o teu Deus. Uma coisa é termos inspirações que recebemos de pessoas, outra coisa é termos uma divindade que aceitamos a partir delas. E a única pessoas de quem poderemos aceitar divindade é de Jesus Cristo. Get it?

Tendo dito isto, deixo-vos trinta e seis minutos e quarenta e cinco segundos de perfeição do Tim Keller. Vejam, por favor. Ele faz bem tudo aquilo que fiz mal no Domingo passado. O Tim Keller é mesmo uma grande inspiração para mim, sabem? Mas, sabem, ele não é o meu Deus. Posso inspirar-me com o Tim Keller mas isso não me salva. A única pessoa que me salva é Jesus Cristo. É nisto que planeio martelar no Domingo. Oram por mim?

quinta-feira, janeiro 21, 2016

Uma pequena dose semanal da sabedoria de João Calvino

Calvino alerta-nos para não vivermos esta vida como a refeição principal mas como o aperitivo. Isto permite-nos que vivamos com um sentido de que o que é bom aqui não nos enche a barriga, mas já acorda o nosso paladar para a outra vida que, essa sim, será o prato completo. Vivemos com um misto de sobriedade (esta vida está cheia de coisas más) e de alegria (esta vida mostra o que na outra será melhor).

Mais no blogue só dedicado à leitura das Institutas (aqui).

quarta-feira, janeiro 20, 2016

E agora, para me armar em bom

Mostro-vos o cartaz de um evento onde vou ser mais bem tratado do que mereço.




Ganhar o dia

Também é para isto que trabalho: para ler textos como este do Filipe D'Avillez (clicar aqui). É certo que o Filipe é um amigo e por isso me dedica uma paciência especial. Mas este é o meu ecumenismo: agente dá porrada séria nos outros porque partimos do princípio que a fé deles é tão séria como a nossa. O amor de que a Bíblia fala não é uma pieguice, e por isso, mesmo tendo em conta as divergências que continuam em cima da mesa, o texto do Filipe é uma prova da unidade combativa entre cristãos.

terça-feira, janeiro 19, 2016

Ouvir

O que devemos fazer com as fracturas da nossa identidade é o mesmo que o endemoninhado fez: levá-las até Cristo em confissão.

O sermão de Domingo passado, chamado "Na Bíblia as pessoas fascinantes são os endemoninhados", pode ser ouvido aqui.

segunda-feira, janeiro 18, 2016

Se os judeus não precisam de ser evangelizados Jesus na cruz teve o que merecia

Como espectador atento que tento ser do Bispo de Roma, vejam bem que acabei a ler italiano (nunca tinha lido um texto em italiano). Isso quer dizer que a minha interpretação de uma língua que não conheço pode correr muito mal e poderá também querer dizer que percebi tudo errado do que li. Mas sejam pacientes comigo.

Por que acabei de ler um texto em italiano? Porque o Papa visitou ontem, Domingo 17 de Janeiro, uma sinagoga em Roma, onde partilhou um breve discurso (o tal texto em italiano que acabei de ler no site do Vaticano).

O mais importante desta comunicação do Papa talvez não esteja nessa comunicação em si, mas no que ela significa em relação aos recentes desenvolvimentos no diálogo hebraico-católico (não sei se este termo é correcto, mas uso-o livremente). Num documento de 15 de Dezembro de 2015 a Santa Sé afirma que "da confissão cristã que só pode haver um caminho para a salvação [através da fé em Cristo], não segue de maneira nenhuma (...) que os judeus estão excluídos da salvação de Deus porque não acreditam em Jesus Cristo como o Messas de Israel e Filho de Deus". Isto porque, segundo o Vaticano, seria uma incorrecta interpretação da irrevocabilidade da promessa de Deus aos judeus afirmada na Carta de Paulo aos Romanos. A solução? "Que os judeus são participantes da salvação de Deus é teologicamente inquestionável, mas como isso é possível sem confessar Cristo explicitamente, é e permanece um mistério divino insondável". Os leitores sabem que é nestas ocasiões que o meu detector de treta apita aos berros despertando a minha vontade de malhar nos modos selectivos como Roma transsubstancia irracionalidades em mistérios. Mas como o meu detector de treta pode estar avariado (esta é que é uma verdadeira prova de humildade epistemológica para mim, e não cartadas mistificadoras) e como quero ser justo com os meus interlocutores, vou tentar comportar-me (e também não me meter na discussão exegética da Carta aos Romanos).

