quinta-feira, junho 30, 2016

Ouvir

Se os nossos passos de fé não envolvem fazer coisas que, sendo certas, são sentidas por nós como erradas, então isso significa que a nossa verdadeira fé é os nossos sentimentos.

O sermão de Domingo passado, chamado "Fazer coisas que, sendo certas, são sentidas por nós como erradas", pode ser ouvido aqui.

quarta-feira, junho 29, 2016

Perceber como não nos percebem (ou uma leitura de "O Nascimento de uma Nação" de Mário Avelar - sem Playmobil incluído) - parte III e última

Vejamos então algumas das coisas que ganhamos lendo o livro "O Nascimento de uma Nação - nas origens da literatura americana" do Mário Avelar. Vou coleccionar cinco pontos que podem, de alguma maneira, ser extraídos da sua leitura (muitos mais pontos poderiam ser extraídos, mas são estes cinco que aqui me interessam). Depois, vou tentar aplicá-los na ressonância que eles ganham com o movimento evangélico português. O que significa que o esquema vai ser: "percebe a América para perceberes os evangélicos portugueses". Este esquema é útil, como disse no início, para os evangélicos portugueses se perceberem melhor a si mesmos; é útil para os não-evangélicos portugueses perceberem melhor os evangélicos portugueses; e é útil para os evangélicos portugueses perceberem porque é que os não-evangélicos não os percebem.

1. Apesar de os Estados Unidos nascerem enquanto país como uma não-Europa (qual joven filho saindo de casa dos pais), não é possível conhecê-los sem perceber que herdaram da mãe a utopia. A utopia existe na América por causa da Europa. Sem sonhos, os Estados Unidos não são os Estados Unidos. Diz Mário Avelar: “A América começa por ser uma construção da Europa. Se não a pensarmos historicamente, e se não reflectirmos sobre a nossa tradição utópica (...) estaremos apenas condenados a projectar as nossas idiossincrasias naquela realidade e a reproduzirmos banalidades” (pág. 12).

2. Os Estados Unidos, ao herdarem a utopia da mãe Europa, conservam-na como a mãe Europa já não consegue, de velhinha que está e de tanta desgraça que já viveu. O optimismo americano, presente no sonho que se pode concretizar na vida de qualquer pessoa que lá chega, é uma característica incontornável da América do Norte. A utopia é na América um sonho vivo, ao passo que na Europa cínica a utopia cheira mais a pesadelo. O americano quando sonha, testa-se, ao passo que o europeu quando sonha, censura-se. “O americano configura a sua vida como uma viagem em que os testes lhe exigem uma constante reavaliação do seu próprio engenho, do seu génio” (pág. 15).

3. Os ingredientes da utopia americana misturam primeiro puritanismo de origem inglesa e mais tarde o iluminismo sobretudo francês. Esta mistura de puritanismo tempera a ingenuidade humanitária do Iluminismo. Apesar de os americanos serem optimistas quando os europeus já não podem ser, têm uma visão antropológica muito mais negativa. “A Constituição dos Estados Unidos é baseada na filosofia de Hobbes e na religião de Calvino, assumindo que o estado natural da humanidade é o estado de guerra, e que a mente carnal está em inimizade com Deus (Horace White)” (pág. 200).

4. Os Estados Unidos compreendem-se a si mesmos a partir da ideia que é preciso peregrinar para lá habitar dignamente. Os Estados Unidos são ainda hoje um país de colonos, cuja verdadeira cidadania não é a raiz ancestral mas o trabalho e o empenho. Seguindo o contributo de Benjamim Franklin, a verdadeira hospitalidade americana é conferir ao indivíduo o estatuto de cidadão, “através do trabalho, da vontade, do empenhamento do sujeito e do seu respeito pelas instituições” (pág. 179).

5. O pragmatismo americano, ao contrário do que diz o ressentimento europeu, não é uma fuga da reflexão mas o resultado dela. O protestantismo, que é obcecado pela Bíblia, pede uma auto-avaliação constante do indivíduo nesta peregrinação, desenvolvendo “uma forte cultura interior de responsabilização individual” (pág. 15). O americano não passa a vida a pensar em si mesmo principalmente porque ignora que existem mais pessoas no mundo além da América (embora muitas vezes assim aconteça). O americano passa a vida a pensar em si mesmo porque a Bíblia, que lavrou o país, assim o obriga. O individualismo americano não é uma desvalorização dos outros mas uma ênfase no valor de cada um.

Como é que isto se aplica à realidade religiosa dos evangélicos portugueses então? Vou tentar fazê-lo em três passos.

