quinta-feira, abril 28, 2016

Um Fim-de-Semana à FlorCaveira: os palcos nobres e os palcos nulos





terça-feira, abril 26, 2016

Ouvir

É possível quem prega ter os seus sermões preferidos? Creio que sim. O de Domingo passado tornou-se especial para mim que o preguei. Porque é a partir de uma longa lista de pessoas, o que parece um ponto de partida chatíssimo. Porque é acerca do valor que as palavras e os nomes têm no cristianismo. Porque Deus enviou uma ilustração apropriada para o sermão através de um susto que apanhámos com a nossa Maria na sexta-feira.

O sermão chamado "Deus ama listas" pode ser ouvido aqui.

segunda-feira, abril 25, 2016

Num dia histórico, um texto sobre a ignorância televisiva da história

Vi há uns dias uma reportagem que a Sic fez chamada "Uma Questão de Fé", onde pegava na ideia de sermos ou não um país católico. A premissa é boa. Pegar numa convicção generalizada - "Portugal é um país maioritariamente católico" - como base de um trabalho de reportagem pode resultar num belo pedaço de informação. Se nossa a comunicação social nos servir peças que aumentam o nosso conhecimento e que, por isso, contrariem algumas das ideias feitas, óptimo - é sinal que temos media que ajudam esta coisa de sermos civilizados contrariando a ignorância. A reportagem da Sic começou bem.

Acontece que a reportagem da Sic só começou bem. A partir do momento em que saiu para explorar a boa premissa que tinha ("será que Portugal é mesmo um país maioritariamente católico?"), a reportagem atirou-se a si mesma para a valeta. Não sei quem a assinou (não prestei atenção) e, por outro lado, até prefiro não saber. Pode ser um(a) colega meu/minha da Faculdade, do curso de Ciências da Comunicação da Nova e, mal por mal, se for esse o caso, prefiro a imparcialidade do desconhecimento do autor. Por outro lado, quero manter uma apreciação justa, quando tudo em mim se automatiza para que seja arrasador na crítica que vou fazer.

Para justificar que a reportagem se tenha atirado a si mesma para a valeta, tenho a necessidade de dizer duas coisas. A primeira é uma espécie de regra para qualquer iniciativa de trazer conhecimento numa área onde ele é pouco. É natural que quando não conhecemos uma coisa e ela nos é apresentada, a estranhemos. O que é novo em grande parte é estranho. Isto pode ir desde a matemática, à Coca-Cola, aos discos dos Velvet Underground. Logo, a melhor apresentação de uma coisa que não conhecemos não me parece ser enfatizar desnecessariamente a sua estranheza. Enfatizar desnecessariamente a estranheza de uma coisa que não conhecemos é, de certa maneira, contribuir para que não a queiramos conhecer. A estranheza, se for a qualidade destacada no processo de conhecer alguma coisa, é meio caminho andado para nos cortar o interesse por ela. Seja a matemática, a Coca-Cola ou os discos dos Velvet Underground.

Quando trago conhecimento numa área onde ele é pouco, devo conter os efeitos retro-activos da estranheza, preferindo abrir o caminho para o contexto. Olhar para o ambiente das coisas ajuda-nos a percebê-las melhor, mesmo quando elas não nos atraem. É por isso que, quando ensinamos alguma coisa que no imediato gera alguma estranheza, contextualizá-la pode ser o segredo para lhe vermos uma pertinência que a nossa primeira reacção não nos dá. Nem que seja para que no final, estando o assunto mais contextualizado, possamos ter uma relação de recusa informada dele.

Ora, se o assunto é "será que Portugal é mesmo um país assim tão católico?", não devemos duvidar que a ideia generalizada de nos termos como país maioritariamente católico assegura que, diante qualquer expressão religiosa não-católica, a estranheza será o mais fácil. Ou seja, esta reportagem é daqueles casos em que, independentemente do rigor da sua construção, há um efeito de estranheza que está garantido. Mais ainda: se o efeito de estranheza nos espectadores for confundido com informá-los, este tipo de reportagens é um sucesso garantido. Aliás, é por isso que no nosso país estas reportagens são cíclicas. Elas não são cíclicas porque nos informam - elas são cíclicas porque o efeito de estranheza que provocam é infalível e porque esse efeito é vendido como informação. Sejam estas reportagens sobre Testemunhas de Jeová na TVI, sobre neo-pentecostais na Sic, ou sobre curandeiros na CMTV.