Qual é o resultado disto na prática? "Em termos concretos a Igreja Católica não conduz nem apoia qualquer missão institucional específica dirigida aos judeus". Ou seja, os judeus não precisam de ser evangelizados para confessarem explicitamente que Cristo é o salvador porque Deus não quebrou a velha promessa que fez com eles. Mais à frente, afirma-se algo interessante: "Os cristãos devem colocar a sua confiança em Deus, que cumprirá o seu plano universal de salvação nos modos que apenas ele conhece, pois eles são testemunhas de Cristo, mas não são eles que têm de implementar a salvação da humanidade" - e já voltarei a esta afirmação porque acho que ela contradiz os resultados práticos da teoria romana quando à questão hebraica.

Ora, tendo dito tudo isto, quero apontar alguns reconhecimentos positivos no discurso do Papa ontem na sinagoga em Roma, onde demonstrou concretamente o espírito do tal documento de diálogo hebraico-católico, e depois apontar reservas negativas a esse espírito em modo de rajada de perguntas (a parte rude do texto, porque Lutero tinha razão em ser bruto). Os reconhecimentos primeiro:

1. O Papa faz bem em apontar a raiz comum entre judaísmo e cristianismo. O cristianismo nunca é melhor quando esquece o Velho Testamento, antes pelo contrário.

2. É saudável que o Papa sublinhe o papel comum que cristãos católicos e judeus devem ter nas cidades que habitam juntos. Reconheço que em Lisboa tenho de me ir meter mais com os judeus para eventualmente trabalharmos mais e melhor juntos, sempre que isso melhore a nossa cidade.

3. O Papa tem razão quando diz que o diálogo hebraico-católico deve ser aprofundado. Há muito muito muito trabalhinho para fazer na leitura dos nossos textos sagrados.

4. É muito bom ouvir o Papa a falar tão coloquialmente na antiga aliança entre Deus e os judeus. Nestas alturas, quase que me envergonho das igrejas evangélicas que tantas vezes passam ao lado de reflectir sobre a importância do pacto entre Deus e Israel.

5. O Papa acerta quando afirma a Escritura comum aos judeus e aos cristãos (neste caso, o Velho Testamento) oferece uma ecologia integral para a cura da criação. Numa altura em que muitos cristãos se encantam com o panteísmo pop das religiões orientais, é fundamental percebermos no Velho Testamento a importância de a história do Universo ser a de um criador que cria criaturas e criação.

As reservas negativas em modo bruto de rajadas de perguntas:

1. Se os judeus não precisam de ser evangelizados para confessar que Jesus é o salvador porque supostamente permanecem dentro da aliança com Deus, qual a diferença entre Jesus ser um mero rabi do judaísmo e ser o próprio Deus? Se os judeus podem ser salvos sem acreditar explicitamente em Cristo, quer dizer que a alguns Deus escolheu salvar sem que eles precisem de reconhecer a divindade do seu filho? Se me posso salvar sem reconhecer a divindade do Filho, então o que significa na prática Jesus ser Deus? Se é possível salvar-me sem acreditar que Jesus é Deus, então por que razão é errado que os judeus tenham querido crucificar Cristo? Se no fim de contas os judeus se podem salvar sem reconhecer Jesus como Messias, qual o grande problema de Jesus ter sido crucificado pelos judeus precisamente sob a acusação que era uma blasfémia afirmar-se um com Deus Pai? Qual a crise da cruz? Até que ponto é que não evangelizar os judeus é tornar a crucificação como aquilo que Jesus merecia?