- Os evangélicos portugueses, tais como os americanos, são menos cínicos que todos os outros portugueses. Não estou a dizer que os portugueses são conscientemente cínicos. Mas quando se conhece um evangélico, percebe-se que por causa da influência americana ele tende a ter uma perspectiva diferente do mundo, que muitas vezes passa por simples ingenuidade. E talvez seja. Mas se for ingenuidade, é uma ingenuidade de quem crê que existe uma finalidade para a existência. Os povos europeus (e mediterrânicos, no particular) têm mais dificuldade em aceitar que a nossa vida serve para alguma coisa - parece-lhes um luxo de quem ainda não se desiludiu devidamente com a vida. O evangélico português estraga o fatalismo persistente da sua nação.

- Os evangélicos portugueses, apesar de poderem parecer ingénuos em comparação, têm uma perspectiva antropológica mais pessimista, como os americanos. Os evangélicos portugueses são educados que "todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Romanos 3:23), o que lhes corta a pieguice latina de achar que, bem vistas as coisas, todos somos bons lá no fundinho do nosso coração. Agora a verdade é que, apesar desta convicção teológica, os portugueses evangélicos acabam por resvalar frequentemente para a pieguice do seu povo, tratando inevitavelmente cada filho que têm como se fosse um filho único (uma das grandes pragas civilizacionais da nossa cultura portuguesa).

- Os evangélicos portugueses fuçam numa disciplina completamente anti-portuguesa que é tentarem levar-se a sério, coisa que todos os outros portugueses não estão para aí virados. Este é o ponto em que todos os leitores portugueses não-evangélicos deste texto se podem irritar (ainda mais) comigo. Por isso, vou tentar ilustrar.

Um português não-evangélico que tem convicções religiosas acha que essas convicções religiosas são tanto mais sérias quanto a capacidade que ele tem de não falar sobre elas. Os povos latinos, muito dados a todo o tipo de misticismos, consideram que falar muito sobre uma coisa é estragar o valor dela. Logo, abraçam uma religião que sublinha o "mistério" num misto sincero de deslumbramento e preguiça (esquecendo que "mistério" na Bíblia serve para acentuar que alguma coisa foi revelada, e não para acentuar que alguma coisa permanece escondida). Os latinos que são religiosos acham que a seriedade da sua religião se vê sobretudo na capacidade que têm de a manter em silêncio. Isto esbarra de frente com o carácter aparentemente extrovertido do cristianismo protestante. O cristianismo protestante, porque defende mais essencialmente o valor da palavra, crê que o verdadeiro crente não é o que a esconde mas o que a revela. A ironia é que o protestantismo converteu os povos do norte, tradicionalmente tidos como mais reservados.

Por que digo que este factor de falar sobre a fé é levar-se a si mesmo mais a sério? Porque este factor de falar sobre a fé não é uma falta de pudor, mas uma consequência racional de quem se convenceu de uma verdade que que vale mais do que a própria pessoa. Esta é a razão que leva os americanos (e os evangélicos portugueses!) a parecerem acriançados aos olhos dos europeus, por falarem tão facilmente acerca daquilo que sentem e pensam. Acontece que este aparente acriançamento americano não vem de os americanos acharem que a realidade é fácil - que é como os europeus gostam de se sentir diante deles, achando nós que "os americanos são básicos". Os americanos falam tão facilmente acerca do que pensam e do que acham porque pertencem a cultura nutrida pela convicção que quem lê e pensa chega a conclusões suficientemente importantes ao ponto de poderem transformar a nossa existência.

Os evangélicos em Portugal são sempre olhados com paternalismo porque parecem criaturas desbocadas e superficiais, com uma religião sem peso e tradição, toda feita de facilidades e pragmatismos. Mas a verdade é que os evangélicos em Portugal são filhos de uma convicção contra-cultural que sustenta que pensar não só é importante como nos transforma. Se ganhasse um euro de cada vez que ouço a frase "quase que me convences, Tiago", teria agora dinheiro para abrir às margens do Tejo um "Cavaco Center For The Unknow". Mas sabem por que é que, enquanto evangélico, não convenço em Portugal? Bem, não convenço grande parte das vezes porque não sou convincente. Mas, e sem falsa modéstia, também não convenço em Portugal porque os portugueses estruturalmente não apreciam a ideia de que aquilo que é verdadeiro tem a capacidade de nos transformar. Para os portugueses a verdade é trágica, não é transformadora (vão ler o Miguel Unamuno). Para os portugueses a racionalidade parece um luxo de quem ainda não percebeu que nada faz realmente assim tanto sentido. Os portugueses, como tantos outros na Europa, glorificam o aleatório como o verdadeiro encaixe na existência (vejam como isto está popularizado pela palavra "random" dos miúdos na net). Os evangélicos, que não defendem que nos salvamos por pensar bem, mas que pensamos melhor quando nos salvamos, têm muito para americanizar saudavelmente este país. Neste sentido, os americanos vivem correctamente mais perto do Céu.