Portanto, há esta primeira coisa que devemos entender: não estamos a ser informados quando confundimos estranhar uma coisa com entender uma coisa. Só por isto, a reportagem da Sic torna-se um belíssimo mau exemplo. Sei que não terá sido esse o objectivo, mas foi assim que me pareceu o resultado final. A reportagem da Sic mistura pastores evangélicos (uns quantos), com pastores quase-evangélicos, com pais de santo, com cientologistas, com pregadores de rua, com pais que perderam as filhas para o extremismo islâmico, numa barafunda daquelas que quando acontecem de certeza que as pessoas se juntam à volta para ver. Passamos de uma igreja evangélica que faz reuniões no Tokyo do Cais do Sodré (do meu amigo Mário Rui), para um português desdentado onde baixam espíritos brasileiros (não é meu amigo mas podia), a uma velocidade tal que eis-nos sentados numa versão carrocel-xunga da BBC. O pior no final não é saírmos chocalhados com tanta aparente maluquice. O pior é no final confundirmos esse achocalhamento com informação.

A inclusão de um leque tão largo de expressões religiosas numa só reportagem, em vez de mostrar que a religião é assunto que nos merece a complexidade, acaba a sugerir que a religião se limita a uma mesma maluquice que gera manifestações diferentes. Acredito que não era esse o objectivo dos jornalistas da Sic. Mas será que eles se deram ao trabalho de visionarem a reportagem com pessoas que, tendo uma maior cultura religiosa, lhes pudessem mostrar boas objecções à edição feita? Qual a política de supervisão de conteúdos que a redação da Sic tem?

Então como é que se faz uma reportagem séria sobre religiões minoritárias? Sugiro uns quantos cuidados. Para já, diminui-se o raio de alcance. Se quiser mostrar tudo, vou acabar a mostrar nada. Logo, não vale misturar alhos com bugalhos como se fosse tudo a mesma coisa. Vamos passar a ter uma coisa mais sóbria mas mais pertinente também. Depois, tendo escolhido um grupo reduzido de religiões minoritárias, explica-se de onde surgiram, mostrando os porquês e os comos. Querer dar conhecimento sobre, por exemplo, o movimento evangélico encharcando as pessoas em imagens dos seus serviços de culto mais excitados, é o mesmo que querer explicar as regras do futebol mostrando apenas imagens de jogadores e adeptos a celebrar golos. Por emocionante que a montagem possa ficar, não é assim que se deve fazer. E nesse sentido, deixem-me ser duro.

Jornalistas da Sic: esta reportagem foi uma boa tentativa mas não é assim que devem fazer. Por exemplo, querem apresentar o movimento evangélico? Façam um trabalho mínimo de pesquisa (nem que seja a partir de uma vista de olhos rápida na Wikipedia) mostrando por que razão a discussão sobre a justificação pela fé se tornou tão incontornável na Europa no fim da Idade Média. Pelo caminho, acabarão a entender porque o debate de a pessoa saber se se salvava por se manter ligada institucionalmente à Igreja em Roma, ou se se salvava por se poder manter ligada a Cristo independentemente da ligação institucional à Igreja em Roma, mudou não somente a religião europeia mas a própria Europa. Neste sentido, creio que o maior problema dos jornalistas da Sic não foi mostrar que percebem pouco de religião. O maior problema dos jornalistas da Sic foi mostrar que percebem pouco de história.