2. Estes cuidados com os judeus resultam de uma reflexão teológica profunda sobre a Palavra ou sobre sentimentos de culpa que temos a partir do Holocausto? Até que ponto é que reconhecermos nos judeus uma excepção para a evangelização acaba numa discriminação ao contrário? Até que ponto é que livrar pessoas da necessidade de se converterem pelo seu muito sofrimento é promovermos uma salvação pelo sofrimento? Até que ponto é que Roma se deixa atrair por uma salvação pelo sofrimento como uma recaída na questão entre a fé e as obras? Se as pessoas se salvarem por muito sofrerem, isso quer dizer que se salvam por serem como Cristo? Salvamo-nos por sofrermos como Cristo ou salvamo-nos por Cristo? O que é que Roma acaba a pregar no fim, uma salvação pelo sofrimento ou uma salvação por Cristo? Se eu não sofrer muito, posso salvar-me como? Através de Cristo? E como? O que é que Cristo faz para que pessoas que, como eu, não sofram muito, possam ser salvas?

3. Se o Vaticano reconhece que não cabe aos cristãos "implementarem a salvação da humanidade", por que parece o Vaticano tão ansioso por afirmar a salvação de tanta gente? Até que ponto é que os cristãos assegurarem a salvação a pessoas que não se identificam com a salvação cristã é um acto de violência? Respeitamos a liberdade dos não-cristãos ao afirmar que eles se salvarão através de credos que não confessam? Se tantos se salvam através de algo no qual não acreditam aqui, até que ponto é que a salvação e a perdição não são apenas abstracções? Afinal, qual a ideia mais concreta que Roma tem acerca de quem se salva e de quem se perde? Será que podemos pura e simplesmente largar estas categorias de salvação e perdição e vivermos todos uma vida baseada em consensos muito alargados acerca da moralidade? Se sim, qual a pertinência da evangelização?

Este tipo de respostas dava-me jeito porque sou um pastor, e como já disse antes, pode ser que ande a viver uma vida completamente absurda azucrinando as pessoas a pregar-lhes sobre Jesus Cristo para uma salvação que no fudo no fundo pode ser uma abstracção do caraças. Não levem a mal o português, mas é que acabei de ler italiano.

P.S. É fácil continuar a bater no ceguinho, sobretudo depois da interacção com alguns comentários a este texto. Não quero bater mais mas acho que devo adicionar apenas mais duas notas.
A primeira: é uma tolice dizer que Paulo nos dá caminho hermenêutico para não termos de pregar o evangelho aos judeus, quando Paulo deu a sua vida para pregar também aos judeus. É certo que Paulo é chamado o apóstolo aos gentios. Mas quem folheia as páginas da Bíblia sabe que o método missionário dele era começar pelos judeus e só então, após eles terem recusado, seguir para pregar aos gentios. Será que Paulo quando escreve aos Romanos se arrependeu da sua carreira evangelística aos seus compatriotas e apercebeu-se que o tinha andado a fazer (ele e todos os apóstolos!)  era uma valente perda de tempo?

A segunda: Roma insiste a dizer que é a igreja da tradição. Mas o que é que isto significa na prática quando Roma descarta uma tradição interpretativa de dois mil anos para no auge da sua magisterial auto-confiança dizer que agora é que a conclusão alcançada é a certa? Como Ross Douthat (que é católico romano!) dizia há uns tempos aos bispos progressistas dos Estados Unidos, que raio de ligação à tradição é a de Roma se ela estiver sempre a partir do princípio que o catolicismo está constantemente no ano zero de interpretação da Palavra? O que me liga à comunhão dos santos de dois mil anos se a interpretação da igreja pode recompor de acordo com as novidades exegéticas da estação crenças que eles mantiveram inalteradas? A tradição romana é uma coisa muito difícil de compreender e este Papa é o pior dos meus tempos de vida.


sexta-feira, janeiro 15, 2016

Onde divago sobre a razão porque a cabeleireira do teu bairro não acredita em Cristo e sobre o título do próximo sermão

Nesta nova série de sermões, esticamos a corda no que diz respeito aos títulos deles. Talvez o de próximo Domingo seja o mais arriscado até aqui na minha carreira pastoral. Chama-se: "Na Bíblias as pessoas fascinantes são os endemoninhados".