Em suma, ser um cristão evangélico em Portugal é quase sempre passar por um tipo americanizado, já dizia aquele velho Presidente da República. Ele, Mário Soares, sendo uma das vozes que mais nos envergonha politicamente no domínio da liberdade religiosa, tinha razão nisto. Os protestantes são mesmo tipos sem raízes neste pequeno Portugal tão bem medido e limitado. Não temos padres, não temos políticos, não temos palcos. Mas que aqui estamos, estamos. Obrigado, Mário Avelar, por nos fazeres lembrar que puritano não é palavrão.

Vão ler este livro e depois falaremos todos com mais juízo. Os puritanos são os maiores. Aguentem.

[Seria interessante pensar no Brasil também, e no modo como os portugueses acabam por segunda via por também serem influenciados pelos evangélicos brasileiros. Mas isso é agora demasiada areia para a a minha camioneta. Vale a pena pensar nisso no futuro: como os brasileiros evangélicos também foram americanizados, mas como a americanização dos brasileiros é diferente da nossa pelo facto de os brasileiros, como os americanos, pertenceram a um continente jovem quando comparado com a Europa, entre outros aspectos. Mas que existe um efeito triângulo para os evangélicos portugueses, desenhado por EUA-Brasil-Portugal, sem dúvida que existe. Curiosamente, e essa seria ainda mais outra conversa (que já mencionei num texto antigo sobre o Brasil), os evangélicos portugueses preferem hoje ser menos brasileiros, sobretudo à conta dos efeitos da imigração brasileira cá. Bem, mas por enquanto chega de parlatório.]

terça-feira, junho 28, 2016

Perceber como não nos percebem (ou uma leitura de "O Nascimento de uma Nação" de Mário Avelar - sem Playmobil incluído) - parte II

Não é possível querer ser um evangélico português com alguma capacidade de auto-reflexão sem perceber de puritanismo. E com isto não sugiro que temos de ter diplomas em história da religião para sermos competentes no exercício da nossa fé (o que nos torna competentes no exercício da nossa fé é o Espírito Santo). Simplesmente limito-me a reconhecer o óbvio, que é perceber um pouco do passado para termos a ideia que as coisas não caíram dos ceús aos trambolhões. Ao contrário do que hoje acontece em largas regiões do evangelicalismo, a fé reformada nunca sugeriu desligar-se da história para viver um cristianismo mais puro (como se os outros que nos antecederam fossem uns ímpios, e nós fôssemos uns iluminados). Logo, o desafio para um cristão evangélico português é assumir humildemente que viver a sua fé com profundidade pode passar por reconhecer as origens estrangeiras da tradição religiosa a que pertencemos.

Frequentemente os cristãos evangélicos portugueses são como adolescentes em busca da sua personalidade, convictos de que quanto mais diferentes forem dos progenitores, melhor. Por isso mesmo, um dos sonhos teen típicos dos cristãos evangélicos portugueses é o de um cristianismo evangélico tipicamente português. Desculpem colocar as coisas de uma forma tão radical, mas no dia em que descobrirem um cristianismo evangélico português avisem-me que emigro para Espanha. Mantendo ainda as coisas em termos curtos e grossos: se queres um cristianismo tipicamente português, ele já existe há mais tempo que existe Portugal e chama-se catolicismo romano. Evangélicos adolescentes: enxerguem-se e cresçam.

Ser um cristão evangélico português com uma relação saudável com a sua fé é viver em harmonia com o facto de se pertencer a uma tradição religiosa que é sobretudo de travo anglo-saxónico. Com se diz lá nas terras deles: deal with it. Isso quer dizer que somos obrigados a piorar o sentimento de estranheza que a maior parte dos portugueses tem connosco? De modo algum. Simplesmente quer dizer que estamos em paz com o factor mais importante da nossa fé não ser o conforto que sentimos com a história da nossa tradição religiosa, e quer dizer que estamos em paz com o facto da nossa tradição religiosa ter efectivamente uma história pouco ou nada portuguesa. Gente adulta tende a saber viver conciliada com a sua história. Sim, somos estrangeirados - e daí?

Logo, esta minha longa queixa é apenas para vos dizer que às vezes o melhor modo de percebermos quão abençoadamente esquisitos podemos ser é ler essa esquisitice na pena de outros. Ora, ler o Mário Avelar falando sobre literatura americana é perceber que não há Estados Unidos da América sem os puritanos. Um evangélico português que lê o Mário Avelar é ajudado a perceber que aquilo que faz dele esquisito em Portugal, é o que faz com que os Estados Unidos sejam os Estados Unidos. Com isto não estou a dizer que os Estados Unidos são uma nação evangélica, mas estou a apenas (a ser mais um) a dizer que os Estados Unidos são uma nação nuclearmente influenciada pelos puritanos. Por outro lado, um português não-evangélico que lê o Mário Avelar acaba, ainda que por tabela, a receber uma lição sobre os evangélicos que também existem no seu país. Todos ficam a ganhar lendo o Mário Avelar (perdoem-me a quadrinha).