Por fim, há ainda dois detalhes na reportagem que merecem uma referência. Esses dois detalhes revelam um esquema ínvio da reportagem. Um deles é um tom de: "eh pá, já que demos nas vistas despejando aqui tanta aparente maluquice não-católica, talvez seja melhor arranjarmos alguma maluquice católica para não nos acusarem de parcialidade." E toca a filmar a capela da Santa de Arcozelo para equilibrar os valores de estranheza. O outro detalhe é a música final no plano onde aparecem os créditos. A escolha da música é toda uma religião em si mesma: o Tom Waits cantando o "Chocolate Jesus" sob a imagem de um crucifixo num automóvel agitado ao sabor do trânsito. Parece haver um credo da reportagem que reza que, tal como o Tom Waits canta sobre alguém que escolheu o seu Jesus preferido na forma de um chocolate numa loja de doces, a religião é um apetite que cada um mata como quiser. Este final é especialmente difícil de engolir porque corresponde a agitar a água do capote depois de se ter feito a dança da chuva. Depois de uma reportagem em zoom apertado sobre as esquisitices da religião, os seus autores atiram um muito pós-moderno: "quem sou eu para julgar?" Isto, crendo eu que não foi premeditado, cheira a cobardia intelectual.

A segunda coisa que vos queria dizer (segunda, depois de este texto todo?) é: sei do que falo quando escrevo sobre esta reportagem. Trabalhei mais de dez anos a fazer um programa televisivo sobre igrejas evangélicas ("A Luz das Nações" na RTP2). Deixem-me dizer-vos que até para mim, orgulhoso evangélico que sou, era difícil fazer um programa de televisão que conseguisse fugir de sublinhar a estranheza. Há evangélicos de tantas formas e feitios que os próprios evangélicos se estranham uns aos outros. Tendo em conta que o protestantismo (termo que uso como sinónimo do movimento evangélico) é por natureza mais extrovertido que o catolicismo (tem a ver com a tal questão da justificação pela fé), não há como fazer a quadratura do círculo. Os evangélicos têm de saber viver bem com o facto de não serem compreendidos. O que não têm é de viver bem com o facto de não serem bem compreendidos sob o pretexto de serem bem compreendidos. Perceberam a diferença? Uma coisa é que não nos compreendam quando fomos representados justamente. Outra completamente diferente é que não nos compreendam quando fomos representados para que não nos compreendessem.

A reportagem da Sic "Uma Questão de Fé" pode garantir audiências, mas informação nem por isso.


sábado, abril 23, 2016

Não quero que vos falte nada



Com horinhas e tudo para saberem dos cantores da vossa preferência.

quinta-feira, abril 21, 2016

Three brief thoughts on the City To City European Conference in Lisbon

[O saloio veio cheio de vontade de comunicar com os novos amigos europeus. Perdoem o inglês e bear with me.]

1. We need to listen to each other. I spent some time talking to two hungarian brothers. I asked one of them about his thoughts on the refugee crisis. Sometimes we are not ready to listen when words are not comfortable. He was careful and sincere and he did not make things easy for me. He treated me like an adult and shared that, as a christian, he and his christian brothers have to deal with a complex situation. Modern Europe is self-righteous about opening her borders to everyone. Russia is proud and hoping that the european civilization she despises will fall because of the refugee crisis. Pray for the refugees and don't forget to pray for Hungary and Russia too.

2. Greek people talk and feel like portuguese people talk and feel. We are not about having questions answered like our brothers in northern Europe. We are more about being suspicious when there's an answer for everything. It's true that we get in trouble a lot because of that - look at our economies. But at the same time, I would say that we can help our northern european brothers when right now their best shot at sharing christianity seems to come out empty. Because Reformed Christianity never arrived to southern europe, we're used to being a minority - which will be very helpful for every christian in the west.

3. Casa da Cidade did a great job opening its church to make the conference work. They have a solid culture of serving people. Me and the guys that came from Igreja da Lapa were inspired and desiring to learn more from them. Thank you, Pastor João Martins!



terça-feira, abril 19, 2016

Ouvir

Envolvemos aqueles que não crêem no processo de continuarmos a crer? Conseguimos tirar proveito da existência dos que não crêem? Somos espiritualmente humildes com os não-cristãos?