Em jeito de trailer, explico um pouco do espírito da coisa. Basicamente, a coisa mais difícil de engolir no cristianismo é aceitar que Jesus, tendo sido um homem, era também Deus. Todas as outras dificuldades que as pessoas possam ter com a religião cristã, vêm daqui (seja o sobrenatural, aceitar a Bíblia como inspirada divinamente, o Céu e o Inferno, e por aí fora). Ora, a resistência que nós temos a esta ideia que Jesus possa ser Deus não se vê apenas nos argumentos intelectuais que contrapomos - vê-se sobretudo no modo como olhamos para nós próprios. Ou seja, se eu tiver acerca de mim a ideia que não sou pecador, não preciso de um salvador para coisa nenhuma (porque só precisa de salvação quem for mau e estiver a caminho de ser condenado). Logo, uma das manobras modernas para rejeitar a divindade de Cristo não é necessariamente combatê-la intelectualmente, é criar uma realidade emocional alternativa para nós.

Essa realidade emocional alternativa é olhar-me ao espelho e, apesar de reconhecer que volta e meia faço asneira, achar que, no fundo no fundo, a asneira que eu faço não é completamente responsabilidade minha. Então é responsabilidade de quem? Muito resumidamente, é responsabilidade do meu ambiente, é responsabilidade dos outros e, se quisermos e chegando mais longe, também é responsabilidade do facto de em mim não haver propriamente uma personalidade clara mas sobretudo a construção muito muito muito fluída de uma personalidade. Mais. Posso chegar a um ponto em que a fluidez da personalidade é tal que já não acredito propriamente em personalidade ou sequer em responsabilidade.

Em grande parte dos casos, hoje as pessoas no Ocidente não rejeitam Jesus como salvador através de argumentos. Se o fizessem, era sinal que ainda acreditavam em argumentos e num sentido para as coisas. Não. As pessoas rejeitam Jesus como salvador porque rejeitam um sentido para as coisas, e porque rejeitam a ideia de que uma pessoa tenha de ter uma personalidade, e porque rejeitam a ideia de responsabilidade, e, basicamente, porque, filosoficamente falando, não têm assim tanta certeza que a existência exista. Isto pode parecer filosofia alemã mas até a cabeleireira do teu bairro não tem fé em Cristo por causa disto.

Agora que deambulei um pouco acerca do sermão de próximo Domingo e deixei muitas pontas soltas, gostava que orassem por mim para pregá-lo convenientemente e, quem sabe, e esticando novamente a corda, o viessem ouvir.

quarta-feira, janeiro 13, 2016

Os setenta anos de John Piper

O pastor John Piper fez na segunda-feira passada 70 anos. Como todos os que me costumam ler sabem, o John Piper é um herói. Por isso, decidi imitar uma coisa que o Kevin DeYoung fez, outro pastor americano, e escolher os meus sete livros preferidos do John Piper (ainda não li assim tantos dele, mas seguramente mais de uma dezena). Tal como o DeYoung diz, e como já antes tinha notado, o Piper é mais um pregador que escreve que propriamente um escritor que prega. Mas talvez precisamente por causa disso, os seus livros têm uma força de púlpito notável que faz falta à literatura. O Piper tanto me leva às lágrimas como a dar socos na atmosfera. Seguem sete livros dele comemorando cada década que completou.

1. Desiring God

Este é o livro fundamental, na medida em que aqui é apresentada a tese central da vida do John Piper: Deus é mais glorificado quanto mais nos alegramos nele. Este é um livro que faz o que toda a boa teologia deve fazer: pega numa palavra mal usada pelo mundo, rouba-a para a fé e por causa disso dá um sentido transgressor ao acto de confiar em Deus. That's how we, protestants, roll. Neste caso, Piper fez isso com a palavra hedonismo. Todo o cristão é um hedonista porque ele foi criado por Deus para ter o prazer máximo em louvar o seu Criador.