(Continua.)

[Ontem o Marcos Mateus comentava o meu texto alertando que outras denominações evangélicas em Portugal foram fruto do trabalho missionário de outros países, como a Escócia e a Inglaterra no caso das chamadas Igrejas dos Irmãos, e não dos Estados Unidos. Sem dúvida. Podíamos também mencionar os suecos e as Assembleias de Deus, para termos mais um exemplo (ou os suíços e a Acção Bíblica, e por aí fora). O ponto fundamental da minha argumentação não contesta as origens missionárias de outros países. O ponto fundamental da minha argumentação, e que será mais visível na terceira e última parte deste texto é que, mesmo quando a influência missionária protestante não foi directamente americana, a cultura evangélica que é recebida e desenvolvida em Portugal é decididamente influenciada pela cultura americana. Isto porque a cultura americana é nos Séculos XIX e XX (e sobretudo XX) aquela que representa o lugar onde o movimento evangélico, ainda que tendo manifestações plurais pelo mundo fora, foi mais fértil e capaz de ser importado para outros lugares.]

segunda-feira, junho 27, 2016

Perceber como não nos percebem (ou uma leitura de "O Nascimento de uma Nação" de Mário Avelar - sem Playmobil incluído) - parte I

A minha tese é: se és um evangélico português e não percebes a cultura americana, estás metido num sarilho. Isto porque um evangélico português é geralmente alguém educado num choque cultural entre os Estados Unidos e Portugal. Isto porque as igrejas evangélicas portuguesas são sobretudo resultado do trabalho missionário americano (e mesmo quando são resultado de trabalho missionário brasileiro, antes os evangélicos brasileiros tinham sido formados pelos evangélicos americanos). Ora, se és um evangélico português que não percebe de cultura americana, então não te percebes a ti mesmo grande coisa.

Outra parte da tese: se és um evangélico português, é provável que percebas pouco da própria cultura portuguesa. O facto de teres sido educado no choque cultural entre Estados Unidos e Portugal contribui decididamente para que, apesar de seres português e te sentires parte da cultura do teu país, acabes por não ser nem grande português nem, obviamente, grande americano. Logo, se és um evangélico português e não percebes a cultura americana, estás metido num sarilho e estás metido noutro sarilho que é julgares que percebes a cultura portuguesa quando, na realidade, não percebes. Basicamente, se és um evangélico português, estás sempre tramado (o que não tem de ser uma coisa má).

Se fosse eu a ler este texto ficava irritado com o tom dos parágrafos anteriores. É compreensível. Mas para que os danos da forma não danifiquem o conteúdo, sugiro que pensemos em cristãos evangélicos que tenham contribuído significativamente para a cultura portuguesa. Não há. E não haver não tem de ser uma tragédia (Deus não quer que os cristãos evangélicos portugueses se preocupem prioritariamente com contribuições para a cultura portuguesa, Deus quer que os cristãos evangélicos portugueses se preocupem prioritariamente com a salvação dos seus próximos, que provavelmente serão na maioria portugueses). Todavia, como a ausência de referências sublinha, o diálogo entre evangélicos e a cultura portuguesa é uma conversa de surdos. Das poucas vezes que venha a acontecer, o mais provável é que os interlocutores estejam a falar línguas diferentes mesmo tendo em conta que o idioma usado é o português.

Nós, evangélicos portugueses, precisamos desesperadamente de entender como os outros não nos entendem. E é aqui que entra o livro fantástico chamado "O Nascimento de uma Nação - nas origens da literatura americana" de Mário Avelar. O Mário Avelar é o único académico português que conheço que sabe usar a palavra puritano. Vou mais longe: o Mário Avelar é das poucas pessoas que conheço em Portugal que sabem usar a palavra puritano (infelizmente, nem os evangélicos sabem usar a palavra). Por que é que o Mário Avelar sabe usar a palavra puritano? Porque tem o hábito saudavelmente puritano de estudar. O Mário Avelar estuda os puritanos e por isso sabe do que fala quando fala deles. Permitam-me neste texto uma fuga literária para o sermão: caro leitor, sabe do que fala quando usa a palavra puritano? Provavelmente não. Você não sabe. Vá estudar.

(Continua.)



terça-feira, junho 21, 2016

Mais agenda, agora no Porto



Ouvir

Se a fé tem a ver com tudo na tua vida, ligares-te a uma pessoa que não a tem é ofereceres-lhe uma versão morta de ti mesmo.