O sermão de Domingo passado pode ser ouvido aqui.

terça-feira, abril 12, 2016

Estreia

[Pediram-me que desse um breve testemunho na Conferência Europeia do City To City. Foi a minha estreia a falar em inglês. Fica o texto que serviu de base à minha intervenção.]


I'm Tiago, I'm 38 years old and I pastor a baptist church in Lisboa. We call her Igreja da Lapa. Whenever missionaries come from outside Europe and visit us, I always say three things. First: welcome! Second: the Bible says God wants to save europeans. And third: that happens slowly.

It's very important to explain that we, europeans, are not simple people. We are not better than other people because of that. And we are not worse than other people because of that, either. It's just the way we are and it has to do with our history. But Jesus Christ has grace enough for us.

Even when Tim Keller writes a masterpiece like “Center Church”, we, europeans, have to say: “It's not that simple, Tim”. And we make our own edition of “Center Church” with european people adding: “It's not that simple, Tim”. This fact helps to explain why things happen slowly in Europe.

We, europeans feel suspicious when things look simple. Because we feel like life is not simple. That's why our intellectuals are especially hard to understand. Because being hard to understand feels more in tune with life itself. If someone comes from the outside making things look simple, in the back of our minds we'll say: “this person does not understand existence”.

So it's hard sharing the gospel in Europe. God is not an easy thing to talk about. You can talk about God in other places of the world and people will feel free or liberated. You talk about God in Europe and it feels heavy, like having to deal with a painful family subject. This doesn't mean that the Holy Spirit will not work here. But it means that He will work here probably in a different way than He works in other places. And we should be following the Holy Spirit when we share the gospel. There is no other way.

So, to make things even more complicated, I am a portuguese evangelical christian. Being a portuguese evangelical christian is almost a contradiction. It's seems like a contradiction because the Roman Catholic Church was in Portugal even before Portugal was Portugal. Being a portuguese without being a roman catholic is like a bug in your system - everything looks like it's going to shut down. So, every portuguese evangelical christian is only semi-portuguese. Sting used to sing that he was a legal alien, being an “englishman in New York”. It's not that different from being a portuguese evangelical christian - we are legal aliens. We exist but we don't belong.

Great opportunities come out of being a legal alien. You can get away with things that normal humans can not. Because you don't belong, you are more willing to take risks. Remember, they can never put you out if you never fit in. In that sense, I believe that a country like Portugal can be a terrific place to share the gospel. If the gospel means depending on a higher power, you don't need to be in line with the civil powers of your land to share it. If we are talking about sharing Christ when you feel out of step with the world, I guess portuguese evangelical christians can help. We're very good at being ok with not being understood.

But there's a problem too. Sometimes we are excessively ok with not being understood. We can even get to the point of loving not being understood, and we can even get to the point of not caring about not being understood. And when that happens, you're not behaving like a christian anymore. You are starting to feel superior in the way you live out your faith. And that is a very spiritually dangerous place. If we are talking about only sharing the gospel when you feel out of step with the world, I guess portuguese evangelical christians can be a great example, which is not necessarily a good thing.

So, it's a good thing being a portuguese evangelical christian because you don't have an easy mainstream religion. But it's a bad thing being a portuguese evangelical christian if that means not caring for those in the mainstream.

Eight years ago we began a new church here in Lisbon. After five years, we went on with that new church merging her with a old dying church, at the other side of the city. Right now, we are a kind of a false old church. When we want to feel respected, we say we have 86 years old, which is technically true, because having more than 8 decades is a lot for a protestant church in Portugal. When we want to feel free, we say we began our thing less than a decade ago. We can have them both. We have a largely young fellowship of people, having a good number of twenty and thirty somethings, with lots of kids. We've been gathering more than a hundred people each sunday, which is a very encouraging figure for a portuguese standard.

Portugal, like Europe, is changing a lot. We are not a deeply catholic country like we have been before. Most of the people will still present themselves as roman catholics, but serious and committed roman catholics are a minority within catholicism. One good thing about nominal christianity is that it is very easy to beat. Nominal christianity is intellectually and emotionally weak. Thus, it's hard to feel atracted to nominal christianity. When you meet a nominal christian you know he is closer to leaving christianity than he thinks. Which, in the long run, means that as nominals get out, you can get a better perspective on what real christianity is.