2. God is the Gospel

Este foi o primeiro livro que li do John Piper e que me ensinou algo tão básico e que infelizmente nós, cristãos, passamos a vida a esquecer. Nós não acreditamos em Deus para ter outras coisas além dele. Nós acreditamos em Deus para ter o próprio Deus, que é a posse das posses. Deus é o evangelho. O evangelho não serve para te dar o que queres, o evangelho serve para quereres o que já tens em Deus.

3. Brothers, we are not professionals

Neste livro o Piper rebenta com as falinhas mansas que infelizmente se instalaram na chamada carreira pastoral. O Piper não rejeita o profissionalismo no sentido de trabalharmos bem para Deus. O que o Piper explica é que ser pastor não é primariamente uma profissão - é uma vocação. É neste livro que ele escreve: "no gore, no grace, no glory", recordando que se não tivermos o sangue do calvário, não temos a graça e não temos a glória. Quase que soquei a atmosfera quando li isto!

4. Think

A tese é o que o título diz: usa a cabeça, cristão burro! Deus criou-te com miolos por isso de cada vez que te armas em lorpa, não fazes nada a favor dele, só a favor da tua burrice narcisista. O Think deve ser lido mas a versão de capa dura também pode servir para bater com força nas cabeças dos lorpas que andam pelas nossas igrejas.

5. Finally Alive

Aqui John Piper explica que a existência de cristãos é a prova da existência de milagres. Porque só pode haver cristãos se neles tiver acontecido uma invasão sobrenatural do Espírito Santo. Neste livro Piper restitui às doutrinas da justificação e da santificação a medida de miraculoso sem a qual elas não sobrevivem.

6. The Pastor as Scholar and the Scholar as Pastor (com D.A. Carson)

Num certo sentido, este livro tem a ver com o Think. Este livro nasce de uma conferência partilhada com D.A. Carson (que também assina o livro), em que Piper sublinha: ser pastor é ser um homem da palavra estudada séria e academicamente. Este livro funciona como alho no focinho de vampiros que querem pregar sem terem de se esfalfar no texto.

7. A Sweet & Bitter Providence

A agridoce história de Rute, no Velho Testamento serve para afirmarmos sem medos que o pior do mundo não declara a incompetência de Deus, antes pelo contrário. A história de Rute serve para dizer que o sofrimento existe e é terrível. Mas Deus usa-o para dele tirar bons propósitos. Deus ganha mesmo quando é o Diabo que está a jogar em casa.

terça-feira, janeiro 12, 2016

Ouvir

Esta nova série de sermões insinua que a mania que temos que conhecemos Jesus é maior que o conhecimento real dele. Logo, estes sermões querem fazer Jesus maior e fazer de nós mais pequenos - será que vamos aguentar?

O primeiro deles, pregado no Domingo passado, pode ser ouvido aqui.

segunda-feira, janeiro 11, 2016

Agenda

O plano ambicioso para pôr os evangélicos a falar sobre o que estão na cidade a fazer bem e o que estão a fazer mal é este:

- Porto, 5 de Fevereiro às 20h30 na Igreja Baptista de Cedofeita, com Abel Pêgo, João Saramago, Helena Vilaça e ainda um nome a confirmar.

- Coimbra, 6 de Fevereiro às 10h30 na Igreja Baptista de Coimbra, com Marcos Amazonas e outros a confirmar.

- Faro, 12 de Fevereiro na Igreja Baptista de Faro às 20h30 com Neilson Amorim, Joel Bueche Lopes, Ruben Martins e ainda um nome a confirmar.

- Évora, 13 de Fevereiro às na Assembleia de Deus de Évora com Josué da Ponte e outros nomes a confirmar.

Faltar como?




quarta-feira, janeiro 06, 2016

Ouvir

Gostamos quando o ano chega ao fim com respostas. Talvez a melhor maneira seja que no seu começo lhe façamos boas perguntas.

O sermão de Domingo passado pode ser ouvido aqui.


segunda-feira, janeiro 04, 2016

Ano Novo

Cidades novas para ter fé. Fiquem sintonizados!

sexta-feira, janeiro 01, 2016

Quatro Malhas

Em seis minutos para termos o Seis em Dois Mil e Dez convenientemente arrebitado.