O sermão de Domingo passado, chamado "Esdras arranca os cabelos", pode ser ouvido aqui.

segunda-feira, junho 20, 2016

CASAMENTO DA SARAH E DO HUGO Lavre, 18 de Junho de 2016
Génesis 12:1-8

I
Sarah e Hugo, se Abraão acreditou que podia dar origem a um país, mesmo sabendo que a sua mulher Sara não podia ter filhos, lembrem-se que a base do vosso casamento não é o que vocês sabem sobre vocês próprios, mas o que vocês sabem sobre Deus. Hoje vocês não casam baseados nas certezas que têm sobre quererem estar casados. E entendam-me bem: não estou a dizer que a vontade que têm de casar não é importante. Se não fosse, não teriam de dizer um “sim” vigoroso daqui a uns minutos quando vos perguntar se se aceitam um ao outro como esposos. O que estou a dizer é uma coisa um pouco diferente. Se vocês confiarem em Deus, o vosso casamento vai ser tão real nos momentos das certezas como nos momentos das incertezas. O chão do vosso casamento não vai ser a certeza que têm acerca um do outro, mas a confiança que têm em Deus. E, acreditem, dessa confiança em Deus nascerá muita certeza acerca um do outro. Mas a confiança em Deus é a causa, e a confiança um no outro é a consequência, não o contrário. Ter fé não é ter certezas primeiro para confiar depois; ter fé é confiar primeiro e depois ter as certezas que daí nasçam.
II
Sarah e Hugo, se Abraão não ficou à espera que Deus lhe desse filhos para só depois obedecer ao que lhe era pedido, lembrem-se que a capacidade para estarem casados vem depois da confiança que têm em Deus. Hoje vocês não casam porque vos é reconhecido que são capazes de estarem casados. Deixem-me dizer com todo o amor que me é possível: vocês não percebem nada de casamento e vocês não sabem no que se estão a meter. A vossa capacidade para estarem casados é, a partir da vossa experiência, zero. Ainda por cima, vocês correctamente não viveram juntos antes nem experimentaram antes de casar as coisas do casamento, como quem verifica se é capaz de estar casado. E deixem-me dizer com todo o amor que me é possível, a quem hoje vive assim e connosco está, experimentando antes do casamento aquilo que pertence ao casamento: mesmo que julguem estar a experimentar antes do casamento aquilo que ao casamento pertence, a vossa capacidade de ficarem juntos é igualmente zero. A prova é que grande parte das pessoas que faz antes do casamento aquilo que costumava pertencer apenas ao casamento, sente-se mais livre para se separar (é consultar as estatísticas). Sarah e Hugo, vocês vão conseguir ser fiéis ao casamento, não à custa do vosso talento para a fidelidade, mas à custa de Deus ser fiel e ter sido ele a inventar o casamento. Quanto mais confiarem em Deus, mais pessoas de confiança serão um para o outro. Quanto maior a vossa fé, maior a vossa capacidade de estarem casados.
III
Sarah e Hugo, se a vida de Abraão teve de mudar tanto para que as promessas que Deus lhe fez se cumprissem, lembrem-se que no vosso casamento não é importante continuarem a ser quem são, mas o contrário. Hugo, para que continues casado com a Sarah, muitas vezes vais ter de ser um Hugo diferente. Sarah, para que fiques casada com o Hugo, muitas vezes vais ter de ser uma Sarah diferente. É preciso que sejamos outros para que fiquemos casados com a mesma pessoa. Da mesma maneira como o casamento está na Bíblia como uma semente de eternidade, Deus vai ensinar-vos a a acreditar numa vida diferente daquela que já têm para se manterem juntos. Quem só quer acreditar no que vê, não precisa casar. É quem casa que precisa de acreditar no que não vê. Estar casado é uma lição de fé. Casar é confiar.
IV
Sarah e Hugo, se Abraão e Sara foram um casal estéril que deu origem a uma nação, lembrem-se que do vosso casamento pode nascer o que agora vos parece impossível. No vosso casamento vocês serão frequentemente tentados a dizer: já não é possível continuar casado. Uma das coisas que o vosso casamento vos vai fazer pensar e sentir é que há ocasiões em que ser fiel aos votos que fizemos no casamento é impossível. Mas não acreditem nisso quando pensarem e se sentirem assim. Porquê? Porque vossa vida foi transformada por alguém que provou que é possível ser fiel até quando temos todas as razões para não sermos. Desta perspectiva, Jesus tinha todas as razões para não dar a vida na cruz pelos nossos pecados. Afinal, ele nunca fez nada errado - nós é que fizemos. No entanto, Jesus foi fiel à promessa que Deus nos tinha feito, de arranjar uma maneira de tratar do mal que somos e fazemos através do sacrifício de um inocente. Sarah e Hugo, o vosso casamento será uma árvore de deliciosos frutos impossíveis sempre que vocês permaneçam em comunhão com o vosso salvador Jesus Cristo.
Que Deus muito vos abençoe.


(Fotografia da Sara Falcoeiras).

sexta-feira, junho 17, 2016

Agenda

Quero tocar à altura da qualidade deste poster do Silas Ferreira. Marquem na agenda!




quinta-feira, junho 16, 2016

Sabem aquele texto que escreveram há meio ano, que é daqueles que exige concentração, e que encaixa que nem uma luva no aqui e no agora e que não vai fazer nada de bom pela nossa popularidade? Ei-lo.