As a church, we walk away from being hostile towards serious catholicism because serious catholicism also tries to walk away from nominal christianity, like we do. That does not mean that we are not very upfront about our protestant convictions. But it means that we choose nominal christianity as a greater enemy to our faith, also because even in evangelical circles you can find nominal christianity. Being very anti-catholic is a very common thing for portuguese evangelical christians that right now doesn't help them sharing the gospel outside the very small protestant environment.

As a church, Igreja da Lapa is traditional inside and punk rock outside. Some of us grew up in the 90's Lisbon suburban punk scene and we are still trying to keep things real. We don't try to be rock'n'roll during the service because being rock'n'roll is generally a very american way of doing religion. America is a young continent and still feels like a teenager about its faith. In Europe, being weird will only make things unnecessarily hard for you. We're ok not being understood, but let's not lose perpective on the people we are trying to reach. So, our services are pretty traditional and they can feel foreign to people outside the evangelical community, but foreign in a way they can expect. We prefer to be strangely traditional than traditionally strange.

It's on the outside that we will feel free to try different things. We make records and we write books that are available in regular shops. We are not having loads of people coming from the outside. Remember, this is still Europe. But we are asking God to make us more available there, in that very, very large space where the gospel still feels dangerous, alien and, hopefully, continues to be good news. Probably it will happen slow. And what's the problem if that is the way God wants to save europeans?

Please pray for us.



Ouvir

Esdras e Neemias são livros muito modernos.
1 - parece que já não é tanto Deus que tem um povo, mas mais um povo que tem um Deus.
2 - os actos já parecem ser mais das pessoas que acreditam, do que propriamente de Deus.
3 - parece que os governantes humanos mandam mais que Deus.
4 - já é possível não ver Deus nos seu actos e é normal não acreditar nele.
5 - há uma transição da era da profecia para a era da pregação e parece que já não é Deus que nos manda trabalhar, mas somos mais nós que pedimos que Deus trabalhe.
Mas, apesar disto tudo, Deus está a trabalhar mesmo quando parece que não faz nada.

O sermão pode ser ouvido aqui.


sexta-feira, abril 08, 2016

O sermão do monte vai dar cabo da tua vida

Uma razão porque confio que Jesus é Deus é porque Jesus se comporta comigo como um Deus. Ele diz-me coisas que seriam insuportáveis de ouvir a um ser humano. Mas se ele for Deus, como acredito que ele é, posso ter algum consolo. Este consolo não significa que as coisas insuportáveis que ele me diz se tornam maravilhosas de ouvir. Mas significa que, sendo Jesus um Deus para mim, posso sentir-me consolado porque o poder de suportar as coisas insuportáveis que ele me diz vem dele mesmo.

Não quero ser irritante ao generalizar mas é insuportável que não saibamos lidar com coisas insuportáveis. A nossa tendência é querer tirar de Jesus o que nele nos parece insuportável porque assim já o podemos suportar. O pior é que se só lidarmos com Jesus quando o conseguimos suportar, significa que obviamente ele deixou de ser um Deus para nós - arranjámos nós uma maneira de sermos maiores do que ele.

Cristãos que nunca se zangam com Cristo são uma raça que devemos evitar. Não devemos confiar neles. Cristãos que se sentem sempre a amar Cristo são os mais perigosos de todos. Cristãos que lêem a Bíblia e ficam à rasca - essa é a equipa de que quero fazer parte. Dou um exemplo.

Ontem li este texto no sermão do monte, em Mateus 7:6:

“Não deis aos cães o que é santo nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas. Para que não as pisem com os pés e, voltando-se, vos dilacerem.” Baza ler o texto com alguma racionalidade e concluir coisas?

Três.

1. Não devemos dar coisas valiosas a quem não pode reconhecer o valor. Aos cães não devemos dar o que é santo, bem como aos porcos não devemos dar joias.