Há maneiras diferentes de chegar a um lugar bonito que é o lugar onde a liberdade é defendida. Uma primeira maneira de chegar a esse lugar bonito é defender a liberdade por uma razão moral: devemos ser livres porque a liberdade faz parte da dignidade com que Deus criou os homens. Do mesmo modo como Deus é livre, os homens devem ser livres. Uma segunda maneira de chegar a esse lugar bonito é defender a liberdade, não por uma razão moral, mas por um relativismo: devemos ser livres para que ninguém possa impor uma moral (na prática, até isto é uma visão moral mas por uma questão de economia de tempo vou poupar-vos de desenvolver este ponto). Como nesta segunda maneira se acredita que não há valores absolutos, a liberdade é o melhor para garantir o direito a cada um relativizar de acordo com a sua consciência. O lugar é bonito para ambos mas a maneira como a ele se chegou é completamente diferente.

Isto quer dizer que ocupamos o mesmo lugar bonito tendo chegado lá através de caminhos bem distintos. Eu fico contente por viver num país onde a liberdade é importante. E fico contente porque enquanto a liberdade for um valor, sei que estou mesmo num lugar bonito. Se eu cheguei a este lugar por ser cristão, outros chegaram a ele pelas razões inversas. Há quem esteja comigo neste lugar bonito que é onde se defende a liberdade precisamente porque acha que a liberdade é das melhores coisas para evitar ser cristão. Reparem na ironia: eu acredito na liberdade como uma consequência de ser cristão; há quem acredite na liberdade para não cair na consequência de ser cristão.

Dentro das pessoas que defendem a liberdade mais como um relativismo que como uma razão moral, umas estão à esquerda e outras estão à direita. Como não deve constituir grande surpresa, fico com a impressão que a maior parte das pessoas que à direita defendem neste país a liberdade o faz mais por relativismo que por razão moral. É isto que explica a anedota de haver pessoas identificadas com o catolicismo romano que na hora h o metem na gaveta para optarem por princípios civicamente mais populares. Na prática, acaba-se a afirmar que a liberdade em que acreditamos funciona melhor na temperatura do relativismo do que na temperatura da moral. A ironia é que a pessoa que se julga mais dada à liberdade por aprovar em termos cívicos coisas que a sua religião reprova, só torna a liberdade em que crê mais pequena - a liberdade em que crê funciona a partir da sua capacidade pessoal de relativizá-la a pretexto de circunstâncias especiais, em vez de crer numa liberdade que é maior ainda que o nosso discernimento útil e socialmente conveniente dela.

Para as pessoas que a esta altura eventualmente se assustam, julgando que acreditar na liberdade como um valor moral pode levar-nos ao perigoso caminho do casamento entre a Igreja e o Estado, eu diria: vão estudar. E estudem a história do protestantismo em particular. A minha confissão religiosa, os baptistas, há mais de 400 anos que defende a separação entre a Igreja e o Estado, contra romanos e reformados, e levou muita pancada por isso mesmo. O que a defesa da separação entre a Igreja e Estado não pode ser é a separação entre a liberdade e a moral. Porque a liberdade como valor só pode ser defendida absolutamente se ela for um absoluto moral. E o absoluto moral que nos levou felizmente a separar a Igreja e o Estado não tem a ver com desprezar o que a Igreja diz, mas precisamente o contrário (é a Igreja que defende que os homens devem ser livres como consequência de o Criador deles ser livre também). Não é por acaso que a separação entre Igreja e o Estado aconteceu em países com igrejas. Já pensaram por que razão um conceito semelhante não saiu de culturas não-cristãs? Devemos às igrejas (e uso o termo precisamente no plural porque creio que é no plural que deve ser entendido o conceito das comunidades locais de cristãos ao longo de toda a história) a separação entre a Igreja e o Estado, não ao Estado. A prova, creio, está depositada precisamente no facto de que as experiências menos saudáveis de separação entre Igreja e Estado terem acontecido nos lugares onde o Estado quis tomar o lugar da Igreja (a França revolucionária, a Rússia bolchevique e a Alemanha nacional-socialista).