2. Não devemos dar coisas valiosas a quem não pode reconhecer o valor porque quem não reconhece o valor estraga as coisas valiosas que lhe são dadas. Os cães e os porcos pisam as pérolas e as coisas santas que recebem.

3. Não devemos dar coisas valiosas a quem não pode reconhecer o valor porque quem não reconhece o valor acaba por voltar-se também contra quem lhe deu as coisas valiosas. Os cães e os porcos, depois de pisarem as pérolas, dilaceram quem as deu.

São palavras duríssimas. E difíceis de encaixar com um evangelho de graça que, pelo menos a determinada altura, supõe sempre que quem não reconhece o valor está a receber algo valioso. Afinal, o evangelho alcança-nos quando, num certo sentido, ainda somos cães e porcos. Como lidar com esta aparente contradição?

Como avaliaremos quem é o cão e o porco quando, se formos sinceros connosco e com o evangelho de graça que nos alcançou, a determinada altura também nos sentimos como cães e porcos? A quem pregaremos e a quem deixaremos de pregar se num certo sentido todos são cães e porcos?

Tenho de ler muito mais a Palavra e depender do Espírito para, quem sabe, ter uma resposta melhor para estas perguntas. Tenho de receber de Deus o poder dele, através do Espírito Santo, para lidar com este texto que me parece insuportável. Uma coisa é certa: se Jesus não quisesse que lidássemos com estas palavras, não as teria dito e o Espírito Santo não as teria preservado nas Escrituras. Ter fé também é isto. E a cambada de cristãos armados em hippies que dizem que o sermão do monte é que é a cena, pensem duas vezes antes de se meterem com pólvora desta. O sermão do monte vai dar cabo da tua vida.

quinta-feira, abril 07, 2016

Nas bancas

Já está nas bancas a Revista Ler onde escrevo sobre John Updike e o profeta Obadias (não é esse do livro do Velho Testamento, é o outro). Goes like this:

Na Europa, há casos em que a qualidade de um escritor cresce na medida inversa à quantidade de vezes que aparece em capas das revistas. Portugal também demonstra este fenómeno nos escribas-ermitas. Estes escribas-ermitas têm o condão de serem bem sucedidos na literatura do mesmo modo que um extremista é bem sucedido no terrorismo: poucas são as fotografias que lhe conhecemos. Aliás, há quem ache que só os escribas-ermitas são dignos do ofício literário que exercem, lançando uma suspeita para qualquer um que consiga dar-se a convívios além das letras.





quarta-feira, abril 06, 2016

Ouvir

Temos de ter muros. Oramos pelo nosso governo. Mas o Estado não manda na Igreja. Quem manda na Igreja é Jesus Cristo.

segunda-feira, abril 04, 2016

Insistir

Entretanto meteu-se a Páscoa e houve lutas que ficaram meio paradas. But we're not down, we're not down. Lembram-se daquele desgraçado cartaz que está espalhado por todo o concelho de Oeiras? Pois bem, recebemos duas respostas, uma do Gabinete de Comunicação da Câmara Municipal de Oeiras informando-nos que dariam "conhecimento das preocupações que nos expressa ao Teatro Independente de Oeiras", e outra da Assembleia Municipal informando-nos que a nossa "mensagem foi apresentada na reunião de líderes dos grupos políticos municipais e, como tal, tomaram os grupos políticos conhecimento da mesma". Não quero ser injusto com a atenção que nos deram, mas tendo em conta que o número de cartazes na rua aumentou, insistimos.

Como não estamos aqui para fazer vida fácil a quem torna mais difícil a educação dos nossos filhos, gostava de pedir que se dessem ao trabalho de assinar esta petição (clicar em cima de "assinar esta petição"). Pode não servir para tirar esta tristeza das ruas. Mas que sirva para não nos tornar indiferentes à formação e integridade dos nossos mais novos (e, já agora, dos mais velhos também). Obrigado!

sábado, abril 02, 2016

Falta menos de um mês! Agenda com este evento!