Termino permitindo-me ser um pouco apocalíptico e pragmático. Os lugares onde a liberdade está a ser afirmada, não por razões morais mas por razões de relativismo moral, serão lugares onde não só a liberdade religiosa será perseguida como acabará a ser perseguida a própria liberdade. A liberdade religiosa será o primeiro alvo a abater, por razões de não se adequar à defesa da liberdade como um relativismo. O chamado casamento homossexual vai finalmente revelar a sua verdadeira plumagem, que não é a das paradas coloridas nas ruas centrais da cidade. O chamado casamento homossexual vai ser a razão que poderá colocar na prisão pessoas que, como eu, não o tenham como um bem precisamente por se opor a uma moral absoluta. Cada vez mais se estabelecerá o ponto de que não pode haver liberdade para aqueles que condenam moralmente o que o Estado aprovou, e por isso teremos como criminosos todos os que tenham objecções morais ao relativismo estatal oficializado. Ter objecções à prática homossexual será cada vez mais visto como razão suficiente para punir quem assim pensa. Em nome do relativismo serão os defensores da moral os monstros. Porque na prática, os relativistas só se relacionam bem com a liberdade até ao ponto em que ela possa ser relativa à sua moral subjectiva. Os relativistas detestam morais absolutas.

Resumindo muito: eu, que faço depender a minha crença na liberdade da minha crença em Deus, terei a minha liberdade ameaçada por aqueles que fazem da liberdade a única coisa divina, à falta de melhor alternativa. Isto não é lenga-lenga religiosa para crédulos. Isto é, como os americanos dizem, cheirar o café e ver as notícias. Este lugar bonito que é onde se defende a liberdade vai começar a dar espaço a coisas muito feias não tarda nada.



quarta-feira, junho 15, 2016

Ouvir

Esdras percebeu que confiar em Deus não é não preparar-se para os males que podem vir. Se eu confundir confiar em Deus com não ter de ser exposto à possibilidade do mal vir até mim, na prática acabo a querer ter Deus para me ter a mim sempre são e salvo. Se a tua fé depende de o mal não acontecer, és o teu próprio Deus.

O sermão de Domingo passado pode ser ouvido aqui.

quinta-feira, junho 09, 2016

Agenda

Gastem 25 segundos a ver isto e a guardar espaço na vossa agenda.

quarta-feira, junho 08, 2016

Nesta sexta-feira

Há uns tempos escrevi como tinha ficado impressionado com a cultura de serviço da igreja da Casa da Cidade. Uns tempos depois ouvi o Pr. João Martins pregar um sermão especificamente sobre o assunto do serviço e fiquei convencido: a Igreja da Lapa precisa de o ouvir.

Na maior parte das vezes, os aniversários da igreja são ocasiões da pompa possível, em que as formalidades podem ser maiores. E não sou contra isso. No aniversário do ano passado, por exemplo, como tínhamos um baptismo e como íamos receber muitas pessoas que nos visitavam, estávamos todos aprumadinhos. Este ano não precisa de ser diferente mas há uma diferença.

Neste aniversário queremos assumir que, sendo a festa uma coisa que gostamos, devemos aproveitá-la para pensarmos no que precisamos de corrigir. E reconhecemos que a Igreja da Lapa, estando cheia de bênçãos de Deus, tem ainda músculos de serviço fraquinhos.

Há uma explicação para isto. Na sua maioria, somos uma igreja de jovens casais. Isto é óptimo porque infelizmente uma grande parte das igrejas evangélicas está envelhecida. Mas o facto é que famílias jovens são sobretudo famílias tão absorvidas nas suas rotinas e ansiedades, que conseguirem aparecer no culto de Domingo já lhes sabe a milagre. Por causa deste fenómeno, uma igreja de jovens casais é uma igreja que demora muito a conseguir aquecer para trabalhar em favor de pessoas fora do seu núcleo familiar.

O Pr. João Martins tem uma experiência notável de servir outros. Durante anos foi o responsável pelo Desafio Jovem, que luta contra a toxicodependência, e nos últimos tempos pastoreia a jovem igreja da Casa da Cidade. O que ele vai pregar da Palavra de Deus está ligado ao que Deus tem feito graciosamente na sua vida. E nós queremos ouvir Deus ouvindo o Pr. João Martins. Estamos certos que vai valer muito a pena e gostávamos que se juntassem a nós.



terça-feira, junho 07, 2016

Ouvir

Querer ser de confiança sem confiar na palavra de Deus é confiar em nós próprios como solução dos nossos problemas. (...) Os milagres do Diabo são sempre assim: uma maneira de arranjar que os nossos problemas sejam resolvidos sendo nós um pouco mais do que já somos, ou tendo nós mais do que já temos. (...) O Diabo quer momentos de sucesso em que nós somos o centro, Jesus prepara-nos para confiarmos em Deus até nos momentos de sofrimento.

O sermão de Domingo passado, chamado "Para que sejas de confiança, tens de confiar na Palavra de Deus", pode ser ouvido aqui.

sexta-feira, junho 03, 2016

On laziness

William Truax is reading my book on laziness and translating some parts of it.

“The promising future of the Christian is in remembering what has happened in the past. The Christian who doesn’t desire to be more holy demonstrates that he understands neither his past or his future. The Christian who doesn’t desire to be more holy demonstrates spiritual Alzheimers - forgetting all that God has forgiven him. Not wanting to sin less reveals a miserable memory of the errors we have committed in the past. The other side of this coin is absolutely marvelous. It turns past regrets into milestones indicating how far the Lord has brought us in our walk with Christ. When we look back on what we wish we would have done, and longingly think, "If I had known then what I know now…” it is a clear indicator of how the Holy Spirit has been sanctifying us and changing our perceptions to be more like his. We know more now and regret past sins more because our past failures and ignorance become more and more contrasted with our current understanding of Christ and his holiness. This is wonderful because it does not minimize our past sins, but provides tangible evidence, over years, of how the Holy Spirit has been and continues to be working in and through us.“



quinta-feira, junho 02, 2016

João Calvino quer que ores de mãos no ar

Estou a ler a altura em que as Institutas se viram longamente para o assunto da oração. E Calvino liga o assunto da oração ao que vinha a falar antes, sobre a justificação pela fé. E esta ligação é muito importante. Ligar a oração à justificação pela fé recorda-nos que oramos baseados no facto de não haver justiça em nós, mas em Deus. Ligar a oração à justificação pela fé recorda-nos que oramos baseados no facto de Cristo ser a única maneira de podermos ser vistos por Deus como pessoas justas, através da imputação da justiça de Cristo a nós. Ligar a oração à justificação pela fé lembra-nos ainda que oramos baseados no facto de Deus ser agora nosso pai e nós seus filhos por adopção (daí que o espírito de adopção seja aquilo que nos leva a clamar: “Abba Pai”, como explica Paulo em Romanos 8:15 e 26).

Este último aspecto do espírito de adopção é o que arruma a aparente complicação da inutilidade da oração tendo em conta a omnisciência divina. De facto, nós não oramos porque Deus precisa das nossas orações para mudar o rumo dos acontecimento. Deus não é um veículo movido ao combustível das nossas orações - isso tornaria a oração sobretudo um assunto de mecânica. De facto, nós oramos porque, enquanto filhos de Deus, ansiamos por um relacionamento familiar com ele. Deus é um pai e relaciona-se connosco activamente sendo esse relacionamento activo visível no facto de falarmos com ele - a oração é sobretudo um assunto de comunhão.

Logo, os resultados da oração são menos aquilo que Deus faz no mundo porque nós orámos, mas os resultados da oração são mais aquilo que Deus faz em nós quando oramos: 1) o nosso coração dá-se mais ao desejo de Deus e do seu serviço; 2) os desejos do nosso coração são avaliados por Deus; 3) e somos preparados para receber em gratidão o que Deus nos dará. No final, já fomos suficientemente transformados para desejarmos voltar ao início deste esquema, sem desculpas preguiçosas para não procurar a comunhão com Deus. O homem que não ora, não percebe a realidade e, sem critério, não a deseja transformada naquilo que ela deve ser transformada.

Calvino começa então a enumerar regras de oração. A primeira é o reconhecimento da santidade de Deus. E Calvino é brilhante a expandir o assunto. A base da oração para Calvino não é fazer da oração um encontro feliz entre Deus e o homem. Antes pelo contrário, é natural que se Deus é perfeito e nós não somos, a oração comece por ser uma experiência que traz ansiedade e talvez até pânico. Por isso mesmo, na Bíblia são muitos os que se arrepiam de medo quando a presença de Deus vem até eles. A oração não é um piquenique mas um “abismo até aos maxilares da morte” (pág. 148). O que está em causa não é a nossa perfeição, que agora arranjámos maneira de ir até Deus. O que está em causa é a perfeição de Deus, que arranjou uma maneira incrivelmente misericordiosa de ir até nós.

Por isto mesmo, deve ser natural que sintamos com um arrepio a importância do modo como oramos. Quem ora de qualquer maneira corre o risco de não orar de maneira nenhuma. “Ninguém se prepara para a oração a menos que esteja impressionado com a majestade de Deus, de um modo que se queira livrar de todos os cuidados do mundo” (pág. 149). Também por causa disto é que o levantar as mãos enquanto se ora é um símbolo de desejarmos ser elevados até Deus, além das coisas que aqui nos prendem. Este é um bom procedimento.

Um segundo bom procedimento é orar aquilo que se deve. Como é que sabemos o que é que se deve orar? E Calvino volta a dar cartas: provavelmente aquele que ora melhor é aquele que hesita quando ora. Como assim? Isso quer dizer que não podemos orar espontaneamente? Não é bem isso. Calvino explica que, como orar bem não é orar qualquer coisa, a verdadeira oração é um dom. E de facto é isso que a Bíblia faz quando inclui a oração no assunto dos dons espirituais (1 Coríntios 12), e quando nos manda orar no Espírito (1 Cor. 14:15). Até o facto de eu falar com o Pai, só acontece porque este Pai me fez filho. Não falo com Deus porque posso, falo com Deus porque ele assim me concede.